O livro Jesus Cristo Libertador de Leonardo Boff trata-se de um conteúdo
inspirador a fim de reforçar o compromisso humano a libertação numa perspectiva
cristã. Ele fala a cerca da figura de Cristo como promotor da vida e da
liberdade humano-sócio-espirítual e do seu processo de repercussão, na história
da humanidade, como Cristo Libertador a partir de um movimento social, crítico,
e consciente, diante da situação de exploração, domínio e repressão que surgiu
na América Latina no de 1960.
A finalidade
do livro, de temática teológica libertária, é promover o anúncio do Cristo Libertador,
com suas práticas ativas, sua mensagem, morte e ressurreição como possibilidade
plena de libertação, fundamentada numa mística de solidariedade e identificação
com os pobres, porém contra a pobreza (Cf. BOFF, 2009, p.14).
Daí Boff
explana (p.15-38) a figura de Jesus como libertador (cristologia) inserido em
um dado contexto histórico periférico. Surge assim a importância do lugar
social para se fundamentar, criar raízes, a proposta libertadora de Cristo, uma
vez que sua presença é constante e atual nos nossos tempos. Essa noção acerca
de Jesus como libertador do povo oprimido, nasceu por via de uma exigência
social concreta de fé a favor da vida e dignidade em meio a uma situação de
opressão e transtorno. Neste sentido se tem uma intrínseca relação entre teoria
e prática que se faz em um momento histórico, cultural, ideal e ético. Dessa
forma a Cristologia não se torna abstrata, mas caminha com os pés no chão. Neste aspecto a cristologia se divide em dois
viés: os que analisam a situação pela qual surge a necessidade de atividade de
fé libertadora das situações opressoras, e os que trabalham com a
sensibilidade, ou o vivenciado, estes tem uma ação ética.
A cristologia
libertadora tem uma articulação sacramental designada como compreensão das
realidades conflitantes, anunciando a boa nova e denunciando a injustiça pela
promoção do amor. Esse é seu caráter profético. A libertação se refere não só a
mudanças éticas do individuo, mas a mudanças estruturais do sistema que gera
desigualdade social e dos indivíduos como participantes desse sistema. Neste
sentido, a Fé surge e se direciona como uma alavanca de soerguimento dos mais
necessitados. A questão central é
promover o Reino de Deus a partir do resgate dos valores humanos, de olhar
especial aos mais necessitados e
excluídos. Infelizmente por muito tempo se teve o paradigma do silêncio,
quanto a essas situações de injustiça, porém essa atitude de reservação pouco
auxiliou na América Latina uma verdadeira libertação. O cristo histórico é o
ponto principal focado na América Latina. Nele vemos uma proposta de prática
para transformação das realidades gritantes.
No capítulo II (p.38- 48) lançasse a proposta
definitiva de Jesus. Ele é a resposta de todos os nossos questionamentos. Nele
vemos a instauração do Novo Reino, que se inicia pela modificação do sistema
contraditório de nossa realidade. Ele é
a própria resposta de Deus ao homem. Pela sua ressurreição inicia no marco da
história a proposta escatológica, porém essa proposta iniciou, mas ainda não
chegou a sua plenitude. Seus milagres revelam a modificação da vida velha para
uma nova. Sua pregação é centrada em dois tempos: presente e futuro. Presente
como atividade do homem, ação e testemunho da proposta de libertação. E futuro,
por que terá seu fim quanto todas nossas limitações serão sanadas. É relevante
citar que nessas tuas perspectivas temporais se faz a direcionamento humano. O
seguimento do mesmo implica numa conclusão salvífica e libertadora. Porém, esse
reino tão pregado e vivenciado por Jesus é de característica material,
espiritual e humana. Sendo o último o continuador principal desta
concretização.
No capítulo
III, Boff explana o reino de Deus que é uma realização do humano e do cosmo, e
esse seguimento implica uma revolução total, no sentido de mudança da pessoa
humana e da estrutura do mundo que o comporta. Uma vez que, a escolha do Reino
requer conversão, mudança de caminho. Daí, a exigência cristã envolve uma
decisão e divisão a favor do Reino. Nisso entra a dependência a Deus. No tempo
judaico a religião estava determinada pela Lei e prescrições legais que
oprimiam o povo. A posição de Jesus, nesse sentido, é contra essas lei, quando
não se age em função do amor e do serviço. Daí a principal conversão do homem
tem seu fundamento no amor. Este está a serviço do outro, ele salva e supera a
justiça. Para que exista o amor é necessário a filiação e unidade à Deus.
Contudo, o Reino é uma abertura e plenificarão da liberdade. Para o fariseus o
que se preservava era a Lei e a postura, as regras e as normas para se viver a
espera do salvador, porém para Jesus o caminho é oposto, ou seja, o que vale é a misericórdia, a boa fé e a unidade. Jesus seguindo o
caminho oposto, portanto, deve ser excluído, eliminado.
O quarto
capítulo(p.60-74) fala da personalidade de Jesus como alguém original, no
sentido de trazer uma mensagem nova, de libertação, realista e com bom senso,
ligada a sabedoria divina, que chama o homem a tomar um decisão. Jesus, assim,
adquire a característica de profeta, porém, ele é mais que isso. Ele não é
autoritário, mas manso e humilde, e assim, utiliza de exemplos cotidianos para
expressar sua mensagem e revelar a vontade do Pai sem excluir a razão pra
compreender as coisas do Pai. O que está dentro do homem é o que lhe faz mal.
De um lado ele apresenta um reino novo e se firma unida a Deus, de outro é
extremamente humano e possuidor de sentimentos naturais. Por um lado é firma
nas decisões, por outro, quebra pré-conceitos. Sua boa nova insere no homem a
autonomia e obediência. Contudo ela segue um tri pé: Proposta, resposta e
responsabilidade.
No V (p.75-88)
O sentido da morte de Jesus se faz pela sua boa nova e revelação. Ele criou
inimigos (autoridades religiosas), e sua morte será pela inveja, incompreensão,
má vontade e medo dessas autoridades. Todos eles ficavam desconcertados diante
de Jesus, que criticava-os e os chama a uma tomada de decisão pelo Reino de seu
Pai. Assim, um dos seus discípulos o trai, por incompreensão. Judas queria em
Jesus um revolucionário que libertasse politicamente Israel. Porém Jesus é mais
que isso. A liberdade característica de sua vinda a terra é da totalidade do
homem e da configuração de seu meio. Judas
o trai com um beijo, no sinédrio ele é jugado e por fim, acusado de blasfêmia e
condenado a morte de Cruz. A caminhada de Fé de Jesus é mais do que uma
novidade simples, é um compromisso com a vontade do Pai. Essa é a parte mais
importante pela qual Jesus se segura até o final de sua morte. A morte é consequência de sua tomada de
atitude, porém é a ressurreição que dará o verdadeiro sentido de toda relação
com o Pai. O sem sentido aparente da morte de Jesus, passa a ter total sentido
com sua ressurreição, uma vez que toda a proposta de Jesus é tornar o homem
livre de fato e livre de forma plena, mas isso só é possível com o homem
estando em total unidade com o pai, daí, é preciso superar a morte, ou seja,
ressurgir. Mas isso só é possível através da fidelidade à vontade do Pai.
O capítulo VI (p.89-115) destaca o ponto
central da fé cristã. Jesus ressuscitou, nós cremos e somos testemunhas disso.
Ele não reviveu, mas verdadeiramente ressuscitou. Com a completude da vontade
do Pai, Jesus fez sua passagem, e agora é verdadeiramente livre. Ele completa o
caminho de nossa libertação de todo tipo de alienação e limitação. Esse é o
fator consequente da ressurreição: A liberdade verdadeira. A superação da morte
é um fato captado pela Fé, pois ninguém viu como se deu a ressurreição. Porém
temos diante de nós dois fatos que revelam essa ressurreição: O sepulcro vazio
e as aparições. O sepulcro é um convite à Fé, de que Cristo ressuscitou, a
aparição é uma experiência de impacto que se impôs de fora. As aparições na Galileia são de dados
históricos, já as aparições em Jerusalém são dados de Fé. Com a ressurreição
entra em destaque a reabilitação de Jesus no mundo. Ele que outrora morrera
miseravelmente, e sem justificativa precisa até a morte, com a ressurreição
toda sua trajetória entra em sentido, ou seja, ele tinha que morrer, passar por
todo martírio, carregar o nosso fardo para dar-nos a salvação. A sua
ressurreição implica o final dos tempos, no sentido que o fim pelo qual o homem
está determinado a ser pela graça de Deus, já se iniciou. Daí, João vai tratar
deste fim a modo apocalítico, ou seja, de forma mística. Por fim, com a
ressurreição inicia-se a Igreja, professa e seguidora deste Jesus.
Boff (capítulo
VII) firma que com a ressurreição entramos numa continuidade da cristologia,
pois o Cristo que viveu em nosso meio e morreu na Cruz, agora ressuscitou. A
ele é dado vários títulos a fim de encontrar a sua totalidade presencial na
história e no cosmo. Daí, os motivos de
defini-lo como filho de Davi, Messias, o Cristo, dentre outros títulos. Porém,
não são os títulos que importam, mas a sua forma de revelação, a sua sabedoria
e autoridade, não de imperador, que o adicionam esses títulos.
O capítulo
VIII (p.116-130) fala da longa reflexão teológica a cerca da figura de Jesus, a
fim de defini-lo com esses títulos. Daí ver-se em Mateus e Marcos a tentativa
de a partir da Fé interpretar os fatos relativos a vida de Jesus. Nas
comunidades são recolhidos as lembranças e comentários da vida de Jesus. Neste
âmbito é que se caracterizam os escritos que conhecemos como Evangelhos. A fé
agora procurará compreender, a partir do início do século, o mistério. Mateus e
Lucas destacará Jesus como o ponto ômega da história, o messias, filho de Davi
e filho de Deus. Sua concepção é virginal, Seu nascimento é em Nazaré, porém
Lucas direcionará o nascimento para Belém, a fim de trazer nova compreensão a
cerca do mistério de Jesus. Este tem
características dos heróis do antigo testamento, porém se torna a realização
completa do projeto, da vontade de Deus.
O IX
(p.131-152) fala de onde surgiu a compreensão de Jesus como cem por cento
humano e cem por cento divino: da vida, convivência e imitação de Jesus. É
importante a forma dialética que se apreende a Deus, revelado na pessoa de
Jesus. Este era tão humano que só poderia ser Deus mesmo. Daí, Deus se
humanizou na pessoa de Jesus, e através da mesma se encontra a sua divindade. A unidade entre as duas naturezas de Jesus é
de tal forma unitária e distinta que nem Deus nem o homem perdem a sua essência.
Daí, implica que Jesus possui duas naturezas porém é uma só pessoa, completa. É
perfeitamente homem e perfeitamente Deus. Por isso que se diz que ele é a ponte
que liga Deus a nós.
Por
conseguinte, no capítulo X, a ressurreição de Jesus traz-nos algo nunca antes
visto. Com a ressurreição entra em destaque um novo horizonte teleológico. O
cristianismo não vive de saudades, mas de uma experiência viva e de fé, é uma
celebração e não uma re-lembrança da vida. Nele já vivemos uma forma de vida
que supera a morte, na qual Jesus fez abertura com a sua vida. Neste sentido as
limitações deste mundo não existem mais. Jesus as superou com a vida. Mas, sua
realização, da vontade do Pai, nos indica um horizonte futuro que já se
iniciou. O horizonte da realização plena do homem, com Deus, com o outro e com
o cosmo. A ressurreição é a escatologia que já atingiu seu fim: Plenitude de
Deus, porém cabe ao homem realizar esse percurso na vida. Ele iniciou, mas
chegará em sua plenitude. Jesus não está separado deste mundo, mas faz parte
dele, está inserido deste em todas as coisas. É o que Boff chama de realidade
cósmica. Jesus está presente hoje no cosmo, pois a história o apreendeu, pela
encarnação, mas ele depois de morto revela o homem que estava oculto: o homem
espírito. Daí o que era latente e oculto, porém presencial na vida de Jesus, se
torna patente e revelado em toda sua potencialidade. Jesus é o centro de tudo,
de toda realidade cósmica. Ele interessa a toda realidade, pois tudo converge
para Ele. O homem é a imagem de Cristo, sendo Cristo a imagem do Pai. Daí, nós
possuirmos interiormente a presença de Deus, e somos parte de Cristo. O outro é
o lugar onde se percebe a transcendência. Ou seja, Deus. Nossa Fé nos orienta a
olha para o outro e enxergar a presença de Deus, e nesse ato de Fé, ama-lo,
servi-lo, ajuda-lo. Pois, fazendo isso ao próximo, estamos fazendo ao próprio
Cristo, que se encontra no cerne da pessoa humana.
O Cristo se
apresenta também no anônimo e latente. Nas pessoas que levam a sua causa
adiante sempre que se procura um fim ético, mesmo que não façam referência a
Cristo explicitamente. Porém ele também se apresenta de forma explicita e
patente nos batizados na fé em Jesus, naqueles que decidem imitar a Jesus no
sentido de ter o mesmo sentimento que Jesus teve. Porém, esse conceito muda e
ganha um novo sentido o ser cristão: ligar-se a Fé, pela esperança e pelo amo,
pelo espírito e pelo sacramento, dentre outros.
A Igreja como
povo reunido é considerada o corpo do Cristo ressuscitado, porém é na Igreja
local que esse corpo cria forma e se expressa. É claro que a Igreja não abarca
toda extensão de apresentação do Espírito de Jesus, mas é a que torna ele
presente de forma única. A Igreja se constitui como sacramento primordial da
presença do Senhor. Na liturgia da Igreja vemos os gestos, atos, e ritos que
expressam o contato do Senhor com os fiéis. Daí a eucaristia é o ponto de
máximo de apresentação do Cristo. Nela vemos a transubstanciação do Pão e do Vinho, que explana o Ressuscitado.
No capítulo XI
vemos que a Fé no salvador pressupõe um processo dialético de completude ao que
seja Jesus. Ele é a totalidade, mas ainda não alcançável. Na história ainda não
se chegou ao ponto ômega, mas anda em um constante devir. Neste sentido, a
cristologia já deu grande passo para compreensão de Jesus como ‘homo revelatus’, futuro presente,
conciliação dos opostos, revolucionário e muitos outros. Porém, essa
compreensão não pode entrar nos parâmetros da ideologia, poie Jesus não
implantou nenhuma ideologia, mas uma abertura a vontade de Deus. Ele é uma
continuidade do que precisamos ser para superar-se. Ele nos convida. E na sua
vida encontramos realizado o que o coração humano busca e o que Deus prometeu
como sendo o nosso futuro. A Cruz cristã é sinal da reconciliação dos opostos.
Nela vemos uma unidade que segue um horizonte específico: o amor. O seu Reino é
libertação de todo tipo de alienação, desde a doença à morte, de modo especial,
o pecado. Ele não pode ser privatizado
no mundo, mas está no cosmo, atinge toda extensão do universo.
Por fim, O cristianismo
surge com o mundo. Ele está inserido na história de forma latente. Desde a
antiguidade já se expressava as características que se tornou patente no
cristianismo.: o amor, o bem e a verdade. Santo Agostinho assim explanou: “A
substância da quilo que hoje chamamos de cristianismo existia já nos antigos e
estava presente desde os primórdios da humanidade.”(Retr. 1, 12,3). O homem
só pode se realizar se ele estiver em relação com o outro. Saindo se si é que o
homem encontra a si. Neste sentido, a plena hominização do homem supõe a hominização
de Deus. Com esse estado é que o homem chega a tal comunhão com Deus até a sua
máxima plena. A estutura Crística se
revela no mistério de Deus uno e trino pela via do amor, na pessoa de Jesus. A
estrutura divina está na estrutura humana por analogia. Daí entra a proposta de
Deus que está inserida na consciência humana, toda vez que esta se sente
responsável na vida a sair de si e atingir o outro, no sentido de aceitá-lo. O cristianismo católico é uma das articulações
mais perfeita deste cristianismo é a proposta que se efetiva como anuncio da
boa nova, indicadora da luz. Do mistério de Deus. Nela já se realiza em germe o
próprio Reino de Deus. Contudo, o enquanto não se realiza o panteísmo cristão,
mantem-se a esperança de uma universalidade desse reino através de uma proposta
de configuração no mundo com Ele(Cristo).