terça-feira, 7 de abril de 2015

Retornar para os dois primeiros amores.


Quem nunca visitou, ou relembrou seus primeiros momentos de vida, sua infância, não sabe o que estar perdendo. Olhar para o começo da vida é revisitar o seu ponto de partida, onde tudo começou. De repente, do nada, não escolhido por nós, ou seja, de um ato providencial e divino, algo aconteceu de misterioso: uma vida nos foi presenteada. Poderia ter sido qualquer pessoa, em qualquer lugar, porém, a vida nos foi concedida, num determinado lugar, em uma circunstância. Foi um presente de Deus. Somos o ato de amor divino. (Não fostes vós que me escolheste, mas eu vos escolhi). Fomos presenteados com a vida, com uma família e em um mundo.

Fomos cuidados, amados, ensinados, educados e sonhávamos. E o mundo não era tão duro como hoje, não era tão feio. O que o mundo é hoje é o que fizemos dele. Porém, no nosso primeiro amor, na nossa primeira infância, o mundo e o outro eram novos, fabuloso, cheio de surpresas. Era fantástico. Comíamos, brincávamos, nos divertíamos, éramos felizes. Não tinha a maldade e a malícia de hoje, não tinha a tristeza e o sofrimento da desilusão. Sonhávamos. Brincávamos e o pouco nos fazia feliz: uma brincadeira, um sorriso, a chuva era alegria, o outro era companheiro. Sorriamos atoa, por motivo nenhum, só em olhar. De uma pedra se fazia uma brincadeira, de uma bola se inventava um jogo. A maldade e a desesperança ainda não tinha nos ofendido tanto quanto hoje. As vezes alguém ( nossos pais, ou outros) batiam na gente, mas não guardávamos mágoa como hoje, buscávamos coisas boas e logo, logo esquecíamos as desavenças. Sentíamos a liberdade mais forte sem precisar ir muito longe. Sentíamos o amor por um abraço. Não se tinha tanta preocupação como hoje. O mundo era belo porque não parávamos de sonhar. Nem tudo entendíamos, mas nem tudo se precisava entender. Por isso que belamente nos disse Jesus: das Crianças são o Reino dos Céus. Pois o olhar de uma criança, seus sonhos e esperanças são de uma pureza semelhante o olhar, os sonhos e esperanças de Deus. Por isso as crianças são preciosas e precisam ser cuidadas, pois são imagens de Deus. Que beleza fabulosa. Triste daquele que despreza ou maltrata ou ensina coisas más as crianças. Pois essa pessoa está destruindo aquilo que nos é mais precioso: nossa infância.

Neste primeiro amor, dádiva divina, nossa vida foi caminhando. Tornar-se adulto, na maioria das vezes, era um sonho de poder fazer mais, ser mais livre e independente, se divertir mais, ser feliz mais e fazer os outros felizes mais, porém, algo foi ficando diferente quando adentramos no mundo dos adultos: fomos percebendo o tanto de coisas que os adultos fazem, o tanto de sofrimento e preocupação, o tanto de trabalho e responsabilidade, daí, ser adulto foi ficando difícil e muito doloroso. O tempo foi passando e sem percebermos fomos perdendo a nossa criança, os nossos sonhos, as nossas esperanças. Um outro universo foi tomando conta de nós. Aprendemos muitas coisas que nem sempre nos fazia felizes. E o pior: foi ficando pelo caminho da vida um pouco de nós: a nossa infância, os nossos sonhos, as nossas esperanças. E fomos absolvendo o mudo muito sério, estressante, triste e desesperançado dos adultos. Nosso maior erro é esquecer de onde começamos, esquecer a nossa infância e jogar janela a fora as coisas belas, os sonhos, que nos faziam felizes. Quantas pessoas estão apagadas, amargas, desesperançadas, decepcionadas. Elas deixaram sua criança interior abandonada. São poucas as pessoas que entendem as crianças, pois, são poucas as pessoas que resgatam sua criança do abandono.  Juventude, não deixem de sonhar, não deixem de buscar a felicidade. O problema não está em ser adulto, mas no desprezar a sua infância e juventude como coisa que já passou. Somos a nossa história e esta se completa com infância, adolescência e maturidade. Ficar só com uma parte é destruir parte de nós. Muitas pessoas estão em pedaços e não sabem o porque.


Nosso outro amor, muito importante, porém, pouco percebido, e estreitamente ligado a nossa vida, é Deus. Deus nos escolheu, nos chamou a vida. Ele nos deu uma família e nos colocou numa sociedade humana. Ele foi nos conduzindo e ainda nos conduz, pois é princípio e fonte da vida. Ele nos amou por primeiro e por isso nos deu seu filho na cruz. Hoje relembramos e revivemos Jesus ressuscitado que superou a morte e nos diz: voltai para a galileia, lá me encontrará. Ou seja: voltai para o início da tua fé, de onde ela começou. Naquela situação em que alguém te ajudou, um grupo, uma comunidade que te despertou a Fé, em fim, alguém. Se isso não aconteceu ainda pode acontecer. Se olhares para o Céu perceberá que só Deus pode ter feito tudo com perfeição. Mais ninguém. Voltai para o começo. Lá descobrirá que foi Deus que te chamou. Ele já estava contigo, mas foi nesse início que Ele se apresentou para ti. Tudo começou com um arder o coração, com uma esperança, com um sonho, com um acreditar. De repente alguma coisa aos poucos foi mudando. O início de sua fé é importante, pois foi quando ela te tocou. Ela poderia até ser imatura, assim como nós na nossa infância, mas o começo da nossa fé é muito importante, pois nos resgata de onde partimos. Muitas pessoas não acreditam na fé em Deus, porque abandonaram esse primeiro momento. Não destrua uma parte de você, pois isso faz a diferença fundamental na sua vida. Sem a fé o hoje e o agora não tem sentido profundo e pleno. Se acaba quando nosso corpo acaba. Mas com a Fé tudo ganha um novo sentido: pleno e eterno. Nossa fé toca diretamente a nossa vida. Tudo ensinado por Cristo faz parte da nossa vida e nos encaminha para plenitude. O amor a Deus e aos outros é o que nos faz feliz de verdade. O perdão é o que nos torna livres para amar. O serviço é sinal do amor. A paz é fruto da plenitude com Deus e da harmonia com o próximo. Por isso não perdamos de vista o retorno para os nossos primeiros amores: Deus, e nossa infância: expressão divina.