Ultimamente
no período litúrgico está muito presente, apesar de ser pouco observado e meditado
por muitos de nossos comentadores da palavra de Deus, a figura de profetas. Jonas, Malaquias, Joel, são alguns profetas que estiveram presentes na liturgia desse mês
missionário. Porém, queria falar do maior profeta que já tivemos na história
humana e de fé do povo de Deus: Jesus nazereno, o Cristo. Se a proposta irresistível de
Cristo é a redenção da humanidade pelo seu corpo e sangue imolado, isso não
seria possível sem outro meio fundamental: a profecia.
O
redentor e o profeta são duas características de uma só pessoa e não tem como
entender o projeto salvífico de Cristo sem esses dois sinais divinos. Isso é tão
certo na tradição da igreja, pois nela observamos que Deus tanto é
infinitamente e abundantemente misericordioso assim como também é justíssimo. Aqui
nos deparamos na verdade com a outra face do Amor personificado: a justiça, que
é profética.
Na
comunidade de Lucas (11, 42-46) vemos os sinais de nosso belo amor e profeta nazereno se referindo aos fariseus e membros da alta classe religiosa nos seguintes termos:
“Aí de vós, fariseus, porque pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas
as outras ervas, mas deixais de lado a justiça e o amor de Deus”. Se no começo
da missão Jesus anuncia e é testemunha viva do reino de amor do Pai, isso não está separado da
grande hora de Cristo: a hora da profecia, da denuncia, da justiça.
O
amor de Deus pelo homem fez o filho de Deus descer para nosso meio. Agora é o
mesmo amor de Deus pelos seus pequeninos, excluídos e mais abandonados que faz
Cristo denunciar as injustiças praticadas pelos mestres da Lei e fariseus
dentre outros. Pois estes deveriam acolher os abandonados, os excluídos e
marginalizados, ou ditos pecadores, da época, tal como o próprio nazereno fez e
até disse que fizessem (“E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos
ver-te?E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o
fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” Mateus
25,39-40).
Jesus
não estava contra a lei judaica, mas afirmava que cumprir a lei e esquecer o
próximo, ou não praticar a misericórdia para com os mais abandonados, era o
mesmo que se desviar da essência ou função principal da lei. Deus fez a lei para que o coração do homem se
tornasse mais humano e divino, para que o povo de Deus não esquecessem os
caminhos do Senhor (a verdade e o amor), porém, a preocupação com a lei
simplesmente pela lei, o endurecimento do coração, ou seja, a insensibilidade
para com o próximo, o estrangeiro, a viúva, o órfão e muitos outros, foram
coisas que afastavam do projeto de Deus aqueles que deveriam estar mais
próximos de Deus: os sacerdotes, os doutores da lei e os fariseus.
Jesus
critica esses por serem vaidosos e egoístas, ou seja, por quererem “o lugar de
honra nas sinagogas, de serdes cumprimentados nas praças públicas”, e de contra ponto colocarem “sobre os homens [leigos, pobres e excluídos] cargas insuportáveis”.
Até então demonstramos o suficiente da ação profética de Cristo que se realizou
em vista do seu amor. As consequências disso tudo é a morte do Cristo, pois
quando ele começou a tocar na ferida das paixões humanas, da vaidade, do egoísmo e
outros pecados cometidos pelo próprio líderes da época, o Cristo foi negado e, condenado a
morte de cruz, se entregou pelo seu infinito amor e pela sua divina justiça por
nós. Essas duas coisas o fizeram da à vida pela salvação daqueles que o aceita
e o acolhe.
Que
este pequeno texto possa nos ajudar a refletir se o anuncio da redenção, do
amor de Cristo o qual vivemos e anunciamos está de fato experienciado e
testemunhado junto com anuncio da justiça reparadora cristã que não
abandona ninguém e luta contra as injustiças do pecado humano.