Foi com alegria que toda a Igreja e
nós, Missionários Redentoristas, celebramos no dia 1º de agosto desse ano a
festa de Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787): o fundador de nossa
Congregação Missionária cujo carisma inspirador é levar às pessoas abandonadas,
principalmente, aos pobres e excluídos, a Copiosa Redenção. No prosseguir desse
projeto- de continuar Jesus Cristo Redentor- os Missionários Redentoristas da Vice-província de Fortaleza tiveram em
Assembleia capitular na Casa de Retiro das Irmãs Cordimarianas (Caucaia)
entre os dias 24 e 28 de 2017.
Neste Capítulo tratamos sobre o
tema do 24º Capítulo Geral (2009): "Reestruturação
para a missão: esperança em ação”. O tema da Reestuturação foi inspirador
para deslumbrarmos os novos percursos acerca da Missão Redentorista nas nossas
áreas de atuação. Apesar desta temática ser nova, ela não deixou de estar
presente no percurso de fundação e itinerário de origem da Congregação. Por
isso, fazendo memória celebrativa do nosso Fundador em sintonia com o tema da
Reestruturação dos Missionários Redentoristas, apresentamos aqui quatro pontos da vida de Santo Afonso de Ligório que marcam
e perpassam as linhas gerais e fundamentais da proposta de Reestruturação
presente no 24º Capítulo Geral e meditada na Assembleia da Vice-província.
A primeira reflexão se refere a
vocação específica de Santo Afonso. Falamos da Inspiração para fundar a
Congregação do Santíssimo Redentor. A vida de Santo Afonso foi sempre em busca
de saber o que Deus queria dele. Por isso que estando em Scala sentiu a
necessidade de criar uma Congregação que ajudasse espiritualmente aos
cabreiros, pobres e abandonados, da igreja e da sociedade de Nápoles. O
despertar da fé foi concedido por uma Irmã chamada Maria Celeste Crostarosa.
Foi ela quem assegurou a Santo Afonso: Jesus quer criar um Instituto o qual o
senhor (Padre Afonso) será o fundador. Essa maturidade vocacional para atender
ao chamado de Deus foi se realizando aos poucos. Portanto, a origem dos
Missionários Redentoristas se deu por um despertar vocacional, uma chamado de
Deus, no coração de Afonso, para algo novo, que precisou de uma mudança
vocacional. Isso reestruturou a vida de Afonso e abriu um novo horizonte de
maturidade e discernimento vocacional, para além de uma vida clerical-sacramental.
O projeto de Reestruturação da Congregação é mais do que uma mudança de
estrutura, é um despertar vocacional para um novo horizonte que estamos nos
deparando na pós-modernidade: o horizonte de uma realidade frágil e ferida.
Portanto assim como Santo Afonso despertou vocacionalmente para águas mais profundas,
do mesmo modo é a direção que a Reestruturação tenta realizar em nós: uma
Reestruturação em função da validade, necessidade e vitalidade de nossa vocação.
O despertar da vida vocacional de
Santo Afonso se deu em um horizonte que poucos sacerdotes observavam em Nápoles:
as periferias. A Capital napolitana era cheia de sacerdotes que viviam sob os
cuidados das grandes famílias. Estas eram as ricas madrinhas de hoje. O serviço
apostólico estava acomodado mais ao status e regalias do que ao trabalho
clerical e missionário. A missão destes sacerdotes era mais de manutenção
sacramental e religiosa das famílias do que a construção de um novo estilo e
modo de experimentar e viver a fé. Enquanto que a capital era abarrotada de clérigos,
as periferias e lugares precários (como os hospitais dos incuráveis e a região
dos lazzarones) eram locais escasso do trabalho ministerial e apostólico dos
sacerdotes. Santo Afonso não se acomoda ao status quo, não se submete às
vantagens de uma Nápoles que acomoda sacerdotes para um bem estar clerical
pessoal e até egoísta. Afonso vai para as periferias, toma uma atitude
diferenciada, vai até aos pobres-cabreiros- de Nápoles. Seu itinerário é em
vista de uma nova missão: acolher aos pobres e viver a partir deles. Amparar
aos esquecidos pela Igreja. É nesse sentido que a missão afonsiana se apresenta
na constituição de um carisma específico, de um povo específico, de uma área
específica. Assim como o itinerário de Santo Afonso, a Reestruturação se dá em
vista da ressignificação do carisma e Missão Redentorista. As periferias continuam
sendo um polo especial pelo qual a Vice-província de Fortaleza revitaliza a sua
missão e prioridade apostólica. A Reestruturação está na revitalização de uma
missão que não pode esquecer as periferias existenciais hoje. Um ir ao encontro
dos pobres e abandonados, e não esperar por eles em berço esplendido.
A vida de Santo Afonso foi uma
busca incessante por conversão. As mortificações, os silícios, os jejuns e abstinência
que Santo Afonso realizou durante toda a sua vida tem uma marca forte de
conversão. Era um coração que gastou suas forças em fazer a vontade de Deus. Os
escritos deste Santo possuem marcas de uma pessoa que nunca estava satisfeita
com o que alcançou da graça divina, mas que se via sempre na necessidade de
mudar a partir de dentro: era uma conversão interior que se manifestava no
cotidiano da vida. As horas de oração, a preocupação em assistir aos que o
procuravam, a inquietude para sempre fazer mais pelo Reino de Deus e o gastar a
vida em função dos seus confrades e da missão nos faz ver Santo Afonso como um
homem que não perdeu tempo para se converter e se solidarizar com os seus, a
fim de que todos amassem cada dia mais a Deus. A proposta de Reestruturação é
antes de tudo para a conversão interior, uma conversão do coração e um ser
solidário em vista da união constante e estreita ligação do outro com Deus. Sem
conversão a Reestruturação é projeto falido, sem solidariedade e responsabilidade mútua a caridade
redentora trai o carisma fundacional da Congregação.
Sem a constante unidade e paixão de
Santo Afonso por Jesus Cristo, a Congregação não teria surgido. É a experiência
do amor por Deus que faz nosso Santo fundar uma Congregação sem nenhuma condição
ou segurança de prosperidade. A única coisa que realmente motivou Afonso foi a
fé. E isso se deu por uma constante comunhão com Deus. Uma união de amor que confiou
em Deus, mesmo quando as coisas pareciam chegar ao fim, quando tudo pareceu dar
errado. Foi assim que o pequeno grupo fundacional redentorista começou, num
casebre, sem quase nada, em condições precárias de vida e com algumas pessoas
que posteriormente deixaram o projeto de Deus. Somente a união e paixão por
Jesus Cristo fez com que Santo Afonso não abrisse de mão do projeto. De modo
semelhante o projeto de Reestruturação implica a necessidade de uma união e
comunhão com Deus, uma paixão decidida por Jesus e uma confiança em quem nos
chamou por primeiro. Em poucas palavras: a Reestruturação deve nos motivar para
um revivamento de nossa Espiritualidade. Sem isso o projeto de Deus não vai
funcionar. Pois mesmo que a origem da Congregação seja divina, portanto, sob a
vontade de Deus, a sua existência e continuidade depende de nossa constante busca
e união com Deus. É a nossa resposta de amor para um Deus redentor que nos amou
por primeiro, que nos fez sem nós, mas que não pode nos salvar sem a nossa
opção por Ele.