No dia 22 de fevereiro na Igreja São José (paróquia redentorista do centro de BH) aconteceu o grito profético dos
religiosos contra o crime humano e ambiental que se deu em Brumadinho – MG,
pela multinacional empresa mineradora Vale
(composta por uma corporação de apoiadores, políticos e empresarios). Há
três anos do rompimento da Barragem de Mariana (5/11/15), (que matou pelo menos
19 pessoas, destruiu o povoado de Bento Rodrigues, destruiu matas, nascentes,
córregos e toda a biodiversidade do Rio Doce e sua foz no Atlântico,) agora tal
tragédia se repete, porém com danos maiores para a população e o meio ambiente.
Cerca de 500 pessoas (dentre estas, pobres, povo de
rua, desconhecidos) tiveram suas vidas ceifadas pelos dejetos; as famílias
sofrendo tamanha dor com os que foram soterrados; a cidade com toda a sua riqueza
sociocultural foi destruída; o rio Paraopeba morto, está contaminado e com
número zero de diversidade aquática; o povo indígena Pataxós foi prejudicado pelo crime ambiental.
O desejo de lucro a qualquer custo, a corrupção
fiscal, as negociações políticas e empresariais para o rico empreendimento da
Vale fizeram com que ela fechasse os olhos para esse grande mal e pecado socioambiental, pecado este que poderia ter sido evitado. Mas não: a Vale continuou comprando os políticos, os fiscais,
a imprensa e mentindo nos congressos e reuniões de responsabilidade ambiental. O resultado foi catastrófico para a biodiversidade
da região e população de Brumadinho. Essa irresponsabilidade exige Justiça.
Se no caso de Mariana a empresa transferiu
todos os seus bens para outra empresa, antes da imposição fiscal, e, por conseguinte, não indenizou
os atingidos, não entregou as casas prometidas, não pagou um tostão das multas; na contemporânea situação os mesmo não pode acontecer. Precisamos pressionar nossos governantes para que tal
crime não fique impune. Algumas promessas estão sendo encaminhadas (doação de
100 mil e liberação do FGTS para cada família), mas isso nunca pagará as vidas humanas
e ecológicas que foram apagadas da existência. O chamado a consciência ética é o grande
apelativo de Deus para com esse crime: “Que fizestes? A voz do sangue do teu
irmão, desde o solo, clama a mim!” (Gn 4,10).
Diante deste fato, os religiosos não pretendem
deixar esquecida na história esse evento trágico, e muito menos deixar de gritar
e exigir do Estado (dependente das grandes empresas) e dos governantes (ligados
ao agronegócio, acionistas, projetista e investidores comerciais) leis mais rígidas
frente à falta de limite empresarial capitalista. A população não pode se
calar. Os envolvidos não podem ser esquecidos e muitos menos ficar impunes.
A proposta de flexibilidade nas leis ambientais (presente no governo de Bolsonaro (PSL), Pimentel (PT) e Zema (PN), dentre outros) está
acontecendo e precisa de um basta! Não podemos ficar calados e muito menos
imobilizados diante dessa situação. Por isso, que a Igreja São José foi no dia 22 deste mês um espaço que dava
voz aos religiosos profetas, aos excluídos indígenas e a todas as pessoas de boa vontade.
Infelizmente há muita desinformação. Muita gente não
sabe que atualmente há mais de 24 mil barragens voltadas a diversas finalidades
em todo o território nacional, 790 delas são destinadas a rejeitos de
mineração. E existem ao todo 31 órgãos que abarcam 154 funcionários para
fiscalizarem todas essas barragens (Agencia Nacional das Águas). O governo, dando
liberdade irresponsável às empresas para incrementar a atividade criminosa, estabelece
que: a fiscalização deve ser exercida pela própria empresa. Nada garante que a
fiscalização é de fato efetivada com eticidade. Falta transparência nas
decisões políticas: no ano passado (11/12), em reunião com os órgãos de
Secretaria do Meio Ambiente, a empresa declarou que a barragem era segura.
Urge fazermos alguma coisa para refrear os crimes
que vem acontecendo. É preciso “parar” as atividades mineradoras e fazer uma
fiscalização séria e transparente sob a real situação das barragens; é preciso
investir em projetos que sejam sustentáveis, isto é, vise o bem comum, e não
destrua a vida no planeta por causa de lucro; é preciso ir a luta, assumir os
espaços de crise socioambiental e denunciar as injustiças cometidas contra a
população e principalmente contra os fragilizados e excluídos da sociedade: os
pobres, os indígenas, o ecossistema, a mãe Terra; é preciso medidas éticas, sociais
e políticas de preservação social e ambiental.