(O presente texto foi extraído de parte do 2º capítulo (2.2 Missionários
redentoristas e a questão ética da Migração em direção à contemporaneidade) de
minha monografia, cujo título trata dos "Traços éticos da Migração: das
Sagradas Escrituras à Contemporaneidade". Tal monografia foi entregue no
último semestre do curso de Teologia na Faculdade Jesuíta de Filosofia e
Teologia, no ano de 2019)
Por conta da memória
litúrgica de São João Nepomuceno Neumann, celebrada hoje (05/01/2020) na
Congregação dos Missionários Redentoristas, trataremos deste santo
missionário que entrou em contato com o fenômeno migratório na América do Norte, e, ao seu modo, pode
responder pastoralmente aos problemas éticos que de lá
surgiram.
São João Neumann
(1811-1860) situa-se no século XIX, em Prachatiz, cidade da República
Checa. A educação familiar e os estudos escolares contribuíram para que Neumann
acompanhasse os Migrantes no seu trabalho apostólico a posteriori. A biografia dele nos atesta tal empresa (BOEVER,
2011, p. 29):
Naquela época o comercio entre a Baviera e a Boêmia
era comum, e o alemão era a língua que falávamos normalmente em casa. Minha mãe
era tcheca, mas eu não iria estudar a língua até anos mais tarde, quando entrei
para o seminário. Meu colega Krbecek ajudou-me a aprender gramática e
vocabulário tcheco; em troca, ensinei-lhe italiano, [...] Esse estudo me ajudou
muito [...] durante meu ministério pastoral na América do
Norte.
Estando no seminário, tendo aula sobre o apostolado missionário e
conhecendo as publicações (literatura narrativa) do trabalho missionário do Pe.
Reese no norte americano, Neumann se motivou a ser missionário na América do
Norte[3] – nos Estados Unidos –, após concluir a formação teológica, na
Universidade de Charles Ferdinand, em Praga.
Tendo terminado os estudos, ele põe-se a caminho da América num navio. Após
quarenta dias de navio, Neumann chega em Nova York, no ano de 1836: “Saiu a pé,
debaixo de chuva, para conhecer a cidade. Nova York tinha então 250.000
habitantes. Ficou admirado de ver tantas igrejas protestantes e nenhuma
católica”[4].
A situação dramática dos emigrantes é descrita do seguinte modo: “Nos
anos em que Neumann viveu na América, 4,3 milhões de imigrantes chegaram aos
Estados Unidos e, destes, 1.493.155 eram de língua alemã. Como Neumann, a
maioria chegava na pobreza, não tinha ninguém para recebê-los no cais” (BOEVER,
2011, p. 163). Na cidade de Rochester João Neumann inicia o
seu trabalho com os migrantes. O cuidado espiritual e sacramental é
uma característica constante do seu apostolado:
Mas Neumann chegou dias antes. A vinda de um padre
novo, que falava alemão, correu por toda a parte. E os imigrantes foram
chegando. Neumann arregaça as mangas. A messe é grande. Começa pelo atendimento
às crianças, que falavam um alemão misturado com inglês. Assim mesmo Neumann as
compreendeu e elas o compreenderam. Sábado e domingo vieram os adultos.
Confessaram-se e comungaram [...] (SOUZA, 1987, p. 45).
A presença e responsabilidade
pastoral de Neumann para com os imigrantes era algo notável. “Os pobres que
mais receberam a atenção do Neumann foram os imigrantes” (BOEVER, 2011, p.
171). O zelo e serviço para com os
migrantes se fizeram nas obras de caridades
e num pastoreio de atendimento aos imigrantes até durante o seu episcopado:
Neumann incentivou o atendimento das ordens
religiosas às tarefas de ensinar e cuidar dos fiéis, mas, novamente, de modo
especial para os mais necessitados, os doentes e órfãos. [...] – casas onde os
doentes pudessem receber cuidados, escolas para instruir as crianças e
orfanatos para proteger aqueles que perderam seus pais [...] Paróquias foram
criadas para alimentar a fé dos imigrantes em familiaridade de língua e
cultura. (BOEVER, 2011, p. 173).
De modo sintético podemos dizer que o valor pastoral e ético de São João
Neumann está no cuidado para com os
imigrantes. Tal cuidado se fez não somente na dimensão espiritual ou
sacramental como entendemos hoje, mas também na esfera social e subsidiária da
vida humana. Assim, a pastoral do cuidado executada por Neumann possui ainda
hoje uma certa sintonia com o que pede o Papa Francisco a nós: uma Igreja
aberta, em saída, que acolha, proteja, promova e integre a pessoa humana na sua dignidade.
Tal exigência ética e pastoral é imperativa para com os estrangeiros, os abandonados,
pobres e excluídos. Que São João Neumann nos ajude nessa empreitada!
[1] SCHERMANN, Hans (Org.). São Clemente Maria Hofbauer: perfil
de um Santo. Aparecida, SP: Editora Santuário, 2007, p. 19.
[2] HEINZMANN, Josef. Vida de São Clemente Hofbauer: anunciando
novamente o Evangelho. Aparecida, SP: Editora Santuário, 1988, p. 23.
[3] FERRANTE, Nicola. S. Giovanni Neumann C.SS.R. Pioniere del
Vangelo: Vescovo di Filadelfia. Roma, Editrice M. Pisani, 1963, p.
47-48.
[4] SOUZA, Aloísio Teixeira de. Vida de São João
Neumann: um migrante a caminho do céu. Aparecida, SP: Editora
Santuário, 1987, p. 41.
BOEVER, Ricard. São João Neumann: vida,
escrito e espiritualidade. Goiânia: Scala Editora, 2011.