quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Impasses que interferem no sentido e na celebração do Natal.




O Natal do Senhor, assim como a ressurreição de Jesus, é um dos momentos celebrativos mais culminantes da Liturgia de Nossa Igreja. Na temática passada vimos alguns elementos constitutivos e característicos do Natal de Jesus, que somos convidados a celebrar, como a entrada de Jesus na história, a revelação de Deus-menino, as esperanças trazidas por Jesus, a confirmação da Fé e o testemunho vivo do cristo em nosso meio. Hoje vamos colocar em consideração algumas coisas que dificultam a boa celebração do Natal, ou distanciam o homem do verdadeiro sentido do Natal. Esses elementos negativos do Natal são característicos do desenvolvimento radical e não desacerbado do homem na história e de seu desvio da meta na qual ele é chamado a viver por Deus.

Assim, os fatores negativos que promove ruídos na vivência do Natal são de ordem econômica, política, espiritual e moral. São eles : 1) o capitalismo radicalizado; 2) o sistema governamental laico; 3) a alienação religiosa; 4) a crise moral; 5) e a cultura anti-cultura. Todos esses pontos são observados e destacado pela falta de maturidade e a desvalorização do que há de mais primitivo e essencial na natureza humana: a vida, a dignidade de humano e sua Fé Cristológica.

1)      o capitalismo radicalizado: pólos opostos e inpreparados  para vinda de Jesus

A modernidade trousse para o homem uma produção industrial muito valiosa. Com a bússola, os livros, e a tecnologia primária o homem chegou a horizontes nunca antes visto. A América é um exemplo disso. Assim a modernidade desenvolveu relações comerciais e tecnológica, através da exploração das camadas sociais inferiores e pobres (mulher, crianças, idosos, escravos) e produziu um bom aparato comercial. O desenvolvimento na produção do mercado comercial, a instauração de lucro (à custa do trabalho não-pago) promoveu o que chamamos de capitalismo.

Esse sistema tendia a promover a evolução econômica de uma parcela da camada populacional. Aos poucos a tecnologia foi tomando conta de nosso mundo. Os sistemas de escravidão e exploração passou a chamar-se de emprego, porém boa parcela da população tinha acesso a tecnologia. A televisão, o rádio, dentre outros elementos constitutivos da explosão tecnológica, passou a fazer parte de nossa vida. Evoluímos muito em questões econômicas e tecnológicas, porém regredimos em questões humanas. O homem é observado como um meio econômico, como uma peça (descartável) que tem a utilidade de promover capital (lucro). O sentido do ser- humano aos poucos foi se perdendo até a contemporaneidade.

 É claro, algumas empresas promoveram assistência psico-social para resgatar o valor do homem-pessoa, enquanto funcionário da empresa, porém as relações de recursos humanos estão prioritariamente trabalhando o homem e destacando suas potencialidades e importância em função da promoção e desenvolvimento da empresa, e não do trabalhador. Sem termos noção do que estava acontecendo, a humanidade absolveu esse sistema a tal ponto de todas as suas relações sociais, amorosa, moral e política, estarem pautada sob a economia. Pensamos e agimos de modo econômico. Os amigos que estão em ascensão econômica, ou de cargo de trabalho, muitas vezes tem mais valor do que os pobres, ou os que estão na última classe econômica. Enquanto muitos têm pouco, poucos têm muito. Os interesses passaram a ser de bens de valor. A natureza é explorada e poucas são as pessoas que tentam promover de fato um desenvolvimento ecológico, mas isso não promove lucro, então pouco se faz, apesar de muito se falar.

Nesse sistema capitalista existe uma falha que está nos dois pólos de sua economia (a escassez e a super abundância). Os dois extremos prejudicam de modo fortíssimo a vivência do natal de Jesus. Em um Jesus e a esperança de Jesus se faz necessária e urgente, em outro reclama por uma efetivação da vontade de Deus, porém os dois pólos não estão preparados para o nascimento de Jesus, apesar de se fazerem necessitantes. De modo simplista, em quanto na mesa do pobre, pouco tem para promover o encontro fraterno entre famílias com o menino Jesus, com a promoção da esperança de vida feliz plena (e neste local ocorre forte mente o grito do Cristo que é carente de tudo), com a dignidade da pessoa humana, de seus valores enquanto cristão, em outros lugares existe uma super-abundância de bens materiais, que denotam a inutilidades de muitos objetos, de muitos bens para o verdadeiro valor do Natal. Neste caso o espaço e a situação econômica, muito mais prejudicam a identidade e unidade e encontro pleno com o Menino Jesus, que nasceu numa estribaria (curral de cavalos) do que denota uma verdadeira celebração do nascimento de Cristo-Menino. Neste sentido a crítica se dá pelo fato de enquanto nos cantos escassos economicamente se situar uma injustiça, exploração e déficit na disposição e valor do homem para se ter uma digna e verdadeira celebração do nascimento das esperanças de felicidade plena do menino nazareno, em outros locais muito se tem em bens, em objetos, em material, e muito se perde no verdadeiro encontro de um Jesus desprendido de coisas passageiras. Portanto, a disposição de celebração do Natal, e daquilo que tudo de fundamental e necessário promove a vinda do menino Jesus, nesses dois espaços são pouco aproveitadas, daí a necessidade de um profeta, do verdadeiro sentido do Natal.

2)      o sistema governamental laico

Com a separação do estado com a Igreja suas relações passaram a ser de pura diplomacia e seus objetivos distintos. Enquanto que na Igreja se fala de um reino de paz, de amor, de partilha, de fraternidade e unidade como irmãos( apesar de nela está inserida seu caráter de Igreja falha, pois movidas por mão humanas); enquanto nossa Igreja se preocupa em ser um efetivo indicador de Jesus como nosso salvador, porta para o encontro com Deus; enquanto ela promove ações sociais para manutenção da vida de muitas pessoas carentes, e ao mesmo tempo mantém uma relação de compromisso com suas instituições sociais, o estado, por sua vez, tenta promover a manutenção sócio-política do povo. Assistências sociais como educação, moradia, cidadania, distribuição de empregos, dentre outras coisas são atividades promotora do estado. Essa cisão do setor antropológico do religioso limitou a ação da Igreja, e por outro lado excluiu aos poucos o caráter religioso das instituições seculares.  Neste sentido a difusão e promoção de outras morais, a preocupação do aspecto econômico em primeiro plano e a gerencia de governo pautado por legislações hierárquicas, a tal ponto de monopolizar a distribuição de renda e cargos vitalícios, são contributos do estado. Assim, a regência do estado está promovendo outras coisas de caráter ontológico, porém que pouco direciona o homem contemporâneo para a sua essência. Enquanto natureza, o homem é essencialmente religioso, e enquanto seguidor de Cristo, o homem é essencialmente Cristão. Neste sentido, sua felicidade está não só no plano antropológico, mas faz parte de um itinerário transcendente. Se o estado não é religioso, e nem tem a função de promover aquilo que é essencialmente humano, então o natal do Senhor não está dentro de sua preocupação de regência, muito menos no intento da promoção religiosa. Neste sentido pouco se estimula uma disposição moral, política e social na área parcial da natureza humana: sua religiosidade cristã. As lacunas do estado, na tentativa de promover um desenvolvimento do homem em sua totalidade, são inevitáveis!E a disposição para o verdadeiro encontro e aderência as esperanças do menino Jesus pouco, pra não dizer nada, se realiza pelo estado.

3)      a alienação religiosa

No aspecto religioso estamos diante de alguns problemas quanto a forma religioso- cristão de se obter uma maturidade de fé, e uma espiritualidade clara e evidente que promova um efetivo e proveitoso encontro natalino com Jesus. Durante a história de nossa Igreja tivemos diversas camadas religiosas que promoveram diversas diretrizes acerca do modo de se compreender e expressar a revelação divina no seu aspecto mais original e fundamental. Várias foram às correntes que se desenvolveram no interior de nossa Igreja, porém, na maioria das vezes muitas delas entraram num radicalismo completo. Cito aqui duas correntes atuais que ainda hoje tanto são extremistas como exploram aspectos diferenciais do mesmo Jesus: A Teologia Libertária e a Renovação Carismática. Essas duas correntes internas de nossa Igreja se identificaram com seu viés de experiência e expressão de Deus, na sua linha particular religiosa de tal forma que, em muitos casos, excluíam, ou não participavam de outros eventos ou movimentos que não tivessem o seu caráter pessoal de identidade. Assim a Teologia da Libertação fez uma escolha preferencial pelos pobres de modo radical, que sua forma de anuncio de Jesus passava a ser um Jesus que se identificava com os pobres e lutavam pelos mesmos. Em muitos casos essa corrente não focava em outros fatores determinantes da espiritualidade religiosa da Igreja como um todo. Muitas vezes se esqueciam que os ricos também são chamados a participar do Reino de Deus. Em determinado sentido, essa correte tinha uma espiritualidade promotora do seu espaço de luta, delimitando a mensagem salvífica de Deus. Suas alas radicais mais se inclinavam para uma exigência social e política, do que um momento de abertura para o contato introspectivo com Deus. Na renovação Carismática o oposto se fazia: a consciência crítica e de luta era pouco explanada, a expressão de fé mais parecia uma espiritualidade limitada pela ação do Espírito Santo e o valor da oração (destaco também um tipo diferencial de oração que valorizava mais uns do que outros) era algo principal e primordial na vida do religioso. Esse radicalismo espiritual deixava a desejar outros fatores essenciais humanos como o valor da dignidade do homem enquanto homem-participante deste mundo e a luta por uma vida digna em locais de extrema pobreza. A fé é o forte desta corrente, porém o que não concorresse para essa identidade era visto de modo excluso por esta corrente. Inclusive alguns aspectos que são essenciais da natureza humana. Contudo, essas duas correntes, e existem muitas outras, mas destaco as mais conhecidas, são formas extremistas de observar a face de Jesus. Neste sentido, qualquer radicalismo tende a um erro, tanto no assertivo contato como o natal de Jesus, quanto na promoção da boa nova de Jesus. Contudo, é relevante cita outros movimentos que pouca postura clarificante tem diante do mistério natalino. Algumas correntes ou movimentos religiosos se prendem as aparições divinas, o caso não é que são verdadeiras ou não, reais ou falsas, mas pelo fato de ser o objeto determinante e exclusivo da motivação e ação religiosa. Jesus fez milagres para cumprir o que estava contido nas palavras dos profetas, mas o verdadeiro sentido da fé está na tentativa de unidade com Deus e no valor da dignidade do homem enquanto natureza conformada pelo menino Jesus. Outro fator que mais torna confuso o entendimento e a aderência ao projeto de Jesus instaurado pelo seu Natal é a mistura de religiões, o sincretismo religioso é algo que contribui e atrapalha o verdadeiro sentido do Natal de Jesus. Na verdade mais atrapalha que contribui. Em muitos momentos não se sabe se Jesus é observado como o filho de Deus, como o salvador do mundo ou como mais um deus de culto divino. Os elementos indicativos do Natal são misturados a outros elementos a tal ponto de se perder o sentido essencial natalino. A mistura do fato religioso das aparições como outros elementos místicos pagão, ou cosmológicos, ou de cultura afro abrasileirada numa mistura entre o consciente e inconsciente são fatores que mais complicam do que esclarecem acerca do entendimento da espiritualidade natalina.

4)      a crise moral

Com a transição da modernidade para os tempos atuais a globalização promoveu um contato efetivo entre os diversos países.  A intercomunicação, a intercomercialização, dentre outros inter, foram as bases para tornar a visão do mudo mais unitária e complexa. Antes a visão de mundo e sua disposição moral estavam determinadas pelos limites territoriais de um povo. Nos países circo-vizinhos da Itália, na modernidade a visão exata e objetiva do homem passou a ser os elementos determinantes do comportamento humano. A visão individual passou a entrar na noção de homem. Neste sentido, a moral se diferenciou em sua definição pelo seu aspecto de extensão. Assim, a visão dos indivíduos sobre si, os valores que ele mesmo se identifica são concebidos como fatores de destaque do estudo da ética. Neste sentido a ética é os valores, hábitos, costumes inseridos nos indivíduos que caracteriza sua personalidade. A ética está no âmbito pessoal, pois não se determina em função da sociedade, mas do ego humano. Já a moral fixou-se como aspectos de um povo, ou comunidade, aquilo que define seu caráter de ser, aquilo que está contida nos seus valores que por convenção se tornou universal. Portanto, a moral está no âmbito de comportamento, de valos, de cultura de um povo. A globalização tornou a relação intrínseca entre as diversas morais que tanto o conflito, o choque, de morais como a mescla de suas diversidade moral foi inevitável. O intercambio comercial, tornou-se um intercambio moral, daí o conflito ocorreu.  Conforme foi se aprimorando o capitalismo as relações internacionais seguiram a mesma lógica. A migração tornou outras morais próximas, o contato com culturas e valores distintos e múltiplos tendenciaram ao que conhecemos como relativismo. Daí como se vê no Brasil, existe uma pluralidade de morais que subsiste no nosso país. O cristianismo tem uma moral que foi embutida no Brasil, antes do Brasil ser Brasil. Isso se deu pelos Portugueses (além dos Franceses, Ingleses...) pelo encontro e invasão de novas terras: América. Com eles inseriu-se o cristianismo aqui. As culturas, e religiões que tinham passaram a ser ignoradas, se não massacradas, porém aqui ficou uma mescla de elementos morais cristãos com outros.  Digamos que mesmo assim, a moral cristã era forte, portanto predominante. Com a migração e o intercambio comercial, com a laicização do estado, o capitalismo e a pluralidade de morais, que se formaram e se reformaram a moral cristã passou a ser questionada e descartada ao plano de menor importância. O povo essencialmente é cristão, ou tem valores que são da moral cristã, porém o envolvimento e a relação com outros valores e morais diversas, fazem o sentido do Cristianismo está perdendo sua força. O Brasil é um país festeiro, as questões econômicas estão inserida no seu sistema de valores, os valores antigos não se sustentam e tudo está entrando em crise e num relativismo. É constante ouvirmos as pessoas dizerem: “os tempos agora estão diferentes! Diante disso, a promoção da boa nova acaba seguindo o mesmo caminho, quer queiramos quer não. Uma norma, ou regência de governo permanece quanto todos, ou pelo menos a maioria, a aceitam e a mantém. Porém, como o conflito de morais, com as crises, a sustentação se torna sofrível. Daí, muitas vezes se insere uma moral fantasma: só se fala que se deve ser assim, se deve agir assim, mas que na verdade poucos fazem. Esses fatores são imprescindíveis para o entendimento de como se está celebrando o natal do Senhor. Pois como a variação de valores, com as crises morais, o ambiente pouco está preparado, apesar de muito necessitado, para a inserção da esperança que renasce. Vale salientar que o natal é celebrado, porém que neste sistema que estamos é pouco vivido e continuado.

5)      a cultura anti-cultural-religiosa

Atualmente, querendo ou não, a cultura brasileira interfere de certo modo no verdadeiro sentido e valor do Natal do Senhor. Com o desenvolvimento tecnológico, as culturas tornaram-se institucionais. O valor humanitário, o espírito de unidade e fraternidade que se tinham nas culturas foram ficando para trás. A técnica entrou no espaço cultural e artificializou inclusive nossas relações. Antes havia uma convenção e relação da cultura, do valor humano com a religião Cristã. Os dias festivos estavam unidos aos dias religiosos. Muito de respeito se tinha pelo valor da moral e cultura que se promovia na sociedade. O valor humano e aquilo que compete aos homens e mulheres, enquanto cristão, era prioridade. As músicas, as festas, a culinária, a estrutura social tinha um modo muito expressivo do humano e da valorização do indivíduo. Porém, com a inserção de novos valores, novos hábitos foram sendo cultivados, e outros perdidos. As estruturas econômicas passaram a ser de estrema importância e o valor do capital passou a cercar toda criatividade humana e toda estrutura comportamental humana. As culturas estão sendo deturpadas por valores que não engrandecem e nem dignificam o valor do homem e da mulher. A cultura que elevava o valor religioso e destacava a importância de Jesus no Natal, cada vez mais se distanciam desse propósito. Daí, o que não tem nada de belo, entra no currículo cultural humano, e o verdadeiro sentido de unidade, fraternidade, paz, amor, família, estão sendo ignorados e colocados no último plano, ou a serviço do movimento de uma economia. O artificialismo é inevitável e as relações humanas ficam cada vez mais desgastadas. Distanciando-se do verdadeiro sentido do Natal: unidade, fraternidade, dignidade, amor, paz...
Contudo, os pontos em questão tentam esclarecer acerca dos impasses que temos na atualidade, que nos distanciam cada vez mais do mistério natalino. A unidade com Jesus nos coloca diante de uma busca por tudo aquilo que ele promove, pelo seu reino que inicia-se em nosso meio, a partir do nosso mundo, quero dizer, de nossa compreensão de mundo. Precisamos estar atentos para não jogar fora a promoção da vida e da felicidade que está inserida na boa nova de Jesus e que sintamo-nos responsáveis e contentes por levar o projeto de Jesus aonde ainda não foi instaurado. Feliz Natal para todos!

Isaias Mendes, Postulante Redentorista.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O sentido do Natal!


A Igreja Católica e seus membros-participantes costumam, enquanto Kerigma do Redentor e continuador da nova aliança, celebrar, na sua liturgia, de ontem para hoje(25/12) um momento especial que tornou-se um fato histórico na vida do povo de Deus: o nascimento e vinda de nosso senhor Jesus cristo, que é Menino Deus encarnado, na condição humana. Celebrar o Natal de Jesus implica em mudanças de postura na vida do homem, enquanto cristão, para o bem viver e melhor celebrar o nascimento do salvador. Daí, se faz importante, antes de tudo, saber o que realmente celebramos no Natal e o que somos chamados a viver nesse mistério do encarnado. Daí no Natal do Senhor, celebramos: a) a memória do nascimento do Menino Jesus; b) a revelação de Deus-menino em nosso meio; c) renovação da esperança trazida por Deus-menino encarnado; d) a confirmação da fé e da promessa de Deus pelo seu filho; e) o testemunho de vida, enquanto continuador de Jesus. Que semelhante a Agostinho, possamos entender para melhor amar a Cristo nazareno que celebramos de modo primário, particular e fundamental neste natal.

a)      a memória do nascimento do Menino Jesus

Conforme a liturgia da Igreja Católica Apostólica Romana, toda a Igreja hoje faz memória a um evento particular e fundamental que trouxe ao mundo a realização da promessa de Deus: o nascimento de Jesus, o nosso salvador. Assim, na liturgia todas as leituras estarão direcionadas sobre a figura central de Jesus. Nela fazemos memória pela palavra proclamada, pela tradição e magistério de tudo que Jesus nos ensinou, enquanto esteve na condição de homem. A bíblia (livros sagrados) é um dos instrumentos reveladores que Jesus esteve em nosso meio, entrou na nossa história e a marcou de modo irrevogável a nossa vida. Os quatro evangelhos sinópticos falam dele e narram o seu nascimento. É claro, não se pode interpretar o nascimento de Jesus ao pé da letra como está escrito dos evangelhos, pois cada evangelho foi escrito com uma intenção particular em conformidade com o seu tempo histórico e as questões e inquietações que os envolviam, mas o que não podem ser descartado é que fundamentalmente Jesus nasceu, veio ao mundo, participou da vida dos homens, revelou a Deus e seu projeto de salvação. Portanto, Por sermos cristão, Jesus se torna a razão fundamental de nossa fé e de nossa vida. Quando no natal proclamamos as leituras que falam dele, estamos rememorando o evento Cristo nazareno que é a razão de nossa esperança numa vida beata (cercada de virtudes e sabedoria de Deus). Nesse sentido cristo é conhecido, lembrado e amado cada vez mais pelos seus fieis (povo)que seguem o seu caminho.

b)      a revelação de Deus-menino em nosso meio

A bíblia relata o fato nazareno como algo comum, porém cercado de mistérios sobre Jesus. Conforme a narração dos evangelistas, Jesus nasce com um propósito e em vista de uma promessa divina: salvar as ovelhas perdidas da casa de israel. Seu nascimento é marcado por uma história que vem anterior a sua presença na terra: a história dos hebreus, do povo de Israel, do povo de Judá e dos judeus até Jesus. Daí se faz presente na narração de Mateus uma genealogia, que é a descendência de Jesus. Jesus provém de um projeto de unidade plena do homem com Deus, que se fez no gênese e que foi quebrado pela intenção do homem tornar-se como Deus: pecado. O pecado (do grego: desvio de percurso) fez com que homem se afastasse de Deus, mesmo diante de rituais de purificação e sacrifícios para perdoar os homens de seus erros e reconciliá-los com Deus. Diante da distância do homem com Deus se faz presente uma promessa do Deus. Ele terá que sacrificar-se como um sacrifício perfeito para apagar a mancha do pecado, neste sentido é             que Deus, sendo Uno e Trino, se entrega, na pessoa de Jesus de Nazaré, a fim de salvar o homem. Deus não é conhecido, mas se revela (trás a tona o que estava encoberto, tira o véu) ao poucos na história da humanidade a partir de seu filho. Nos relatos dos evangelistas vemos vários símbolos (magos, incenso, mirra, os anjos,...) que marcam essa revelação, que esclarecem a mente do homem acerca do mistério de Deus, na pessoa de Jesus. Neste sentido, toda teologia evangélica (que é a narração de fatos, justificados por narrações ou estórias antigas (Antigo Testamento), que indicam Jesus como salvador. 

c)       renovação da esperança trazida por Deus-menino encarnado

A celebração do Natal não é um reviver do menino Jesus em nosso meio de modo atual. Ele não renasce em nosso meio, pois Jesus já nasceu na história e isso só acontece uma vez. Mas se nós, povo de Deus que caminha no seu seguimento, não celebramos o nascimento de Jesus, então o que celebramos?! A resposta é simples: celebramos a esperança da salvação, de uma vida bem-aventurada (feliz, virtuosa) em nosso meio. Com a memória do nascimento de Jesus somo convidados a sentir a mesma esperança que os apóstolos sentiram quando Jesus estava com eles. Somo convidados a sentir a mesma alegria dos magos, Maria e José que acolheram a salvação em suas vidas. Essa esperança, esse espírito deve ser o mesmo que permeia em nós quando celebramos o Natal de Jesus. Em Jesus, um projeto verdadeiro e pleno de eudaimonia (Grego: felicidade) se concretiza e revela. Toda história do povo de Deus, desde Abraão e Moisés, na libertação do Egito, está com um anseio, uma esperança de verdadeira felicidade do homem em Deus. Essa esperança se realiza plenamente na encarnação do logos (Grego: palavra, ou razão) de Deus, no seu filho Jesus Nazareno. Com seu nascimento a esperança de felicidade, de paz, de vida em abundância, de eternidade, se torna possível. Na figura de um menino veio todos os sonhos do homem: unidade com Deus.
d)      a confirmação da fé e da promessa de Deus pelo seu filho

O nascimento de Jesus está vinculado a uma fé que vem desde Abraão, no tempo histórico. O Deus que prometeu a Abraão ser seu Deus e nele abrir as postar de um advento de geração infinita, como as estrelas do céu, é o mesmo Deus que libertou Moisés e seu povo da escravidão no Egito, que prometeu uma terra santa, que orientou os Reis (Davi, Salomão, Saul) para governar seu povo, que anunciou, pelos profetas, o Messias e prometeu salvar seu povo, e reconciliar-se com o homem por meio de um sacrifício de Cruz. Essa promessa inicia seu advento por João Batista e entra em sua efetividade pelo mistério encarnado de Deus-Menino. Portanto, uma espera ansiosa se realiza e uma fé que segue uma tradição é confirmada. Jesus é a plenificação dessa promessa. No Natal de Jesus Deus se revelou, tornando-se humano de modo consubstancial a sua natureza divina. O fato Cristo torna efetivo-histórico a entrada de Deus ao mundo temporal, a história. Antes Deus era indescritível, inapreensível em sua extensão e essencialidade, porém com o projeto da encarnação Deus se tornou humano, portanto compreensível e próximo. Agora o que se acreditava estava confirmado pela humanização de Deus. É importante salientar que sendo Deus homem, sua essência divina não é descartada. Daí, Deus se conforma a um estado humano sem deixar sua essência divina. Assim, nas nossas liturgias natalinas, trazemos memória de um Cristo histórico, revelado, esperançado e confirmado pela nossa fé

e)      o testemunho de vida, enquanto continuador de Jesus

Celebrar o Natal de Cristo não é só fazer memória de um acontecimento histórico, da entrada de Deus em nosso mundo, mas isso implica em coisas mais profundas e de extrema importância para um cristão. O diferencial em ser cristão é que com o Natal de Jesus nossas esperanças se renovam e nos tornamos participantes deste projeto salvífico.  A entrada de Deus-Menino na história implica uma promessa realizada, porém ela não se encerra somente em Cristo. Contudo, Jesus é o centro de toda mensagem salvífica, mas ele nos convida a participar deste projeto. Ele o realizou na cruz, mas nos deixou uma missão de propagador dessa mensagem. Neste sentido somos anunciadores da boa nova de Jesus e continuadores de seu projeto. O anúncio do Natal, vida, paixão e ressurreição de Cristo está estreitamente unido ao testemunho vivo dessa boa nova. Assim damos testemunho da fé desde os seus primórdios e continuamos com seu projeto redentor até a vinda de Jesus. A vida de testemunho torna nossa fé consistente e verdadeira, efetivada em bases consistentes transmitida pelo anúncio na vida prática e nas celebrações da Igreja.
Por fim, o que celebramos está totalmente relacionado pelo que somos chamados a viver. Nossa liturgia trás uma riqueza espetacular que ganhou forma no desenrolar da história. O Natal de Cristo implicou em mudanças profundas na história, seu projeto e sua vida é uma abertura de unidade a Deus. E nós somos convidados a dá testemunho da palavra que outrora foi testemunho de vida e experiência com Deus. Que o natal de Jesus seja um convite a identidade e conformidade do cristão com o projeto (vontade) do Redentor.
Isaias Mendes, Postulante Redentorista.

domingo, 1 de julho de 2012

Jesus Cristo Libertador(Boff)-Resumo.


O livro Jesus Cristo Libertador de Leonardo Boff trata-se de um conteúdo inspirador a fim de reforçar o compromisso humano a libertação numa perspectiva cristã. Ele fala a cerca da figura de Cristo como promotor da vida e da liberdade humano-sócio-espirítual e do seu processo de repercussão, na história da humanidade, como Cristo Libertador a partir de um movimento social, crítico, e consciente, diante da situação de exploração, domínio e repressão que surgiu na América Latina no de 1960.

A finalidade do livro, de temática teológica libertária, é promover o anúncio do Cristo Libertador, com suas práticas ativas, sua mensagem, morte e ressurreição como possibilidade plena de libertação, fundamentada numa mística de solidariedade e identificação com os pobres, porém contra a pobreza (Cf. BOFF, 2009, p.14).

Daí Boff explana (p.15-38) a figura de Jesus como libertador (cristologia) inserido em um dado contexto histórico periférico. Surge assim a importância do lugar social para se fundamentar, criar raízes, a proposta libertadora de Cristo, uma vez que sua presença é constante e atual nos nossos tempos. Essa noção acerca de Jesus como libertador do povo oprimido, nasceu por via de uma exigência social concreta de fé a favor da vida e dignidade em meio a uma situação de opressão e transtorno. Neste sentido se tem uma intrínseca relação entre teoria e prática que se faz em um momento histórico, cultural, ideal e ético. Dessa forma a Cristologia não se torna abstrata, mas caminha com os pés no chão.  Neste aspecto a cristologia se divide em dois viés: os que analisam a situação pela qual surge a necessidade de atividade de fé libertadora das situações opressoras, e os que trabalham com a sensibilidade, ou o vivenciado, estes tem uma ação ética.
A cristologia libertadora tem uma articulação sacramental designada como compreensão das realidades conflitantes, anunciando a boa nova e denunciando a injustiça pela promoção do amor. Esse é seu caráter profético. A libertação se refere não só a mudanças éticas do individuo, mas a mudanças estruturais do sistema que gera desigualdade social e dos indivíduos como participantes desse sistema. Neste sentido, a Fé surge e se direciona como uma alavanca de soerguimento dos mais necessitados.  A questão central é promover o Reino de Deus a partir do resgate dos valores humanos, de olhar especial aos mais necessitados e  excluídos. Infelizmente por muito tempo se teve o paradigma do silêncio, quanto a essas situações de injustiça, porém essa atitude de reservação pouco auxiliou na América Latina uma verdadeira libertação. O cristo histórico é o ponto principal focado na América Latina. Nele vemos uma proposta de prática para transformação das realidades gritantes.

 No capítulo II (p.38- 48) lançasse a proposta definitiva de Jesus. Ele é a resposta de todos os nossos questionamentos. Nele vemos a instauração do Novo Reino, que se inicia pela modificação do sistema contraditório de nossa realidade.  Ele é a própria resposta de Deus ao homem. Pela sua ressurreição inicia no marco da história a proposta escatológica, porém essa proposta iniciou, mas ainda não chegou a sua plenitude. Seus milagres revelam a modificação da vida velha para uma nova. Sua pregação é centrada em dois tempos: presente e futuro. Presente como atividade do homem, ação e testemunho da proposta de libertação. E futuro, por que terá seu fim quanto todas nossas limitações serão sanadas. É relevante citar que nessas tuas perspectivas temporais se faz a direcionamento humano. O seguimento do mesmo implica numa conclusão salvífica e libertadora. Porém, esse reino tão pregado e vivenciado por Jesus é de característica material, espiritual e humana. Sendo o último o continuador principal desta concretização.

No capítulo III, Boff explana o reino de Deus que é uma realização do humano e do cosmo, e esse seguimento implica uma revolução total, no sentido de mudança da pessoa humana e da estrutura do mundo que o comporta. Uma vez que, a escolha do Reino requer conversão, mudança de caminho. Daí, a exigência cristã envolve uma decisão e divisão a favor do Reino. Nisso entra a dependência a Deus. No tempo judaico a religião estava determinada pela Lei e prescrições legais que oprimiam o povo. A posição de Jesus, nesse sentido, é contra essas lei, quando não se age em função do amor e do serviço. Daí a principal conversão do homem tem seu fundamento no amor. Este está a serviço do outro, ele salva e supera a justiça. Para que exista o amor é necessário a filiação e unidade à Deus. Contudo, o Reino é uma abertura e plenificarão da liberdade. Para o fariseus o que se preservava era a Lei e a postura, as regras e as normas para se viver a espera do salvador, porém para Jesus o caminho é oposto, ou seja,  o que vale é a misericórdia,  a boa fé e a unidade. Jesus seguindo o caminho oposto, portanto, deve ser excluído, eliminado.

O quarto capítulo(p.60-74) fala da personalidade de Jesus como alguém original, no sentido de trazer uma mensagem nova, de libertação, realista e com bom senso, ligada a sabedoria divina, que chama o homem a tomar um decisão. Jesus, assim, adquire a característica de profeta, porém, ele é mais que isso. Ele não é autoritário, mas manso e humilde, e assim, utiliza de exemplos cotidianos para expressar sua mensagem e revelar a vontade do Pai sem excluir a razão pra compreender as coisas do Pai. O que está dentro do homem é o que lhe faz mal. De um lado ele apresenta um reino novo e se firma unida a Deus, de outro é extremamente humano e possuidor de sentimentos naturais. Por um lado é firma nas decisões, por outro, quebra pré-conceitos. Sua boa nova insere no homem a autonomia e obediência. Contudo ela segue um tri pé: Proposta, resposta e responsabilidade.

No V (p.75-88) O sentido da morte de Jesus se faz pela sua boa nova e revelação. Ele criou inimigos (autoridades religiosas), e sua morte será pela inveja, incompreensão, má vontade e medo dessas autoridades. Todos eles ficavam desconcertados diante de Jesus, que criticava-os e os chama a uma tomada de decisão pelo Reino de seu Pai. Assim, um dos seus discípulos o trai, por incompreensão. Judas queria em Jesus um revolucionário que libertasse politicamente Israel. Porém Jesus é mais que isso. A liberdade característica de sua vinda a terra é da totalidade do homem e da configuração de seu meio.  Judas o trai com um beijo, no sinédrio ele é jugado e por fim, acusado de blasfêmia e condenado a morte de Cruz. A caminhada de Fé de Jesus é mais do que uma novidade simples, é um compromisso com a vontade do Pai. Essa é a parte mais importante pela qual Jesus se segura até o final de sua morte.  A morte é consequência de sua tomada de atitude, porém é a ressurreição que dará o verdadeiro sentido de toda relação com o Pai. O sem sentido aparente da morte de Jesus, passa a ter total sentido com sua ressurreição, uma vez que toda a proposta de Jesus é tornar o homem livre de fato e livre de forma plena, mas isso só é possível com o homem estando em total unidade com o pai, daí, é preciso superar a morte, ou seja, ressurgir. Mas isso só é possível através da fidelidade à vontade do Pai.

 O capítulo VI (p.89-115) destaca o ponto central da fé cristã. Jesus ressuscitou, nós cremos e somos testemunhas disso. Ele não reviveu, mas verdadeiramente ressuscitou. Com a completude da vontade do Pai, Jesus fez sua passagem, e agora é verdadeiramente livre. Ele completa o caminho de nossa libertação de todo tipo de alienação e limitação. Esse é o fator consequente da ressurreição: A liberdade verdadeira. A superação da morte é um fato captado pela Fé, pois ninguém viu como se deu a ressurreição. Porém temos diante de nós dois fatos que revelam essa ressurreição: O sepulcro vazio e as aparições. O sepulcro é um convite à Fé, de que Cristo ressuscitou, a aparição é uma experiência de impacto que se impôs de fora.  As aparições na Galileia são de dados históricos, já as aparições em Jerusalém são dados de Fé. Com a ressurreição entra em destaque a reabilitação de Jesus no mundo. Ele que outrora morrera miseravelmente, e sem justificativa precisa até a morte, com a ressurreição toda sua trajetória entra em sentido, ou seja, ele tinha que morrer, passar por todo martírio, carregar o nosso fardo para dar-nos a salvação. A sua ressurreição implica o final dos tempos, no sentido que o fim pelo qual o homem está determinado a ser pela graça de Deus, já se iniciou. Daí, João vai tratar deste fim a modo apocalítico, ou seja, de forma mística. Por fim, com a ressurreição inicia-se a Igreja, professa e seguidora deste Jesus.

Boff (capítulo VII) firma que com a ressurreição entramos numa continuidade da cristologia, pois o Cristo que viveu em nosso meio e morreu na Cruz, agora ressuscitou. A ele é dado vários títulos a fim de encontrar a sua totalidade presencial na história e no cosmo.  Daí, os motivos de defini-lo como filho de Davi, Messias, o Cristo, dentre outros títulos. Porém, não são os títulos que importam, mas a sua forma de revelação, a sua sabedoria e autoridade, não de imperador, que o adicionam esses títulos.  
O capítulo VIII (p.116-130) fala da longa reflexão teológica a cerca da figura de Jesus, a fim de defini-lo com esses títulos. Daí ver-se em Mateus e Marcos a tentativa de a partir da Fé interpretar os fatos relativos a vida de Jesus. Nas comunidades são recolhidos as lembranças e comentários da vida de Jesus. Neste âmbito é que se caracterizam os escritos que conhecemos como Evangelhos. A fé agora procurará compreender, a partir do início do século, o mistério. Mateus e Lucas destacará Jesus como o ponto ômega da história, o messias, filho de Davi e filho de Deus. Sua concepção é virginal, Seu nascimento é em Nazaré, porém Lucas direcionará o nascimento para Belém, a fim de trazer nova compreensão a cerca do mistério de Jesus.  Este tem características dos heróis do antigo testamento, porém se torna a realização completa do projeto, da vontade de Deus.

O IX (p.131-152) fala de onde surgiu a compreensão de Jesus como cem por cento humano e cem por cento divino: da vida, convivência e imitação de Jesus. É importante a forma dialética que se apreende a Deus, revelado na pessoa de Jesus. Este era tão humano que só poderia ser Deus mesmo. Daí, Deus se humanizou na pessoa de Jesus, e através da mesma se encontra a sua divindade.  A unidade entre as duas naturezas de Jesus é de tal forma unitária e distinta que nem Deus nem o homem perdem a sua essência. Daí, implica que Jesus possui duas naturezas porém é uma só pessoa, completa. É perfeitamente homem e perfeitamente Deus. Por isso que se diz que ele é a ponte que liga Deus a nós.

Por conseguinte, no capítulo X, a ressurreição de Jesus traz-nos algo nunca antes visto. Com a ressurreição entra em destaque um novo horizonte teleológico. O cristianismo não vive de saudades, mas de uma experiência viva e de fé, é uma celebração e não uma re-lembrança da vida. Nele já vivemos uma forma de vida que supera a morte, na qual Jesus fez abertura com a sua vida. Neste sentido as limitações deste mundo não existem mais. Jesus as superou com a vida. Mas, sua realização, da vontade do Pai, nos indica um horizonte futuro que já se iniciou. O horizonte da realização plena do homem, com Deus, com o outro e com o cosmo. A ressurreição é a escatologia que já atingiu seu fim: Plenitude de Deus, porém cabe ao homem realizar esse percurso na vida. Ele iniciou, mas chegará em sua plenitude. Jesus não está separado deste mundo, mas faz parte dele, está inserido deste em todas as coisas. É o que Boff chama de realidade cósmica. Jesus está presente hoje no cosmo, pois a história o apreendeu, pela encarnação, mas ele depois de morto revela o homem que estava oculto: o homem espírito. Daí o que era latente e oculto, porém presencial na vida de Jesus, se torna patente e revelado em toda sua potencialidade. Jesus é o centro de tudo, de toda realidade cósmica. Ele interessa a toda realidade, pois tudo converge para Ele. O homem é a imagem de Cristo, sendo Cristo a imagem do Pai. Daí, nós possuirmos interiormente a presença de Deus, e somos parte de Cristo. O outro é o lugar onde se percebe a transcendência. Ou seja, Deus. Nossa Fé nos orienta a olha para o outro e enxergar a presença de Deus, e nesse ato de Fé, ama-lo, servi-lo, ajuda-lo. Pois, fazendo isso ao próximo, estamos fazendo ao próprio Cristo, que se encontra no cerne da pessoa humana.
O Cristo se apresenta também no anônimo e latente. Nas pessoas que levam a sua causa adiante sempre que se procura um fim ético, mesmo que não façam referência a Cristo explicitamente. Porém ele também se apresenta de forma explicita e patente nos batizados na fé em Jesus, naqueles que decidem imitar a Jesus no sentido de ter o mesmo sentimento que Jesus teve. Porém, esse conceito muda e ganha um novo sentido o ser cristão: ligar-se a Fé, pela esperança e pelo amo, pelo espírito e pelo sacramento, dentre outros.
A Igreja como povo reunido é considerada o corpo do Cristo ressuscitado, porém é na Igreja local que esse corpo cria forma e se expressa. É claro que a Igreja não abarca toda extensão de apresentação do Espírito de Jesus, mas é a que torna ele presente de forma única. A Igreja se constitui como sacramento primordial da presença do Senhor. Na liturgia da Igreja vemos os gestos, atos, e ritos que expressam o contato do Senhor com os fiéis. Daí a eucaristia é o ponto de máximo de apresentação do Cristo. Nela vemos a transubstanciação  do Pão e do Vinho, que explana o Ressuscitado.

No capítulo XI vemos que a Fé no salvador pressupõe um processo dialético de completude ao que seja Jesus. Ele é a totalidade, mas ainda não alcançável. Na história ainda não se chegou ao ponto ômega, mas anda em um constante devir. Neste sentido, a cristologia já deu grande passo para compreensão de Jesus como ‘homo revelatus’, futuro presente, conciliação dos opostos, revolucionário e muitos outros. Porém, essa compreensão não pode entrar nos parâmetros da ideologia, poie Jesus não implantou nenhuma ideologia, mas uma abertura a vontade de Deus. Ele é uma continuidade do que precisamos ser para superar-se. Ele nos convida. E na sua vida encontramos realizado o que o coração humano busca e o que Deus prometeu como sendo o nosso futuro. A Cruz cristã é sinal da reconciliação dos opostos. Nela vemos uma unidade que segue um horizonte específico: o amor. O seu Reino é libertação de todo tipo de alienação, desde a doença à morte, de modo especial, o pecado.  Ele não pode ser privatizado no mundo, mas está no cosmo, atinge toda extensão do universo.  
Por fim, O cristianismo surge com o mundo. Ele está inserido na história de forma latente. Desde a antiguidade já se expressava as características que se tornou patente no cristianismo.: o amor, o bem e a verdade. Santo Agostinho assim explanou:  “A substância da quilo que hoje chamamos de cristianismo existia já nos antigos e estava presente desde os primórdios da humanidade.”(Retr. 1, 12,3). O homem só pode se realizar se ele estiver em relação com o outro. Saindo se si é que o homem encontra a si. Neste sentido, a plena hominização do homem supõe a hominização de Deus. Com esse estado é que o homem chega a tal comunhão com Deus até a sua máxima plena.  A estutura Crística se revela no mistério de Deus uno e trino pela via do amor, na pessoa de Jesus. A estrutura divina está na estrutura humana por analogia. Daí entra a proposta de Deus que está inserida na consciência humana, toda vez que esta se sente responsável na vida a sair de si e atingir o outro, no sentido de aceitá-lo.  O cristianismo católico é uma das articulações mais perfeita deste cristianismo é a proposta que se efetiva como anuncio da boa nova, indicadora da luz. Do mistério de Deus. Nela já se realiza em germe o próprio Reino de Deus. Contudo, o enquanto não se realiza o panteísmo cristão, mantem-se a esperança de uma universalidade desse reino através de uma proposta de configuração no mundo com Ele(Cristo).  





quarta-feira, 6 de junho de 2012

Lógica e suas implicações conceituais, de objeto e silogística


Isaias Mendes Barbosa

RESUMO
O presente artigo trata da lógica e a variação heurística e hermenêutica do conceitono decorrer da história e sua fundamentação no silogismo aristotélico e sua relação com o silogismo dos medievais. Quando inteligimos sobre algo, fazemos inferência, quando inferimos expomos um juízo a cerca de determinada coisa. Porém, quando estamos fazendo um enunciado com inferências, produzimos o que chama-se de argumento. Em lógica o silogismo nada mais é que uma organização e formatação de um argumento em premissas e conclusão, afim de definí-lo como correto, coerente ou não. Essa definição se faz em confronto com as regras silogísticas.  Através da análise da obra Aprendendo lógica, dentre outras pertinentes a área pesquisada, este trabalho propõe-se fazer uma exposição da lógica, acerca dos seguintes pontos: a) o que significa lógica?; b) o objeto da lógica; c) o silogismo e suas regras de validade aristotélica e; d) as regras de silogismo medieval. As questões da presente pesquisa apontaram assim para a compreensão de lógica como inferência formal válida, que trata das formas de pensamento, da linguagem descritiva do pensamento, das leis de argumentação e raciocínio corretos, dos métodos e dos princípios que regem o pensamento humano. Sua utilidade na contemporaneidade é de salutar importância para compreensão da estrutura lógica de nossa produção de realidade.

Lógica. Conceito. Objeto. Silogismo.


INTRODUÇÃO
Falar sobre lógica na atualidade tornou-se comumente conceito desinteressado, tanto pela complexidade do tema, como pelo pouco conteúdo que temos na língua portuguesa. É explícito que, no mundo acadêmico, poucos têm interesse na disciplina e poucos vêm utilidade, fundamental, da lógica na contemporaneidade. Se o questionamento é: existe uma relação precisa da lógica, compreendida desde sua gênese, com temas cotidianos, ou que envolva os assuntos pertinentes e atuais?! Pode- se responder que sim, existe! Normalmente todo nosso meio está rodeado por uma produção de coisas que estão contidas em uma estrutura lógica. A dificuldade atual é conseguir ver a relação dos conteúdos interdisciplinar,com a realidade, que tanto abordam a forma de compreender a lógica de cada coisa, como a forma por onde essas coisas se relacionam numa estrutura coerente. Porém, pode-se dizer que um campo no qual expomos, apresentamos, analisamos, raciocinamos, inteligimos, fazermos relação e inferimos algo sobre e estrutura e lógica de cada coisa, é na argumentação. Esta utilizasse da linguagem para poder ser enunciada. Daí, o objeto pelo qual se pode trabalhar em lógica, e é exclusividade da lógica, na sua forma de atuação e apresentação sobre diversas realidades é a linguagem.
No presente artigo pretende-se apresentar alguns por menores acerca da lógica, como sua significação no percurso da história e sua relação com o argumento. Daí pretendeu-se tanto conhecer um pouco sobre esse conceito (lógica) não muito simples de ser explorado, e definido, como apresentar o objeto da lógica e sua representação lingüística, na frase, e no argumento, até fazer um balanço sobre as regras silogísticas de Aristóteles e sua relação com as regras medievais. Espera-se aqui apresentar algumas noções a cerca da lógica, para melhor clarificá-la e tentar dar luzes a novos seguimentos no que compete a realidades que envolvem a lógica. Vários autores foram explorados afim de tentar ter uma noção mais completa a cerca do assunto.


O QUE SIGNIFICA LÓGICA?

Lógica essa palavra é muito utilizada cotidianamente. Normalmente no vocabulário popular ela vai ter uma conotação de ‘óbvio’, ou ‘sentido’, ou ‘coerência’ diante de determinado assunto, ou frase. Quando dizemos que algo é lógico, afirmamos que segue uma das três conotações citadas. Porém a nível acadêmico exigi-se uma definição mais precisa que destaque a originalidade da palavra e seu sentido. Daí, entender a etmologia da palavra, sua heurística e hermenêutica, no decorrer da história, é uma das dificuldades que se apresenta na tentativa de se ter uma definição precisa a cerca do significado de lógica, uma vez que no decorrer da história o termo citado é variável de significado.Porém, isso não exclui a tentativa de a destacarmos como se caracteriza, e se entende seu sentido, de acordo como alguns autores sobre essa temática.
Para Ernst Tugendhat a compreensão do que seja o significado da palavra lógica é múltiplo de sentidos, devido a palavra ter sido concebida “sob vários aspectos, ora de um modo mais amplo, ora de um modo mais restrito”. Para entender as considerações a cerca da lógica é essencial avaliar o seu percurso histórico. Tugendhat divide o período da lógica em três (p.9-10): a) período antigo; b) período moderno; e c)o período da lógica matemática, ou logística.
O primeiro período se define por onde ela se formou, portanto, na Grécia, a partir de Aristóteles, Sec. IV, e se estende até a Idade Média. Sua concepção está determinada pela investigação ontológica (ser), da realidade, ou do mundo. A lógica desse período se orientou pelos escritos de Aristóteles reunidos sob o nome de Organon[1].Em Aristóteles não houve um conceito unitário que preenchesse toda extensão da lógica, porém, pode-se caracterizá-la, no escrito Analytica Priora, de forma objetiva, como “teoria da inferência formalmente válida”.[2]É importante afirmar que nesse período são destacadas três escolas importantes, segundoVicente Keller e Cleverson L. Bastos (2002):
Destaca-se neste período o que se pode chamar de três grandes escolas: a dialética sofista, a lógica aristotélica e a lógica megáricoestóica. A dialética sofista “destrutiva” é transformada em dialética construtiva por Platão, que tem o mérito de abrir o caminho para a sistematização aristotélica, que se opõe à escola megárico-estóica [...](KELLE; BASTOS, 2002, p.17)
            Em fim, esse período irá caracterizar a lógica referente ao seu aspecto ontológico, apesar de ser possível também encontrar elementos lingüísticos e conteudísticos, com que a lógica aristotélica trabalha. A estrutura da lógica estará atrelada a concepção de ‘frase enunciativas’ que Aristóteles define, no enunciado, como necessariamente composta de um sujeito e um predicado. Sem esses dois elementos, não se tem uma fraseapofântica(no português: frase anunciativa) e muito menos uma proposição onde se inferi algo.A frase apofânica é diferente das demais frases porque dela se inferi um juízo dentro da possibilidade do verdadeira ou falso.
O entendimento acercada lógica moderna inicia-se com a lógica de Port-Royal[3]. Ela está ligada a aspectos do conhecimento e da psicologia. Ou seja, seus aspectos de avaliação,de inferência, estãorelacionados com o sentido das premissas e sobre o juízo que se faz dela. Neste sentido a inferência está determinada a partir de uma subjetividade, pois parte a concepção do sujeito que infere. Seu período é improdutivo, comparado com o primeiro período, e com as concepções a cerca do termo lógica no seu sentido mais consistente. Seu ponto de foco está nas leis da linguagem. Na concepção de Port-Royal a lógica define-se como “a arte de bem guiar a razão”. Neste sentido ela é uma “arte de pensar melhor e não como teoria, é uma disciplina prática”[4].Com acréscimo a isso Kant a define como “ciência das leis necessárias do entendimento e da razão em geral”.Vê-se, ou entende-se, nesta expressão, aspectos psicológicos, apesar de Kant refutar essa idéia, firmando que o entendimento  tem uma atividade objetiva. Enfim, para os lógicos desse período a lógica é concebida como “teoria do pensamento correto”.
O terceiro período é o da lógica atual, começando por Frege, suas características estão relacionadas na base de cálculos matemáticos e símbolos que são relacionados. Neste aspecto o conteúdo lógico não faz diferença com a forma estrutural de inferência. A utilidade de elementos simbólicos e cálculos matemáticos não entram em questão com conteúdo em si, mas apreende a própria forma que classifica uma estrutura argumentativa ser lógica ou não. Neste sentido, a lógica também é composta por elementos aritméticos a partir das leis da lógica.
Para Guido a lógica é “Uma ciência formal, não conteudística.” Neste sentido ele se aproxima mais da concepção da lógica a cerca do terceiro período. Daí, a inferência não trata acerca do que está inserido na forma logística. Oque é assertivo em questão é a validade de uma premissa.Assim, se descarta a concepção psíquica que foi elemento forte, porém pouco produtivo pra lógica, no período moderno.
CLeverson e Vicente(2002, p.15) assim define uma compreensão do que se entende por lógica: “lógica é a disciplina que trata das formas de pensamento, da linguagem descritiva do pensamento, das leis de argumentação e raciocínio corretos, dos métodos e dos princípios que regem o pensamento humano”.Essa apreensão está ligada ao elementos que compõe boa extensão do termo lógica no seu desenvolvimento histórico.
Por fim, é explícito que uma única definição sobre lógica é algo impossível de se firmar. Conforme o tempo, a partir de Aristóteles, a lógica foi ganhando modalidades e formas diversas. Isso apesar de tornar seu conceito complexo, é fruto de uma riqueza que se constrói a cada dia. Não se pretende fechar o assunto. Más, compreende-se que atualmente a lógica além de ser concebida como princípio de inferência formal válida, na medida em que essa se baseia em um juízo; sistema de todas as inferências válidas; arte de guiar a razão; de pensar melhor; ciência das leis necessárias do entendimento e da razão; teoria do pensamento correto; estrutura sistemática do pensamento matemático;ciência formal, não conteudística; disciplina que trata das formas do pensamento, da linguagem descritiva, do raciocínio; leis de argumentação e raciocínio correto e inferência dedutiva, dentre outras, está atualmente expressando algo que o homem intelige, independente de ser verdadeiroou falso, confirmado ou negado, no espaço em que ele se encontra. Por fim, pode-se dizer que a lógica, apesar de ter se apresentado na filosofia, é anterior a mesma. E atinge toda realidade pela qual o homem procura entender, inferir, argumentar, deduzir, explanar.


O OBJETO DA LÓGICA

Na nossa comunicação cotidiana utilizamos de elementos linguísticos, dentre outros, para expressar nossos pensamentos, nossos raciocínios, nossa compreensão a cerca dos diversos tipos de realidades, ou pelo menos o que se subentende da mesma. Na atividade intelectiva, ou do juízo, a que afirmamos ou negamos determinado predicado em relação com um sujeito, fazemos inferências[5].Para inferir utilizamos deuma cadeia argumentativa cuja função resuta najustificação do inferido. Daí,esses dois elementos (inferência e argumento) são objetos tratados na lógica (Cf. SALMON, 1978, p.13).
Salmon(p.22) afirma:“Inferir é uma atividade psicológica; [inferir] consiste em obter uma conclusão a partir da evidência, consiste em chegar a certas crenças e opiniões à custa de outras” (acréscimo nosso).A inferência, semelhante à argumentação, abrange uma opinião, crença, ou juízo, a cerca de determinado assunto, a partir de evidências, que numa estrutura de conexão conduz a uma conclusão.Por exemplo: Thiago vinha mais um amigo por uma rua larga e encontra um tênis de esporte no chão. Logo afirma: trata-se de um jogador de basquete! O amigo pergunta: como você sabe? Thiago declara: O tênis grande de esporte é de esportistas com pé grande, esportistas com pés grandes são altos, esportistas autos são jogadores de basquetes.Logo, o tênis grande de esporte é de jogador de basquete. Nesta situação Thiago fez uma inferência ao firmar que ‘o tênis grande de esporte é de jogador de basquete’. Essa inferência se deu pelas evidências argumentativas: 1) tênis grande de esporte é de esportistas com pé grande, 2) esportistas com pés grandes são altos, 3) esportistas autos são jogadores de basquetes. Portanto, uma inferência consiste numa linha de raciocínio, em que se apresenta relação de uma premissa com outras e através dessas evidências se chega a uma determinada conclusão.
Keller e Bastos afirmam:
Raciocinar é inferir, ou seja, passando que já se conhece de algum modo ao que ainda não se conhece completamente ou parcialmente. Este processo mental é usado não só para atingir coisas novas, mas também para sustentar posições anteriormente conquistadas, ou ainda para aprofundá-las. ( KELLE;BASTOS, 2002, p.44)
            A partir dessa citação podemos fazer semelhanças como exemplo anterior. Notemos que Thiago inicia com a premissa 1) tênis grande de esporte é de esportistas com pé grande. Depois disso vai fazendo relação com outras premissas até chegar a uma conclusão que a princípio não se tinha antes de fazer inferências: Logo, o tênis grande de esporte é de jogador de basquete.
Sobre argumentos (objeto de estudo da lógica) afirma Salmon:
Os argumentos são via de regras elaborados com o fito de convencer, e esta é, realmente, uma de suas importantes e legítimas funções.A lógica não se interessa, no entanto, pelo poder da persuasãoqueos argumentos possam ter.[...] O que a lógica procura é estudar o tipo de relação que pode existir entre a evidência e a conclusão.(SALMOM, 1978, p.15)
Quando inferimos algo estamos fazendo uma afirmação ou negação, estamos produzindo um enunciado, neste exige-se um argumento, que pode se relacionar com outros enunciados. O argumentoconsiste na evidência do enunciado com a elevação do mesmo a uma conclusão. Como citou Salmon, o caráter de persuasão, no argumento, não importa à lógica, Mas sim a estrutura argumentativa a que se justifica a afirmação, ou inferência, ou enunciado (Cf. SALMO, 1978, p17).
Porém, há uma relação intrínseca entre inferência e argumento:
Há um estreito paralelismo entre os argumentos e as inferências. Tanto os argumentos como as inferências abrangem evidência e conclusãoque se acham, de algum modo, relacionadas. A grande diferença está nisto: um argumento é uma entidade linguística; uma inferência não o é. (SALMO, 1978, p.22)
            A partir da citação vemos a relação entre inferência e argumento. A inferência remetesse a atividade do raciocínio, que faz relação e conexão entre premissas chegando a uma conclusão. Anunciar a conclusão, ou o caminho percorrido, as evidências, até chegar numa conclusão, utilizando de métodos linguísticos, é o que se denomina de argumento.
            Os argumentos podem serindutivos oudedutivos. Os argumentos indutivos partem de um caso particular para supor, ou inferir, um caso geral. A argumentação indutiva trabalha com inferências que são prováveis. Na ciência ela é muito utilizada, daí, através de alguns dados particulares ela chegar à concepção generalizada, universal. Um exemplo disso é as três leis de Newton[6], elas são úteis para inferir o que acontece aos objetos quando estes variam de trajetória numa velocidade constante, quando sofrem uma força em determinada direção, ou quando se chocam com outro objeto. Para cada caso Newton formulou uma lei, entretanto para formular as leis ele não precisou fazer experimentos na terra toda, más só em determinadas áreas. Este método indutivo não é seguro porque não garante 100%o que se infere num caso particular como o que se infere em casos universais, ou seja, as três leis formuladas por Newton não garantem a mesma relação com os objetos nos três casos tanto fora da terra como dentro dela, ou em sua realidade micro.
Já o argumento dedutivo é o mais coerente e mais aceito na lógica. Ela parte da análise de casos universais, totalitários para se chegar a casos particulares. Como afirma Keller e Bastos, a argumentação dedutiva:
É a operação própria da inteligência que consiste eminferir uma consequência a partir de ponderações anteriores, que se chamam antecedentes. Diferentemente da indução, ela tem a pretensão de não ficar na probabilidade porque parte de princípios gerais evidentes por si. Inferir é tirar um enunciado ou levar a um enunciado a confirmação a partir de outros. (KELLE; BASTOS, 2002, p.47)
            Quando se formula um argumento e se infere uma relação com premissas que partem de uma extensão universal para uma conclusão de extensão particular a possibilidade de segurança e validade é grande, uma vez que o caso precedente que é particular já está contido no antecedente universal por si mesmo. Assim, a parte já está no todo. Assim se um argumento dedutivo é correto, as premissas sustentam de modo completo a conclusão, sendo esta de extensão menor, ou igual à premissa universal.
Quanto a correção e incorreção dos argumentos é importante frisar o que Salmon diz quanto ao argumento dedutivo: “ I. Se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão deve ser verdadeira. II. Tôda a informação ou conceito fatual da conclusão já estava, pelo menos implicitamente, nas premissas.”. Já quanto ao argumento indutivo ele expressa: “I. Se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão é provàvelmente verdadeira, mas não necessàriamente. II.A conclusão encerra informação que não estavam, nem implìcitamente, nas premissas”(Cf. SALMON, 1987, p.30).
O argumento dedutivo é mais utilizado da lógica formal. A análise lógica sobre um argumento dedutivo se apresenta de acordo com quatro princípios básicos: a) Princípio da Identidade; b) Princípio da Tríplice identidade; c) Princípio de Contradição e d) Princípio de Exclusão do Terceiro Termo.
O princípio de identidade é de caráter ontológico. O que é é. Neste caso existe uma identidade de uma coisa consigo mesma. Ele afirma as propriedades de uma coisa. Quando pensamos, deduzimos, conhecemos, estamos dando identidade ao objeto tratado. Por exemplo: se eu afirmo que X é Xnão estou fazendo uma relação de igualdade entre duas letras, ou conceitos, mas estou dando identidade ao conceito. Daí. Estou afirmando que X é o mesmo definido (: X). Portanto não se trata de relação de iguais, mas de identidade, pois estou identificando o primeiro com o segundo.
O princípio de tríplice identidade é a relação de identidade entre duas coisas a uma terceira. Afirmando-se que T é semelhante aY, assim como P é semelhante a Y, posso inferir que T é P, uma vez que os dois têm algo em comum Y.  Assim expressa Keller e Bastos: “Duas coisas idênticas a uma terceira são idênticas entre si, na medida e no aspecto em que são idênticas à mesma terceira” (Cf. KELLE; BASTOS, 2002, p.47).
            O princípio de contradição é de caráter ontológico e modal. Uma coisa não pode ser e não-ser ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Se dissermos que uma coisa é(ser) e a negamos(Não-Ser) no mesmo instante, e aspecto, então não dizemos nada. Segundo Ernst:
O princípio da contradição não é uma lei sobre a realidade; a necessidade que ele expressa se funda no significado de nossas expressões verbais, especialmente no significado de duas expressões “não” e “é’, e no significado da forma da predicação.[...] A frase “Se alguém é solteiro, ele não é casado” é necessariamente verdadeira independentemente de se há ou não solteiros; e o princípio da contradição é necessariamente verdadeiro independentemente do fato de se poder ou não fazer enunciados sobre algo. Só que: Se um ser na realidade é solteiro, então ele não pode ser casado; e se é possível fazer um enunciado sobre algo, então não se pode fazer o enunciado oposto sobre este algo.( TUGENDHAT, 1997, p.53)
Contudo o princípio da contradição está limitado pelas próprias definições do enunciado. Na visão aristotélica o princípio de não contradição está referente ao predicativo do sujeito, uma vez que só podemos inferir algo sobre o objeto, ou sujeito explorado.
            O princípio de exclusão do terceiro termo está em relação com o princípio de contradição. Ele afirma que entre o ser e seu oposto contraditório não pode haver meio termo. Ou uma premissa, ou inferência é verdadeira, ou é falsa. Ou é universal, ou particular, uma terceira possibilidade não pode haver. Portanto, quando levantamos um juízo a cerca de determinada coisa, só existem duas possibilidades extremas, ou é, ou não é. O meio termo entre esses não pode ser inferido.     

SILOGISMO E SUAS REGRAS DE VALIDADE ARISTOTÉLICA

Na Logica: os jogos da razão Imaguire aborda sobre o silogismo dizendo: “A lógica de Aristóteles é chamada de lógica silogística ou simplesmente silogismo. [...] A base da silogística é a dedução de uma conclusão a partir de duas premissas”(Cf. IMAGUIRE, 2006, p.73). A lógica dedutiva apareceu de modo claro e definido com Aristóteles, ela é apresentada no argumento a fim de defini-lo como válido. Salmon assim falou sobre o silogismo:
Silogismo categórico (que, por comodidade, chamaremos, simplesmente, “silogismos”) são argumentos formados com enunciados categóricos. Todo silogismo tem duas premissas e uma conclusão. Embora cada enunciado categórico tenha dois termos, um termo sujeito e um termo predicado, o silogismo só possui três termos distintos. (SALMON,1978, p. 57)
            De modo análogo podemos inferir que silogismo é uma cadeia argumentativa composta por duas premissas caracterizada como ‘premissa maior’, a premissa que contem termo de maior extensão, e ‘premissa menor’, a premissa que contem o termo de menor extensão comparado com a premissa anterior. Na relação entre as duas premissas é que se tira uma conclusão também denominada de consequente[7]. Daí, a validade e correção do silogismo estão na relação das premissas, ou proposições, com a conclusão.
            Cada premissa é composta por um sujeito, um verbo (cópula) e um predicado. Porém, pra que se tenha uma conclusão é necessário seguir a relação da tríplice identidade, ou seja, “é necessário que dois termos sejam iguais a um mesmo terceiro” (Cf. KELLER; BASTOS, 2002, p.49). Assim, num silogismo é necessário que se tenha dois termos extremos: sujeito (S) e predicado (P) e um termo médio (M) comum aos dois termos extremos. Por questão de didática, vejamos um exemplo:
  (M)              (P)
Todo homem é sábio (Premissa Maior)
 (S)          (M)
Pedro é homem­­­­­­­­­­­­­­­(Premissa Menor)
            (S)             (P)
Logo, Pedro é sábio.
            Este silogismo está em conformidade com o exposto acima, uma vez que a primeira premissa é maior, pois tem mais extensão que a segunda. Nas duas premissas encontramos os três termos: homem, sábio e Pedro. O homem é característico do sujeito, o sábio é característico no predicado, o é (ser) é um verbo de ligação, ou cópula. Os dois termos extremos Pedro e sábio estão relacionados como algo comum: homem. Assim os dois termos extremos estão em identidade com o terceiro termo: homem.
            As proposições destacadas por Aristóteles variam em quatro conectivos possíveis. Esses quatro conectivos são o resultado da aplicação simultânea de dois critérios que usamos para classificar as proposições: quantidade e qualidade[8]. Assim, de acordo com as classificações temos as quatro modalidades de proposição, que não varia de acordo com os termos inseridos. Para facilitar a compreensão vamos colocar as figuras de identificação de cada premissa de acordo como fez a tradição. As proposições são: Todo (sujeito) é (predicado), sigla A; Algum (sujeito) é (predicado), sigla I; Nenhum (sujeito) é (predicado), sigla E, e Algum (sujeito) não é (predicado), sigla O. No sentido de qualidadea duas primeiras proposições são afirmativas (de AfIrmo) e as duas últimas negativas (de nEgO). No sentido de quantidade as preposições A e E são universais, enquanto que as I e O são particulares.
            De acordo com cada premissa os termos internos também terão uma relação de distribuição e/ou não distribuição:
Todo (sujeito/Distribuído) é (predicado/Não-Distribuído) (A)
Algum (sujeito/Não Distribuído) é (predicado/Não-Distribuído) (I)
Nenhum (sujeito/distribuído) é (predicado/Distribuído) (E)
Algum (sujeito-não distribuído) não é (predicado/Distribuído) (O)
            Daí, das quatro premissas acima resolutamente podemos inferir que na sigla Aapremissa é universal, porque começa com todo, Afirmativa, porque confirma o sujeito no predicado. Ela contém o sujeito Distribuído e o predicado Não-Distribuído.Na sigla I a premissa é particular, porque se refere a parte(algum), e afirmativa, porque confirma o sujeito no predicado. Ela contem sujeito Não-Distribuído e predicado Não-Distribuído. Na sigla E a premissa é universal, porque se refere a nenhum, e negativo por na expressão ‘nenhum’ está contida a negação. Logo, na premissa o sujeito é Distribuído assim como o predicado. Na sigla O a premissa é particular, pois se refere à parte, e negativa, pois separa parte do sujeito do predicado. Ela tem um sujeito Não-Distribuído e o predicado Distribuído.
            Contudo, para saber se um silogismo é válido, basta seguir as três regras de Aristóteles:
I.     O termo médio deve está distribuído exatamente uma vez.
II.    Nenhum termo extremo pode estar distribuído apenas uma vez.
III.    O número de premissas negativas deve ser igual ao número de conclusões negativas.
            A primeira regra indica que o silogismo em que duas premissas se relacionam, uma delas deve ter o termo médio distribuído. Porém, quando nas duas premissas o termo médio é universal e distribuído o silogismo se torna incorreto, ou seja, não válido. Caso ele não seja distribuído nenhuma vez o silogismo também é não válido.
            Na segunda regra temos que, nas duas premissas que se relacionam os termos extremos, estes devem ter extensão igual resultante na conclusão. Se por acaso um dos termos extremos estiver na premissa e não na conclusão, o silogismo se torna inválido.Inversamente falando, se um dos termos extremosestiver na conclusão e não nas premissas o silogismo se torna inválido.
            Na terceira regra é possível apenas uma premissa negativa, ou uma afirmativa, pois dessa forma a conclusão segue sempre a mesma quantidade de premissas negativas que no antecedente. Um silogismo com duas premissas afirmativas deve não ter conclusão negativa. Guando, no sentido inverso, o silogismo apresentar duas premissas negativas a conclusão não dá de conta da quantidade de premissas, uma vez que na conclusão só pode haver uma premissa negativa. Vejamos o exemplo em que podemos fazer conferir o sistema de regras aristotélicas:
a)    Todas as cobras são répteis,
Algumas animais perigosos são cobras
  Logo, Alguns animais perigosos são répiteis
            Analisando o silogismo a cima podemos inferir, de acordo com as regras aristotélicas: o silogismo contem três elementos de extensão. O termo cobra é considerado o termo médio. O termo répteisé o predicado da primeira premissa. Este termo é extremo e particular, portanto, Não-Distribuído.A expressão animais perigosos é de termo extremo particular, portanto, Não- Distribuído.  O termo médio cobra está Distribuído somente uma vez e na primeira premissa. Na segunda premissa ele é Não-distribuído. Portanto, quanto a primeira regra,ele está válido. Os termos extremosrépteis e animais perigosos estão distribuídos de forma igual conforme na conclusão, ou seja, se na primeira premissa ele é Não- Distribuído, na conclusão segue a mesma coisa. Por conseguinte, se na segunda premissa ele é Não-Distribuído, na conclusão está de modo igual. Portanto, segundo a regra dois, o silogismo está válido. A primeira premissa é afirmativa, a segunda também, se o número de negação na conclusão segue a mesma quantidade que nas premissas, então a conclusão está correta, pois como não tem nenhuma negação nas premissas não é pra ter nenhuma negação na conclusão. Daí,segundo a terceira regra,o silogismo está válido. Ele também é válido porque as duas premissas com a conclusão são verdadeiras.


REGRAS DE SILOGISMO MEDIEVAL

            Conforme se passou o tempo histórico, as regras silogísticas de Aristóteles tiveram algumas novas adaptações. Uma vez que havia casos em que ela não dava de conta de resolver. O período medieval é característico dessas mudanças. Houve mudanças em que os princípios inferidos por Aristóteles foram modificados e adaptados pelos escolásticos, ganhando nova formulação (Cf. IMAGUIRE, 2006, p. 80). Porém, aqui me detenho nas oito regras silogísticas apresentadas por Keller e Bastos (2002, p. 53):
1ª Todo silogismo contém somente três termos: maior, médio e menor.
2ª Nunca, na conclusão, os termos podem ter extensão maior do que nas premissas.
3ª O termo médio não pode entrar na conclusão.
4ª O termo médio deve ser universal ao menos uma vez.
5ª De duas premissas negativas, nada se conclui.
6ª De duas premissas afirmativas não pode haver conclusão negativa.
7ª A conclusão segue a premissa mais fraca.
8ª De duas premissas particulares, nada se conclui.
            Assim, qualquer argumento para ser válido precisa ser reduzido à forma do silogismo e confrontado com as oitos regras acima. A seguir vamos esboçar alguns esclarecimentos acerca das regras.
            Todo silogismo contém somente três termos: maior, médio e menor. Essa primeira regra explana as exigência necessárias para que se tenha um silogismo. Como sabemos o silogismo é composto por duas premissas (maior/menor) definidas como antecedente, e uma conclusão, como consequente. Na relação entre as premissas, a apresentação de três termos (maior, médio e menor) é algo necessário para se ter uma conclusão. Daí, o termo de maior extensão precisa está ligado ao menor por um elemento em comum: o termo médio. Aqui encontramos a relação de tríplice identidade. Fazendo uma relação com Aristóteles, podemos dizer que essa regra não altera, ou interfere nas três regras aristotélicas. É importante salientar que quando na relação entre premissas houver mais, ou menos, que três termos extensivos não é possível fazer uma estrutura lógica correta.
            Segunda regra: Nunca, na conclusão, os termos podem ter extensão maior do que nas premissas. É sabido que em cada proposição está contida dois termos de extensão, ou particular, ou universal. Neste caso tanto o sujeito da proposição pode ser universalmente extensivo, ou particularmente extensivo, como o predicado pode ser, quanto à extensão, particular ou universal. Essas definições irão depende das quatro conexões que se limita na preposição. Há caso que é preciso ter uma compreensão da frase, ou de como se está referindo a extensão do termo para pode adaptá-lo, ou organizá-lo numa das conexões do silogismo.  Por exemplo, quando digo que “Pedro é inteligente” pode-se questionar: a extensão de Pedro é universal ou particular?!Neste caso podemos inferir que Pedro é universal, pois se refere à totalidade de um único indivíduo (Pedro). Se ela se refere a um todo-induvíduo, então a premissa é universal. Para melhor esclarecê-la podemos modificá-la para essa forma: “Todo o Pedro é Inteligente”, ou este Pedro é inteligente, logo a premissa é Universal afirmativa, definida pela sigla A.
            Continuando com o raciocínio, sendo cada termo composto por uma extensão determinada é importante e necessárioque a conclusão tenha a mesma, ou menor, quantidade de extensão que nas premissas, com exceção do termo médio, que não pode aparecer na conclusão.  Neste caso, sendo numa premissa que contenha um dos termos extremos com extensão maior que na conclusão, o silogismo é aceito como válido. Pois a extensão do termo na conclusão estava inserida, ou contida em parte da extensão do termo da premissa. Por exemplo: o silogismo: Todo homem é sábio, Todo sábio é criativo, Logo, Algum homem é criativo. Esse silogismo é correto, segundo essa segunda regra. A extensão do termo homem é universal na primeira premissa, mas na conclusão ele é particular. Daí, segundo essa regra a conclusão pode ter extensão menor que na premissa, porém não pode ser maio que nas premissas. Neste caso a conclusão está dessa forma por conversão. Mesmo assim ela é aceita com válida. Essa regra se assemelha a segunda regra de Aristóteles, porém ela quebra a regra de Aristóteles, porque ele só propõe a extensão de termos, na conclusão, de quantidade igual que nas premissas e não de quantidade (particular, ou universal) inferior que nas premissas.
            Na terceira regra: O termo médio não pode entrar na conclusão. Aregra é conseqüência inversa da segunda regra, pois se os termos extremos devem estar na conclusão de forma igual, inversamente, o termo médio não deve está na conclusão. No caso, o termo médio tem a utilidade de fazer a interligação dos termos de uma premissa com a outra na conclusão. Por isso o termo médio é idêntico em comum a dois termos diferentes (maior e menor).
            O termo médio deve ser universal ao menos uma vez, e as quatro restantes regem as relações entre as premissas.Essa regra ajuda na precisão dos termos. Tendo um dos termos médio universal ele será usado para que possa ser aplicado as partes.Se ele for particular nas duas proposições o processo de dedução não será completo. Vejamos o exemplo: Algum homem é fraco, Algum forte é homem, Logo, Algum forte é fraco. Estamos diante de uma equivocidade. O termofracoda primeira premissa é parte do termo homem. Na segunda premissa o termo homem é parte do forte. O equivoco se refere a não poder determinar na conclusão se refere à parte do homem fraco ou do forte homem, ou seja o termo homem se refere a dois significados diferentes. Aqui se refere a 4 termos: homem fraco, fraco, forte e forte homem. Essa regra quebra a primeira regra aristotélica, pois esta afirma que obrigatoriamente o termo médio deve ser distribuído uma vez, ou seja deve ser universal uma vez.
            De duas premissas negativas, nada se conclui. Quando se argumenta e faz relação com as premissas, se está dando identidade aos elementos. Assim as premissas se complementam porque nelas há algo que as identificam. Quando as duas premissas fazem uma afirmação negativa, não há uma identificação dos dois termos com um terceiro. Daí, não é possível fazer conclusão alguma. Quando há negação nas duas premissas, há uma infração no princípio da tríplice identidade. Essa regra está de acordo com a terceira regra Aristotélica, só que no sentido inverso.
            De duas premissas afirmativas não pode haver conclusão negativa. Essa regra está de acordo com a lógica entre as relações com as premissas e a conclusão. Se nas premissas se tem uma afirmação, a conclusão, que deriva das premissas, deve ser afirmativa. Essa é a inversa da terceira regra de Aristóteles, pois se a quantidades de premissas negativas deve está em conformidade na conclusão, então, se não há premissa negativa, ou seja, todas são afirmativas, a conclusão não pode ser negativa, ou seja, é preciso uma conclusão afirmativa.
            A conclusão segue a premissa mais fraca. A sétima regra referisse a relação de oposição entre as premissas. Nesta relação a qualidade de negativo é mais fraco que a afirmativa. Por conseguinte a quantidade particular é mais fraca que a universalizada. Por isso, uma proposição universal negativa é mais fraca que uma particular afirmativa. Daí, a conclusão deve ser negativa, quando o antecedente for negativo, e particular, quando o antecedente for particular.
            De duas premissas particulares, nada se conclui. O argumento dedutivo é a passagemde uma inferência geral para uma particular.  Daí é importante uma das premissas serem universal, independente da verdade ou falsidade da premissa. 

CONCLUSÃO

Contudo a lógica é uma inferência formal válida, arte da razão, disciplina que trata das formas de pensamento, da linguagem descritiva do pensamento, das leis de argumentação e raciocínio corretos, dos métodos e dos princípios que regem o pensamento humano.Essa apreensão está ligada aos elementos que compõe boa extensão do termo lógica no seu desenvolvimento histórico. Seu objeto é a argumentação (dedutiva e indutiva), que está limitada a linguagem. Para firmar se um argumento está corretamente coerente e lógico é preciso decodificá-lo a um silogismo e confrontá-lo com as regras de validade. Daí entra as regras aristotélicas e medievais como embasamento de validade de um silogismo argumentativo.
Por fim, é importante frisar que nossa realidade é composta por elementos lógicos. Neste sentido a lógica é importante como técnica que podem abstrair a estrutura formal de nossas realidades, produzidas na contemporaneidade, e incuti-lhe juízo quanto à coerência ou não coerência de sistema formal. Em tudo está contido um sistema de regimento que podemos analisar e defini-lo como coerente, lógico, ou não, pela técnica da lógica. Os carros têm formas lógicas de sistema de função, as empresas têm sistemas de gerenciamento, os professores têm um sistema de pedagogia, um filme contém uma forma de apresentação e a humanidade produz realidades de acordo com um sistema preciso em determinado contexto, cabe a lógica analisar, inferir, deduzir, e raciocinar, avaliar se esses sistemas de produção social estão ordenados adequadamente, ou se não poderiam melhorar e qualificar a vida do homem.
        

REFERÊNCIAS

IMAGUIRE, Guido. Lógica: os Jogos da Razão. Fortaleza, Edições UFC, 2006.
KELLE, Vicente; BASTOS, L. Cleverson. Aprendendo Lógica. 10ª Ed.Editora Vozes, 2002.
SALMON, Wesley C. Lógica. Rio de Janeiro, 4ª ed. Zahar editores.1978.

TUGENDHAT, Ernst; WOLF, Ursula .Propedêutico Lógico- semântica.Rio de Janeiro, Editora Vozes,1997.



[1] Conjunto de escritos lógicos de Aristóteles. São eles: 1) Categorias, 2) De Interpretatione, 3) Analytica priora, 4)AnalyticaPosteriora; 5) Topica e 6) De SophisticisElenchiis.
[2] (Cf. TUGENDHAT; WOLF, 1997, p.12)
[3] Com essa lógica há uma relação de conexão entreo juízo que o indivíduo faz das coisas e a relação entre de unidade e separação, afirmação e negação que se pode fazer entre as frases enunciativas, tanto no que se refere ao sujeito como ao atributo.
[4] (Cf. TUGENDHAT; WOLF, 1997, p.11)

[5] Inferir pode se subtender o processo da inteligência que organiza os dados no pensamento afim de, na relação entre os mesmo, obter uma conclusão válida.
[6] Filósofo, geômetra, matemático, dentre outras qualidade. Newton foi o autor das três leis que fundamentaram a mecânica clássica. A 1ª é a lei da inércia, a 2ª é lei da força sobre um determinado objeto em uma direção (F: m. a) e a 3ª lei é da ação e ração dos corpos.
[7] Esse termo é utilizado em Kelle e Basto para falar sobre o silogismo. Assim ele é posterior a Aristóteles.
[8] Quantidade se refere ao “todo” ou “algum”. Qualidade se refere ao juízo que confirma ou nega o predicado do sujeito. A expressão do predicado pode ser “é” de confirma e “não é” de nega.