Dois dons que Deus nos
concedeu em sua infinita bondade é: a vida e a morte. Até então, e sempre será
assim, ninguém a não ser Deus nos deu o dom da vida a partir do nada (Gn1,1). A vida
é um milagre do amor gratuito de Deus, e só Ele dá a vida, apesar de nos dar a
liberdade de poder tirá-la. Mas isso só acontece por consentimento de Deus e de
mais ninguém. Apesar de isso parecer estranho aos nossos olhos: nem um só fio de cabelo cai de nossa cabeça sem a vontade ou o consentimento de Deus.
A morte é outro dom
divino. Há quem diga que a morte humana é o fim de tudo, porém, para nós
cristãos a morte nada mais é do que a desintegração deste corpo mortal e limitado. Portanto, participamos de
duas realidades que foram feitas por Deus, que se relacionam estreitamente, mas
são distintas entre si. Uma é realidade material, que é frágil e finita, como o
nosso corpo físico, e outra é a realidade imaterial, infinita e eterna, a nossa
alma.
Até então só temos duas
certezas: que somos obras vivas de Deus e que um dia, talvez, menos do que
esperamos, a morte virá visitar nosso corpo. Para quem não acredita em Deus a
morte é o fim, o desespero. Mas para nós que acreditamos em Deus, a morte é uma
passagem, ou libertação da alma deste corpo mortal para outra realidade
imaterial, invisível aos olhos humanos. Para muitos o problema está na morte, e,
por isso, é preciso fugir dela o máximo possível. Porém acredito que a questão
que importa não é a morte, pois esta é inevitável em nossa vida e é algo realizado
ou consentido aos olhos de Deus.
A questão que importa
está no hoje e no agora, antes da morte, pois o modo como nós vemos o mundo e
vivemos no mundo é decisivo para o nosso futuro pós-morte. Os santos estiveram
tão firmes no presente que ganharam no futuro, pós-morte, a eternidade. Ora, se
estamos no hoje então uma coisa é decisiva para a nossa vida eterna e plena: o
amor a Deus manifestado na pessoa de Cristo (Lc10, 27), a prática de sua
vontade tal qual ele fez para com Deus Pai (Jo6, 38) e o amor ao próximo. Nisto
consiste a nossa salvação e felicidade na eternidade. Se estamos em amizade ou
amor com Cristo, com Ele ressuscitaremos.
O amor a Deus é algo tão
importante e decisivo na nossa vida que São Paulo chega a nos falar:
“E ainda que tivesse o
dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que
tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse
amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento
dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse
amor, nada disso me aproveitaria”. (1 Co13, 2,3)
A única coisa que pode
preencher a nossa vida aqui e agora e para todo o sempre é Deus, pois “Deus é
amor.[E] nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu
Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos” (Jo4, 8-9). E quem ama a Deus,
O conhece, e O conhecendo, verdadeiramente, O ama e irá querer fazer a Sua
vontade.
O sentido profundo de
nossa vida é este. Por isso Santa Terezinha disse que queria ser ‘o amor’, e
será pelo amor a Deus que traduzido em prática viva, seremos salvos e
ressuscitaremos. Quem busca a Deus verdadeiramente é arrebatado pelo seu amor. São
Francisco contemplou o amor de Deus e foi muito mais feliz do que muitos
homens. Santa Faustina viu o coração de Jesus em chamas eternas e não pode
resistir. Santo Afonso pedia constantemente a Deus que não lhe faltasse o seu
amor.
Assim, a nossa esperança
da eternidade está no Belo amor encarnado: Jesus Cristo. Que tenhamos a mesma
esperança que Jó: “Eu sei que o meu redentor está vivo e que, por último, se
levantará sobre o pó; e depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha
carne, verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os
olhos de outros” (Jó 19, 25). No Senhor está nossa esperança, pois Ele, o Belo
amor, “é minha luz e salvação” (Sl26). Quem ama a Deus na pessoa de Cristo e
busca fazer a sua vontade, este não morrerá, mas ressuscitará. São Paulo (Rm8,31-39)
nos assegura essa certeza para quem busca e prova o amor de Deus e realiza a sua
vontade:
Diante de tudo isso, o que mais podemos dizer? Se
Deus está do nosso lado, quem poderá nos vencer? Ninguém! Porque ele nem mesmo
deixou de entregar o próprio Filho, mas o ofereceu por todos nós! Se ele nos
deu o seu Filho, será que não nos dará também todas as coisas? Quem acusará
aqueles que Deus escolheu? Ninguém! Porque o próprio Deus declara que eles não são
culpados. Será que alguém poderá condená-los? Ninguém! Pois foi Cristo Jesus
quem morreu, ou melhor, quem foi ressuscitado e está à direita de Deus. E ele
pede a Deus em favor de nós.Então quem pode nos separar do amor de Cristo?
Serão os sofrimentos, as dificuldades, a perseguição, a fome, a pobreza, o
perigo ou a morte? Como dizem as Escrituras Sagradas:“Por causa de ti estamos
em perigo de morte o dia inteiro; somos tratados como ovelhas que vão para o
matadouro”. Em todas essas situações temos a vitória completa por meio daquele
que nos amou. Pois eu tenho a certeza de que nada pode nos separar do amor de
Deus: nem a morte, nem a vida; nem os anjos, nem outras autoridades ou poderes
celestiais; nem o presente, nem o futuro; nem o mundo lá de cima, nem o mundo
lá de baixo. Em todo o Universo não há nada que possa nos separar do amor de
Deus, que é nosso por meio de Cristo Jesus, o nosso Senhor.