quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A família na edificação do Povo de Deus



Vivemos numa sociedade marcada pela fragilidade das relações humanas. É comum ouvirmos pessoas dizendo que amam um animal de estimação, que gostam de uma roupa, que fazem um esforço enorme para comprar um carro. Facilmente conseguem expressar seus sentimentos quanto às coisas, mas são incapazes ou tem dificuldades em demonstrar tais sentimentos para com outras pessoas e com sua fé. Temos que superar a lógica do possuir e adentrar no ritmo do amor, a começar na família! Talvez, um dos locais mais difíceis de evangelização.
É na convivência diária familiar que encontramos o local por excelência do amor fraterno entre esposo e esposa, pais e filhos, irmãos e irmãs. Perdoar, escutar, amar são expressões que constituem a base familiar. Cristo dá o testemunho, será que nós estamos dispostos a amar e lutar pela nossa família na edificação do povo de Deus?
            O Código de Direito Canônico afirma no cân.226 §1 - “os que vivem no estado conjugal, segundo a própria vocação, têm o dever peculiar de trabalhar pelo matrimônio e pela família, na construção do povo de Deus.” A família é o local do amor, é o centro irradiador do anúncio da Boa-Nova, é a Igreja doméstica!
Afirma o Concílio Vaticano II na Gaudium et Spes (52) que “a família - na qual se congregam diferentes gerações que reciprocamente se ajudam a alcançar a sabedoria mais plena e conciliar os direitos pessoais com as exigências da vida social  - constitui assim o fundamento da sociedade”.
            Em conformidade com o Concílio Vaticano II  e com o Direito Canônico, essa pequena comunidade cristã se une a comunidade Igreja e juntas edificam e constituem o Povo de Deus na defesa da vida e da fé. Ouçamos sempre o mandado de Jesus Cristo: “Ide por todo o mundo, proclamai o evangelho a toda criatura”(Mc 16, 15).

Pe. José Carlos Linhares Pontes Júnior

Missionário Redentorista

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Pascoa eterna do Missionário Redentorista Pe. Estevão.

É com tristeza e esperança, de fé, que experimentamos a pascoa eterna do Missionário Redentorista Pe. Estevão CSsR (PADRE STEPHEN PAUL McCABE), na madrugada de ontem, no hospital São Camilo. Pe. Estevão, este ano, veio da Paróquia de N. SRA. DO PERPÉTUO SOCORRO, na Diocese de Campina Grande, para Fortaleza, a fim de cuidar de sua saúde e ficou residindo na casa Central, com os padres e irmãos redentoristas da Vice-província de Fortaleza. Quem o conheceu percebia sua pessoa como imagem e presença de Deus, que trazia paz e fraternidade. Todos que falavam com ele nunca o viam reclamando de algo. Os últimos momentos de sua vida em nosso meio foram marcados pelas suas palavras de esperança e confiança em Deus e uma paz profunda que vem do Céu. De sua boca sempre se ouvia a expressão: “está tudo bem, graças a Deus” e “ Vai dar tudo certo”.  Que ele descanse em paz no Reino de Deus.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

São Geraldo: Memória Viva da Redenção.

‘Aqui faz-se a vontade de Deus. Tudo como Deus quer e por muito tempo, quanto Ele quiser’ (1987, p.108). Esta frase extraída da obra Vida de São Geraldo, do Redentorista Pe. Francisco Costa, resume a vida de um dos nossos mais belos santos redentorista: São Geraldo Majella. Sua educação foi marcada por duas qualidades importantes: a piedade e o serviço. Geraldo (06/04/1726) nasceu no sul da Itália, na cidade de Muro. Sua mãe, Benedita Gadella, era dona de casa, seus pai, Domingo Majella, era alfaiate. Ele era o quarto filho de uma família simples, pobre e humilde. 

Desde pequeno Geraldo apresentava o desejo da vida religiosa. Costumava ir a uma igrejinha dedicada a Nossa Senhora de Capotignato. Lá rezava e se encontrava com o menino Jesus e Nossa Senhora. O gosto pela vida de oração, pela eucaristia, sua facilidade nos estudos, sua vida virtuosa, o espírito de caridade e sua grande devoção ao Espírito Santo são alguns sinais que marcam o perfil de nosso 'especial irmão e santo redentorista'. Com Santo Afonso e Madre Celeste Crostarosa, Geraldo completa o trio dos principais santos que iniciaram e nossa historia redentorista e deram exemplo de vida virtuosa para ser continuado.

Em São Geraldo a radicalidade, fidelidade e perseverança no seguimento do Redentor sofredor e pobre é uma constante que marcou sua vida.  Com o redentor Geraldo assumiu sua pobreza, sua humildade, seu constante serviço e doação aos mais Abandonados. Desde criança vemos em sua humilde pessoa a marca do carisma redentorista.


Geraldo repartia o pouco que tinha com os meninos mais pobres. Visitava os doentes de sua comunidade, auxiliava os alunos que tinham dificuldades nos estudos, era sempre gentil e amável com todos, paciente ao extremo. Cada pensamento e ação sua era acompanhada de uma vontade de anuncia o Redentor com a vida e com palavras. Por isso, em suas visitas e colaborações com os mais necessitados, ele sempre levava esperanças, conselhos e orientações espirituais aos mais necessitados. Era o evangelizador dos abandonados. Ou seja, levava a redenção.


Junto a tantas qualidades, concedidas por Deus, Geraldo teve também uma vida de dificuldades e sofrimentos. Assim acontece na vida dos santos. E para cada dificuldade Deus concede uma graça. Com 12 anos ele perdeu o pai e teve que trabalhar como alfaiate para se sustentar e ajudar a família. Geraldo, mesmo com o pouco que ganhava na alfaiataria, ajudava também aos pobres. Nunca lhe faltou nada que precisasse. Trabalho e Oração eram os dois sustentáculos da sua vida. Nunca reclamou de nada, a não ser quando o Padre lhe negou a comunhão, pois ainda não tinha feito à catequese. 


Para ser irmão religioso, São Geraldo teve grandes dificuldades. A principal delas, que dificultou a sua inserção numa Congregação Religiosa, foi a aparência do seu físico frágil. Com 14 anos (1740) Geraldo quis ser Capuchinho. Foi ao convento, porém, o frade Sr Prior não o aceitou. Assim foi a primeira dificuldade. Com 19 anos Geraldo voltou ao convento e recebe outro não. Porém, Geraldo não desanima. Quando Deus quer deve-se continuar. Em 1749 a cidade de Muro recebia os missionários redentoristas, Geraldo se renova nas suas esperanças, chega a conversar com o Pe. Paulo Cáfaro e afirma que quer ser irmão. A resposta é negada. Geraldo não desiste, arruma as trouxas de roupa, sai de casa, deixando um bilhete dizendo: 'vou ser Santo' e vai ao encontro dos missionários, que estavam de partida, Geraldo insiste novamente e com muito sacrifício é aceito na Congregação. Vai para Iliceto, onde demonstra disposição inigualável para ajudar os confrades e aos mais necessitados. 

Em fins de 1749 inicia noviciado. Com 25 anos, em 16 de julho de 1752, Geraldo faz sua profissão de Fé e se torna irmão da Congregação do Santíssimo Redentor. Vai para Caposela. Lá adoece do pulmão e termina sua vida com 29 anos de idade.  Irmão São Geraldo é popularmente conhecido como padroeiro das mulheres grávidas,das mães, dos Irmãos leigos e das crianças, dentre outros.  Hoje celebramos seu dia: São Geraldo Rogai por nós, pobres pecadores!!!

domingo, 12 de outubro de 2014

Dia das Crianças: Consciência Social!

Hoje, de modo especial, lembramos o dia da ‘CRIÂNÇA’, que, O Estatuto da Criança e do Adolescente (7ª Edição, 2010), conceitua como a pessoa de zero a doze anos de idade. A psicologia considera essa faze infantil como uma das mais importantes na vida humana, pois, nesta faze a pessoa inicia sua formação físico- biológica, psico-social e espiritual. Quando nesta faze a criança não é bem cuidada e orientada no seu desenvolvimento, as outras fazes de sua vida (adolescência, a faze adulta e a pós-adulta) podem apresentar diversos problemas na vida da pessoa. Por isso a importância de se ter uma boa infância. É de responsabilidade da família, da sociedade e do governo promover essa boa infância.

Porém, na nossa história, nem sempre os direitos da criança e deveres para com ela foram assegurados. Na verdade pouco existia uma preocupação nesse sentido. Na sociedade espartana os meninos eram levados para o colégio militar já cedo, com uma formação e disciplina rígida. As crianças que apresentavam algum defeito físico eram mortas. Pois a finalidade desta sociedade era preparar a pessoa para a luta, quando se tratava de menino, ou para o cuidado do lar, quando se tratava de menina. Na Idade média tinha-se um conhecimento sobre o valor da criança, porém muitas eram tratadas como objetos de exploração. Algumas religiões chegaram até a assassinar crianças, acreditando que este ato agradaria as entidades divinas e aplacaria sua fúria. Na Revolução Industrial as crianças eram exploradas. Elas trabalhavam 12 horas por dia e muitas vezes não se alimentavam. Durante um longo percurso da historia as crianças não tiveram vez e nem voz. Eram tidas como pessoas que nada sabiam e que estavam sobre a obrigação de seus responsáveis.

Hoje, graças a Deus, as coisas mudaram, e percebemos que assim como o adolescente, o adulto e as pessoas de terceira idade têm seus direitos e dignidade, sua importância e valor na sociedade, do mesmo modo as crianças também o têm. Esses direitos lhe são assegurados pela justiça, cabendo ao responsável ou qualquer membro da sociedade, consciente de sua obrigação em quanto cidadão, lutar pelo direito dos pequeninos e pequeninas. Na tradição bíblica, apesar de alguns elementos de preconceito em relação às meninas, a criança é vista como sinal de luz e esperança.  Jesus chega a afirmar que delas são o Reino de Deus e que devemos ser como elas, se quisermos o Reino. (Marcos 9.36,37/Mateus 11.16,17/Lucas 7.31,32). Isso demonstra a importância que a criança tem para e na nossa vida.

Hoje temos orfanatos que cuidam de crianças abandonadas, além de outras instituições que asseguram o direito da criança, porém, ainda se trona urgente refletirmos e tomarmos consciência de nossa obrigação em quanto cidadão ou religioso, pois, muitas vezes, crianças são maltratas. Elas são alvo frágil e fácil do tráfico de drogas e da exploração. Muitas pessoas e empresas utilizam das crianças como meio de ganhar dinheiro. Neste sentido, elas se tornam objetos de exploração. Outras crianças são jogadas nas ruas, desprezadas por pais ou responsáveis e até pela sociedade. Não podemos deixar isso acontecer. Que possamos perceber o real valor das crianças em nossa vida. Nós um dia fomos crianças e queríamos ser ouvidas em nossos sonhos e acolhidas e nossa família e sociedade. Deste modo precisamos despertar uma consciência humanitária, fraterna e responsável para os cuidados com nossas crianças. Há muitas crianças que sofrem preconceito dos diversos tipos, como o bullying, e muitas vezes lhes faltam seus direitos, como alimentação, esporte, lazer, educação, moradia, cultura, vida digna e sociedade acolhedora. Todos nós, família, sociedade e governos, somos responsáveis por elas. Não podemos deixa-las desamparadas de seus bens preciosos para um bom desenvolvimento físico-psico-socio-espiritual. Feliz dia das CRIANÇAS para todas, que Deus abençoe e que Maria, que cuidou do menino Jesus, nos ajude a cuidar de nossas crianças! Parabéns!!

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Mês Missionário e a 'Memória Viva' dos Missionários Redentoristas.

No mês de outubro a Igreja Católica celebra o mês missionário. Junto dela nós, Missionários Redentoristas, trazemos a ‘viva memória’ dos nossos 281 anos de fundação como Congregação Missionária do Santíssimo Redentor. Nossa identidade missionária e nossa missão de evangelização teve seu começo com nosso Pai Afonso, no seu contato e convivência com os cabreiros, pobres, abandonados e excluídos da sociedade em Scala.

Essa experiência despertou a intuição de Afonso, no chamado de Deus, para fundação de sua Congregação Missionária. E assim como as mulheres, Maria Madalena e outra Maria, foram as primeiras a anunciarem aos apóstolos a Ressurreição de Jesus, do mesmo modo, foi por meio de Madre Celeste Crostarosa que a fundação da Congregação foi anunciada e revelada a Santo Afonso. Deste de então, nossa Congregação foi se formando e ganhando novo vigor, com nossos santos e beatos e nas nossas diversas experiências missionárias com o povo de Deus.

Nossas Constituições e Estatutos são o compêndio de nossa caminhada missionária religiosa e de nosso modo de ser missionário redentorista. As Constituições e Estatutos propõem o nosso caminho e nossa razão de ser Redentorista, no seguimento de Cristo e no anúncio da Copiosa Redenção a serviço da Igreja e da humanidade. (Cf. Carta do Superior Geral, Pe. Juan M. Lasso Dela Veja, aos Redentoristas, 2004, nº XXXIV).

Somos, por natureza, missionários (Const.1), independente de onde estejamos e do estado de vida em que nos encontramos. Se somos missionários, então temos uma missão. A primeira e principal missão é “a proclamação explícita da palavra de Deus para a conversão fundamental.” (Const.10).  Evangelização e conversão são dois conceitos nossos que devem estar em nosso modo de ser e deve fazer parte da nossa missão.

Os destinatários de nossa missão são os homens mais abandonados, ou seja, “são os que a Igreja não pôde ainda prover de meios suficientes de salvação; os que nunca ouviram o anúncio da Igreja, ou pelo menos, não o recebem como ‘Evangelho’; ou, finalmente, os que são prejudicados pela divisão da Igreja.” (Const. 3). Entre todos os que necessitam da evangelização, entre os grupos humanos mais necessitados de auxílio espiritual, nós estamos obrigados a atender de modo especial aos pobres, mais fracos e oprimidos, cuja evangelização deve ser sinal da obra messiânica, e com os quais o Cristo mesmo quis, de certa maneira, identificar-se. (Const.4). O mandado concedido a nós de evangelização e conversão aos pobres e abandonados socialmente, culturalmente, politicamente, e espiritualmente, visa à libertação e salvação da pessoa humana toda. (Const.5). Neste sentido temos bem claro o nosso ser missionário e nossa missão, que se identifica com o que é celebrado pela Igreja no presente mês.

Há 54 anos os primeiros Redentoristas irlandeses Pe. João Myers, Pe. Tiago McGrath, Pe. Jaime Collins e Pe. Miguel Kirwan, chegaram ao Brasil, no Rio de Janeiro e ficaram em Goiás. Destes, dois anos depois, ou seja, no dia 05 de fevereiro de 1962, se formou a Vice-província em Fortaleza. Aos poucos fomos nos expandindo e assumindo novas regiões missionárias como a Paróquia de São Raimundo Nonato, a Paróquia São José Operário, em Paraíso do Norte de Goiás e a capela Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na diocese de Iguatu, dentre outras. Atuamos em três Estado: Piauí, Maranhão e Ceará, E iniciamos uma experiência na Àfrica. Contamos atualmente com 45 Missionários professos e 10 fundações.


Como Missionários Redentoristas atuamos em diversas áreas missionárias como nas paróquias, nos santuários, na formação, na animação vocacional, no rádio e na tv, dentre outros, porém, nos Brasil somos conhecidos popularmente pelas ‘Missões Populares’. Com esta realizamos nosso carisma de ser missionário, testemunhas vivas da redenção, continuador de Jesus Cristo; e a nossa missão de levar a redenção de Jesus Cristo para os pobres e abandonados. Contudo, neste mês missionário, em que a Igreja Celebra o mês da missão, nós fazemos memória de nossa caminhada missionária, ao mesmo tempo em que celebramos ‘O Ano Vocacional Redentorista’. Que o Senhor possa nos ajudar a renovar nossas estruturas missionárias, animar o povo de Deus na FÉ, ESPERANÇA E CARIDADE, para evangelizar de um modo sempre novo. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e Santo Afonso: rogai por nós!

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A importância de debater política.



A palavra política deriva de “polis” que remonta às cidades da Grécia Antiga, berço de Aristóteles, que afirmou que o homem é um animal político no que tange à necessidade de se relacionar com os outros. Para tanto, é preciso compreender que a política faz parte da vida do ser humano e muito interfere no dia a dia.

Com efeito, faz bem ressaltar que, política não deve ser somente concebida como a política partidária, como as campanhas que os candidatos aos cargos públicos fazem de dois em dois anos. Infelizmente para muitos, só se toca nesse assunto quando chega o período eleitoral e para muitos nem nesse período.

Os jovens, muitas vezes não gostam desse assunto, acham chato, pois bem, não gostar de política é uma forma de se alienar. A política implica no cotidiano: no que estará na mesa para as refeições, no atendimento público de saúde, na segurança pública, na educação de qualidade e inúmeras prioridades que devem ser oferecidas pelo estado.                                                        

Esses pontos de importância relevante, sempre estão em destaque no discurso dos candidatos. A saúde, a segurança, a educação e problemas regionais de cada estado. Aprofundando: nota-se muitas vezes, entre os políticos profissionais, acordos e conchavos para as eleições. Devido a isso e ao não cumprimento de promessas feitas na época da eleição à política fica em parte desacreditada e pode se cair em uma generalização de que nenhum candidato eleito será bom ou que existe um candidato que é dos males o pior.

Tratando-se do regime atual na sociedade brasileira, se tem o poder nas mãos de escolher um representante democraticamente por meio do voto secreto. O poder é do cidadão, do trabalhador, do pai de família, do operário, e ele passa esse poder para um representante, que deve honrar o voto e a confiança do povo.

Se por um lado existem os que não gostam da política, por outro lado existem os que a querem separar da religião. Entretanto, política e religião estão juntas, pois existem defesas políticas que são preceitos e valores religiosos e, portanto devem ser seguidos pelos que professam determinada fé. Assim, os que professam uma fé, não podem ser alheios à realidade política que os cerca.


Felipe Feijão, estudante de Filosofia – UECE

Teologia Moral afonsiana: a copiosa redenção!


Nosso Pai, Santo e doutor: Afonso Maria de Ligório (1696), fundador dos Redentoristas, é reconhecido após o concílio de Trento, no século XVIII, pela reforma no sistema moral da época, na sua mais brilhante obra: Theologia Moralis (1753-55). Nela Afonso se posiciona entre as duas correntes morais mais radicais de seu tempo: o rigorismo e o laxismo. A primeira afirmava a conduta humana na radicalidade da lei e descartava o arbítrio humano, a segunda destacava a liberdade humana como autoridade e princípio da conduta, sem nenhuma preocupação com a lei e com o ético.

Segundo o teólogo Théodule Rey- Mermet, na obra A Moral de Santo Afonso de Liguoui (1991), Santo Afonso não segue nenhum dos dois caminhos, mas o meio termo, o justo meio: o equiprobabilismo. Este consiste no seguimento de uma conduta provável entre uma opinião que afirma cegamente a radicalidade da lei e uma outra que a nega. Questão é o equilíbrio entre a lei e a liberdade, sendo que quando a lei se demonstrar duvidosa, pois apresenta opinião contrária a ela, a liberdade deve ser o caminho mais acertado, portanto, a lei, neste caso, não deve obrigar, mas a razão conforme a opinião mais provável. Sua teologia moral foi feita para os seus confrades e para o atendimento ao povo nos confessionários, pois foi nas confissões e no contato com o povo que Afonso percebeu a necessidade de um novo caminho moral que apresentasse a face de um Jesus Redentor para o povo abandonado e excluído espiritualmente e socialmente.

A questão da moral estava diretamente ligado aos casos de consciência. Assim a sua teologia moral trata especificadamente da consciência. Esta é o grande bem precioso da humanidade. A consciência tem um papel determinante no agir do ser humano. E na dúvida moral, entre o caminho do bem e o obrigatório, é necessário a consciência seguir o caminho mais provável. Quando as leis canônicas e as escrituras não conseguem dar respostas claras para a condução da consciência, então, a razão, deve ser o caminho. O bom senso se torna, assim, o guia. Deste modo nosso Pai Afonso apresentou uma nova face ética do Cristo até então nunca vista na época: Jesus redentor que veio para salvar a todos e não uma minoria, que não tem seus escolhidos determinados e puros, mas que busca salvar a todos e especialmente e urgentemente os mais abandonados e excluídos da sociedade. Um Deus encarnado na pessoa de Jesus que literalmente morreu de amor a nós.

Afonso foi bastante criticado em sua época, tanto pelos rigoristas, que viviam num ideal radical a lei, distante da realidade do povo, como pelos laxistas, que afirmavam liberdade fora de cogitação de uma vontade divina, onde tudo pode. Sua obra foi proibida em muitos locais, porém não abriu de mão de seu pensamento por este apresentar-se como o melhor, mais humano e mais divino, caminho a seguir. 

Hoje nós somos convidados a refletir sobre nosso caminho moral, político e social. Sobre nossa relação com Deus e com os homens, sem esquecer-se do nosso planeta. A nossa sociedade é pluralista e nossas relações ficaram mais complexas, porém, assim como nosso Pai, precisamos dar respostas às exigências da atualidade.  A moral de Afonso apresenta um Jesus redentor, que acolhe e quer salvar a todos. Como podemos continuar esse projeto? Nosso caminho de fé e vida é inclusivo, dialogal, respeitoso com as diferenças? Estamos traçando, com a inspiração da palavra de Deus, o caminho a seguir? O princípio do amor continua sendo o caminho, porém, nosso desafio é entrar num consenso com as outras formas de viver da sociedade, que muitas vezes se apresentam novas e diferentes, e outras vezes, contrárias aos princípios do amor e da vida. Respostas e a lutas se tornam urgentes para nós, como religioso, como leigo, como cidadão, como redentorista: pois a salvação começa hoje e agora em nossas diversas realidades em quanto vivermos aqui, e atinge o seu nível  mais elevado, transcendente, em que há uma diversidade de crenças.

Pai Santo Afonso: ajudai-nos na nossa caminhada aqui na terra.