Apresenta-se aqui algumas
considerações sobre a vida consagrada, interrogações e um norte para a vida
humana.
Uma das boas interrogações que podemos ter na nossa vida é: quem somos
nós? Isso mesmo. A biologia pode dizer que somos um composto de moléculas; a
sociologia nos afirma que somos um ser social, um ser de cultura; A psicologia
nos afirma que somos um ser de ‘mente’. Todas
elas podem nos ajudar a conhecer-nos, porém, nenhuma delas encerra esse
assunto. E a interrogação continua: o que eu sou? A resposta mais sublime que
encontrei, e que é nossa primeira pista é que somos um “mistério”! Ou um “milagre”!
Um mistério não se decifra totalmente, não se conhece por completo, não
se compreende totalmente, tal como nós somos. Se olharmos profundamente para
nós, para dentro, para o profundo do nosso interior, para a nossa história de
vida e suas marcas profundas, perceberemos que podemos descobrimos algo novo
dentro de nós, algos desconhecido até então.
Podemos ficar surpresos com o que vamos encontrar: alegrias, surpresas,
paixões, raivas, desprezo, carinho, carência, esperança, felicidades, enfim,
uma infinidade de coisas sobre nós. Se deslumbrarmos o nosso dia e a forma como
agimos e reagimos no cotidiano da vida, descobriremos coisas novas e
surpreendentes. É como percorrer o universo e encontrar as estrelas que brilham
no céu. É algo grandioso, assustador, encantador, infinito. É espetacular! É um
“mistério”.
Se é intrigante sermos um mistério, mais ainda será se descobrimos de
onde viemos. Esta é uma surpreendente descoberta, nossa segunda pista: Se somos
mistérios, só podemos ter vindo de um “Grande
Mistério”, que costumo acreditar ser Deus.
Não há maior Mistério que esse. Ninguém ver Deus face a face andando pela rua,
ninguém consegue conhecer a Deus na sua plenitude, ninguém jamais entendeu
todos os projetos de Deus na sua completude e nem conseguiu provar sua
inexistência. Pelo contrário, quanto mais na contemporaneidade se questiona sobre
a origem e o fim da vida , quanto mais se procura saber quem somos nós, de onde
viemos e para onde vamos, que é um mistério tal como nós, mais nos esbarramos
no inevitável, no “Grande Mistério”: Deus. Não tem resposta mais precisa, mais
preciosa, mais sublime, mais completa, sobre a nossa origem, o local de onde
fomos gestados originalmente e como o milagre da vida acontece do que: em Deus.
Viemos de Deus, pois somos um mistério, tal como Deus, ou seja, somos a sua imagem e semelha: um milagre, um
mistério.
Com essas pistas podemos nos conhecermos profundamente e conhecer esse
mistério que nos rodeia. Se somos de Deus, a sua imagem, então inevitavelmente
o nosso “ser”, o conhecimento de nós mesmos, a nossa essência, a nossa origem e
o nosso caminho depende de olharmos para Deus, e nos encontrar com Ele para se
encontrar conosco. Assim só
descobriremos quem somos, profundamente, se estivermos com quem nos fez, a sua
imagem e semelhança. Só descobriremos a nossa vida, o sentido da nossa
existência, se estivermos com o Sagrado
Mistério.
Hoje mais do que nunca as pessoas têm sede do “Sagrado”, elas buscam
saciar essa fome do seu ser, da sua essência, nas coisas, nos prazeres e
divertimentos que a sociedade propõe, nos altos cargos sociais e nos grandes
poderes. Elas querem “ser”, encontrar-se consigo mesmo, e para afirmar seu “ser”, buscam “ter” e buscam “poder”.
A maioria das pessoas não quer um trabalho que as coloque no nível
aparentemente inferior das pessoas consideradas importantes, pois isso seria
para elas como diminuir ou desvalorizar seu “ser”. Elas não querem roupas
simples ou consideradas de menor valor social, pois isso a colocaria no sistema
social como “pessoa pobre”, ou considerada menos ofensivamente, “pessoa
simples”. Ninguém quer trocar cargos de destaques, que valorizam a sua
“pessoa”, ou seu “ser”, por cargos aparentemente inferiores. Fazer isso para
elas é como se elas estivessem perdendo ou diminuindo seu valor, seu ser. O
significado de Si. Toda a nossa sociedade contribuí para essa visão.
Elas procuram se firmar, e
acreditam que isso ajuda a “elevar seu ser”. Porém, na maioria dos casos, essa
busca não é profunda e essencial, pois não atinge profundamente a essência
humana, e nem as deixa livres verdadeiramente. Elas buscam sua auto-realização,
porém, na maioria das vezes essa busca não preenche o nosso vazio. Essa busca
no cotidiano da vida é necessária, porém não encerram o profundo da nossa
existência. Corremos o risco de buscar a nossa profunda realização nas coisas que
são necessárias para manter e proporcionar um pouco de satisfação na nossa vida,
(trabalho, casa, comida, amigos, festas), mas que não nos satisfazem plenamente.
Se essas coisas nos satisfizessem plenamente não existiriam pessoas,
tristes, pessoas raiventas, pessoas estressadas, pessoas cansadas, pessoas sem
alegria, pessoas doentes, pessoas carentes. Todas trabalham, todas possuem
casas, todas têm amigos. Então porque mesmo assim muitas delas não se sentem
profundamente felizes? Porque muitas delas sentem um vazio interiormente? ...O
nosso grande problema é que buscamos a nossa real e profunda felicidade nas
coisas pequenas, nas coisas passageiras, pois acreditamos que as coisas desse
mundo nos fazem feliz, porém verdadeiramente isso só acontece de modo parcial.
A maioria das pessoas buscam seu “ser” nas coisas que passam, nas coisas que
são imagens de Deus. E nesse ponto elas erram feio. Pois não há outro local
para se encontrar consigo mesmo, com a essência humana, e com todas as coisas
determinantes deste mundo, a não ser em Deus. Pois é em Deus que todas as
coisas ganham verdadeiro sentido, em Deus as coisas e inclusive o homem, possui
o seu verdadeiro ser, pleno e milagroso. O nosso problema é que trocamos doze (Deus)
por meia dúzia (seres imagens de Deus). Precisamos fazer o caminho inverso.
Buscarmos e amarmos primeiramente a Deus para, estando com Deus, conhecendo a
nós essencialmente, buscarmos e amarmos as obras de Deus. É o grande desafio da
humanidade e sempre o será, se quisermos ser verdadeiramente felizes, ou bem
aventurados.
Daí é de fundamental importância encontrarmo-nos com Deus, com o “Sagrado”,
pois só nos encontrando com o Sagrado é que seremos nós mesmos e descobriremos
a nossa real felicidade. A grande luta nossa é buscar a Deus, com todo o nosso
coração, com toda a nossa alma com toda a nossa força.
Mas para isso precisamos estar abertos para Ele. Chama-lo de coração e
deixar Ele participar de “Toda a nossa vida”, acreditar que Ele vai agir em
nós, que Ele nos mostrará o Caminho e a Verdade. Então precisamos “ser
totalmente consagrados”. Entregar a Ele nossa vida, nossa história, nossas
preocupações, viver com Ele numa relação de intimidade. É estar totalmente a amostra para Deus.
Se não for assim será difícil descobrirmos a nossa identidade fundamental
e verdadeira alegria. A nossa verdadeira essência. Não se trata só de falar com
palavras que queremos a Deus, mas fazer da própria vida, com suas alegrias e
tristezas, esperanças e decepções, uma vida despida para Deus, estar nu e sempre diante de Deus, para que Ele
possa nos ajudar. Se uma oferta viva para Deus, pois só podemos nos encontrar
profundamente quando nos encontramos com Deus.
Em Deus o nosso ser é revelado e resplandece, pois nos encontramos com
as raízes da nossa existência, o nosso primeiro amor.
Há pessoas que se mostram
parcialmente a Deus, ou seja, só parte da sua vida, a parte mais bonita. Há
pessoas que não abrem de mão de suas coisas pessoais, de suas ideias pequenas,
de sua visão interesseira, por nada. Aqui ninguém mexe. Eu não deixo, eu não
perdoo, eu não largo. É um egoísmo e tanto. Elas são muito cheias de Si, mas
não é um Si verdadeiro. É um si egoísta. Um Si prezo e não Livre, Um Si
frustrado, pois quer Tudo, mas perde tudo. E por isso Deus não pode fazer muito
por elas. Muitas falam com Deus, mas numa relação de troca. Deus me dá isso, eu
faço aquilo. Outras querem fazer de Deus seu serviçal: Faça isso pra mim,
agora, pra essa semana, eu preciso. Muitos não ficam nus e não deixam “Deus ser Deus”. Não se coloca o Oceano dentro de
um copo de água. Assim podemos ser nos quando queremos que Deus se mova pela
nossa vontade, e pior ainda, pela nossa mesquinhes.
Com essas limitações não tem como nos encontramos como realmente somos,
com nossa verdadeira felicidade. E quanto mais procuramos a Deus em coisas
menores do que Ele, quanto mais nos restringimos a elas, mais limitamos a presença
e ação de Deus no nosso meio e mais ficamos confusos. É Assim com muita gente.
O passo para Deus requer abertura, requer entrega, requer confiança,
requer busca constante, requer intimidade, requer conversão. Pois quanto mais
nos aproximamos de Deus, quanto mais consagramos nossa vida a Ele, mais nos
distanciamos do caminho mau feito. Entramos no eixo. E isso não acontece sem
perdas, e sem dor. Quanto mais estivermos grudados aos nossos egoísmos, as
nossas vontades individualistas, aos desejos pequenos, fechados e mesquinhos,
mais doloroso será a nossa libertação. Não desistamos de nos encontrar. A
solução é ser con-Sagrado, para Com o
Sagrado Ser. Deixamos Deus entrar nas arestas da nossa existência, Ele vai fazendo-nos
descobrir a nós mesmos, o nosso ser. Deixar ser remodelado para encontrar-se
com nossa felicidade plena. Se estivermos sempre com o Sagrado, com o Sagrado
seremos “Ser” e encontraremos nossa real felicidade.
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