O artigo Filosofia
e o exercício do pensamento conceitual na educação básica de Silvio Gallo
trata sobre a atividade do pensamento filosófico, ou da Filosofia, como
produção de conceitos. Silvio categoriza três tipos de pensamentos na tradição,
a saber: a) o pensamento por imagem, referente a tradição oral antiga, isto é: mitológico-poético-figurativa; b) o pensamento por palavras, escriturístico-teórico-conceitual;
c) e o pensamento mediático informático-operacional-simulativo. Dessa divisão
se observa três polos do espírito, que são os três momentos da história do
conhecimento humano; o polo da oralidade-figurativo-imaginética, o polo da
escrita que resultou na constituição da filosofia e do saber científico, e o
polo da informática, da revolução tecnológica. Cada um desses polos apresenta
características próprias e diferentes impactos sobre o conhecimento e a pedagogia do ensino filosófico. Para
Silvio:
[...] podemos afirmar que a oralidade
engendra um saber do tipo narrativo, baseado na ritualidade; a escrita, por sua
vez, apresenta um saber teórico baseado na interpretação, enquanto que a
informática possibilita um saber operacional baseado na simulação[1]
Porém apesar da particularidade de cada
conhecimento e modalidade específica de praticidade, os três conhecimentos se
relacionam. Pois podemos relacionar o pensamento por imagens com a oralidade,
produzindo narrativas, e o pensamento por palavras com a escrita, produzindo
teorias. O pensamento por conceitos proveio da Grécia Antiga, muito distante
destas tecnologias que apenas nas últimas cinco décadas estão sendo
desenvolvidas. Enquanto que na sociedade contemporânea existe uma hierarquia de
valores que exalta o pensamento operacional na modalidade tecnológica em
detrimento das outras duas modalidades de pensamentos, Silvio sustenta que o
que é próprio e desafio do saber filosófico, ou da Filosofia, é a produção de
conceitos. Esta é a maior dificuldade nos tempos atuais na sala de aula. Seguindo
o pensamento filosófico de Deleuze e Guattari, Silvio afirma que: “O pensamento
por conceitos é esta diferença em relação ao pensamento projetivo que colonizou
nossas mentes na oralidade e na escrita”.[2] A
filosofia é concebida como,
[...] a atividade de criar conceitos. Isso
quer dizer que, no exercício da filosofia, não pensamos por palavras?
Exatamente. Na filosofia, usamos também palavras como ferramentas, mas elas são
apenas uma forma de expressar os conceitos, assim como elas também expressam as
figuras e imagens, através de metáforas e parábolas. O essencial do pensamento
filosófico é o trato com os conceitos.[3]
O conceito é uma representação universal. O
conhecimento por conceitos chama-se pensar, porém não se trata daquele tipo de
conhecimento como reprodução dogmática de ideias ou pensamentos, mas uma
ruptura em tal método disciplinar de prática educativa. Romper com o
engessamento do pensamento é a proposta de Silvio e missão da filosofia na sala
de aula. Deste modo:
Os conceitos, ao contrário são mobilizadores
e motores do pensamento, estão para fazer pensar, não para paralisar,
imobilizar o pensamento. Cada conceito remete a outro conceito, a outro
problema. Cada conceito conecta-se com vários outros e pede novas conecções.[4]
Superar a Doxa
é o desafio da filosofia na sala de aula. A produção conceitual não é um
simples pensar, mas um conceituar a realidade na sua universalidade, a partir
de um problema, e de uma realidade sensível. Portanto, a filosofia não está
somente no campo teórico, mas na experiência prática humana. Neste sentido a
proposta de Silvio Gallo impõe para o ensino de filosofia algo mais do que
reprodução de pensamento, isto é, uma proposta não de e ensino vertical, mas um
estímulo no aprendizado filosófico, na própria prática conceitual. Não se trata
de um método ou forma específica, mas uma abertura para autonomia da
consciência humana na construção do saber e produção filosófica. Deste modo,
podemos perceber que filosofia não é reprodução, mas transformação, que gera a
construção de novos conceitos e novos problemas. Essa prática na sala de aula é
desafiante para o professor, pois requer mais do que uma sabedoria memorística,
mas uma sensibilidade para perceber as diversas direções que podem ser
construídas para a produção conceitual na escola. Estimular ao filosofar é o
principal desafio no ensino. Pois requer algo mais do que uma sala de aula e
conteúdos reflexivo. É como dar a luz a um filho pelo qual não se sabe o que
será, mas que precisa, com dores e esforço, ser encarnado na realidade.
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