segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Fé e Política



A e a Política sempre fizeram parte da vida do povo de Deus. No Antigo Testamento Moisés escreve os dez mandamentos para educar o povo na união com Deus (“Amar a Deus sobre todas as coisas”) e no compromisso de cuidado social do irmão (“não cobiçar as coisas alheias/ não levantar falso testemunho”), principalmente os mais abandonados: o órfão, a viúva, o migrante, o pobre.
Naquele tempo não havia separação entre Religião e Política. O profeta (o Ungido de Deus) era responsável para falar ao povo o que Deus queria, assim como tinha a obrigação de denunciar o Rei vigente (Saul, Salomão) quando este cometia injustiça para com o povo. A irresponsabilidade política era sempre condenada como o rompimento da “Aliança” de Deus. Pela boca do profeta Amós Deus denuncia os três crimes de Judá: “porque desprezaram a lei de Deus e não guardaram os seus mandamentos, tomando um caminho de mentiras” (Am 2,4). 
          Nos Evangelhos Jesus não é político, não se liga a nenhuma instância política do império romano, mas sua vida tem uma ação política que pode ser resumida em quatro posições: a) Jesus tinha uma visão realista da realidade: “‘sabeis que aqueles que vemos governar as nações as dominam, e os seus grandes as tiranizam” (Mc 10,42); b) Jesus sabe que as autoridades políticas, apesar de serem importantes, não são deuses e nem podem assumir o lugar de Deus (“pois dêm a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 20); c) Jesus não nega o poder político ou função política de Pilatos, mas afirma que essa função é dada por Deus, e seu propósito deveria ser bom: “‘Não terias poder algum sobre mim, se não te fosse dado do alto” (Jo 19,11); d) Jesus era livre (Jo 10,18) para decidir corretamente diante de qualquer realidade política.
        Ao longo da história a Igreja e o povo crente estiveram envolvidos com a Política. Na Idade Média a Igreja e Estado eram uma só coisa. As regras da fé eram adaptadas ou sintonizadas com as normas civis da vida política e social do povo. Para assumir um cargo político era preciso passar pelos sacramentos, pelos princípios cristãos do serviço e cuidado. Estes princípios deveriam ser praticados na política. Os ricos influenciavam e até decidiam sobre a Igreja (quem iria ser ordenado Presbítero, Bispo e até Papa) e a Igreja tinha parte nas decisões do Estado e do Império (Romano...).
Da Modernidade adiante, principalmente no Brasil, a Igreja se separou do Estado. Isso até certo ponto foi bom para que os interesses corruptos e injustos do Estado não interferissem na Igreja e na vida de boa vontade dos fieis. Porém, recentemente há nos membros da Igreja um distanciamento da política. A corrupção, a injustiça e diversos erros saltam aos nossos olhos e nos deixam sem motivação para assumir o compromisso cristão de praticar a fé na política, para o Bem Comum. Mesmo diante desses desafios, não podemos perder a esperança. Se o barco está defeituoso, isso quer dizer que pode ser consertado. Assim é com a Política. Depende de nós contribuir para concertar o barco defeituoso chamado Política. 
O Concílio Vaticano II afirmou que a Igreja e a Política deveriam agir para o Bem de todos. Isso acontece pela cooperação entre as duas instâncias de poder (GS, 1581). Segundo a doutrina eclesial: a educação civil e política, tão necessária hoje em dia, especialmente para os jovens, deve ser ministrada de modo a que todos possam exercer o seu papel na comunidade política. (1578). A participação política do cristão católico é uma exigência que faz parte da raiz essencial humana.
Todos os cidadãos (inclusive cristãos) têm a possibilidade de participar cada vez mais livre e efetivamente da Política, do governo das coisas públicas, das instituições e eleições de governantes. A Igreja considera digna de louvores e considerações às pessoas que se colocam a serviço dos outros, nas coisas públicas e assumindo os encargos (GS, 1573). A exceção está no corpo ministerial ordenado, a saber, o presbítero, o bispo e pontífice romano. Estes mesmo possuindo validade eclesial de uma ação política no exercício do ministério e podendo orientar os fieis cristãmente sobre a Política, não podem fazer parte da política, não podem se filiar a nenhum partido, não podem ser políticos.
Por fim, o Papa Francisco afirma na Cartilha de Orientação Política que “para o cristão, é uma obrigação envolver-se na política. Nós, cristãos, não podemos fazer como Pilatos: lavar as mãos. Não podemos! Devemos nos envolver na política, pois a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum. E os leigos cristãos devem trabalhar na política”.  Quando uma casa está pra cair, os donos correm e fazem alguma coisa. O nosso mundo é essa Casa Comum que está desabando com a corrupção Política, você vai ficar ai parado ou vai começar a arregaçar as mangas pra cuidar da nossa Casa Terra? Comece hoje......

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