Introdução
Deste a
tradição bíblico, hebraica-testamentária que o profetismo configura uma parte significativa do percurso existencial-
religioso, político e cultural- do Povo de Deus. Nesse sentido a figura do
profeta, nas suas complexidades e nuanças, possui uma posição e função
determinante no trajeto histórico-social do povo de Israel. É partindo dessa tradição cultural, histórica e teológica-judaica
que se destaca Jesus Cristo, o nazareno, como a pessoa a quem se realizou, na
sua plenitude, as expectativas prefiguradas pelos profetas de Israel. Por
conseguinte, pode-se inferir que ele possui em si essa máxima expressão
emblemática profética, como dimensão parcial de sua missão salvífico-redentora.
Após o fato
Cristo, na nova religião que se constituiu,
a saber, o Cristianismo (ou posteriormente Catolicismo), tais perspectivas
proféticas seguem sua continuidade ora com grande valor para Igreja, ora nos
porões da mesma. Porém, fazendo um recorte na história dos profetas, pode-se
considerar que no século XX, ou mais precisamente, após a década de 70, o
profetismo emergiu como exigência
libertadora espiritual, social e política do contexto repressivo Moderno, a
saber, das diversas situações de desigualdade social, dos conflito sociais e da
opressão dos menos favorecidos da sociedade moderna, como os pobres,
marginalizados e excluídos.
Partindo deste
contexto conflitante e desigual, pós conciliar, se instaura, nas proximidades
da década de 70 em diante, na Congregação Redentorista, a revisão e vitalização de alguns pontos do seu caráter religioso
profético. E a retomada de suas fontes proféticas-históricas fundacionais,
carismática, a partir daqueles a quem Santo Afonso dedicou sua Missão Redentora:
os pobres e abandonados de Nápoles, na pessoa e situação de desprezo de seus periféricos cabreiros. Tal profetismo congregacional
religioso não se desvinculou do caminho evangélico a ser trilhado pela Igreja,
mas constituiu uma expressão profética libertadora da própria Igreja, enquanto anunciadora
de Jesus Cristo que liberta e redime. Atualmente, nesta mesma Igreja observa-se
sinais dessa dimensão profética marcante e expressiva na figura do Papa
Francisco e nos seus diversos escritos, como a exortação apostólica Evangelii Gaudium, a bula jubilar Misericordiae Vultus e a carta encíclica
Laudato Si’.
Com base
nessas sucintas e breves pontuações acerca do profetismo na história do povo de Deus, na tradição bíblica e no
final do século XX até hoje, apresenta-se, aqui, os seguintes pontos de
reflexão: i) Algumas considerações sobre
os profetas e sua ação-vital-profética na tradição bíblico-testamentária; ii)
algumas observações proféticas na espiritualidade dos Missionários
Redentoristas; iii) e as linhas indicativas de espírito profético na
Contemporaneidade, com base nos escritos do Papa Francisco, dentre outros. Tais
tópicos serão apresentados e publicados, no presente blog, por título, de modo
separado, em vista de facilitar a leitura e compreensão de suas partes.
Em suma, é
relevante considerar que o profetismo, apesar de sua complexidade e visão ora
negativa e cómoda, como os falsos profetas, ora positiva e exigente, com os
verdadeiros comunicadores de Deus, continua sendo um norte para a fidedigna e
equilibrada caminhada do povo de Deus, católicos ou não, em vista de sua
permanência, comunhão e seguimento de Deus, na pessoa de Jesus Cristo, pela
força do Espírito, em vista da humanização, dignificação e salvação de
todos. Esse trabalho tem a pretensão de conceber
luzes de entendimento sobre o profetismo
e sua complexa trajetória na caminhada da Igreja, enquanto “povo”, ou membros
vivos, seguidores e continuadores do projeto misericordioso e justo do Pai.
Junto a isto está o intento de instigar a tais leitores uma compreensão mais
crítica-evangélico-profética da nossa realidade contemporânea, sem
desconsiderar seus fundamentos bíblicos.
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