Uma das coisas que ainda hoje me arrebata o coração
e me deixa fora de orbita, como que afetado no profundo da minha alma, é o
mistério que experimentei na minha mãe. Sou muito grato a Deus pelo que Ele fez
por mim, de tal modo como ninguém nunca o fez. Digo do mistério de Deus que
envolveu a minha vida e de minha mãe numa comunhão profunda. Algo que brotou
desde o começo de minha existência e aos poucos foi modelando e influenciando a
minha forma de ser e experimentar o mundo.
Justamente
pensando nisso é que gostaria de realizar o que poucas vezes tive coragem de
fazer para com as pessoas que muito amo: deixar brotar uma mensagem de amor no mais
íntimo de minha alma. Lá onde está o nécta mais doce de uma flor, o brilho mais
puro de um diamante reluzente. Lá onde Deus habita e faz a vida se tornar o bem
mais precioso que qualquer pessoa pode ter. O que pretendo fazer é meio que uma
confissão, diante de momentos da vida
em que nem sempre temos tempo, coragem, ou disposição, para expressar aquilo
que envolve o nosso mais íntimo, o mais profundo de nossa vida, o mais frágil e
inseguro de nossa pessoa, o mais simples, livre e verdadeiro de nosso ser.
Nessa
confissão você pode caminhar comigo,
mas o que realmente acredito que importa para você é se no seu coração é
possível despertar uma experiência apaixonante e fascinante para as coisas que
são tão simples e bobas, porém, que são as mais importantes na vida. Importante
de serem experimentadas, ditas e comungadas, porque delas depende o nosso
caminho de felicidade. Assim começo, tentando criar coragem para confessar à
minha mãe:
Mãe!
Não sei tanto o que dizer, o que sinto por você. Você é um mistério que nunca
cansei de querer conhecer e amar. Quando era bem pequeno recordo-me dos teus
braços, sentia-me tão seguro, tão em paz, tão confortado. Se de dia você me
acordava, mandava-me tomar banho. Mandava-me sentar à mesa, e me dava o café
pronto. Se acaso eu me apressasse em comer, outro pão ia me dar. Mas então se
eu demorasse, não deixava de me falar: “come logo, está na hora e não deixe
sobrar nada!”. Logo logo eu ia brincar.
E muito me divertia. Mas se estava cansado ou com fome, era você que me
acolhia. Trazia-me coisas gostosas, com carinho e alegria. Muitas vezes se
preocupava tanto comigo que até se esquecia de si. Normalmente você era a
última a comer. Mas quando ti via
comendo, não hesitava em comer contigo. Não era só o gosto da comida que era
boa, mas o estar comendo com você que me fazia bem. De repente aparecia algum problema, comíamos
rápido para você ir correndo resolvê-lo. Como me amavas e eu também a ti.
Roupas limpas, casa limpa, comida pronta e eu em paz, eram
coisas que fazia todo o dia, incansavelmente. Como esquecer que sua vida era
uma doação pela minha vida. Como não perceber que de ti recebia tanto amor que
não se comparava ao que eu podia dar. Se temia alguma coisa, eu queria minha
mãe. E quando me machucava, era você que eu, chorando, procurava. Quando a
noite chegava, era aos seus braços que eu corria para poder descansar, ou
perder o medo do escuro. Muitas vezes você me enganava. Deixava-me junto contigo
até eu dormir e quando eu percebia, já estava na rede, ou na cama, ou em outro
local que eu não queria estar, fora de teus braços.
Quando
ia para escola, você sempre me avisava o horário. Mandava-me ir tomar banho e
ir correndo comer. Enquanto eu não saia, você não sossegava: “Vamos! Está
ficando tarde! Está na hora! Peste você está atrasado! Acorda pra vida!”. Eu
não gostava de ir para a escola, mas você sempre dava um jeito de me levar ou
mandava alguém me levar. A dor que muitas vezes sentia, acontecia quando o
portão da escola se fechava e eu não te via mais. Era como se tivessem te roubado
de mim! Mas a grande alegria era quando você aparecia no final da aula para me
pegar. E levar em paz para casa.
Você
sempre estava atenta às minhas palavras. Muitas vezes perguntava o que tinha
aprendido na escola. Entre uma conversa e outra ganhava um presente, um bombom,
um pirulito, um pedaço de bolo: coisas que me diziam que você pensou em mim. E
com alegria eu dizia sobre o que aprendia na escola. Era muito bom ouvir de ti:
“muito bem”. “Você é inteligente”. Eu sempre escutava quando você falava de mim
(coisas boas e ruins, srsrsr). O que mais me envergonhava era quando você
falava dos meus defeitos, ou dos meus sentimentos para meus amigos ou pessoas
estranhas. Você me deixava sem graça. Em outros momentos não conseguia entender
quando me mandava ficar calado. Que não dissesse o que pensava ou o que
percebia, pois não convinha. Mas em todas essas situações era você mãe querida
que estava comigo. Era engraçado, perceber-te falando. Eu te conhecia tão bem
que sabia quando você não queria desagradar alguém, ou quando você não gostava
de alguém.
Conhecia
teu jeito de sorrir, teu modo de falar, tuas palavras desacertadas, teu jeito
as vezes ingênuo e simples de ser, teu modo de andar, teu jeito de se vestir.
Eu ti conhecia, não tudo, mas o suficiente para continuar te amando.
Muitas
vezes estávamos a só e você falava de si: era um privilégio conhecer-te por
dentro. Seus medos, suas esperanças, suas alegrias e felicidades, suas
preocupações e desafios. Quanto mais te
conhecia, mais podia te amar, e quanto mais eu te amava, mais podia te ajudar. Era esse o caminho. Todas essas coisas eram
sinais da tua pessoa, o teu ser que atuava em mim. Mas isso foi o suficiente
para perceber que teu amor por mim é mais do que especial. É algo que sempre
tive, mas que poucas as vezes pude descrever como hoje o faço.
Sua forma de pensar, o seu modo de agir era diferente. Um
mistério vindo do alto. Possuía uma intuição preciosa. Sabia quando eu estava
bem ou mal. Sabia se alguém era meu amigo ou me queria fazer mal. Não conto as
vezes que você falava comigo para ser: mais cuidadoso e não ser tão ingênuo
diante das coisas. Amava-me a tal ponto de não deixar de chamar-me atenção
sobre as coisas erradas que eu fazia. E quantas vezes errei. E quando sofria
era seus braços que me acolhia, era seu peito que me confortava, era sua voz que
me acalmava. Se eu chorava, você chorava comigo. Suas lágrimas eram como gotas
de amor que aos poucos ia confortando-me e deixando-me em paz. E me fazia
sentir que tudo ia passar. Você me ensinava a continuar a viver e dar a volta
por cima. Aprendendo com a vida e com os erros.
Se acaso alguém me reclama-se você mãe era a primeira a me defender. E
era a última a me abandonar. Quantas vezes perdestes noites de sono, o juízo ou
até a cor dos cabelos, preocupada comigo? É um amor que só vindo de Deus.
Diante de você, eu não conseguia esconder muita coisa,
porque me conhecias e me amavas e tua intuição de mãe nunca falhava. Eras tão
verdadeira comigo que te enganar era uma coisa que me doía o coração. E
infelizmente cheguei a fazer isso, pelo que muitas vezes me arrependi de tê-lo
feito. E muito mais sinto por tê-la esquecido em algumas situações, por ter
sido insensível ou até ignorante, ou desrespeitoso em outras. Ao mesmo tempo,
como sofri ao te ver chorar, como fiquei irado ao ver pessoas que te machucaram
profundamente, como me orgulhei ao ti ver vencer na vida diante de tantas
dificuldades, desencontros e traições. Como me alegrei ao ti ver realizar
sonhos quase impossíveis de serem feitos e como profundamente te amei por ti ver
dando a vida por mim, motivando-me em minhas inseguranças e sendo um testemunho
de que Deus existe e de que você é um exemplo de vida.
Mãe
você me percebia muito bem, e muito bem sabia o que passava em meu coração.
Contigo eu ficava sempre sem defesa, exposto ao perigo, sem reservas. Porque te
amava a tal ponto de me entregar por inteiro. Mesmo que eu não concordasse com
algumas de suas ideias. Mas era essa a dinâmica da vida. Uma relação autentica
e verdadeira. E não conto as vezes que aprendi contigo, diante das poucas vezes
que um pouco te ensinei. Se queria fazer uma coisa boa você me motivava. E
mesmo quando persistia numa decisão tomada, era você mãe que me apoiava. Tenho
no coração o teu cheiro, que ficou impregnado no lençol que você usava, o teu
jeito de sorrir, as músicas que você gostava, as caretas que você fazia, e os
cestos (manias) que você evitava. Pela voz eu já sabia, se você estava feliz,
se você estava triste ou preocupada com alguém. O seu rosto me dizia, se você
dormiu ou não bem. Quando assim chegava
em casa era você que procurava, e se acaso não estava, a sua ausência me
faltava. Deste modo percebia o quão era importante para mim, eu fazia parte de
você assim como você fazia parte de mim.
Por
fim querida mãe eu só queria te dizer que fizeste por mim mais do que eu
esperava receber, amaste-me mais do que eu podia merecer, lutaste por mim além
de toda a coragem que eu poderia ter. Fostes um sinal de Deus. E sou
infinitamente grato a Deus por ter tido você como Mãe. O teu coração formou o meu coração, a tua
vida concebeu a minha vida, o teu amor me ajudou a ser hoje o que sou. Sei que
o tempo e a morte nunca me deixou distante de você, porque para o amor não há
limites. Por isso, que confesso-te como um dos meus grandes amores, na certeza
de que, de algum modo caminhas comigo. A tua presença foi um sinal tão precioso
da Mãe de Deus. O que ela fez para com Jesus foi o que fizestes para comigo, o
que ela preocupou-se com seu precioso Filho, foi o que você se preocupou comigo,
o que ela aceitou de Deus de bom agrado, foi o que você fez por mim, em amor a
Deus. Por isso és sinal comparável a Maria, porque assumiste o desafio de amar
a mim e aos meus irmãos até o fim. Se o Reino de Deus está no meio de nós,
então você está comigo mais do que eu imagino, espero e confio. Se você foi um
sinal de Deus aqui na terra, então é em Deus que tenho a paz de te encontrar
novamente, de um modo inexplicável. Muito obrigado por tudo. TE AMO ETERNAMENTE
MAMÃE. E para todos vocês que têm o dom misterioso de ter uma mãe: Feliz dia do(a)s
filho(a)s. Porque dizer feliz dia do(a)s filho(a)s é muito mais dizer: Feliz
dia das Mães. Porque vocês merecerem uma boa mãe. Que Deus nos abençoe em nome
do Pai, do Filho e do Espírito Santo: Amém!
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