A
greve dos caminhoneiros tem movimentado as mídias e meios de comunicação no
país, além disso tem afetado diretamente os sistemas de transporte e distribuição
de mercadoria terrestre e aéreas no nosso país. Ora, atualmente estamos tendo uma
intervenção de um setor que só recentemente é conhecido publicamente e que por
muitos está sendo louvado. Não podemos negar os efeitos positivos dessa
intervenção: como forçar o sistema econômico de combustível diesel a baixar o seu
exorbitante preço. Isso é até bom para boa parte da população que utiliza de
tal combustível para realizar suas atividades profissionais e cotidianas. Porém
fica uma questão que não pode ficar esquecida. Por que esta greve (tão
amplamente divulgada) está tendo um efeito efetivo e louvável por muitos,
enquanto que outras greves (nas universidades, no sistema trabalhista, no setor
de transporte, na saúde) não tiveram o mesmo valor, os mesmos elogios e as
mesmas preocupações em relação aos detentores do poder e também ao público?
Há
várias hipóteses que não podem ser descartadas, mas gostaria de apresentar
objetivamente algumas: 1) a greve dos caminhoneiros afeta fortemente a economia
do país. São transportadoras de produtos (de várias naturezas) que requerem uma
demanda de consumo ou até certo ponto uma utilização imediata. Engraçado que o
primeiro e principal problema é o econômico; 2) a pauta de exigência grevista não
é a mudança de um sistema econômico, não é um fora Temer com toda a sua cambada
de ladrões. É que “ –Seja reduzida a carga tributária incidente sobre operações
com óleo diesel a 0 (zero), sendo elas as alíquotas da contribuição para os
Programas de Integração Social e de Formação do Património do Servidor Público –
PIS/PASEP – e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social –
COFINS – incidentes sobre a receita bruta de venda no mercado interno de óleo
diesel a ser utilizado pelo transportador autônimo de cargas. – E torne isentas
da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico – CIDE – instituída pela
lei nº 10.336, de 19 de dezembro de 2001, incidente sobre a receita bruta de
venda no mercado interno de óleo diesel a ser utilizado pelo transportador
autônomo de cargas”.
Em
poucas palavras: a exigência principal é tornar o óleo diesel isento de
imposto. Não é aumento de salário, não é problema na remuneração profissional,
não é conflito na contratação e no acordo profissional. Não é por uma educação
mais digna, não é pelo aumento de emprego, não é por uma sociedade igualitária,
não é por questões de precariedade pública hospitalar. 3) a intervenção gera um
prejuízo econômico aos setores empresariais. As outras greves atingiam em cheio
a população, mas não os setores empresariais mais ricos. Em outras palavras:
fazer greve na escola e universidade interfere na educação populacional e na exigência
do cuidado dos pais ou responsáveis para com seus filhos. Mas não interfere na vida
do empresário de alta categoria. Este tem filho na Escola particular. A greve dos correios não atinge efetivamente a
distribuição dos bens de consumo alimentícios e de alto custo. A greve no
sistema de saúde (pública) só atinge diretamente as pessoas que estão em risco
de vida. Com destaque: os pobres. Não atinge, como deveria, quem está produzindo
capital. Eis algumas pontuações que diferenciam essa greve das demais. 4) a
greve apresenta uma estagnação no sistema econômico, a diminuição do consumo
populacional, o travamento na dinâmica de vida empresarial e profissional.
Há
até suspeitas de que as pautas apresentadas pelos caminhoneiros tem influência
de certo setor empresarial do que realmente uma reinvindicação propriamente
crítica e consciência da categoria de caminhoneiros. Portanto, sem tirar certo
mérito desse evento histórico, podemos já constatar que a importância dessa
greve indica a hierarquia dos valores, onde o econômico e o mercado estão em
primeiro lugar, enquanto que os valores pertinentes ao setor humanitário e da vida
(que deveria ser o primeiro) do povo, estão em último degrau dessa hierarquia.
Num Brasil desigual, as lutas e greves muitas vezes se apresentam como
fragmentadas. E com certa divisão de classes.
A
situação atual exigiria uma unificação dos diversos setores de greve, porém, o
que vemos é uma injustiça para com os setores grevistas de classe inferior, que
são tachados de vândalos, terroristas, vagabundos e etc, enquanto outros
setores nada fazem ou nada participam nessa luta. Soma-se a isso a letargia
populacional dos que acham que nada têm haver com isso, dos que simplesmente são
indiferentes e dos que esperam a salvação vir de outro e não deles mesmos. Um
olhar egoísta, uma insensibilidade para com o outro e uma falta de
solidariedade paira no Brasil (na classe mais alta?), vemos também aqueles que
praticam obras de caridade para aliviarem suas consciências, enquanto seus
corações permanecem os mesmos, e nos seus sonhos só participam alguns
privilegiados. Essa visão de mundo, esse sistema mercadológico, torna o nosso
país mais caduco e desigual. Ai a democracia só chegou para quem tem mais
condição econômica, privilégios e acordos políticos, enquanto que os setores
mais fragilizados (onde estão os pobres, miseráveis, abandonados e excluídos)
ainda esperam, com grande resistência, uma libertação que nunca acabará sua
chama, pois não se esquecem do bem mais sublime e mais sagrado da vida humana:
o verdadeiro Amor. O resultado positivo dessa greve deve ser louvável, assim
como um copo d’água em tempo de seca é motivo de animo, mas isso deveria ser
apenas o micro começo de uma busca de saciedade humana pelo oceano que acabaria
com a sede de todos. Isso eu chamo de democracia, dignidade e direitos humanos
iguais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário