As leituras deste domingo fazem referência a Jesus como Deus. Sua atitude se dá contra o tradicionalismo e sua ação é de misericórdia, de inclusão e resgate da pessoa humana.
A primeira leitura trás um ponto da tradição antiga que o povo judaico utiliza: a crença que as doenças físicas eram um mal, um castigo de Deus. Neste texto de Levítico, o mal no caso é a lepra, também conhecida como hanseníase. Estar com essa doença implicava a pessoa estar impura. Cabia ai ao sacerdote avaliar a situação. Se a pessoa estivesse mesmo com a doença então ela teria que ser afastada, separada, excluída do seu povo local. Esta decisão tem dois tipos de resultado: o impedimento da doença para o grupo, daí a pessoa podia permanecer por muito tempo enferma ou a vida toda, e a eliminação da pessoa, no sentido de que se ele não melhorar ira morrer, e, no sentido de que ela perderá os laços que a ligam com o clã, que a identifica como pessoa. Sendo afastada da sociedade, ela estará distante de todos seus valores, de sua cultura, de seus laços afetivos, de sua forma de viver. Ou seja, esse afastamento implica a perda de tudo que da identidade aquela pessoa. Essa, digamos que, seria a forma de matar mais dolorosa uma pessoa: destruir as coisas que a identifica como tal.
Atualmente as formas de divisões e exclusões humanas são muitas. A idéia de mal, não tem a mesma idéia de antigamente, (castigo), porém o preconceito, o desrespeito, a manipulação com a vida das pessoas, as estimulações negativas como se tem nas propagandas que expressãm vida feliz: roupa boa, cerveja: mulher, carro novo: sonho realizado, entre outras, são os piores males que estão contra a vontade do nosso Deus encarnado, assumidor da condição humana, a fim de termos sua condição divina. A seleção e divisão de classes (alta, média, baixa), são perfis econômicos parciais que tentam distinguir uma população que muito, pouco ou nada exploram. Não que as pessoas sejam más, entretanto o sistema força as coisas a isso. E isso, além do status social, garante, por exemplo, o nosso antigo presidente Luis Inácio Lula da Silva ser curado de um câncer, mas não garante um pobre, que nasceu em qualquer periferia, receber tratamento igual e ser curado da mesma doença. São muitas as realidades de todas as pessoas, devemos levar isso em consideração para entendermos as particularidades de cada pessoa, porém não podemos impor ou considerar a nossa opinião como certa e fechada em si. Vemos nisso que Nosso Senhor nos transmite a melhor forma de viver com a humanidade: na fraternidade, no amor partilhado e na compreensão, para se chegar ao seu reino pela ressurreição. Infelizmente tem pessoas que agem como esses sacerdotes, no sentido de que quando detecta qualquer coisa que não lhe agrada no outro, seja qualquer enfermidade grave, ou, a velhice, o câncer, ou o HIV, seja a pobreza no sentido literário, seja o ‘ser’ de outra cultura ou religião, seja ter hábitos ou vida um pouco distinta das suas, já o exclui da sua vida.Exemplos simples se dão quando se coloca os idosos nos chamados asilos, ou quando pegam os deficientes mentais e os colocam em casas de recuperação, mas a única condição de vida que lhes dão é tratá-los como presidiários, batê-los quando não cumprem as regas e entupi-los de remédios até ficarem dopados e não atormentarem ninguém. Isso não leva ninguém ao reino de Deus, e muito menos a dignidade humana.
A segunda leitura é do apostolo Paulo, ele ressalta: “Portanto, quer comais, quer bebais, o que quer que façais, fazei tudo para a glória de Deus. Não sejais para ninguém ocasião de queda” (TEB- 1Cor 10,31-11,1). Temos duas idéias importantes para nossa vida:1) fazer as coisas para gloria de Deus. Fazer isso é colocar Deus em primeiro lugar em nossas vidas. O que quer que façamos entreguemos a Deus, no sentido que ele nos ajudará na resolução de nossas limitações, de nossos problemas. O livro de Santo Agostinho (Livre arbítrio) destaca que até as nossas fraquezas deve ser motivos de glória a Deus, pois sem elas não conseguiríamos ver o quão grande é o Senhor, e o quanto necessitamos de sua graça para viver e fazer a sua vontade e ser livre de fato. 2) Estar na condição de fazer pelo outro. Ajudar o outro a se reerguer e não prejudicá-lo. Um grande exemplo que não devemos esquecer é o de São Francisco. Ele foi total doação pelo outro, para levá-lo a Deus. É como sua musica da paz que diz nas primeiras estrofes: “Onde houver ódio que eu leve o amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver discórdia que eu leve a união,; onde houver dúvida, que eu leve a Fé.”(oração da paz). Essas duas disposições, que precisamos ter foram as principais características de Jesus de Nazaré. Esteve a serviço total da vontade de Deus, e a serviço do homem para levá-lo a Deus. Por isso que ele é a ponte que nos liga a Deus. Como São Paulo, sejamos imitadores de Cristo, no sentido que dar continuidade a seu projeto de salvação, de fazer o mesmo percurso que Ele fez: Amando a Deus e ao próximo (Lc10,27).
O salmo 31 nos diz: “Sois, o Senhor, para mim, alegria e refúgio”. Negar a si, a sua personalidade, cultura, não é ser alegre com Cristo, mas negar-se a si mesmo, a sua origem e sua história. Jesus nos chama a sermos livres, mas com originalidade, sem perder nossas raízes, mas somando com o outro. Criando novos caminhos. O que de fato o senhor nega é toda forma de atitude que vá contra o amor e a vida. Quando destratamos as pessoas, quando temos atitude de soberba e auto-suficiência, quando excluímos, ou nos recusamos a ajudar o próximo a encontrar-se com Deus, quando destruímos o nosso planeta, desmatamos florestas, poluímos a terra, destruímos a bio- diversidade que há nele, nós estamos agindo contra o objeto de criação de Deus, o mundo e o homem. A pós- modernidade trás uma forma mais rápida pra utilização dos bens materiais, ou naturais, do meio social, com a tecnologia e o mundo digital, porém, não se pode esquecer que a tendência humana está inclinada para um mundo insólido, esquecido dos bens mais importantes. As relações sociais estão se distanciando cada vez mais, a particularidade e centralidade do eu é a conseqüência disso tudo. As pessoas estão fadas a dar conta de um sistema que as sobrecarregam cada vez mais. Aquilo que ela criou está forçando-a a dependência. E a carga pesada cai nas mãos dos mais necessitados, que tanto Jesus se preocupou em auxiliar , atender, confortar e salvar. O chamado de cristo não é de trabalho escravo, de estresse, depressão, e todo tipo de doença da pós-modernidade, mas pelo contrário, sua proposta é de vida e vida em abundância (Jo 10,10). É de salvação do homem, de amor,que não necessariamente será excluso de tribulações e conflitos. E não esqueçamos que o perdão é a fonte que renova os laços do homem com o homem, e do homem com Deus. Isso o salmista mencionou: “Eu confessei meu pecado, não encobri a minha falta. Eu disse: “Confessarei minhas ofensas ao Senhor”, e eu tirarei o peso do meu pecado. Exultai por causa do Senhor, alegrai-vos, os justos, e gritai de alegria todos vós, corações retos “(TEB-SI31, 5.11)
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