quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

“Ó Senhor, Deus de Israel, não há Deus igual a ti"(SI83,23)

A liturgia de hoje(07/02) relembra-nos da postura que devemos ter diante das leis e tradições que atentam contra o mandamento de Deus, o amor recíproco e a vida. A esperança do homem atual está centrada na  vontade de Deus encarnado, morto e ressuscitado, e numa disposição nossa para acolher com olhar generoso a verdade, o amor e o serviço que Jesus nos trás.
A primeira leitura é do livro dos Reis. Nele vemos a figura de Salomão que reconhece em bom tom a Deus como Senhor inigualável a qualquer outro, com uma fidelidade incomparável e uma misericórdia infinita, quando diz: Ó Senhor, Deus de Israel, não há Deus igual a ti nem no mais alto dos céus, nem aqui embaixo na terra; tu és fiel à tua misericordiosa aliança com teus servos, que andam na tua presença de todo o seu coração. “(1Rs 8, 23). A sabedoria de Salomão é um dom que poucos tentam conquistar no percurso de sua vida, nos tempos atuais. Parece que a tendência humana é sempre para o mal, como falou Santo Agostinho em “Confissões”. Mas tenhamos consciência que essa possibilidade pode ser revertida. A proposta de Jesus confirma isso. Ela é de libertação. Porém, isso não se dá com pouco sacrifício. Sabedoria é um ponto positivo, porém o amor é a base essencial para se ter um bom discernimento.  Fazendo-se as coisas só por saber, faz-se muito. Entretanto, a vida fica insossa.  Se, ao contrário, fazemos por amor, daí o valor é pleno e eficiente. Como dizia Santo Agostinho: “Amas e fazes o que queres!”. O amor do qual ele se refere não entra em termos, de posse, de sexo, ou outras coisas limitadas à natureza humana, mas sim se refere aquele transmitido por Jesus, que também falou o bem aventurado João Paulo em sua encíclica traduzida: “Deus é amor”. Amor por excelência. Amor Ágape, incondicional.
Salomão construiu um templo para o Senhor, este é lugar de contato do homem com Deus, de oração e de perdão. Salomão faz um questionamento: “Mas será que Deus pode realmente morar sobre a terra? Se os mais altos céus não te podem conter, muito menos esta casa que eu construí!” (1Rs 8,27). Observando essa afirmativa de que nada contem a Deus, que se apresenta em termos iguais por Santo Agostinho (“Tu contém todas as coisas, mas todas as coisas não te contêm.”-confissões), vemos inserido nesta paráfrase a onipresença de Deus: uma de suas três características divina. Vemos que a expressão templo mudará de sentido no novo testamento. O templo no antigo nos remete a estrutura, ao edifício, já no novo testamento ela vai se referir ao corpo do homem, ver Jo2,19, pousada do espírito de Deus, como afirma o Catecismo da Igreja Católica(CIC). Neste sentido, quantas vezes nos preocupamos mais com o templo estrutural, a Igreja, a Capela, e esquecemos-nos de cuidar da nossa própria pessoa, dos nossos valores, do que há de bom em nós que nos faz sermos a imagem e semelhança de Deus (Genesi1, 26). As relações humanas pouco exploram o valor moral do homem, a dignidade humana, independente de sua acessão social, ou não. E pouco tentam implantar justiça na nossa sociedade. Nesta ótica o “corpo-civilização” atinge o ficurativo de uma cobra comendo o próprio rabo, onde nossas autoridades políticas e civis exploram a classe baixa afim de que essa pague, com o trabalho escravo moderno, as suas dívidas.Sobre o trabalho escravo moderno, vemos a exploração continua, uma vez que todo o dinheiro adquirido é abistraído de um "trabalho não pago", seja direta, ou ondiretamente, como explana o filósofo Marcuze em "eros e civilização". Vemos que as questões econômicas são as primeiras a serem observadas. A ética do "mais esperto" e a visão maquiavélica, deturpada, de que “os fins justificam os meios”, é a nova ordem atual. Que influenciam todos a seguir do mesmo Jeito. Ser contra isso é ser bobo, ou no dito popular “Mané”.
O evangelho de hoje trás a idéia de que a vida e o amor estão em primeiro plano, em vista do tradicionalismo. O Judeu e fariseus questionam Jesus: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?”(Mc7,5). Esse questionar não é só um zelo pela tradição, mas trás algo encoberto diante desta pergunta. Contextualizando, vemos que Jesus era Judeu, ia ao templo, fazia suas orações e começa a pregar uma realidade que se inicia com sua presença: O Reino de Deus, A humanidade de Deus, o chamado a conversão, a caridade e o perdão. Suas atitudes de aproximação dos pobres, deficientes, cobradores de impostos, prostitutas, e tudo mais, são de escândalos para quem tentava seguir a risca a Lei e se consideravam perfeitos e certos, por observar a lei, pagar impostos e estarem nos primeiros bancos das sinagogas: Fariseus, saduceus, Judeus. Estes observam a lei e a tradição, porém esquecem-se da pessoa humana, daqueles que Deus tanto ama com amor Ágape, esquecem da justiça misericordiosa de Deus, da ideia que somos irmão, portanto família, unidade na diversidade. Por conseguinte, não reconhecem seu salvador e redentor, se incomodam com a postura de Jesus em tratar todos com o mesmo amor, acolher a quem eles desprezam, colocar o último em primeiro, e denunciar seus erros e injustiças. O que se insere é uma raiva e tentativa de aprisioná-lo. Neste texto sagrado vemos a tentativa de pegá-lo pelo não cumprimento da tradição. A resposta de Jesus vai ao ponto central da realidade: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’. 8Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”(Mc7,6-8).  Seguir a tradição e ir contra a justiça, a verdade e o amor de Deus, equivale a ir contra os mandamentos de Deus, do amor, da reconciliação, da tentativa de unidade. Não que a tradição é negativa, mas que ela sem os preceitos de Deus, se não é para vida e para o amor, não tem sentido. Portanto, cuidemos para que os valores de temos não neguem a vida que há em nós e no outro, e que o amor seja nossa mola propulsora para bem seguir a Deus, sem esqueçamos do perdão que nos faz próximos de Deus.

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