O livro “O mal
estar na civilização” do psicólogo Sigmund Freud trata do homem, seu
desenvolvimento no processo de civilização, e uma insatisfação, ou angustia que
este tem no percurso de sua vida, que a civilização não da conta para sanar.
Ele vive no mundo, está no meio e em função de ser feliz. A priori sua
felicidade está em sentir prazer, daí se encontras os instintos primeiros,
porém essa procura incessante o coloca na negação de toda espécie de sentimento
de sofrimento e desprazer. Neste sentido, o homem é levado a viver o prazer de
forma intensa. Porém, o drama se instaura pela consciência de que a felicidade
é episódica.
O primeiro
processo de negação do sofrimento é identificá-lo. Daí, vemos que são três as
áreas que possibilita isso: o corpo, o mundo (natureza) e o outro. Seu corpo
está condenado à decadência e a dissolução, ele é limitado e em muitos momentos
propicia o sofrimento ao homem. Um exemplo básico é que sempre precisamos tomar
banho, ter atividade física e tudo mais para se ter um corpo saudável. Se não
fazemos isso adquirimos alguns graus de sofrimento. O mundo é o espaço que nos
pode afetar, não temos domínio da natureza, do exterior que nos cerca. Dizer o
contrário é acreditar na ilusão que somos uma espécie de Deus. O mundo pode
voltar-se contra nós. Exemplo básico disso são os terremotos, ou maremotos, as
chuvas intensas e abalos sísmicos que destroem as cidades. O outro é o mais
penoso e forte tipo de sofrimento que podemos ter, as relações de injustiça e
desordem são coisas simples de observar.
Diante de tanto
tipo de sofrimento, muitas vezes, a única saída do homem é tentar evitá-lo e
colorar o prazer em segundo plano. Ou seja, obter a felicidade pela ausência do
prazer. Um método utilizado pelos eremitas é o isolamento. Porém, o máximo que
se pode ter é a ‘felicidade da quietude’. Outro caminho é a tentativa de mudar
sua realidade, configurar o mundo exterior, entretanto essa prática se
apresenta mais como uma ilusão. O que Freud chama de esquizofrenia, fugir da
realidade criando uma ilusão. O medicamento é outro caminho, ele libera toxinas
que dão essa sensação prazerosa. Essas substâncias são a grande responsável por
desviar grande quantidade de energia útil na manutenção da vida social. E da
evolução do homem. O liberalismo dos instintos pode fazer-nos mais afastado do
sofrimento. Outra forma de afastar o sofrimento é a atividade intelectual, ela
é responsável por um, porém essa prática não é acessível para todos, uma vez
que nem todos conseguem mantê-la. Essa atividade pode nos deixar mais
preparados para o destino, porém não nos dá uma proteção completa.
O amor é uma
técnica que nos propicia um nível muito alto de felicidade. Ela emite uma
“sensação transbordante de prazer”; em nenhum lugar e em nenhuma situação algo
conseguiu preencher de forma tão completa o ser humano como o amor. Essa é uma
sensação natural. Do ponto de vista negativo nós nunca nos tornamos tão frágeis
como quando amamos. Neste sentido quando advêm o amor o sofrimento está com
ele. A estética é um fator que pouco possibilita resistência ao sofrimento,
apesar de ser um elemento de impulso sexual.
Portanto fica
explícito este processo de que o homem ainda não conseguiu dar conta de toda
possibilidade de sofrimento que repercute sobre si. Isso pode nos dar a
impressão de que a civilização é em parte responsável por grande parte da
desgraça humana, uma vez que esta, quando não exclui, domestica percentualmente
nossas pulsões instintivas. Com isso se contata que a evolução da civilização
não proporcionou um homem feliz, não se sabe se isso de fato é possível em toda
sua totalidade. E na utilização de meios tecnológicos para nossa satisfação prazerosa, podemos só
firmar que estes são ‘ferramentas baratas’ que não suprem a carência do homem.
Isso também se dá pela subjetividade humana, no qual a relação com a felicidade
segue a mesma lógica.
A natureza da
civilização como vinculo de felicidade nos proporciona duas coisas: segurança
contra a natureza e integração do homem na sociedade. A cultura é o primeiro
agente de proteção e a tentativa de domínio do homem a natureza. A civilização
nos proporciona proveitos dos recursos naturais. Esta inclina o homem para uma
atividade de fins pouco lucrativos como a ornamentação vegetal da cidade,
praças ou casas. A limpeza e a ordem são fatores da civilização. E o que muito
a caracteriza são os ideais religiosos, filosóficos e de perfeição. A
sublimação como mudança de direcionamento do prazer instintivo é o que mais se
utiliza no processo civilizatório.
A vida
comunitária se fundamenta pela compulsão ao trabalho, que é a sublimação de
seus instintos primitivos, e pelo amor. O amor é uma espécie de mudança do
instinto sexual frustrado para um “impulso com uma finalidade inibida”. Neste
sentido foi o amor que fundou a família, pela necessidade sexual, até a
civilização, pela forma de “afeição inibida”. O drama que se perpetua entre a
família e a civilização é que esta desestrutura aquela, a fim de se ter um
plano maio, um plano de unidade humana. Daí, a mulher, símbolo da família e
vida sexual, reclama pela sua forma de vida enquanto que a civilização reclama
pela unidade e universalidade do indivíduo no sentido de comunidade humana
evoluída pela questão intelectiva. Parte disso um antagonismo a sexualidade. O
ideal de amor arrastado desde os tempos antigos, anterior ao cristianismo,
torna-se a sua exigência mais gloriosa. No entanto, vemos algo que é natural do
homem que se apresenta de forma contrária ao princípio da vida, a agressão.
Portanto temos dois princípios instintivos: O amor, que é a forma modificada do
instinto sexual, e a agressão, apresentada pelo sentido sádico. Um é em função
da vida, outro da morte. Portanto a dinâmica da existência segue o movimento
cíclico da vida com a morte; do amor e ódio.
Essa inclinação
para a agressão constitui a parte necessária da dinâmica da vida. Entretanto o
instinto agressor se move a fim de destruir o homem. Surge a partir dai um
conflito entre o instinto e a civilização. Esta cria mecanismos de inibição da
possibilidade catastrófica. Segue o superego que é uma característica da
cultura, e ele vai de encontro ao ego humano, inserindo no homem o sentimento
de culpa. Esta se da pela intenção e pelo ato de algo que se define como mal. A
civilização impõe essa forma de repreensão. O homem mesmo obedecendo ao rigor
de vivência, não agindo contra o outro, ainda mantém essa sensação de culpa
pelo fato de se ter consciência da intenção. Neste senti a intenção tem igual
valor que o ato praticado. Soma-se a isso a necessidade de punição, e quando
esta não se instaura surge o remorso. Essa situação de combate à agressão e a
sensação de culpa é o “mal-estar” na civilização. Ainda não se sabe até que
ponto o desenvolvimento cultural e seu mecanismo de repressão conseguirá
dominar esta situação conflitante e de perturbação no homem. É não menos necessário
ressaltar, por questão mais de fidelidade ao conteúdo, que Freud se apresenta
como que contra à religião, uma vez que
para ele a religião oferece um suporte para sanar o mal estar no homem com o
perdão dos pecados e o sacrifício, ou negação dos instintos, que ela chama em
termos agostinianos de paixão, porém a religião para ele não dá conta do recado
na realidade instintiva e agressora do homem.A via do amor universal pode
tentar ser essa espécie de amortecedor do instinto agressor, como fizera São Francisco,
porém não resolve o conflito do homem.
Valeu Isaias um otimo resumo aeew!!
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