A liturgia do 5º Domingo do tempo comum nos mostra o trajeto de todo missionário como anunciador da boa nova, divulgador das injustiças, e membro participante da vontade de Deus, que está na condição de servidor de instauração de seu Reino que se inicia em nosso meio.
A primeira lei é do livro de Jó, seus escritos são estruturados em poemas e prosa. E ele inicia o texto dizendo: “Não é luta o tempo do mortal na terra? Não passam seus dias como os dos diaristas? Como um escravo suspira pela sombra e um diarista aguarda ser pago, assim minha parte são meses de nada.” (TEB. Jó7, 1-3) Esse escrito dá referência a sua situação real, a condição de desesperança na espera de dias felizes, dias de justiça e paz, o dia da boa nova cristã. Isso se faz presente nos termos ‘luta’, ‘Não passam’, e no capitulo 7, ‘felicidade’. Atualmente a esperança é nossa fonte de luta e luta por dias melhores, por sociedade justa, por boas e dignas condições de vida. A nossa estrutura social mais tende a valorizar o dinheiro e o status do que a igualdade, a paz, a justiça e a unidade na diversidade, como neste último termo expressa a filosofia regeliana com idéia: somos iguais, na humanidade, e somos diferentes, na personalidade. O mundo utiliza muito da aparência, da propaganda e da perfeição, mas explora pouco da transparência e do humano. Hoje a única condição de felicidade que o sistema apresenta para nós é aquela da felicidade particular, fechada em uma simples situação, ou em um simples ponto de vista: tenha o corpo perfeito, a casa dos seus sonhos, o melhor emprego e aproveite do melhor luxo possível. Basta pagar!Essa visão é egoísta, medíocre, falsa e insustentável, como se fala no livro “sociedade líquida”. Vendo esses caracteres podemos até ter a ilusão de que estamos entrando no pedacinho do Céu, porém a verdadeira felicidade não entra nos moldes da particularidade, e muito menos da economia em primeiro plano. Mas sim no amor partilhado, na justiça e na valorização da pessoa humana como imagem de Deus misericordioso.
O salmo 146 coloca como ponto de partida e vontade para verdadeira felicidade, Deus e sua expressão encarnada. “Louvai o Senhor Deus por que ele é bom e conforta os corações”. Nosso Deus sempre será nosso único conforto e nosso melhor caminho de anuncio de boa nova. O conforto se da pelo amor de Jesus que precisa ser vivenciado em nosso meio e por sua justiça que eleva os oprimidos, ou seja, resgata seu valor e o coloca em pé de igualdade e direito com a sociedade que os exclui, seja diretamente ou indiretamente. Nosso Deus é justo e essa justiça é de “amparo dos humildes”. Ele sempre está a resgatam os que o mundo tenta explorar. Essa consciência e atitude de libertação deve ser a proposta de nós, cristãos, como seguidores. Ou como dizia Santo Afonso “Continuadores de Cristo” (orando com Afonso). Nosso Deus não exclui, mas diante dessa atitude presente de injustiça ele faz preferência pelo que foi esquecido, ou está aquém de nossa visão. Seguindo essa linha, notamos que Santo Afonso estava cada vez mais certo quando acolhe os pobres da periferia de Nápoles. Neste sentido ele não só entende a mensagem de Jesus, mas faz-se a caminho do Senhor, quando disse em Mateus: “Eu estava com fome e me deste de comer, eu estava nu e me deste de vestir, eu era peregrino e me acolheste”. Essa expressão escatológica não só denota a proposta, ou meio de salvação, mas coloca no ponto central da fé cristã um dos direitos mais básicos do homem: alimento e moradia. Sem contar o acolhimento e a dignidade do homem.
O evangelho trás a nós essa proposta que fez e se fez Jesus. Sua primeira atitude é a de encontro com os que mais precisam, no caso do texto, a Sogra de Pedro. Em segundo ponto entra a ação de regatar a pessoa: “Ele aproximou-se e a fez levantar” (Mc1, 31). Estar junto dos excluídos, dos menores, e desprovidos de identidade, seja cultural, ou socialmente falando, deve ser a nossa postura como anunciadores(as) da boa nova. Seguindo a mensagem vemos que todo tipo de enfermidade que ela tinha que a debilitava desapareceu. Neste sentido, ela de fato estava livre, do que lhe prendia. Hoje quais são os desprendimentos que devemos ter?! Como de fato o nosso povo será de fato livre, tendo que trabalhar oito horas ou mais por dia, incluso final de semana e as vezes feriado, com o mercado exigindo consumo e mais consumo?!Como ter tempo para família e para Deus, no sentido de oração e ação pastoral, ou movimento, seja religioso ou na área estrutural do sistema social?! Como ser livre sem partilhar, ou desapegar do que temos, sejam os bens materiais, sejam os afetos, sejam nossos preconceitos?! A outra condição é a de estar a serviço do outro, do bom acolhimento e da integração humana, como a Sogra de Pedro: “Ela pôs-se a servi-lo”(Mc1,29). Estar a serviço, não é estar submisso, mas progredir para que o bem aconteça, a verdade e o amor. O último de extrema importância é a postura de missionário inserida por Jesus quando diz: “Vamos para outra parte, ás aldeias da vizinhança, para que lá também eu proclame o Evangelho: Pois para isso que eu sai.”(Mc1,38). Um bom missionário sempre está a caminho, ele não tem canto fixo, não tem destino certo, ele nunca para, quando se encerra uma missão é sinal que outra em outro lugar o espera, o seu olha sempre é para o infinito. Para que isso aconteça de fato é importante o desapego. A expressão melhor utilizada por Marcos é ‘sai’. Sai para que? Para anunciar A boa nova, pois a boa nova tem o mesmo sentido da verdade e do amor, ela é universal, é acessível a todos. Não se prende a um sentido fechado, ou estagna-se em uma visão dogmática. Por isso Ele (Jesus) sempre está de saída. Sua função é revelar o Pai, viver o amor com os apóstolos e partilhar para todos essa boa nova, que nos faz livres. Que tenhamos coragem para tentar praticar esse anuncio em nossas vidas.
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