Ao refletimos, na Contemporaneidade, sobre
a Vida Religiosa, podemos observar um elemento fundamental, que, apesar de nem
sempre ter feito parte das questões principais sobre o itinerário religioso,
atualmente contribui significativamente para delinear de modo claro, consciente
e autônomo, a vida, os desafios e a identidade religiosa, enquanto tal, assim
como tal elemento é utilíssimo para amadurecer progressivamente a missão religiosa
evangélica e seus fundamentos cristológicos. Esse elemento de singular
importância, já apresente no sexto capítulo do Documento de Aparecida (2017, p. 113-155), é a formação. E aqui tal questão não se reduz somente em observamos a
formação enquanto processo introdutório a
Vida Religiosa até a consagração,
onde se professa os votos evangélicos (como juridicamente e espiritualmente se
faz), mas também enquanto percurso, amadurecimento espiritual-humano de vida, anterior à formação propriamente
religiosa, durante esta e posteriormente. Daí formação permanente ou, categoricamente dizendo, formação na pré-consagração,
durante, e na pós- consagração, é a questão em discussão.
A
primeira coisa que evidenciamos na formação é o seu estado inicial, que não se dá quando a pessoa, seguidora de Jesus
Cristo, ingressa no seminário, ou casa de formação. Mas em um momento anterior,
que muitas vezes passa despercebido do processo de formação. Falamos, na
realidade, da formação ou aspiração para
a Vida Religiosa que de fato acontece desde da realização do primeiro sacramento
da Iniciação a Vida Cristã, o batismo, ou até, vale dizer, desde a experiência de vida de fé-religiosa-espiritual-sacramental
e social de uma paróquia e comunidade local, Católica Cristã. É neste local
que inicia-se potencialmente a
aspiração para a Vida Religiosa. Nesse aspecto o Documento de Aparecida testemunha, infelizmente, aquilo que fez
parte de nossa formação potencial para a Vida Religiosa, isto é, no processo de
iniciação à Vida Cristã: “[uma] alta porcentagem de católicos sem a consciência
de sua missão de ser sal e fermento no mundo, com identidade cristã fraca e vulnerável”
(Ibidem, p.134).
Apesar de termos uma “‘rica e profunda
religiosidade popular, na qual aparece a alma dos povos latino-americano’,
[...] como ‘o precioso tesouro da Igreja Católica na América Latina” (Ibidem,
p.120), é preciso um amadurecimento maior, uma profundidade constante bíblico-evangélica,
sacramental e testemunhal na Igreja e para a sociedade. Neste sentido, se não
se tem uma formação cristã adequada e madura nas paroquias, nas áreas
missionárias e de atuação da Igreja, que ofereça para o povo leigo uma
“formação integral, querigmática e permanente”(Ibidem, p. 130), então
continuaremos a ter maiores desafios com as pessoas aspirantes a Vida Religiosa
no processo de formação.
Vemos, portanto, que uma parcela das
dificuldades que tivemos e teremos na formação religiosa está no início da vida
cristã, nas bases fundamentais onde tudo começou: nas paróquias (missionárias?),
nas comunidade de base e nas famílias de tais locais. Uma das orientações favoráveis
e útil na promoção e maturidade da Vida Religiosa, que o documento nos propõe,
é a reanimação da formação nas pequenas
comunidades, “pois nelas temos uma
fonte segura de vocações ao sacerdócio, à vida religiosa e à vida leiga com
especial dedicação ao apostolado” (Ibidem, p.142). Daí, para sanarmos uma
parcela dos desafios que temos na formação religiosa de consagrado(a) é
necessário um trabalho conjunto e em relação dialogal com as outras opções de
vida Cristã, pois é deste ambiente que, surgem as vocações Religiosas.
Apesar de percebermos tais lacunas nas
bases da vida cristã, estas, até certo ponto, podem interferir, dificultar e
prejudicar o itinerário e objetivo da formação religiosa propriamente dita. Todavia,
não sem dificuldades e com uma exigência ainda maior na formação introdutória a
Vida Religiosa, ainda é possível, até certo ponto, oferecer boa parte desses
elementos que faltou na vida cristã em comunidade, para podermos despertar, nas
pessoas que aspira a Vida Religiosa, condições favoráveis a fim de que estas
pessoas possam encontrar, identificar e amadurecer sua vocação específica, ou
propriamente Religiosa. Porém para tal intento se necessita tanto de uma paciente e persistente formação básica, assim
como um esforço e abertura de quem aspira a Vida Religiosa, no processo de
formação.
Uma
exigência que se faz necessária, nos tempos atuais, é a pastoral vocacional. Pois esta é o passo inicial mais decisivo para
orientar e promover bons frutos de vocações para Vida Religiosa, dentre outros
modos de vida Cristã. É importante perceber que esta pastoral não deve ser
orientada como algo exclusivo e monopolizado de um grupo de pessoas, mas deve
se expandir com a colaboração e participação de todos. E nesse sentido, tantos
as famílias, como as diversas pastorais, o clero (sacerdotes e bispos) e
religiosos, devem estar envolvido e contribuir para o desabrochar e
amadurecimento das diversas vocações, incluindo a que nos toca particularmente.
Segundo o Documento sustenta sobre
isso:
No que se refere à formação dos
discípulos e missionários de Cristo, ocupa lugar particular a pastoral
vocacional, que acompanha cuidadosamente todos os que o Senhor chama a servir à
Igreja no sacerdócio, na vida consagrada ou no estado laico. A pastoral
vocacional que é responsabilidade de todos, começa na família e continua na
comunidade cristã, deve dirigir-se às crianças e especialmente aos jovens para
ajudá-los a descobrir o sentido da vida e projeto que Deus tem para cada um,
acompanhando-os em seu processo de discernimento. (Ibidem, p.144)
Desse
ponto de vista constitui um desafio atual uma pastoral vocacional que seja,
“fruto de uma sólida pastoral de conjunto, nas famílias, na paróquia, nas
escolas católicas e nas demais instituições eclesiais” (Ibidem.). Se tivermos uma pastoral vocacional que integre,
dialogue e faça comunhão com as diversas pastorais locais e os diversos membros
que compõe a área de trabalhos religioso, teremos mais frutos para Vida
Religiosa. Nesse sentido, os meios de comunicação, eventos e formação, dentre
outras iniciativas vocacionais, são de importante contribuição para despertar
os nossos jovens de diversas idades para a Vida Religiosa, assim como para
outras atuações pastorais e missionárias, que envolvam essa forma de vida.
Porém, outra consideração se faz necessária,
agora, na formação propriamente religiosa, isto é, no período de formação nos
seminários ou casas religiosas. É fundamental percebermos que por formação religiosa não se pode entender
as “fases” ou as “estruturas” de “preparação” para a Vida Religiosa, de um modo
distinto e radical de vida. Entender a
formação como um espaço, uma casa, uma estrutura, ou uma participação nas
atividade que a casa de formação promove é reduzir a amplitude, profundidade e
o belo objetivo da Vida Religiosa: experimentar, experienciar e testemunhar na
comunidade religiosa (e para o mundo) a radicalidade do seguimento, identificação,
serviço e doação à Deus Uno e Trino. A experiência de Jesus nazareno com
seus discípulos demonstram que o projeto de radicalidade e seguimento a Ele é
mais do que estruturas, tempo determinado, ou delimitado, e funções práticas.
As casas, os seminários, as estruturas e as dinâmicas da formação são meios pelos quais é preciso o jovem, ou
a pessoa, dar uma resposta concreta a Vida Religiosa. Portanto, todos os instrumentos da formação (casas,
estudos, orações, lazer, pastoral, etc.) não possuem fim em si mesmo, mas devem
promover o ser religioso radicado no amor
a Cristo e no seu serviço profético-evangélico.
Constatado que a formação na Vida
Religiosa é um processo, que antecede a entrada para os seminários ou casas de
formação religiosa, é relevante observar de modo geral as etapas da formação.
Cada etapa pode ter sua especificidade quanto a prioridade do ser vivido e
experienciado em comunidade. Porém, podemos considerar alguns pontos essenciais
que devem perpassar todo o processo de formação. Primeiro: a necessidade de uma progressiva experiência, clareza e
maturidade de fé cristológica e trinitária. Esse é o elemento mais significativo na vida Cristã e principalmente
na Vida Religiosa. Pois se assenta no aspecto querigmático da Boa nova de
Jesus, do Reino do Pai. Para tal experiência é importante não confundir a
finalidade da formação com outros instrumentos que possibilitam essa
experiência (as orações, as festas pastorais, as celebrações litúrgicas e as
devoções populares). Todas elas são importantes, porém devem nos conduzir à uma
experiência intima, profunda, testemunhal e verdadeira com Cristo, que está na
Eucaristia, no nosso próximo e se estende até onde o Espírito bem quiser. Daí
uma pergunta fundamental: nossos
instrumentos oracionais, nossas festas e ações evangélicas estão nos levando e
conduzindo a experimentar Cristo na Vida?!
Outro
elemento que possui tamanho valor e contributo para experiência e testemunho de
fé é o aspecto humanitário. Daí todos os
instrumentos utilizados na formação (psicologia, sociologia, filosofia,
teologia, formação técnica, etc) precisam contribuir para nossa humanidade. Tal
humanidade deve ser bem explorada e aprofundada, nas suas diversas áreas.
Porém, essa necessidade deve ter em vista uma preparação para orientar a pessoa
aspirante para um caminho fundamental: a Vida Religiosa, e não outro. Daí duas
questões são fundamentais: as etapas de
formação e seus instrumentos formativos estão contribuindo para a humanização
dos aspirantes a vida religiosa? Essa humanização está orientada para opção
fundamental de Vida?
O
último elemento desse processo é o menos explorado, na Vida Religiosa, porém,
podemos considerar como relevante para identidade, vida e missão religiosa: a
compreensão e integração sócio-cultural-política com a sociedade. É fundamental para os aspirantes estarem situados
nas questões principais do seu tempo. Pois tais elementos da realidade vão
exigir deles, e de todos nós, uma postura. Não é mais possível no tempo atual
estar aquém da nossa realidade histórica e do seu clamor por salvação. Logo,
dos futuros religiosos (as) serão exigido (a) uma ação profético-redentora,
como sal da terra, para a realidade contemporânea, e luz do mundo, no tempo
presente. Seria um erro observar, no processo de formação religiosa, os três
elementos citados de modo separados. Pois os três precisam convergir e se
integrar para uma formação integral. Na verdade uma forma de avaliar qualquer
um dos três pontos seria nessa relação conjunta, uma vez que uma experiência de
fé-espiritual-cristocêntrica verdadeira implica a realização plena do humano e
um testemunho atualizado e condizente com seu tempo. Cristo é esse exemplo.
Outra interrogação pertinente está no
âmbito de todo o processo inicial de formação pré-consagração, isto é, nas
etapas de formação antes dos votos perpétuos, na identidade particular
religiosa e na finalidade desta: os
nossos locais de formação, espaços, estruturas, pastorais e movimento dinâmico
formativo estão contribuindo para o ser e agir religioso, de modo diferente e
distinto das outras instituições empresariais e outras formas de vida cristã? Essa
interrogação tem em vista um problema que encontramos ainda hoje: os riscos de
tratar e conceber a Vida Religiosa como qualquer outra vida laica ou até não
católica, e, também, o perigo de um acolhimento, sem discernimento, das
mudanças que acontecem no tempo presente com o secularismo, o relativismo e o hedonismo.
Um desses sinais que pode desfigura a
identidade religiosa é o excesso do institucionalismo (ao modelo das
empresas). É triste encontrar casas de formação religiosa, e as vezes até
dinâmica pessoais de vida religiosa
que mais parecem setor empresarial, robusto
de formalismo legalistas e profissionalismo evangélico, contrário a essência fundamental
da vocação e Vida Religiosa: a vocação, a vida de fé, de comunidade testemunhal
e querigmática do Redentor. Conforme comenta o Pe. Giuseppe Colombero na Vida religiosa Consagrada: da convivência à
fraternidade (2007, p.11), é frequente “encontrarmos religiosos [...] com
excelente competência em áreas profissionais, mas com lacunas evidentes na sociabilidades,
ótimos professores ou enfermeiras [...], mas incapazes de ter uma vida
verdadeiramente participativa nas suas comunidades”. Precisamos tomar o cuidado
para não transformar a formação em uma promotora diplomática e legalista da
religião cristã.
Para ilustrar alguns desses efeitos
problemáticos que podemos ter na Vida Religiosa, com um modelo formativo
imaturo, em que se destaca mais o aspecto institucional-empresarial do que
religioso, destacamos o caso do mundanismo
espiritual denunciado pelo Papa Francisco na Evangelii Gaudium (2013, p.80-81):
Este obscuro mundanismo manifesta-se em
muitas atitudes, aparentemente opostas, mas com a mesma pretensão de ‘dominar o
espaço da Igreja’. Em alguns há o cuidado exibicionista da liturgia, da
doutrina e do prestígio da Igreja, mas não se preocupam que o Evangelho adquira
uma real inserção no povo fiel de Deus e nas necessidades concretas da
história. Assim a vida da Igreja transforma-se numa peça de museu ou numa
possessão de poucos. [...] Também se pode traduzir em várias formas de se
apresentar a si mesmo envolvido numa densa vida social de viagens, reuniões,
jantares, recepções. Ou então se desdobra em um funcionalismo empresarial
carregado de estatísticas, planificações e avaliações, onde o principal
beneficiário não é o povo de Deus, mas a organização.
Tais elementos do mundanismo espiritual também tem sua contribuição por um processo
de formação inadequado ao qual pode se inserir a pessoa aspirante a Vida
Religiosa. Daí é importante perceber e direcionar a orientação e os instrumentos
formativos para a essência da identidade religiosa, onde se acentua a vida em
vista do mistério trinitário, do testemunho pessoal, comunitário e da
evangelização profética, mais do que o institucionalíssimo. Neste sentido é
preciso rever se a estrutura formativa está promovendo o ser religioso ou profissionais do sagrado. Pois a Vida
Religiosa implica um modo de ser, uma comunhão, uma ação pastoral-missionária e
expressividade a partir de quem mais nos importa, isto é, a quem decidimos
entregar, doar e dedicar toda a nossa vida evangelicamente: Jesus Cristo.
Outro
elemento fundamental para nos orientar na formação religiosa é o carisma da
Congregação ou Ordem, dentre outras expressões de Vida Religiosa. Na história religiosa muito se confundiu a nossa
identidade com as ações específicas sociais que fazíamos, como criar hospitais,
construir colégios e desenvolver um trabalho de assistência social aos mais
carentes. Daí tivemos um erro de reduzir a caridade religiosa à sua identidade,
quando na verdade o caminho era oposto, isto é, constar que a caridade evangélica é fruto da identidade
religiosa. As obras de caridade são frutos do Espírito em muito valiosas nos
tempos atuais, porém hoje é preciso continuar o testemunho profético de um modo
renovado e até diferencial, se preciso for. A retomada para as fontes do
carisma, junto a experiência de fé e vida dos fundadores, que o Concílio
Vaticano nos convidou a realizar (CONCILIO VATICANO II,2007, p. 302) é
fundamental para encontrarmos com o nosso percurso originário, nossa identidade
religiosa e nossa missão de continuar atualizando o carisma nas condições
atuais, sem um reducionismo a práticas sociais caritativas. Porém, também é na
retomada e clareza do carisma que encontramos o norte para a formação
religiosa.
Toda a nossa formação religiosa deve
estar orientada para um único horizonte, como membro do corpo Igreja: a identidade
carismática própria do ser religioso e do exercício da missão enquanto
religioso. Daí precisa-se observar se os nossos elementos da e para formação
estão se orientando por tal dinâmica. Se as atividades, as funções, os cargos,
os trabalhos pastorais e a formação humana-espiritual-afetivo sexual, social e
política estão concordando, sustentando e completando a forma carismática de
vida e testemunho religioso. Para esclarecer mais sobre a orientação da
formação, é importante considerar a área missionária de atuação de cada
Congregação, Ordem ou Instituto religioso. Isso é tão fundamental, pois até
certo ponto, são as necessidades de nossas
áreas missionárias, no seu contexto-sócio-político-cultural, que orientam e possibilitam
a atualização do carisma religioso e as adaptações necessárias para o processo
de formação, já acenado pelo Concilio Vaticano II (CONCILIO VATICANO II,
2007, p.303). A experiência da forma como viveu Jesus Cristo-pobre, casto e
obediente ao Pai- só tem sentido em vista do projeto carismático do Pai (a
salvação da humanidade, e de modo preferencial os pobres), e do clamor da
situação histórico-espiritual-contextual humana (o legalismo, o fechamento, a
monopolização e privilégio da casta religiosa, e a situação de abandono,
desprezo e exclusão dos pobres e miseráveis da sociedade). Daí é fundamental se
considerar a especificidade do carisma, da caminhada religiosa e da área
missionária para traçar-se os instrumentos necessários da formação religiosa,
pois esses três elementos precisam estar em harmonia.
Uma questão que urge atualmente é a reestruturação do processo formativo. Se
antes se tinha modelos tradicionais de formação com suas estruturas objetivas,
radicais e exigentes, onde tudo não se podia, onde tudo era pecado e o formador
era a voz de Deus, hoje podemos ver que não é possível utilizar o mesmo modelo
tradicional de formação. Isso porque os modelos antigos e essa forma de conduta
não atrai, não estimula e não conquista os jovens atuais para a Vida Religiosa.
Não se coloca remendos velhos em panos novos. Podemos perceber que temos um
perfil de jovens (homens e mulheres) que aspiram a Vida Religiosa, mais
informatizados, mais técnicos e mais críticos. Por isso é visível atualmente as
nossas estruturas formativas serem questionadas sobre sua validade, identidade
e testemunho religioso. Isso pode ser útil para refletimos o modo como está
sendo conduzida as estruturas formativas e que coisas precisam ser mudadas,
atualizadas e melhoradas. Daí é preciso uma revisão sobre os modelos utilizados
no processo de formação, considerando as etapas no seu todo. Alguns elementos
que possuem particular atenção na formação inicial, como em todo o processo, é
acenado no Documento de Aparecida
(2007, p.145):
O tempo da [...] formação é uma etapa
onde os futuros presbíteros [e religiosos] compartilham a vida, a exemplo da
comunidade apostólica ao redor do Cristo Ressuscitado: oram juntos, celebram a
mesma liturgia que culmina na Eucaristia, a partir da Palavra de Deus recebem
os ensinamentos que vão iluminando sua mente e modelando seu coração para o
exercício da caridade fraterna e da justiça, prestam serviços pastorais
periodicamente a diversas comunidades, preparando-se assim para viver uma
sólida espiritualidade de comunhão com Cristo Pastor e docilidade à ação do
Espírito Santo, convertendo-se em sinal pessoal e atrativo de Cristo no mundo,
segundo o caminho de santidade [...].
Se antes se tinha um perfil mais
homogêneo de jovens para a Vida Religiosa, atualmente temos uma diversidade e
pluralidade de perfis que precisam ser considerados no processo, nos métodos e
instrumentos de introdução a Vida Religiosa. Se até então se contemplou quatro
dimensões da formação religiosa, a saber, a “dimensão humana comunitária,
espiritual, intelectual, [...] e pastoral-missionária” (Ibidem, p. 131), hoje
precisamos fazer uma atualização, ressignificação e reconstrução, tanto desses conteúdos
formativos como dos outros instrumentos utilizados nas dimensões formativas. Isso
é pertinente porque os sinais dos tempos exige respostas compatíveis de um modo
evangélico renovado. Uma formação que produza “a comunhão” com os diversos perfis dos jovens para a Vida
Religiosa é necessária. Não se trata, portanto, de uma abertura sem
discernimento para as novas realidades que se apresentam nos perfis de jovens
que temos, mas de uma formação que promova na diversidade de culturas,
espiritualidades e linhas religiosas uma direção fundamental para o carisma
específico da Vida Religiosa, e a apreciação de seus princípios essências que precisam
tocar todas as realidades possíveis.
Por outro lado, a diversidades de dons,
modos de vida e perfis que encontramos nos candidatos para a Vida Religiosa não
pode ser visto como problema, mas como possibilidade de contribuição para a
identidade carismática e missionária de cada Congregação, Instituto, Ordem ou qualquer
modo de Vida Religiosa. Trata-se,
portanto, de uma busca de unidade na diversidade, e da contribuição da
diversidade para a identidade da unidade na Vida Religiosa. Essa experiência é
demonstrada pelo próprio mistério que celebramos: a Santíssima Trindade.
Também, no processo de iniciação a Vida
Religiosa, é importante, considerar a autonomia e expressividade de quem aspira
à essa caminhada, tanto aos mais expressivos, quanto aos menos. Pois quando não
se promove espaço para tais coisas, corresse o risco de se ter um processo
aparente de formação, e não um processo que deve ser assumido com toda
autenticidade e reta índole. O caminho do diálogo sempre é necessário, com a
liberdade, respeito e autonomia devida. Outro
elemento significativo que precisa acontecer no processo de formação é a
promoção dos diversos, talentos, dons e habilidades que possuem ou podem até
adquirir quem deseja seguir esse modo de vida. As vezes corre-se o erro de
reduzir a Vida Religiosa à habilidades intelectuais e litúrgicas. Tais coisas
são boas, porém é um erro reduzir a dinâmica da Vida Religiosa há isso. Há
diversos caminhos complementares que podem enriquecer o carisma específico. E
nesse aspecto quando não se explora tais talentos se pode perder muito no
processo e na criatividade evangélica.
Por fim, três considerações tocam a
formação religiosa pós-consagração, ou melhor dizendo, a Vida Religiosa
propriamente dita. A primeira é a abertura para se considerar em um processo de formação continua, já
acenado pelo Documento de Aparecida
(2007, p.130-131). Isso é tão importante, atualizar os (as) religiosos (as)
para as necessidades evangélicas do tempo presente. Infelizmente é triste e
lamentável observar que há religiosos e religiosas que após realizar os votos
evangélicos perpétuos se acomodar e não
procuram continuar um processo que fez parte para sua iniciação a Vida
Religiosa. Daí pode-se correr o grande risco de perder as pérolas preciosas tão
exigidas e fundamentais para ser ter e manter viva e renovada a identidade
religiosa. Uma consciência mais clara
seria a de que, mesmo sendo religioso(as), precisamos ter um itinerário constante
e de continuo amadurecimento religioso, na nossa vida e caminhada da
congregação, instituto e ordem. E que esse itinerário só tem sua plenitude no
Céu. Muitos religiosos não se atentam a isso, e geram diversos problemas e
prejuízos para a comunidade religiosa a qual ele está inserido.
A segunda consideração se reporta ao
testemunho evangélico religioso como principal meio de evangelização. O Papa
Francisco já acenou sobre isso na carta a Vida Consagrada, onde se afirmou que:
“[...] a eficácia apostólica da vida consagrada não depende da eficiência e da
força dos seus meios. É a vossa vida que deve falar, uma vida na qual
transparece a alegria e a beleza de viver o Evangelho e seguir a Cristo” (FRANCISCO,
2014, p.17). É triste encontrarmos com religiosos que não vivem e nem buscam, persistentemente, um ou mais
desses elementos: a) uma vida fraterna, b) uma dedicação por Cristo na
comunidade religiosa, c) uma consciência madura sobre a exigência dos votos na
radicalidade de vida cristã, d) a alegria e satisfação por ser religioso (a),
e) um testemunho mais coerente possível com sua resposta de vida, f) um
amadurecimento humano-espiritual e uma vida de oração continua, g) uma ação
missionária-social-profética como fruto da experiência com Cristo, h) um
cuidado, respeito, envolvimento, diálogo e responsabilidade para com as pessoas
de sua área missionária. Todas essas características são marcas visíveis do ser
religioso, que a sociedade precisa cada vez mais. Sem esses elementos fica
difícil promover uma formação e identidade religiosa verdadeira e efetiva, pois
a melhor inspiração e motivação para a Vida Religiosa é o testemunho. E sem
isso não se ajudar a sociedade e muito menos quem está no processo para
caminhar conosco.
Por último, observamos uma necessidade de Misericórdia na Vida
Religiosa. Tantos irmão caminham desalentados, abandonados e perdidos na Vida
Religiosa. Isso porque não só da parte deles tiveram uma perda e descuido da
sua identidade religiosa e entrega de vida radical a Cristo, mas também pelas dificuldades
e entraves que alguns membros da comunidade deixaram de proporcionar, para
reerguem o irmão caído. Uma vida religiosa onde não reina a solidariedade, o
serviço, o diálogo, a amizade, o respeito, o companheirismo, o acolhimento, a correção
fraterna, a busca pela conversão e a constante busca pelo amadurecimento no
modo de vida respondido é um sinal que a presença de Cristão ainda não realizou
o que devia, pelo fechamento ao projeto que não é de ninguém, mas si de Deus.