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Alguém já parou pra pensar: por que, na Contemporaneidade, alguns saberes são tidos como mais importante do que outros? Sem desconsidera o valor de cada saber, é no mínimo estranho encontramos no mundo midiático e no sistema educacional público um valor, quase divino, aos saberes das Ciências Exatas (Mecânica- Física- Matemática), ou derivadas, e um desprezo aos das Ciências Humanas (Filosofia-História-Sociologia-Psicologia). Em vista desta imposição preconceituosa e interesseira dos diversos meios de poder e comunicação, outra questão mais específica é surpreendente. O fato de quase não se falar de um tema tão importante e determinante para nós seres humanos: a “Consciência”. Esta é uma questão que ainda é pouco apresentada, meditada, refletida e debatida no tempo atual. E isso sem contar que, na cultura contemporânea, esse tema é disseminado preconceituosamente, como tema estritamente religioso, alienante, ou como tema de acusação e repressão da felicidade humana. Afim de quebrar essa visão limitada e preconceituosa que se impôs na Contemporaneidade, apresenta-se alguns pontos sobre tal tema que serão apresentados em três partes consecutivas. A primeira destaca 1) A Consciência na tradição filosófica-ocidental; a segunda explana 2) A Consciência a partir da tradição bíblico-testamentária. Por fim, na última parte destacar-se-á 3) A necessidade da Conscientização humanitária na Contemporaneidade.
Alguém já parou pra pensar: por que, na Contemporaneidade, alguns saberes são tidos como mais importante do que outros? Sem desconsidera o valor de cada saber, é no mínimo estranho encontramos no mundo midiático e no sistema educacional público um valor, quase divino, aos saberes das Ciências Exatas (Mecânica- Física- Matemática), ou derivadas, e um desprezo aos das Ciências Humanas (Filosofia-História-Sociologia-Psicologia). Em vista desta imposição preconceituosa e interesseira dos diversos meios de poder e comunicação, outra questão mais específica é surpreendente. O fato de quase não se falar de um tema tão importante e determinante para nós seres humanos: a “Consciência”. Esta é uma questão que ainda é pouco apresentada, meditada, refletida e debatida no tempo atual. E isso sem contar que, na cultura contemporânea, esse tema é disseminado preconceituosamente, como tema estritamente religioso, alienante, ou como tema de acusação e repressão da felicidade humana. Afim de quebrar essa visão limitada e preconceituosa que se impôs na Contemporaneidade, apresenta-se alguns pontos sobre tal tema que serão apresentados em três partes consecutivas. A primeira destaca 1) A Consciência na tradição filosófica-ocidental; a segunda explana 2) A Consciência a partir da tradição bíblico-testamentária. Por fim, na última parte destacar-se-á 3) A necessidade da Conscientização humanitária na Contemporaneidade.
A Consciência na
tradição filosófico-ocidental.
Se na Grécia antiga, o conhecimento era
uma dádiva humana, isso não estava dissociado de três principais áreas do
conhecimento, isto é, da consciência humana de si (antropologia), da ação prática
e jurídica civil (sociologia-ética) e do caráter humano (moral). Em
Sócrates a “Consciência” atinge essas três funções de modo conjunto. Por isso
se observa tanto a persistência o ponto antropológico do sujeito: “Conhece-te a Ti mesmo!”.
Quem não buscava tomar conhecimento inter-relacionado a estas três áreas de saber, dentre outras, era
considerado um “Idiota”, pois estava aquém da sociedade, da sua
auto-consciência, filosófica-política e moral-ética. Para visão da época, os escravos eram uma das
categorias de “Idiotas” porque não se conheciam, não pensavam, não tinham comprometimento social. Se de início o saber é destinado ao conhecimento do
homem, isto é, a conciencização de si, e isso levava o mesmo há um compromisso
com a realidade e sociedade, por que será que hoje não se fala de “Consciência”
e nem de propriedades que a compõe? A
pior coisa que a humanidade pode fazer consigo é perder a sua “Consciência”, e
principalmente, sua consciência moral, pois isso implica na perda da sua
identidade. Porque será que não se quer falar mais de identidade da pessoa,
enquanto ser humano, social e político?
Na tradição filosófica esse tema
persiste sobre perspectivas distintas. Até nos Sofistas como Protágoras a
“Consciência”, não é desprezada, mas elevada a sua potencialidade
antropológica: “o homem é a medida de todas as coisas”, isto é, ele possui uma experiência interna que possibilita conhecer e definir por si mesmo a dinâmica cultural da sociedade. Platão chegou a observar a
teleologia ideal humana, pela qual ele deveria reger sua consciência: o bem ideal. Aristóteles conduziu a
“Consciência” para o seu caminho fundamental “o meio termo”, “o justo meio”, o equilíbrio da prática humana.
Nesse percurso era possível o homem encontrar a sua eudaimonia, ou seja, a felicidade. E isso acontece por meio de uma consciência virtuosa. Da era grega clássica para a
helenista temas envolvendo a "Consciência" persistem. A questão da alma, do bem, do mal, do bom, do
indivíduo perpassa essa trajetória com suas particularidades. A partir desses
poucos elementos constituintes da “Consciência” se poderia refletir: na
realidade atual está sendo clarificado, meditado e iluminado os elementos próprios da "Consciência"? Quais valores virtuosos estão sendo cultivados, vivenciados e
estimulados na sociedade?
Uma personagem mística e bastante
significativa do advento da patrística é Dionísio, o qual é classificado de suposto autor da obra Livros das Causas.
Arrisca-se aqui a dizer sobre tal obra, numa orientação metafísica antropológica, que a comunidade dos diversos seres estão em
diversas relações, a tal ponto das inteligências compreenderem a si mesma a
partir de uma integração com a Inteligência
fundamental, o Uno. O relevante seria observar que cada ser possui suas
propriedades fundamentais em interação com outros seres. Dessa perspectiva
poderíamos intuir que se cada “ser” é possuidor de diversas propriedades como
sentidos, alma, corpo, inteligência, a “Consciência” Humana precisaria estar integrada
nessa dinâmica.Ou seja, ela estaria nessa relação de comunicação e comunhão para se constituir enquanto tal.
Ora, no período Medieval, Tomas de Aquino
amplifica e delineia outros elementos para a “Consciência”. As categorias
virtuosas de Aristóteles são retomadas e são acrescentadas novas categorias que
orientam a vida humana. As virtudes teologais como, a fé, esperança e caridade são acréscimos tratados por ele. Sua
novidade se dá por apresentar duas categorias de “Consciência”: a) a que
compreende a verdade na sua essência, b) e a que interage nas circunstâncias variantes
da vida. Porém essa Consciência Humana consegue caminhar num percurso mais
ordenado ora seguindo as normas da natureza humana ora superando os limites da
natureza conforme as luzes espirituais. Apesar da “Consciência” se relaciona
com outras faculdades além das sensitivas, existe nela uma finalidade
teleológica que transcende a natureza humana e vai além da ordem e da perfeição.
Nesse processo se insere novos elementos não tratados na Grécia antiga, isto é,
o da graça, da “Consciência” conceitualmente
dita, do livre arbítrio e dos dons espirituais. A finalidade da Consciência
não só entra no campo contemplativo, mas
deve se orientar a partir do bem Absoluto, Deus.
Não se trata portanto de uma contradição ou submissão da “Consciência” Humana
para com a Consciência Divina, mas de
uma constatação da pura Verdade, do puro
Bem, e da Vita Beata pela qual a
humanidade deve encontrar, desde dentro de si. Nesse aspecto não há um
fechamento, heteronomia ou aniquilamento da natureza e consciência humana, mas uma orientação mais rica e dignificante da “Consciência”, pois os seres humanos
não só possuem em si sua natureza própria pela qual deve subsistir sua dignidade e subsistência da geração,
mas fundamentalmente eles possuem os sinais e virtudes que superam tal estado natural e dignifica o ser humano a condição de semelhança divina.
Na Modernidade Kant ressalva um
elemento significativa da “Consciência” e determinante de sua condução moral,
social e até política: a razão. Esta
age nas faculdades sensitivas
(estéticas) e do entendimento humano
para uma decisão que se impõe imperativamente, sem depender das forças das
circunstâncias fenomênicas, mas a partir dos princípios irrevogáveis da razão.
Da subjetividade para constituição de uma universalidade da “Consciência” é preciso
se considerar o imperativo categórico,
isto é, os princípios universais e necessários que deve nortear o comportamento
humano para a sua autonomia e felicidade. Desse modo é possível deixar uma
“Consciência” da menoridade, de fato, ou seja a dependência, para outra da maior
idade, a saber, a independência e esclarecimento do sujeito consciente.
Já Em Giambattista Vico a “Consciência”
não se caracteriza no campo da subjetividade e muito menos do relativismo ou
individualismo. Neste pensador se verifica que a “Consciência” atinge sua
verdade em conformidade com a certeza
de cada época e em um nível coletivo
determinado, providencialmente na
história das nações desde os seus primórdios. Não é as faculdades do
entendimento que determinar os passos fundantes da “Consciência”, mas as faculdades pré-reflexivas, como o engenho, a
fantasia e a imaginação. Em Vico se apreende um fator diferencial da
consciência de todos os povos: trata-se, portanto, dos princípios metafísicos-
filológicos e filosóficos- que condicionam os povos para a sua Humanidade. Sem tais princípios esta
humanidade volta ao seu estado barbárico, ou seja, inumano. Portanto, em Vico é possível um retrocesso da “Consciência”, quando ela não se orienta
conforme seus princípios fundamentais. A religião, o matrimônio e a
sepultura são, de modo geral, tais princípios humanizantes e da Consciencivilização da sociedade.
Até aqui pode-se observar que o percurso
da “Consciência” ganha suas propriedades significativas e expressivas a parti
do itinerário fundamental que ela percorre, ora, num caminho para o conhecimento
do sujeito, do compromisso comunitário, da ação em vista do bem e por práticas
virtuosas, ora numa relação dialogal e comunitária, no âmbito da Vita Beata, da Racionalidade imperativa
e, por último, da Humanização das nações. Em suma, observa-se os diversos
graus e propriedades da “Consciência” que a cada passo se detém sobre um saber
maior, um entendimento mais claro e na busca de amplificar seus passos,
observar seus limites e orientar seus horizontes.
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