A necessidade da
Conscientização humanitária na Contemporaneidade.
Se na Contemporaneidade fala-se do tema
da “Consciência” com um certo desinteresse, ou descaso, por outro lado não se
considera outro tema estritamente importante e entrelaçado a este: o tema da
“Humanização”. Por isso, não há como se
refletir sobre “Consciência” sem uma busca pela humanização da pessoa
(VIDAL, MARCIANO, 2007, p.65). Portanto, pode-se observar a necessidade de uma
orientação moral e ética sobre tal tema.
Quando no percurso histórico há um
descompasso entre “Consciência” e “Humanização”, gera-se uma deformação da
natureza essencial do entendimento e prática da pessoa. Isso já tinha
sido profeticamente denunciado, como questionamento, pelo Papa João Paulo II, na Exortação Apostólica Reconciliatio
et Paenitentia, do seguinte modo: “Não vive o homem contemporâneo sob a
ameaça de um eclipse da consciência, de uma deformação da consciência e de um
entorpecimento ou duma ‘anestesia’ das consciências?” (PAULO II, 1984, N.18).
Tal desvio moral e ético da “Consciência” pode conduzir a pessoa a uma perca de
sentido objetivo do mundo, de si, da verdade. Nesse mal direcionamento, “por
falta de empenho em buscar o bem, a consciência vai se tornando cada dia mais
confusa, enredada na prática do mal” (CONCILIO VATICANO II, 2007, p.481). É
relevante destacar que a busca da conscientização humanitária não está
desprovida do aspecto sublime da natureza humana: a espiritualidade, ou também
a experiência com o transcendente.
Após a crise da ditadura Militar, no
Século XX e o explosivo desenvolvimento tecnológico-capitalista, três elementos
foram e são determinantes para essa deformação
da orientação fundamental da “Consciência”: o secularismo, o relativismo e o hedonismo. O primeiro abstraiu o
ser humano de um elemento significativo da mentalidade humana, a saber, o
aspecto espiritual-transcendental, e reduziu tal mentalidade a uma busca de
realização materialista. Por sua vez, o segundo impregnou na “Consciência” uma
liquidez de valores, metas, sonhos e objetivos. O hedonismo tentou abstrair as reais limitações da fragilidade, existência
e natureza humana, reduzindo o objetivo da “Consciência” ao prazer desmedido. Em suma, se inebriou certos caminhos e
progressos que a “Consciência” adquiriu no seu percurso ético e nos seus
princípios fundamentais até então.
Por meio dessas três posturas
reacionárias a “Consciência” chegou em um estado ontológico de Crise da sua própria Identidade Humana. Segundo
sustenta a Constituição Pastoral Gaudium
et Spes, no período dessas transformações (CONCILIO VATICANO II, 2007, p.
474): “As mudanças de mentalidade e de estrutura provocaram frequentemente uma
crise de valores, especialmente entre os jovens”. Isso resultou conflitos na
“Consciência”, isto é, desentendimentos entre os seres humanos, que provocou e
intensificou as contradições e desequilíbrios na sociedade (Ibidem, p.475). Não
se trata, portanto, de uma observação totalmente negativa das transformações
que aconteceram nesse período até hoje, mas de uma crítica aos problemas que
acarretaram tais correntes. Neste sentido observou-se em tal período Moderno:
um desequilíbrio
radicado no mais íntimo do coração humano. Contradições inscritas no próprio
ser humano: ele se vê, por um lado, como criatura limitada, por outro, sente o
ilimitado em seus desejos, por ser chamado a uma vida superior. Cercado de
atrativos, tem de escolher alguns e muito renunciar. Fraco e pecador, faz
muitas vezes o que não quer e não consegue fazer o que quer. Está dividido em
si mesmo e provoca assim discórdias que assolam a sociedade (Ibidem, p.476).
Uma orientação favorável para a questão da
“Consciência Moral e Ética” ou, se poderia dizer melhor, “Consciência
Humanitária”, seria aquela apresentada na Gaudium
et Spes, isto é: “focalizar os valores que se colocam hoje acima de tudo,
referindo-os à sua fonte divina"(Ibidem, p.478). Junto a tal perspectiva
de conscientização humanitária, seria salutar a busca intelectual pela sabedoria “que inclina interiormente o ser
humano à busca e ao amor dos verdadeiros bens” (Ibidem, p.480), aqueles que
humanizam e resguardam a dignidade da pessoa. A verdade sobre tais bens é
possível ser encontrada no interior de cada pessoa, no coração humano, isto é,
no profundo da própria “Consciência” onde cristologicamente se afirma que está Deus. “É como se fosse uma voz que
lhe falasse ao coração e o chamasse a amar o bem e a praticá-lo, afastando-se
do mal” (Ibidem, p.481).
Outro norte humanitário para tal busca da
“Consciência” seria o bem comum,
tratado pelo Papa Francisco na Laudato Si’(2015,
p.128):
O bem comum pressupõe o respeito
pela pessoa humana enquanto tal, com direitos fundamentais e inalienáveis
orientados para o seu desenvolvimento integral. Exige também os dispositivos de
bem-estar e segurança social e o desenvolvimento de vários grupos de
intermédios, aplicando o princípio da subsidiariedade.
Uma Consciência
Humanitária não pode estar dissociada de sua realidade ecológica, pois na
ordem dos seres, se faz necessário o cuidado com a vida nas suas diversas
manifestações. Numa observação mais ampla, a ordem cósmica planetária se relacionam com os
diversos seres a tal ponto equilibrar o sistema planetário, o ecossistema e
até a vida da humanidade. Desprezar o
sistema planetário, o ecossistema, o meio de sociabilidade, seria arruinar o
ser humano na sua subsistência. Para tanto uma “Consciência” esclarecida precisa
estar atenta na sua relação com o meio em que vive. “Esta responsabilidade
perante a terra que é de Deus implica que o ser humano, dotado de inteligência,
respeite as leis da natureza e os delicados equilíbrios entre os seres deste
mundo” (FRANCISCO, 2015, p.56).
No âmbito social se faz necessário ressignificar
uma “Consciência” atenta e responsável com as mudanças promovidas na estrutura
de gestão e governo político-social. A corrupção nesse sistema
político-governamental é um dos males que afetam drasticamente a “Consciência
ética, social humana”. O resgate dos
valores fundamentais da reta consciência política são fundamentais para termos
mais humanização social e menos desigualdade e exploração, que gera violência,
inumana, e deturpa a consciência social. O respeito, a igualdade nas
relações, a solidariedade humana, a busca pela paz, a fraternidade, e a justiça
que dignifica e resgata a pessoa, são caminhos necessários para que a
“Consciência” retome o seu devido caminho: o bem pessoal e social pleno. Hoje
mais do que nunca se necessita resgatar tais elementos, valores e orientações morais,
éticas e cívicas, dentre outras, para termos uma maturidade consciencial. Por
fim, para se termos maior orientação sobre esse termo e sua significativa
importância na humanização das pessoas, deve-se somar, aqui, outros saberes que
podem contribuir significativamente para dignidade, valorização e resgate da “Consciência
Humanitária”: como a Filosofia, que a trata com instância da razão moral da
pessoa; a Teologia que trata da mesma instância a partir dos pressupostos transcendentais;
a Psicologia, que aborda a “Consciência”
no âmbito da identidade pessoal e a Sociologia que trata da mesma temática na
esfera de expressão cultural social. Todas essas áreas pode contribuir para o
percurso, desenvolvimento e progresso qualitativo da “Consciência” na sua
humanização.
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