sexta-feira, 12 de agosto de 2016

A Consciência nos seus diversos percursos: caminhos para a civilização, realização e plenificação humana. (3ª Parte)



A necessidade da Conscientização humanitária na Contemporaneidade.

Se na Contemporaneidade fala-se do tema da “Consciência” com um certo desinteresse, ou descaso, por outro lado não se considera outro tema estritamente importante e entrelaçado a este: o tema da “Humanização”. Por isso, não há como se refletir sobre “Consciência” sem uma busca pela humanização da pessoa (VIDAL, MARCIANO, 2007, p.65). Portanto, pode-se observar a necessidade de uma orientação moral e ética sobre tal tema.
Quando no percurso histórico há um descompasso entre “Consciência” e “Humanização”, gera-se uma deformação da natureza essencial do entendimento e prática da pessoa. Isso já tinha sido profeticamente denunciado, como questionamento, pelo Papa João Paulo II, na Exortação Apostólica Reconciliatio et Paenitentia, do seguinte modo: “Não vive o homem contemporâneo sob a ameaça de um eclipse da consciência, de uma deformação da consciência e de um entorpecimento ou duma ‘anestesia’ das consciências?” (PAULO II, 1984, N.18). Tal desvio moral e ético da “Consciência” pode conduzir a pessoa a uma perca de sentido objetivo do mundo, de si, da verdade. Nesse mal direcionamento, “por falta de empenho em buscar o bem, a consciência vai se tornando cada dia mais confusa, enredada na prática do mal” (CONCILIO VATICANO II, 2007, p.481). É relevante destacar que a busca da conscientização humanitária não está desprovida do aspecto sublime da natureza humana: a espiritualidade, ou também a experiência com o transcendente.
            Após a crise da ditadura Militar, no Século XX e o explosivo desenvolvimento tecnológico-capitalista, três elementos foram e são determinantes para essa deformação da orientação fundamental da “Consciência”: o secularismo, o relativismo e o hedonismo. O primeiro abstraiu o ser humano de um elemento significativo da mentalidade humana, a saber, o aspecto espiritual-transcendental, e reduziu tal mentalidade a uma busca de realização materialista. Por sua vez, o segundo impregnou na “Consciência” uma liquidez de valores, metas, sonhos e objetivos. O hedonismo tentou abstrair as reais limitações da fragilidade, existência e natureza humana, reduzindo o objetivo da “Consciência” ao prazer desmedido.  Em suma, se inebriou certos caminhos e progressos que a “Consciência” adquiriu no seu percurso ético e nos seus princípios fundamentais até então.
Por meio dessas três posturas reacionárias a “Consciência” chegou em um estado ontológico de Crise da sua própria Identidade Humana. Segundo sustenta a Constituição Pastoral Gaudium et Spes, no período dessas transformações (CONCILIO VATICANO II, 2007, p. 474): “As mudanças de mentalidade e de estrutura provocaram frequentemente uma crise de valores, especialmente entre os jovens”. Isso resultou conflitos na “Consciência”, isto é, desentendimentos entre os seres humanos, que provocou e intensificou as contradições e desequilíbrios na sociedade (Ibidem, p.475). Não se trata, portanto, de uma observação totalmente negativa das transformações que aconteceram nesse período até hoje, mas de uma crítica aos problemas que acarretaram tais correntes. Neste sentido observou-se em tal período Moderno:  
um desequilíbrio radicado no mais íntimo do coração humano. Contradições inscritas no próprio ser humano: ele se vê, por um lado, como criatura limitada, por outro, sente o ilimitado em seus desejos, por ser chamado a uma vida superior. Cercado de atrativos, tem de escolher alguns e muito renunciar. Fraco e pecador, faz muitas vezes o que não quer e não consegue fazer o que quer. Está dividido em si mesmo e provoca assim discórdias que assolam a sociedade (Ibidem, p.476).
Uma orientação favorável para a questão da “Consciência Moral e Ética” ou, se poderia dizer melhor, “Consciência Humanitária”, seria aquela apresentada na Gaudium et Spes, isto é: “focalizar os valores que se colocam hoje acima de tudo, referindo-os à sua fonte divina"(Ibidem, p.478). Junto a tal perspectiva de conscientização humanitária, seria salutar a busca intelectual pela sabedoria “que inclina interiormente o ser humano à busca e ao amor dos verdadeiros bens” (Ibidem, p.480), aqueles que humanizam e resguardam a dignidade da pessoa. A verdade sobre tais bens é possível ser encontrada no interior de cada pessoa, no coração humano, isto é, no profundo da própria “Consciência” onde cristologicamente se afirma que está Deus. “É como se fosse uma voz que lhe falasse ao coração e o chamasse a amar o bem e a praticá-lo, afastando-se do mal” (Ibidem, p.481).
Outro norte humanitário para tal busca da “Consciência” seria o bem comum, tratado pelo Papa Francisco na Laudato Si’(2015, p.128):
O bem comum pressupõe o respeito pela pessoa humana enquanto tal, com direitos fundamentais e inalienáveis orientados para o seu desenvolvimento integral. Exige também os dispositivos de bem-estar e segurança social e o desenvolvimento de vários grupos de intermédios, aplicando o princípio da subsidiariedade.
Uma Consciência Humanitária não pode estar dissociada de sua realidade ecológica, pois na ordem dos seres, se faz necessário o cuidado com a vida nas suas diversas manifestações. Numa observação mais ampla, a ordem cósmica planetária se relacionam com os diversos seres a tal ponto equilibrar o sistema planetário, o ecossistema e até a vida da humanidade. Desprezar o sistema planetário, o ecossistema, o meio de sociabilidade, seria arruinar o ser humano na sua subsistência. Para tanto uma “Consciência” esclarecida precisa estar atenta na sua relação com o meio em que vive. “Esta responsabilidade perante a terra que é de Deus implica que o ser humano, dotado de inteligência, respeite as leis da natureza e os delicados equilíbrios entre os seres deste mundo” (FRANCISCO, 2015, p.56).

No âmbito social se faz necessário ressignificar uma “Consciência” atenta e responsável com as mudanças promovidas na estrutura de gestão e governo político-social. A corrupção nesse sistema político-governamental é um dos males que afetam drasticamente a “Consciência ética, social humana”. O resgate dos valores fundamentais da reta consciência política são fundamentais para termos mais humanização social e menos desigualdade e exploração, que gera violência, inumana, e deturpa a consciência social. O respeito, a igualdade nas relações, a solidariedade humana, a busca pela paz, a fraternidade, e a justiça que dignifica e resgata a pessoa, são caminhos necessários para que a “Consciência” retome o seu devido caminho: o bem pessoal e social pleno. Hoje mais do que nunca se necessita resgatar tais elementos, valores e orientações morais, éticas e cívicas, dentre outras, para termos uma maturidade consciencial. Por fim, para se termos maior orientação sobre esse termo e sua significativa importância na humanização das pessoas, deve-se somar, aqui, outros saberes que podem contribuir significativamente para dignidade, valorização e resgate da “Consciência Humanitária”: como a Filosofia, que a trata com instância da razão moral da pessoa; a Teologia que trata da mesma instância a partir dos pressupostos transcendentais; a Psicologia,  que aborda a “Consciência” no âmbito da identidade pessoal e a Sociologia que trata da mesma temática na esfera de expressão cultural social. Todas essas áreas pode contribuir para o percurso, desenvolvimento e progresso qualitativo da “Consciência” na sua humanização.

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