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A
Consciência a partir da tradição bíblico-testamentária.
Nos escritos do primeiro testamento (Gênese e Êxodo) encontramos vários pontos significativos e determinantes da consciência humana. O primeiro é a experiência de Abraão com Deus (Gn11, 1-3). Neste aspecto a “Consciência” deslumbra um novo horizonte, de desprendimento da terra, da nação e da família. Esse desapego denota um uma nova visão de mundo que Deus quer implantar: a visão de “Povo” que caminha com Deus (Eu farei de ti um grande povo). Há uma maximização da “Consciência” a partir de uma experiência com Deus. Após esse primeiro episódio destaca-se outra personalidade bíblica, a saber, Moisés com a experiência de Deus, na sarça ardente (Ex3, 1-16). Trata-se da experiência central da tradição cristã: a Revelação de Deus.
Nesse
contexto a “Consciência” atinge uma criticidade e maturidade fundamental por
meio de Deus: “Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi seu
grito por causa dos seus opressores; pois eu conheço as suas angustias. Por
isso desci afim de libertá-lo das mãos dos egípcios”. Apesar da amplitude e
progresso dessa revelação, a mentalidade desse povo ainda tateia por caminhos
tortuosos. A pretensão da “Consciência” divina reveladas é para uma profunda libertação humana. Não se trata
somente da liberdade da escravidão submetida à opressão de um Rei egípcio, mas
de tudo aquilo que afasta a humanidade de sua verdadeira felicidade. Por
isso é que se instaura a experiência no deserto:
para que o povo tome consciência de seus
apegos, dependências das coisas inferiores a Deus e para que o mesmo não exceda
na consciência de si, isto é, querer ser como Deus. Moisés guia o povo para
essa experiência que ele mesmo experimentou com Deus. Porém, no caminho o povo
sem se perceber, ou seja, sem tomar “Consciência
de si”, acaba tendo dificuldade para adquirir uma Consciência madura.
Nessa
perspectiva e no itinerário da terra prometida e da salvação, o povo entende
Deus como único, primeiro e fundamento da criação. Apesar de Deus se revelar, o
Mesmo acaba sendo compreendido por muitos a partir da Consciência predominante da época, isto é, a partir da visão patriarcal e dos grandes heróis da época. Toda a
compreensão do povo chega na “Consciência” limitada de entender Deus como Aquele
que Reina sobre a terra inteira (Sl47,3), de braço forte, o Senhor dos exércitos (Is 9, 6). Essa “Consciência” é própria da figura de
maior valor nas famílias e tradição da época. A figura de Deus como Pai (Is 9,5). Isso não se dá tão
claramente no plano conceitual, mas nos
atributos de Deus, pois Ele fez a toda a criação (Gn1, 1-31) e quer conduzir seu povo (Ez36, 12).
Aqui observamos alguns exageros, para o tempo atual, quanto a compreensão de
Deus, pois ele é concebido com um Deus
que destrói os inimigos de seu Povo, os pecadores (Am9, 1-10). É um Deus
que amaldiçoa e condena os que não seguem seu caminho (Ml1,1-3). É Deus
julgador e vingativo. Esses disparates configuram a “Consciência” do povo
de Deus no seu percurso inicial que responde conforme sua mentalidade os
conflitos da época.
A
conceituação de Deus, propriamente dita, como Pai, ou melhor dizendo,
“Paizinho” é nos revelada pelo Jesus Cristo, o Filho de Deus . Em Jesus
nazareno encontramos uma revolução significativa na tradição. Pois Deus não é
vingativo e nem julgador implacável, mas compassivo e misericordioso (Lc6,36).
É um Paizinho que é puro amor e convida seus povo, pelo seu Filho, a ser
expressão radical desse amor: doação da vida pela salvação humana. Por Jesus o
povo da época apreende uma nova “Consciência” de si, como dom de Deus, como
Filhos-adotivos- amados do Pai (Mt6, 4), que precisam cotidianamente ser
misericordioso como o Pai do Céu é misericordioso para com eles. O que Jesus nos ensinou sobre Deus foi a
mais revolucionária e significativa experiência para sermos Humanos. Uma “Consciência” Humana e iluminada pela
luz divina foi a contribuição mais valiosa que Jesus nos ensinou.
Nos
quatro Evangelhos podemos perceber o desvelar de uma nova “Consciência” anexada
com a consciência de Deus Paizinho. Trata-se daquela expressada por Jesus
Cristo. A consciência do Filho de Deus
encarnado na História do povo (Jo1, 14) é a grande novidade dos Evangelhos.
Em Jesus não só encontramos uma chamada para a “Consciência do amor fraterno”, mas ele próprio é esse testemunho
revolucionário. No projeto de redenção do Filho a natureza e “Consciência”
humana atinge a sua máxima plena, ou seja, atinge o ponto fundamental,
metafísico e ético: no imperativo do amor (Jo15, 12). Essa lei fundamental deve
nortear a “Consciência” humana. Porém ela não se desvincula da transcendência,
mas só pode manter seu curso se estiver em união e integração com a
“Consciência do Paizinho”, pelo Filho. Por isso a persistente interpelação de
Jesus para mantermos unidos a Ele como Ele está unido ao Pai (Jo17, 21).
É necessário observarmos que embora a exigência consciencial-prática do
amor humano seja limitada, a mesma se inspira a partir da propriedade de
identidade divina: o amor ágape. Isto é, Incondicional. Por meio de Cristo se
esclarece a “Consciência” humana para algumas características até então
esquecidas como o amor-doação, o perdão, a reconciliação, a solidariedade, a
inclusão, a fraternidade, a misericórdia e a salvação, ou redenção. Tal
“Consciência” tão proclamada na vida e nos ensinamentos de Jesus possui duas
finalidades: tornar a sociedade
plenamente Humanizante e participante do Reino do Pai. Essa é a novidade
revolucionária do fato Cristo tão experimentado e testemunhado pelos seus
discípulos, apóstolos e disseminada até hoje.
Por
fim, podemos dizer que na História do Povo de Deus há um novo deslumbramento da
“Consciência”: é a abertura ao Espírito Santo. Esse novo elemento é dito e
transmitido por Jesus enquanto estava com os seus (Jo13,14), porém o momento
mais significativo dessa experiência é no ‘Pentecoste’ quando o Espírito Santo
desceu sobre os apóstolos (At11, 15) e fez com que eles compreendessem o
projeto do Pai pela vida, anuncio do Filho, e anunciassem para os que estavam
presente a ação amorosa de Deus. Ora, a ação do Espírito Santo na consciência
dos cristãos tem a função de esclarecer, amadurecer e encontrar o sentido
imanente e transcendente da “Consciência”. Desde modo, esta, mediada por
inspiração do Espírito Santo, tem a possibilidade de fazer a pessoa chegar a
verdade sagrada e dignificante de si (enquanto imagem e semelhança de Deus) e
alcançar os caminhos da vita
beata e das verdades eternas
da fé cristã. A ação do Espírito na
“Consciência aberta” faz a pessoa superar as limitações do tempo e espaço, isto
é, faz com que o passado seja entendido no seu significado mais sagrado e
dignificante: como ação do amor de Deus na História, busca e resposta humana na
mesma para a plena felicidade humana. Deste modo a consciência cristã
conseguiu compreender a verdade de sua história de salvação, a partir de um
fato fundamental, a presença de Jesus Cristo. O hoje foi vivenciado como
realização da promessa de plena realização da “Consciência” e o futuro ficou
como continua plenitude da mesma consciência, até seu fim salvífico, ou seja,
até a união e contemplação eterna da VERDADE, DO AMOR E DA VIDA.
Em
suma, foi na dinâmica do povo de Deus nessa relação com o Pai, o Filho, Jesus
Cristo, e o Espírito Santo, que este povo percorreu os diversos itinerário da
“Consciência” e conseguiu uma profundidade, largueza e maturidade inigualável
na sua história. A consciência do Pai é comprovada pelo Filho e a do Espírito
Santo integra essa relação e impulsiona a todos para o que ainda estar por vir.
É evidente que no Cristianismo a “Consciência cristã” teve seus percalços,
deslizes, limites e defeitos, porém tais falhas da limitação humana não impediu
o desenvolvimento e esclarecimentos da “Consciência”. O desafio é não perder de
vista esse desenvolvimento e esclarecimento para termos uma realização mais
profunda, mais humana e mais sagrada do nosso caminho e praticidade
consciencial.
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