Nos tempos
atuais participar da Eucaristia nunca foi tão bom e tão difícil para nós
Cristãos Católicos. Isso porque quando nos abrimos para compreender ou se
esclarecer sobre tal “mistério de fé” podemos, assim, nos surpreender, ou até
ficar de boca aberta, ao percebermos o que se revela nesse mistério profundo e
inacabado que Celebramos na Missa, ou melhor dizendo na Ação de Graças.
O grande
prazer que podemos ter está em ver que Jesus
todos os dias “está conosco” (O Senhor esteja convosco-Ele está no meio de
nós!) na Celebração Litúrgica, e que
desde o início da Missa, e não no momento de consagração, entramos numa relação
de diálogo, intimidade e comunhão com Cristo.
Celebramos tal
mistério porque “temos dentro de nós fome”.
Podemos ver que há dois tipos de fome: uma ruim e outra boa, uma que pode nos
destruir por completo e outra que pode nos levar a felicidade verdadeiramente.
Aquela é grande e bate a nossa porta todo o dia (fome de ter, de ser grande e
poderoso desmedidamente). São muitas e não nos saciam verdadeiramente, mas
podem até nos destruir. Porém, há fomes boas: de amor, de paz, de felicidade,
de justiça...Estas nos levam para à Felicidade.
Se temos fome
é porque precisamos de pão. Porém não é qualquer pão. O pão dos homens não
sacia por completo. Como disse Felipe à Jesus: “Duzentos denários de pão não
seriam suficientes para que cada um recebesse um pedaço” (Jo 6, 7). O pão que
nos sacia é Jesus, “o pão vivo descido do céu”(Jo 6, 51), o Pão Sagrado. Deste
modo podemos perceber que celebramos a Eucaristia porque Nela saciamos a nossa
fome (Jo 6, 12) que nos faz feliz: a fome de Deus e do seu Reino.
É na Eucaristia
que saciamos a nossa fome, pois em Jesus encontramos a mais profunda realização
do projeto de Deus. E Ele está lá, na hóstia Consagrada, por amor inefável, se
entregando e doando-se, dando a sua vida para nos dar a vida (Jo 6, 51). E de
modo gratuito. Aquele que se aproxima de
Jesus Eucarístico e comunga-o pode ter a certeza, pela fé, que está buscando a
sua felicidade verdadeira e se encontrando com quem nos ama mais que tudo. Um Deus
encarnado, e que se fez pão, que tem um coração sempre disposto a perdoar e que
quer estar conosco sempre, e que não quer perder a nenhum, e que não faz
distinção de pessoas, mas ama a todos de modo igual e com verdadeiro amor. Como
seria bom se O buscássemos sempre e motivássemos os outros a busca-lO, pois Ele
não recusa a ninguém que O procura, mas quer salvar a todos.
Deste modo,
Celebrar a Eucaristia é provar e experimentar pela fé de quem verdadeiramente
nos ama e nos quer dar tudo para sermos felizes. Pois é deste modo, além de
outros, que se atualiza todos os dias a entrega de Jesus por nós: pela
Celebração da Eucaristia. Assim poderíamos repetir como o salmista: “Ao Senhor
eu peço apenas uma coisa e é isto que eu desejo: habitar no santuário do Senhor
por toda a minha vida; saborear a suavidade do Senhor e contemplá-lo no seu
templo”(Sl 26).
Deslumbrar a
beleza do Cristo eucarístico é algo inigualável. Porém melhor e mais difícil
ainda é fazer uma comunhão mais profunda e continuadora com o Cristo
eucarístico semelhante à experiência dos apóstolos com Jesus. Os apóstolos que
viveram, ouviram, comeram e beberam com Jesus, provaram de seu amor e no anuncio
de sua presença , de seu Reino, tiveram que passar pela sua mesma sorte. Foram
presos e proibidos de fazer caridade, (boas ações e falar de paz, esperança,
justiça e libertação), pelos fariseus, saduceus e membros do sinédrio (At 5,
34-42), chegaram a ser assassinados (Atos 12, 2).
É estranho ver
cristão que não passam pela cruz e que não buscam ser um outro Cristo, que não
dão testemunho da verdade, da justiça, e não lutam pela paz e pela vida humana.
Pois a Celebração Eucarística nos chama a ser outro Cristo na nossa realidade
histórica. É estranho ver cristãos que não se importam com pessoas sendo
mortas, abandonadas, injustiçadas, exploradas e oprimidas, quando Jesus morreu
para dar nos a vida (Jo 6, 52), não
abandonou a nenhum dos que o Pai lhe deu (Jo 6, 37), fez justiça à mulher que
iria ser apedrejada (Lc 7, 36-50), e denunciou os atos errados dos grandes e
poderosos da época! É estranho ver Cristãos Católicos que pensam só eu si e
esquecem dos outros, quando Jesus nos aconselha a olhar os outros e cuidar dos
outros pobres, mendigos, presos, excluídos e desprezados (Mt 25, 34-46).
Eucaristia é
partilha e nosso desafio é partilhar a vida para dar mais vida; Eucaristia é
amor sem limites, e nosso desafio é fazer o mesmo que o mestre; Eucaristia é
perdão de Deus para conosco, e nosso desafio é perdoar como o Pai nos perdoa;
Eucaristia é paz, e nosso desafio é lutar pela paz no mundo; Eucaristia é vida,
e nosso desafio é lutar pela vida, seja qual for, ou de quem for; Diante da
Eucaristia somos todos iguais, nosso desafio é tratar os outros de forma igual
(Somos irmãos e Filho do mesmo Pai); Eucaristia é dignidade humana pelo amor de
Deus, nosso desafio é dar dignidade ao outro pelo mesmo amor divino; Eucaristia
é união, e nós somos desafiados a ser unidos; Eucaristia é contrária à morte, à
violência, à exploração, à divisão, à opressão, à injustiça, ao egoísmo, à
luxuria, à vaidade, à superioridade, à prepotência, ao abuso, ao desrespeito, à
qualquer tido de maldade contra a si e contra o próximo.
Por isso e
muito mais a Eucaristia é o
mais belo e perigoso seguimento de Cristo. Não podemos esquecer que somos
chamados a ser outro Cristo por completo, pois para isso que Ele fez o que fez,
para sermos sua imagem e semelhança. Essa experiência é antiga e atual, e exige
de nós dar testemunho do ressuscitado. Se Cristo não vive em nós então ainda
não entendemos o mistério que tanto celebramos cotidianamente. E Ainda não nos
abrimos por completo para o verdadeiro, profundo, apaixonante e exigente
significado da Eucaristia. Após a Celebração Eucarística começamos nossa missão,
de ser sal e luz do mundo (Mt 5,13-16), de sermos templos vivos do Espirito Santo.
Tal Santo Espírito não nega a o Filho de Deus, mas dá testemunho do Pai e do
Filho. Que Deus nos ilumine para sermos continuadores de Jesus e nos der
coragem para testemunhar tal mistério na vida.
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