quarta-feira, 6 de junho de 2012

Lógica e suas implicações conceituais, de objeto e silogística


Isaias Mendes Barbosa

RESUMO
O presente artigo trata da lógica e a variação heurística e hermenêutica do conceitono decorrer da história e sua fundamentação no silogismo aristotélico e sua relação com o silogismo dos medievais. Quando inteligimos sobre algo, fazemos inferência, quando inferimos expomos um juízo a cerca de determinada coisa. Porém, quando estamos fazendo um enunciado com inferências, produzimos o que chama-se de argumento. Em lógica o silogismo nada mais é que uma organização e formatação de um argumento em premissas e conclusão, afim de definí-lo como correto, coerente ou não. Essa definição se faz em confronto com as regras silogísticas.  Através da análise da obra Aprendendo lógica, dentre outras pertinentes a área pesquisada, este trabalho propõe-se fazer uma exposição da lógica, acerca dos seguintes pontos: a) o que significa lógica?; b) o objeto da lógica; c) o silogismo e suas regras de validade aristotélica e; d) as regras de silogismo medieval. As questões da presente pesquisa apontaram assim para a compreensão de lógica como inferência formal válida, que trata das formas de pensamento, da linguagem descritiva do pensamento, das leis de argumentação e raciocínio corretos, dos métodos e dos princípios que regem o pensamento humano. Sua utilidade na contemporaneidade é de salutar importância para compreensão da estrutura lógica de nossa produção de realidade.

Lógica. Conceito. Objeto. Silogismo.


INTRODUÇÃO
Falar sobre lógica na atualidade tornou-se comumente conceito desinteressado, tanto pela complexidade do tema, como pelo pouco conteúdo que temos na língua portuguesa. É explícito que, no mundo acadêmico, poucos têm interesse na disciplina e poucos vêm utilidade, fundamental, da lógica na contemporaneidade. Se o questionamento é: existe uma relação precisa da lógica, compreendida desde sua gênese, com temas cotidianos, ou que envolva os assuntos pertinentes e atuais?! Pode- se responder que sim, existe! Normalmente todo nosso meio está rodeado por uma produção de coisas que estão contidas em uma estrutura lógica. A dificuldade atual é conseguir ver a relação dos conteúdos interdisciplinar,com a realidade, que tanto abordam a forma de compreender a lógica de cada coisa, como a forma por onde essas coisas se relacionam numa estrutura coerente. Porém, pode-se dizer que um campo no qual expomos, apresentamos, analisamos, raciocinamos, inteligimos, fazermos relação e inferimos algo sobre e estrutura e lógica de cada coisa, é na argumentação. Esta utilizasse da linguagem para poder ser enunciada. Daí, o objeto pelo qual se pode trabalhar em lógica, e é exclusividade da lógica, na sua forma de atuação e apresentação sobre diversas realidades é a linguagem.
No presente artigo pretende-se apresentar alguns por menores acerca da lógica, como sua significação no percurso da história e sua relação com o argumento. Daí pretendeu-se tanto conhecer um pouco sobre esse conceito (lógica) não muito simples de ser explorado, e definido, como apresentar o objeto da lógica e sua representação lingüística, na frase, e no argumento, até fazer um balanço sobre as regras silogísticas de Aristóteles e sua relação com as regras medievais. Espera-se aqui apresentar algumas noções a cerca da lógica, para melhor clarificá-la e tentar dar luzes a novos seguimentos no que compete a realidades que envolvem a lógica. Vários autores foram explorados afim de tentar ter uma noção mais completa a cerca do assunto.


O QUE SIGNIFICA LÓGICA?

Lógica essa palavra é muito utilizada cotidianamente. Normalmente no vocabulário popular ela vai ter uma conotação de ‘óbvio’, ou ‘sentido’, ou ‘coerência’ diante de determinado assunto, ou frase. Quando dizemos que algo é lógico, afirmamos que segue uma das três conotações citadas. Porém a nível acadêmico exigi-se uma definição mais precisa que destaque a originalidade da palavra e seu sentido. Daí, entender a etmologia da palavra, sua heurística e hermenêutica, no decorrer da história, é uma das dificuldades que se apresenta na tentativa de se ter uma definição precisa a cerca do significado de lógica, uma vez que no decorrer da história o termo citado é variável de significado.Porém, isso não exclui a tentativa de a destacarmos como se caracteriza, e se entende seu sentido, de acordo como alguns autores sobre essa temática.
Para Ernst Tugendhat a compreensão do que seja o significado da palavra lógica é múltiplo de sentidos, devido a palavra ter sido concebida “sob vários aspectos, ora de um modo mais amplo, ora de um modo mais restrito”. Para entender as considerações a cerca da lógica é essencial avaliar o seu percurso histórico. Tugendhat divide o período da lógica em três (p.9-10): a) período antigo; b) período moderno; e c)o período da lógica matemática, ou logística.
O primeiro período se define por onde ela se formou, portanto, na Grécia, a partir de Aristóteles, Sec. IV, e se estende até a Idade Média. Sua concepção está determinada pela investigação ontológica (ser), da realidade, ou do mundo. A lógica desse período se orientou pelos escritos de Aristóteles reunidos sob o nome de Organon[1].Em Aristóteles não houve um conceito unitário que preenchesse toda extensão da lógica, porém, pode-se caracterizá-la, no escrito Analytica Priora, de forma objetiva, como “teoria da inferência formalmente válida”.[2]É importante afirmar que nesse período são destacadas três escolas importantes, segundoVicente Keller e Cleverson L. Bastos (2002):
Destaca-se neste período o que se pode chamar de três grandes escolas: a dialética sofista, a lógica aristotélica e a lógica megáricoestóica. A dialética sofista “destrutiva” é transformada em dialética construtiva por Platão, que tem o mérito de abrir o caminho para a sistematização aristotélica, que se opõe à escola megárico-estóica [...](KELLE; BASTOS, 2002, p.17)
            Em fim, esse período irá caracterizar a lógica referente ao seu aspecto ontológico, apesar de ser possível também encontrar elementos lingüísticos e conteudísticos, com que a lógica aristotélica trabalha. A estrutura da lógica estará atrelada a concepção de ‘frase enunciativas’ que Aristóteles define, no enunciado, como necessariamente composta de um sujeito e um predicado. Sem esses dois elementos, não se tem uma fraseapofântica(no português: frase anunciativa) e muito menos uma proposição onde se inferi algo.A frase apofânica é diferente das demais frases porque dela se inferi um juízo dentro da possibilidade do verdadeira ou falso.
O entendimento acercada lógica moderna inicia-se com a lógica de Port-Royal[3]. Ela está ligada a aspectos do conhecimento e da psicologia. Ou seja, seus aspectos de avaliação,de inferência, estãorelacionados com o sentido das premissas e sobre o juízo que se faz dela. Neste sentido a inferência está determinada a partir de uma subjetividade, pois parte a concepção do sujeito que infere. Seu período é improdutivo, comparado com o primeiro período, e com as concepções a cerca do termo lógica no seu sentido mais consistente. Seu ponto de foco está nas leis da linguagem. Na concepção de Port-Royal a lógica define-se como “a arte de bem guiar a razão”. Neste sentido ela é uma “arte de pensar melhor e não como teoria, é uma disciplina prática”[4].Com acréscimo a isso Kant a define como “ciência das leis necessárias do entendimento e da razão em geral”.Vê-se, ou entende-se, nesta expressão, aspectos psicológicos, apesar de Kant refutar essa idéia, firmando que o entendimento  tem uma atividade objetiva. Enfim, para os lógicos desse período a lógica é concebida como “teoria do pensamento correto”.
O terceiro período é o da lógica atual, começando por Frege, suas características estão relacionadas na base de cálculos matemáticos e símbolos que são relacionados. Neste aspecto o conteúdo lógico não faz diferença com a forma estrutural de inferência. A utilidade de elementos simbólicos e cálculos matemáticos não entram em questão com conteúdo em si, mas apreende a própria forma que classifica uma estrutura argumentativa ser lógica ou não. Neste sentido, a lógica também é composta por elementos aritméticos a partir das leis da lógica.
Para Guido a lógica é “Uma ciência formal, não conteudística.” Neste sentido ele se aproxima mais da concepção da lógica a cerca do terceiro período. Daí, a inferência não trata acerca do que está inserido na forma logística. Oque é assertivo em questão é a validade de uma premissa.Assim, se descarta a concepção psíquica que foi elemento forte, porém pouco produtivo pra lógica, no período moderno.
CLeverson e Vicente(2002, p.15) assim define uma compreensão do que se entende por lógica: “lógica é a disciplina que trata das formas de pensamento, da linguagem descritiva do pensamento, das leis de argumentação e raciocínio corretos, dos métodos e dos princípios que regem o pensamento humano”.Essa apreensão está ligada ao elementos que compõe boa extensão do termo lógica no seu desenvolvimento histórico.
Por fim, é explícito que uma única definição sobre lógica é algo impossível de se firmar. Conforme o tempo, a partir de Aristóteles, a lógica foi ganhando modalidades e formas diversas. Isso apesar de tornar seu conceito complexo, é fruto de uma riqueza que se constrói a cada dia. Não se pretende fechar o assunto. Más, compreende-se que atualmente a lógica além de ser concebida como princípio de inferência formal válida, na medida em que essa se baseia em um juízo; sistema de todas as inferências válidas; arte de guiar a razão; de pensar melhor; ciência das leis necessárias do entendimento e da razão; teoria do pensamento correto; estrutura sistemática do pensamento matemático;ciência formal, não conteudística; disciplina que trata das formas do pensamento, da linguagem descritiva, do raciocínio; leis de argumentação e raciocínio correto e inferência dedutiva, dentre outras, está atualmente expressando algo que o homem intelige, independente de ser verdadeiroou falso, confirmado ou negado, no espaço em que ele se encontra. Por fim, pode-se dizer que a lógica, apesar de ter se apresentado na filosofia, é anterior a mesma. E atinge toda realidade pela qual o homem procura entender, inferir, argumentar, deduzir, explanar.


O OBJETO DA LÓGICA

Na nossa comunicação cotidiana utilizamos de elementos linguísticos, dentre outros, para expressar nossos pensamentos, nossos raciocínios, nossa compreensão a cerca dos diversos tipos de realidades, ou pelo menos o que se subentende da mesma. Na atividade intelectiva, ou do juízo, a que afirmamos ou negamos determinado predicado em relação com um sujeito, fazemos inferências[5].Para inferir utilizamos deuma cadeia argumentativa cuja função resuta najustificação do inferido. Daí,esses dois elementos (inferência e argumento) são objetos tratados na lógica (Cf. SALMON, 1978, p.13).
Salmon(p.22) afirma:“Inferir é uma atividade psicológica; [inferir] consiste em obter uma conclusão a partir da evidência, consiste em chegar a certas crenças e opiniões à custa de outras” (acréscimo nosso).A inferência, semelhante à argumentação, abrange uma opinião, crença, ou juízo, a cerca de determinado assunto, a partir de evidências, que numa estrutura de conexão conduz a uma conclusão.Por exemplo: Thiago vinha mais um amigo por uma rua larga e encontra um tênis de esporte no chão. Logo afirma: trata-se de um jogador de basquete! O amigo pergunta: como você sabe? Thiago declara: O tênis grande de esporte é de esportistas com pé grande, esportistas com pés grandes são altos, esportistas autos são jogadores de basquetes.Logo, o tênis grande de esporte é de jogador de basquete. Nesta situação Thiago fez uma inferência ao firmar que ‘o tênis grande de esporte é de jogador de basquete’. Essa inferência se deu pelas evidências argumentativas: 1) tênis grande de esporte é de esportistas com pé grande, 2) esportistas com pés grandes são altos, 3) esportistas autos são jogadores de basquetes. Portanto, uma inferência consiste numa linha de raciocínio, em que se apresenta relação de uma premissa com outras e através dessas evidências se chega a uma determinada conclusão.
Keller e Bastos afirmam:
Raciocinar é inferir, ou seja, passando que já se conhece de algum modo ao que ainda não se conhece completamente ou parcialmente. Este processo mental é usado não só para atingir coisas novas, mas também para sustentar posições anteriormente conquistadas, ou ainda para aprofundá-las. ( KELLE;BASTOS, 2002, p.44)
            A partir dessa citação podemos fazer semelhanças como exemplo anterior. Notemos que Thiago inicia com a premissa 1) tênis grande de esporte é de esportistas com pé grande. Depois disso vai fazendo relação com outras premissas até chegar a uma conclusão que a princípio não se tinha antes de fazer inferências: Logo, o tênis grande de esporte é de jogador de basquete.
Sobre argumentos (objeto de estudo da lógica) afirma Salmon:
Os argumentos são via de regras elaborados com o fito de convencer, e esta é, realmente, uma de suas importantes e legítimas funções.A lógica não se interessa, no entanto, pelo poder da persuasãoqueos argumentos possam ter.[...] O que a lógica procura é estudar o tipo de relação que pode existir entre a evidência e a conclusão.(SALMOM, 1978, p.15)
Quando inferimos algo estamos fazendo uma afirmação ou negação, estamos produzindo um enunciado, neste exige-se um argumento, que pode se relacionar com outros enunciados. O argumentoconsiste na evidência do enunciado com a elevação do mesmo a uma conclusão. Como citou Salmon, o caráter de persuasão, no argumento, não importa à lógica, Mas sim a estrutura argumentativa a que se justifica a afirmação, ou inferência, ou enunciado (Cf. SALMO, 1978, p17).
Porém, há uma relação intrínseca entre inferência e argumento:
Há um estreito paralelismo entre os argumentos e as inferências. Tanto os argumentos como as inferências abrangem evidência e conclusãoque se acham, de algum modo, relacionadas. A grande diferença está nisto: um argumento é uma entidade linguística; uma inferência não o é. (SALMO, 1978, p.22)
            A partir da citação vemos a relação entre inferência e argumento. A inferência remetesse a atividade do raciocínio, que faz relação e conexão entre premissas chegando a uma conclusão. Anunciar a conclusão, ou o caminho percorrido, as evidências, até chegar numa conclusão, utilizando de métodos linguísticos, é o que se denomina de argumento.
            Os argumentos podem serindutivos oudedutivos. Os argumentos indutivos partem de um caso particular para supor, ou inferir, um caso geral. A argumentação indutiva trabalha com inferências que são prováveis. Na ciência ela é muito utilizada, daí, através de alguns dados particulares ela chegar à concepção generalizada, universal. Um exemplo disso é as três leis de Newton[6], elas são úteis para inferir o que acontece aos objetos quando estes variam de trajetória numa velocidade constante, quando sofrem uma força em determinada direção, ou quando se chocam com outro objeto. Para cada caso Newton formulou uma lei, entretanto para formular as leis ele não precisou fazer experimentos na terra toda, más só em determinadas áreas. Este método indutivo não é seguro porque não garante 100%o que se infere num caso particular como o que se infere em casos universais, ou seja, as três leis formuladas por Newton não garantem a mesma relação com os objetos nos três casos tanto fora da terra como dentro dela, ou em sua realidade micro.
Já o argumento dedutivo é o mais coerente e mais aceito na lógica. Ela parte da análise de casos universais, totalitários para se chegar a casos particulares. Como afirma Keller e Bastos, a argumentação dedutiva:
É a operação própria da inteligência que consiste eminferir uma consequência a partir de ponderações anteriores, que se chamam antecedentes. Diferentemente da indução, ela tem a pretensão de não ficar na probabilidade porque parte de princípios gerais evidentes por si. Inferir é tirar um enunciado ou levar a um enunciado a confirmação a partir de outros. (KELLE; BASTOS, 2002, p.47)
            Quando se formula um argumento e se infere uma relação com premissas que partem de uma extensão universal para uma conclusão de extensão particular a possibilidade de segurança e validade é grande, uma vez que o caso precedente que é particular já está contido no antecedente universal por si mesmo. Assim, a parte já está no todo. Assim se um argumento dedutivo é correto, as premissas sustentam de modo completo a conclusão, sendo esta de extensão menor, ou igual à premissa universal.
Quanto a correção e incorreção dos argumentos é importante frisar o que Salmon diz quanto ao argumento dedutivo: “ I. Se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão deve ser verdadeira. II. Tôda a informação ou conceito fatual da conclusão já estava, pelo menos implicitamente, nas premissas.”. Já quanto ao argumento indutivo ele expressa: “I. Se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão é provàvelmente verdadeira, mas não necessàriamente. II.A conclusão encerra informação que não estavam, nem implìcitamente, nas premissas”(Cf. SALMON, 1987, p.30).
O argumento dedutivo é mais utilizado da lógica formal. A análise lógica sobre um argumento dedutivo se apresenta de acordo com quatro princípios básicos: a) Princípio da Identidade; b) Princípio da Tríplice identidade; c) Princípio de Contradição e d) Princípio de Exclusão do Terceiro Termo.
O princípio de identidade é de caráter ontológico. O que é é. Neste caso existe uma identidade de uma coisa consigo mesma. Ele afirma as propriedades de uma coisa. Quando pensamos, deduzimos, conhecemos, estamos dando identidade ao objeto tratado. Por exemplo: se eu afirmo que X é Xnão estou fazendo uma relação de igualdade entre duas letras, ou conceitos, mas estou dando identidade ao conceito. Daí. Estou afirmando que X é o mesmo definido (: X). Portanto não se trata de relação de iguais, mas de identidade, pois estou identificando o primeiro com o segundo.
O princípio de tríplice identidade é a relação de identidade entre duas coisas a uma terceira. Afirmando-se que T é semelhante aY, assim como P é semelhante a Y, posso inferir que T é P, uma vez que os dois têm algo em comum Y.  Assim expressa Keller e Bastos: “Duas coisas idênticas a uma terceira são idênticas entre si, na medida e no aspecto em que são idênticas à mesma terceira” (Cf. KELLE; BASTOS, 2002, p.47).
            O princípio de contradição é de caráter ontológico e modal. Uma coisa não pode ser e não-ser ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Se dissermos que uma coisa é(ser) e a negamos(Não-Ser) no mesmo instante, e aspecto, então não dizemos nada. Segundo Ernst:
O princípio da contradição não é uma lei sobre a realidade; a necessidade que ele expressa se funda no significado de nossas expressões verbais, especialmente no significado de duas expressões “não” e “é’, e no significado da forma da predicação.[...] A frase “Se alguém é solteiro, ele não é casado” é necessariamente verdadeira independentemente de se há ou não solteiros; e o princípio da contradição é necessariamente verdadeiro independentemente do fato de se poder ou não fazer enunciados sobre algo. Só que: Se um ser na realidade é solteiro, então ele não pode ser casado; e se é possível fazer um enunciado sobre algo, então não se pode fazer o enunciado oposto sobre este algo.( TUGENDHAT, 1997, p.53)
Contudo o princípio da contradição está limitado pelas próprias definições do enunciado. Na visão aristotélica o princípio de não contradição está referente ao predicativo do sujeito, uma vez que só podemos inferir algo sobre o objeto, ou sujeito explorado.
            O princípio de exclusão do terceiro termo está em relação com o princípio de contradição. Ele afirma que entre o ser e seu oposto contraditório não pode haver meio termo. Ou uma premissa, ou inferência é verdadeira, ou é falsa. Ou é universal, ou particular, uma terceira possibilidade não pode haver. Portanto, quando levantamos um juízo a cerca de determinada coisa, só existem duas possibilidades extremas, ou é, ou não é. O meio termo entre esses não pode ser inferido.     

SILOGISMO E SUAS REGRAS DE VALIDADE ARISTOTÉLICA

Na Logica: os jogos da razão Imaguire aborda sobre o silogismo dizendo: “A lógica de Aristóteles é chamada de lógica silogística ou simplesmente silogismo. [...] A base da silogística é a dedução de uma conclusão a partir de duas premissas”(Cf. IMAGUIRE, 2006, p.73). A lógica dedutiva apareceu de modo claro e definido com Aristóteles, ela é apresentada no argumento a fim de defini-lo como válido. Salmon assim falou sobre o silogismo:
Silogismo categórico (que, por comodidade, chamaremos, simplesmente, “silogismos”) são argumentos formados com enunciados categóricos. Todo silogismo tem duas premissas e uma conclusão. Embora cada enunciado categórico tenha dois termos, um termo sujeito e um termo predicado, o silogismo só possui três termos distintos. (SALMON,1978, p. 57)
            De modo análogo podemos inferir que silogismo é uma cadeia argumentativa composta por duas premissas caracterizada como ‘premissa maior’, a premissa que contem termo de maior extensão, e ‘premissa menor’, a premissa que contem o termo de menor extensão comparado com a premissa anterior. Na relação entre as duas premissas é que se tira uma conclusão também denominada de consequente[7]. Daí, a validade e correção do silogismo estão na relação das premissas, ou proposições, com a conclusão.
            Cada premissa é composta por um sujeito, um verbo (cópula) e um predicado. Porém, pra que se tenha uma conclusão é necessário seguir a relação da tríplice identidade, ou seja, “é necessário que dois termos sejam iguais a um mesmo terceiro” (Cf. KELLER; BASTOS, 2002, p.49). Assim, num silogismo é necessário que se tenha dois termos extremos: sujeito (S) e predicado (P) e um termo médio (M) comum aos dois termos extremos. Por questão de didática, vejamos um exemplo:
  (M)              (P)
Todo homem é sábio (Premissa Maior)
 (S)          (M)
Pedro é homem­­­­­­­­­­­­­­­(Premissa Menor)
            (S)             (P)
Logo, Pedro é sábio.
            Este silogismo está em conformidade com o exposto acima, uma vez que a primeira premissa é maior, pois tem mais extensão que a segunda. Nas duas premissas encontramos os três termos: homem, sábio e Pedro. O homem é característico do sujeito, o sábio é característico no predicado, o é (ser) é um verbo de ligação, ou cópula. Os dois termos extremos Pedro e sábio estão relacionados como algo comum: homem. Assim os dois termos extremos estão em identidade com o terceiro termo: homem.
            As proposições destacadas por Aristóteles variam em quatro conectivos possíveis. Esses quatro conectivos são o resultado da aplicação simultânea de dois critérios que usamos para classificar as proposições: quantidade e qualidade[8]. Assim, de acordo com as classificações temos as quatro modalidades de proposição, que não varia de acordo com os termos inseridos. Para facilitar a compreensão vamos colocar as figuras de identificação de cada premissa de acordo como fez a tradição. As proposições são: Todo (sujeito) é (predicado), sigla A; Algum (sujeito) é (predicado), sigla I; Nenhum (sujeito) é (predicado), sigla E, e Algum (sujeito) não é (predicado), sigla O. No sentido de qualidadea duas primeiras proposições são afirmativas (de AfIrmo) e as duas últimas negativas (de nEgO). No sentido de quantidade as preposições A e E são universais, enquanto que as I e O são particulares.
            De acordo com cada premissa os termos internos também terão uma relação de distribuição e/ou não distribuição:
Todo (sujeito/Distribuído) é (predicado/Não-Distribuído) (A)
Algum (sujeito/Não Distribuído) é (predicado/Não-Distribuído) (I)
Nenhum (sujeito/distribuído) é (predicado/Distribuído) (E)
Algum (sujeito-não distribuído) não é (predicado/Distribuído) (O)
            Daí, das quatro premissas acima resolutamente podemos inferir que na sigla Aapremissa é universal, porque começa com todo, Afirmativa, porque confirma o sujeito no predicado. Ela contém o sujeito Distribuído e o predicado Não-Distribuído.Na sigla I a premissa é particular, porque se refere a parte(algum), e afirmativa, porque confirma o sujeito no predicado. Ela contem sujeito Não-Distribuído e predicado Não-Distribuído. Na sigla E a premissa é universal, porque se refere a nenhum, e negativo por na expressão ‘nenhum’ está contida a negação. Logo, na premissa o sujeito é Distribuído assim como o predicado. Na sigla O a premissa é particular, pois se refere à parte, e negativa, pois separa parte do sujeito do predicado. Ela tem um sujeito Não-Distribuído e o predicado Distribuído.
            Contudo, para saber se um silogismo é válido, basta seguir as três regras de Aristóteles:
I.     O termo médio deve está distribuído exatamente uma vez.
II.    Nenhum termo extremo pode estar distribuído apenas uma vez.
III.    O número de premissas negativas deve ser igual ao número de conclusões negativas.
            A primeira regra indica que o silogismo em que duas premissas se relacionam, uma delas deve ter o termo médio distribuído. Porém, quando nas duas premissas o termo médio é universal e distribuído o silogismo se torna incorreto, ou seja, não válido. Caso ele não seja distribuído nenhuma vez o silogismo também é não válido.
            Na segunda regra temos que, nas duas premissas que se relacionam os termos extremos, estes devem ter extensão igual resultante na conclusão. Se por acaso um dos termos extremos estiver na premissa e não na conclusão, o silogismo se torna inválido.Inversamente falando, se um dos termos extremosestiver na conclusão e não nas premissas o silogismo se torna inválido.
            Na terceira regra é possível apenas uma premissa negativa, ou uma afirmativa, pois dessa forma a conclusão segue sempre a mesma quantidade de premissas negativas que no antecedente. Um silogismo com duas premissas afirmativas deve não ter conclusão negativa. Guando, no sentido inverso, o silogismo apresentar duas premissas negativas a conclusão não dá de conta da quantidade de premissas, uma vez que na conclusão só pode haver uma premissa negativa. Vejamos o exemplo em que podemos fazer conferir o sistema de regras aristotélicas:
a)    Todas as cobras são répteis,
Algumas animais perigosos são cobras
  Logo, Alguns animais perigosos são répiteis
            Analisando o silogismo a cima podemos inferir, de acordo com as regras aristotélicas: o silogismo contem três elementos de extensão. O termo cobra é considerado o termo médio. O termo répteisé o predicado da primeira premissa. Este termo é extremo e particular, portanto, Não-Distribuído.A expressão animais perigosos é de termo extremo particular, portanto, Não- Distribuído.  O termo médio cobra está Distribuído somente uma vez e na primeira premissa. Na segunda premissa ele é Não-distribuído. Portanto, quanto a primeira regra,ele está válido. Os termos extremosrépteis e animais perigosos estão distribuídos de forma igual conforme na conclusão, ou seja, se na primeira premissa ele é Não- Distribuído, na conclusão segue a mesma coisa. Por conseguinte, se na segunda premissa ele é Não-Distribuído, na conclusão está de modo igual. Portanto, segundo a regra dois, o silogismo está válido. A primeira premissa é afirmativa, a segunda também, se o número de negação na conclusão segue a mesma quantidade que nas premissas, então a conclusão está correta, pois como não tem nenhuma negação nas premissas não é pra ter nenhuma negação na conclusão. Daí,segundo a terceira regra,o silogismo está válido. Ele também é válido porque as duas premissas com a conclusão são verdadeiras.


REGRAS DE SILOGISMO MEDIEVAL

            Conforme se passou o tempo histórico, as regras silogísticas de Aristóteles tiveram algumas novas adaptações. Uma vez que havia casos em que ela não dava de conta de resolver. O período medieval é característico dessas mudanças. Houve mudanças em que os princípios inferidos por Aristóteles foram modificados e adaptados pelos escolásticos, ganhando nova formulação (Cf. IMAGUIRE, 2006, p. 80). Porém, aqui me detenho nas oito regras silogísticas apresentadas por Keller e Bastos (2002, p. 53):
1ª Todo silogismo contém somente três termos: maior, médio e menor.
2ª Nunca, na conclusão, os termos podem ter extensão maior do que nas premissas.
3ª O termo médio não pode entrar na conclusão.
4ª O termo médio deve ser universal ao menos uma vez.
5ª De duas premissas negativas, nada se conclui.
6ª De duas premissas afirmativas não pode haver conclusão negativa.
7ª A conclusão segue a premissa mais fraca.
8ª De duas premissas particulares, nada se conclui.
            Assim, qualquer argumento para ser válido precisa ser reduzido à forma do silogismo e confrontado com as oitos regras acima. A seguir vamos esboçar alguns esclarecimentos acerca das regras.
            Todo silogismo contém somente três termos: maior, médio e menor. Essa primeira regra explana as exigência necessárias para que se tenha um silogismo. Como sabemos o silogismo é composto por duas premissas (maior/menor) definidas como antecedente, e uma conclusão, como consequente. Na relação entre as premissas, a apresentação de três termos (maior, médio e menor) é algo necessário para se ter uma conclusão. Daí, o termo de maior extensão precisa está ligado ao menor por um elemento em comum: o termo médio. Aqui encontramos a relação de tríplice identidade. Fazendo uma relação com Aristóteles, podemos dizer que essa regra não altera, ou interfere nas três regras aristotélicas. É importante salientar que quando na relação entre premissas houver mais, ou menos, que três termos extensivos não é possível fazer uma estrutura lógica correta.
            Segunda regra: Nunca, na conclusão, os termos podem ter extensão maior do que nas premissas. É sabido que em cada proposição está contida dois termos de extensão, ou particular, ou universal. Neste caso tanto o sujeito da proposição pode ser universalmente extensivo, ou particularmente extensivo, como o predicado pode ser, quanto à extensão, particular ou universal. Essas definições irão depende das quatro conexões que se limita na preposição. Há caso que é preciso ter uma compreensão da frase, ou de como se está referindo a extensão do termo para pode adaptá-lo, ou organizá-lo numa das conexões do silogismo.  Por exemplo, quando digo que “Pedro é inteligente” pode-se questionar: a extensão de Pedro é universal ou particular?!Neste caso podemos inferir que Pedro é universal, pois se refere à totalidade de um único indivíduo (Pedro). Se ela se refere a um todo-induvíduo, então a premissa é universal. Para melhor esclarecê-la podemos modificá-la para essa forma: “Todo o Pedro é Inteligente”, ou este Pedro é inteligente, logo a premissa é Universal afirmativa, definida pela sigla A.
            Continuando com o raciocínio, sendo cada termo composto por uma extensão determinada é importante e necessárioque a conclusão tenha a mesma, ou menor, quantidade de extensão que nas premissas, com exceção do termo médio, que não pode aparecer na conclusão.  Neste caso, sendo numa premissa que contenha um dos termos extremos com extensão maior que na conclusão, o silogismo é aceito como válido. Pois a extensão do termo na conclusão estava inserida, ou contida em parte da extensão do termo da premissa. Por exemplo: o silogismo: Todo homem é sábio, Todo sábio é criativo, Logo, Algum homem é criativo. Esse silogismo é correto, segundo essa segunda regra. A extensão do termo homem é universal na primeira premissa, mas na conclusão ele é particular. Daí, segundo essa regra a conclusão pode ter extensão menor que na premissa, porém não pode ser maio que nas premissas. Neste caso a conclusão está dessa forma por conversão. Mesmo assim ela é aceita com válida. Essa regra se assemelha a segunda regra de Aristóteles, porém ela quebra a regra de Aristóteles, porque ele só propõe a extensão de termos, na conclusão, de quantidade igual que nas premissas e não de quantidade (particular, ou universal) inferior que nas premissas.
            Na terceira regra: O termo médio não pode entrar na conclusão. Aregra é conseqüência inversa da segunda regra, pois se os termos extremos devem estar na conclusão de forma igual, inversamente, o termo médio não deve está na conclusão. No caso, o termo médio tem a utilidade de fazer a interligação dos termos de uma premissa com a outra na conclusão. Por isso o termo médio é idêntico em comum a dois termos diferentes (maior e menor).
            O termo médio deve ser universal ao menos uma vez, e as quatro restantes regem as relações entre as premissas.Essa regra ajuda na precisão dos termos. Tendo um dos termos médio universal ele será usado para que possa ser aplicado as partes.Se ele for particular nas duas proposições o processo de dedução não será completo. Vejamos o exemplo: Algum homem é fraco, Algum forte é homem, Logo, Algum forte é fraco. Estamos diante de uma equivocidade. O termofracoda primeira premissa é parte do termo homem. Na segunda premissa o termo homem é parte do forte. O equivoco se refere a não poder determinar na conclusão se refere à parte do homem fraco ou do forte homem, ou seja o termo homem se refere a dois significados diferentes. Aqui se refere a 4 termos: homem fraco, fraco, forte e forte homem. Essa regra quebra a primeira regra aristotélica, pois esta afirma que obrigatoriamente o termo médio deve ser distribuído uma vez, ou seja deve ser universal uma vez.
            De duas premissas negativas, nada se conclui. Quando se argumenta e faz relação com as premissas, se está dando identidade aos elementos. Assim as premissas se complementam porque nelas há algo que as identificam. Quando as duas premissas fazem uma afirmação negativa, não há uma identificação dos dois termos com um terceiro. Daí, não é possível fazer conclusão alguma. Quando há negação nas duas premissas, há uma infração no princípio da tríplice identidade. Essa regra está de acordo com a terceira regra Aristotélica, só que no sentido inverso.
            De duas premissas afirmativas não pode haver conclusão negativa. Essa regra está de acordo com a lógica entre as relações com as premissas e a conclusão. Se nas premissas se tem uma afirmação, a conclusão, que deriva das premissas, deve ser afirmativa. Essa é a inversa da terceira regra de Aristóteles, pois se a quantidades de premissas negativas deve está em conformidade na conclusão, então, se não há premissa negativa, ou seja, todas são afirmativas, a conclusão não pode ser negativa, ou seja, é preciso uma conclusão afirmativa.
            A conclusão segue a premissa mais fraca. A sétima regra referisse a relação de oposição entre as premissas. Nesta relação a qualidade de negativo é mais fraco que a afirmativa. Por conseguinte a quantidade particular é mais fraca que a universalizada. Por isso, uma proposição universal negativa é mais fraca que uma particular afirmativa. Daí, a conclusão deve ser negativa, quando o antecedente for negativo, e particular, quando o antecedente for particular.
            De duas premissas particulares, nada se conclui. O argumento dedutivo é a passagemde uma inferência geral para uma particular.  Daí é importante uma das premissas serem universal, independente da verdade ou falsidade da premissa. 

CONCLUSÃO

Contudo a lógica é uma inferência formal válida, arte da razão, disciplina que trata das formas de pensamento, da linguagem descritiva do pensamento, das leis de argumentação e raciocínio corretos, dos métodos e dos princípios que regem o pensamento humano.Essa apreensão está ligada aos elementos que compõe boa extensão do termo lógica no seu desenvolvimento histórico. Seu objeto é a argumentação (dedutiva e indutiva), que está limitada a linguagem. Para firmar se um argumento está corretamente coerente e lógico é preciso decodificá-lo a um silogismo e confrontá-lo com as regras de validade. Daí entra as regras aristotélicas e medievais como embasamento de validade de um silogismo argumentativo.
Por fim, é importante frisar que nossa realidade é composta por elementos lógicos. Neste sentido a lógica é importante como técnica que podem abstrair a estrutura formal de nossas realidades, produzidas na contemporaneidade, e incuti-lhe juízo quanto à coerência ou não coerência de sistema formal. Em tudo está contido um sistema de regimento que podemos analisar e defini-lo como coerente, lógico, ou não, pela técnica da lógica. Os carros têm formas lógicas de sistema de função, as empresas têm sistemas de gerenciamento, os professores têm um sistema de pedagogia, um filme contém uma forma de apresentação e a humanidade produz realidades de acordo com um sistema preciso em determinado contexto, cabe a lógica analisar, inferir, deduzir, e raciocinar, avaliar se esses sistemas de produção social estão ordenados adequadamente, ou se não poderiam melhorar e qualificar a vida do homem.
        

REFERÊNCIAS

IMAGUIRE, Guido. Lógica: os Jogos da Razão. Fortaleza, Edições UFC, 2006.
KELLE, Vicente; BASTOS, L. Cleverson. Aprendendo Lógica. 10ª Ed.Editora Vozes, 2002.
SALMON, Wesley C. Lógica. Rio de Janeiro, 4ª ed. Zahar editores.1978.

TUGENDHAT, Ernst; WOLF, Ursula .Propedêutico Lógico- semântica.Rio de Janeiro, Editora Vozes,1997.



[1] Conjunto de escritos lógicos de Aristóteles. São eles: 1) Categorias, 2) De Interpretatione, 3) Analytica priora, 4)AnalyticaPosteriora; 5) Topica e 6) De SophisticisElenchiis.
[2] (Cf. TUGENDHAT; WOLF, 1997, p.12)
[3] Com essa lógica há uma relação de conexão entreo juízo que o indivíduo faz das coisas e a relação entre de unidade e separação, afirmação e negação que se pode fazer entre as frases enunciativas, tanto no que se refere ao sujeito como ao atributo.
[4] (Cf. TUGENDHAT; WOLF, 1997, p.11)

[5] Inferir pode se subtender o processo da inteligência que organiza os dados no pensamento afim de, na relação entre os mesmo, obter uma conclusão válida.
[6] Filósofo, geômetra, matemático, dentre outras qualidade. Newton foi o autor das três leis que fundamentaram a mecânica clássica. A 1ª é a lei da inércia, a 2ª é lei da força sobre um determinado objeto em uma direção (F: m. a) e a 3ª lei é da ação e ração dos corpos.
[7] Esse termo é utilizado em Kelle e Basto para falar sobre o silogismo. Assim ele é posterior a Aristóteles.
[8] Quantidade se refere ao “todo” ou “algum”. Qualidade se refere ao juízo que confirma ou nega o predicado do sujeito. A expressão do predicado pode ser “é” de confirma e “não é” de nega.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Feliz dia Internacional da Mulher

No regresso da vida,
No regaço do amor,
Surge a criatura mais linda,
Formosa como uma flor.


É como canto dos pássaros,
Que anuncia a vida em vigor,
É a estrela bela e púrpura,
Obra lírica do Criador.


Neste dia que perpassa,
A dinâmica do viver,
Na história meio trágica,
Da humanidade a si fazer,
Surge com dignidade e graça,
A mulher: expressão do Belo-ser.


Com vigor e persistência,
Encara a vida como ela é,
Trago lembrança do seu valor,
No Dia Internacional da Mulher.
Parabéns mulheres!                
Autor: Isaias Mendes Barbosa, aspirante missionário redentorista.



domingo, 12 de fevereiro de 2012

“Movido de compaixão, Jesus estendeu a mão e tocou nele. Ele lhe disse: ‘Eu quero, sê purificado’.” (TEB- MC1, 41)

As leituras deste domingo fazem referência a Jesus como Deus. Sua atitude se dá contra o tradicionalismo e sua ação é de misericórdia, de inclusão e resgate da pessoa humana.

A primeira leitura trás um ponto da tradição antiga que o povo judaico utiliza: a crença que as doenças físicas eram um mal, um castigo de Deus. Neste texto de Levítico, o mal  no caso é a lepra, também conhecida como hanseníase. Estar com essa doença implicava a pessoa estar impura. Cabia ai ao sacerdote avaliar a situação. Se a pessoa estivesse mesmo com a doença então ela teria que ser afastada, separada, excluída do seu povo local. Esta decisão tem dois tipos de resultado: o impedimento da doença para o grupo, daí a pessoa podia permanecer por muito tempo enferma ou a vida toda, e a eliminação da pessoa, no sentido de que se ele não melhorar ira morrer, e, no sentido de que ela perderá os laços que a ligam com o clã, que a identifica como pessoa. Sendo afastada da sociedade, ela estará distante de todos seus valores, de sua cultura, de seus laços afetivos, de sua forma de viver. Ou seja, esse afastamento implica a perda de tudo que da identidade aquela pessoa. Essa, digamos que, seria a forma de matar mais dolorosa uma pessoa: destruir as coisas que a identifica como tal.

Atualmente as formas de divisões e exclusões humanas são muitas. A idéia de mal, não tem a mesma idéia de antigamente, (castigo), porém o preconceito, o desrespeito, a manipulação com a vida das pessoas, as estimulações negativas como se tem nas propagandas que expressãm vida feliz: roupa boa, cerveja: mulher, carro novo: sonho realizado, entre outras, são os piores males que estão contra a vontade do nosso Deus encarnado, assumidor da condição humana, a fim de termos sua condição divina. A seleção e divisão de classes (alta, média, baixa), são perfis econômicos parciais que tentam distinguir uma população que muito, pouco ou nada exploram. Não que as pessoas sejam más, entretanto o sistema força as coisas a isso. E isso, além do status social, garante, por exemplo, o nosso antigo presidente Luis Inácio Lula da Silva ser curado de um câncer, mas não garante um pobre, que nasceu em qualquer periferia, receber tratamento igual e ser curado da mesma doença. São muitas as realidades de todas as pessoas, devemos levar isso em consideração para entendermos as particularidades de cada pessoa, porém não podemos impor ou considerar a nossa opinião como certa e fechada em si. Vemos nisso que Nosso Senhor nos transmite a melhor forma de viver com a humanidade: na fraternidade, no amor partilhado e na compreensão, para se chegar ao seu reino pela ressurreição. Infelizmente tem pessoas que agem como esses sacerdotes, no sentido de que quando detecta qualquer coisa que não lhe agrada no outro, seja qualquer enfermidade grave, ou, a velhice, o câncer, ou o HIV, seja a pobreza no sentido literário, seja o ‘ser’ de outra cultura ou religião, seja ter hábitos ou vida um pouco distinta das suas, já o exclui da sua vida.Exemplos simples se dão quando se coloca os idosos nos chamados asilos, ou quando pegam os deficientes mentais e os colocam em casas de recuperação, mas a única condição de vida que lhes dão é tratá-los como presidiários, batê-los quando não cumprem as regas e entupi-los de remédios até ficarem dopados e não atormentarem ninguém. Isso não leva ninguém ao reino de Deus, e muito menos a dignidade humana.

A segunda leitura é do apostolo Paulo, ele ressalta: “Portanto, quer comais, quer bebais, o que quer que façais, fazei tudo para a glória de Deus. Não sejais para ninguém ocasião de queda” (TEB- 1Cor 10,31­­-11,1). Temos duas idéias importantes para nossa vida:1) fazer as coisas para gloria de Deus. Fazer isso é colocar Deus em primeiro lugar em nossas vidas. O que quer que façamos entreguemos a Deus, no sentido que ele nos ajudará na resolução de nossas limitações, de nossos problemas. O livro de Santo Agostinho (Livre arbítrio) destaca que até as nossas fraquezas deve ser motivos de glória a Deus, pois sem elas não conseguiríamos ver o quão grande é o Senhor, e o quanto necessitamos de sua graça para viver e fazer a sua vontade e ser livre de fato. 2) Estar na condição de fazer pelo outro. Ajudar o outro a se reerguer e não prejudicá-lo. Um grande exemplo que não devemos esquecer é o de São Francisco. Ele foi total doação pelo outro, para levá-lo a Deus. É como sua musica da paz que diz nas primeiras estrofes: “Onde houver ódio que eu leve o amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver discórdia que eu leve a união,; onde houver dúvida, que eu leve a Fé.”(oração da paz). Essas duas disposições, que precisamos ter foram as principais características de Jesus de Nazaré. Esteve a serviço total da vontade de Deus, e a serviço do homem para levá-lo a Deus. Por isso que ele é a ponte que nos liga a Deus. Como São Paulo, sejamos imitadores de Cristo, no sentido que dar continuidade a seu projeto de salvação, de fazer o mesmo percurso que Ele fez: Amando a Deus e ao próximo (Lc10,27).

O salmo 31 nos diz: “Sois, o Senhor, para mim, alegria e refúgio”. Negar a si, a sua personalidade, cultura, não é ser alegre com Cristo, mas negar-se a si mesmo, a sua origem e sua história. Jesus nos chama a sermos livres, mas com originalidade, sem perder nossas raízes, mas somando com o outro. Criando novos caminhos. O que de fato o senhor nega é toda forma de atitude que vá contra o amor e a vida. Quando destratamos as pessoas, quando temos atitude de soberba e auto-suficiência, quando excluímos, ou nos recusamos a ajudar o próximo a encontrar-se com Deus, quando destruímos o nosso planeta, desmatamos florestas, poluímos a terra, destruímos a bio- diversidade que há nele, nós estamos agindo contra o objeto de criação de Deus, o mundo e o homem.  A pós- modernidade trás uma forma mais rápida pra utilização dos bens materiais, ou naturais, do meio social, com a tecnologia e o mundo digital, porém, não se pode esquecer que a tendência humana está inclinada para um mundo insólido, esquecido dos bens mais importantes. As relações sociais estão se distanciando cada vez mais, a particularidade e centralidade do eu é a conseqüência disso tudo. As pessoas estão fadas a dar conta de um sistema que as sobrecarregam cada vez mais. Aquilo que ela criou está forçando-a a dependência. E a carga pesada cai nas mãos dos mais necessitados, que tanto Jesus se preocupou em auxiliar , atender, confortar e salvar. O chamado de cristo não é de trabalho escravo, de estresse, depressão, e todo tipo de doença da pós-modernidade, mas pelo contrário, sua proposta é de vida e vida em abundância (Jo 10,10). É de salvação do homem, de amor,que não necessariamente será excluso de tribulações e conflitos. E não esqueçamos que o perdão é a fonte que renova os laços do homem com o homem, e do homem com Deus. Isso o salmista mencionou: “Eu confessei meu pecado, não encobri a minha falta. Eu disse: “Confessarei minhas ofensas ao Senhor”, e eu tirarei o peso do meu pecado. Exultai por causa do Senhor, alegrai-vos, os justos, e gritai de alegria todos vós, corações retos “(TEB-SI31, 5.11)

O evangelho indica-nos a postura de Jesus diante da tradição, diante do leproso. Ele não exclui o homem com lepra, mas o inclui, pela sua fé através da cura: “ Movido de compaixão, Jesus estendeu a mão e tocou nele. Ele lhe disse: ‘Eu quero, sê purificado’.”(Mc 1,41). Fazendo isso, Jesus devolve a alegria do homem, pois além de ser curado, ele está integrado na sociedade. Ou seja, é readquirido a ele a integridade, o valor e todas as possibilidades que o identifica como pessoa humana. Essa atitude é a que devemos tomar enquanto seguidores de Jesus. Atitude de resgate, de fraternidade, de olhar compassivo e braços acolhedores. Sem isso, a presença de Jesus não se torna uma realidade possível. Sem isso, toda Fé fica insustentável. Hoje o mundo precisa cada vez mais de pessoas dispostas a fazer o reino de Deus possível. Já no nosso meio (Lc 17, 21) com uma emanação escatológica e plena. É sabido que em questões de doenças físicas como a hanseníase, o nosso sistema de saúde já está bastante evoluído, apesar de não ter um atendimento acessível a todos, contudo, a doença não é motivo de afastamento do individuo, mas o pré-conceito é o maior motivo do afastamento das pessoas. Dessa forma, não se renova a vida e o amor,a alegria e a paz, mas destroe-se tudo que leva-nos sermos melhores do que somos e a sentirmos a Deus de fato.Normalmente as pessoas não têm informações corretas sobre essas doenças e muito menos procuram, portanto, esse é um dos motivos do pré-conceito e do medo. Tratar tanto um doente físico, como um doente mental, ou um portador de HIV, ou câncer, ou qualquer outra pessoa debilitada, de forma humana, devolvendo-lhe a dignidade, independentes de seus problemas, é a forma que mais agrada a Deus e a forma que mais nos uni. Pois, Nosso Deus não olha nossos pecados, mas olha a nós, como pessoas que são chamadas, em suas limitações, para ser uma em Cristo assim como Cristo é um em Deus. O outro ponto é que a atitude de curar as pessoas só cabe a Deus. Portanto, ai vemos a característica divina de Jesus. Ele é Deus. Está em condição humana e divina. Verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Para vermos que Jesus não era contra a Lei, ele diz: “mas vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés prescreveu” (Lc1,44). Quando qualquer leproso era curado, ele fazia um ritual de agradecimento, que incluía oferendas e sacrifícios, porém após o sacrifício maior de Jesus na Cruz, toda dívida do homem com Deus será paga. Cabe a nós fazermos o mesmo percurso de cristo, sermos luz para o mundo. Assumindo a postura de discípulos e missionários em nossa casa, na sociedade, no mundo. Pregando a verdade, pedindo perdão pelos nossos pecados, denunciando a injustiça, e anunciando a boa nova de Deus.



quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

“Ó Senhor, Deus de Israel, não há Deus igual a ti"(SI83,23)

A liturgia de hoje(07/02) relembra-nos da postura que devemos ter diante das leis e tradições que atentam contra o mandamento de Deus, o amor recíproco e a vida. A esperança do homem atual está centrada na  vontade de Deus encarnado, morto e ressuscitado, e numa disposição nossa para acolher com olhar generoso a verdade, o amor e o serviço que Jesus nos trás.
A primeira leitura é do livro dos Reis. Nele vemos a figura de Salomão que reconhece em bom tom a Deus como Senhor inigualável a qualquer outro, com uma fidelidade incomparável e uma misericórdia infinita, quando diz: Ó Senhor, Deus de Israel, não há Deus igual a ti nem no mais alto dos céus, nem aqui embaixo na terra; tu és fiel à tua misericordiosa aliança com teus servos, que andam na tua presença de todo o seu coração. “(1Rs 8, 23). A sabedoria de Salomão é um dom que poucos tentam conquistar no percurso de sua vida, nos tempos atuais. Parece que a tendência humana é sempre para o mal, como falou Santo Agostinho em “Confissões”. Mas tenhamos consciência que essa possibilidade pode ser revertida. A proposta de Jesus confirma isso. Ela é de libertação. Porém, isso não se dá com pouco sacrifício. Sabedoria é um ponto positivo, porém o amor é a base essencial para se ter um bom discernimento.  Fazendo-se as coisas só por saber, faz-se muito. Entretanto, a vida fica insossa.  Se, ao contrário, fazemos por amor, daí o valor é pleno e eficiente. Como dizia Santo Agostinho: “Amas e fazes o que queres!”. O amor do qual ele se refere não entra em termos, de posse, de sexo, ou outras coisas limitadas à natureza humana, mas sim se refere aquele transmitido por Jesus, que também falou o bem aventurado João Paulo em sua encíclica traduzida: “Deus é amor”. Amor por excelência. Amor Ágape, incondicional.
Salomão construiu um templo para o Senhor, este é lugar de contato do homem com Deus, de oração e de perdão. Salomão faz um questionamento: “Mas será que Deus pode realmente morar sobre a terra? Se os mais altos céus não te podem conter, muito menos esta casa que eu construí!” (1Rs 8,27). Observando essa afirmativa de que nada contem a Deus, que se apresenta em termos iguais por Santo Agostinho (“Tu contém todas as coisas, mas todas as coisas não te contêm.”-confissões), vemos inserido nesta paráfrase a onipresença de Deus: uma de suas três características divina. Vemos que a expressão templo mudará de sentido no novo testamento. O templo no antigo nos remete a estrutura, ao edifício, já no novo testamento ela vai se referir ao corpo do homem, ver Jo2,19, pousada do espírito de Deus, como afirma o Catecismo da Igreja Católica(CIC). Neste sentido, quantas vezes nos preocupamos mais com o templo estrutural, a Igreja, a Capela, e esquecemos-nos de cuidar da nossa própria pessoa, dos nossos valores, do que há de bom em nós que nos faz sermos a imagem e semelhança de Deus (Genesi1, 26). As relações humanas pouco exploram o valor moral do homem, a dignidade humana, independente de sua acessão social, ou não. E pouco tentam implantar justiça na nossa sociedade. Nesta ótica o “corpo-civilização” atinge o ficurativo de uma cobra comendo o próprio rabo, onde nossas autoridades políticas e civis exploram a classe baixa afim de que essa pague, com o trabalho escravo moderno, as suas dívidas.Sobre o trabalho escravo moderno, vemos a exploração continua, uma vez que todo o dinheiro adquirido é abistraído de um "trabalho não pago", seja direta, ou ondiretamente, como explana o filósofo Marcuze em "eros e civilização". Vemos que as questões econômicas são as primeiras a serem observadas. A ética do "mais esperto" e a visão maquiavélica, deturpada, de que “os fins justificam os meios”, é a nova ordem atual. Que influenciam todos a seguir do mesmo Jeito. Ser contra isso é ser bobo, ou no dito popular “Mané”.
O evangelho de hoje trás a idéia de que a vida e o amor estão em primeiro plano, em vista do tradicionalismo. O Judeu e fariseus questionam Jesus: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?”(Mc7,5). Esse questionar não é só um zelo pela tradição, mas trás algo encoberto diante desta pergunta. Contextualizando, vemos que Jesus era Judeu, ia ao templo, fazia suas orações e começa a pregar uma realidade que se inicia com sua presença: O Reino de Deus, A humanidade de Deus, o chamado a conversão, a caridade e o perdão. Suas atitudes de aproximação dos pobres, deficientes, cobradores de impostos, prostitutas, e tudo mais, são de escândalos para quem tentava seguir a risca a Lei e se consideravam perfeitos e certos, por observar a lei, pagar impostos e estarem nos primeiros bancos das sinagogas: Fariseus, saduceus, Judeus. Estes observam a lei e a tradição, porém esquecem-se da pessoa humana, daqueles que Deus tanto ama com amor Ágape, esquecem da justiça misericordiosa de Deus, da ideia que somos irmão, portanto família, unidade na diversidade. Por conseguinte, não reconhecem seu salvador e redentor, se incomodam com a postura de Jesus em tratar todos com o mesmo amor, acolher a quem eles desprezam, colocar o último em primeiro, e denunciar seus erros e injustiças. O que se insere é uma raiva e tentativa de aprisioná-lo. Neste texto sagrado vemos a tentativa de pegá-lo pelo não cumprimento da tradição. A resposta de Jesus vai ao ponto central da realidade: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’. 8Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”(Mc7,6-8).  Seguir a tradição e ir contra a justiça, a verdade e o amor de Deus, equivale a ir contra os mandamentos de Deus, do amor, da reconciliação, da tentativa de unidade. Não que a tradição é negativa, mas que ela sem os preceitos de Deus, se não é para vida e para o amor, não tem sentido. Portanto, cuidemos para que os valores de temos não neguem a vida que há em nós e no outro, e que o amor seja nossa mola propulsora para bem seguir a Deus, sem esqueçamos do perdão que nos faz próximos de Deus.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

"Vamos...para que eu proclame o evangelho:pois par isso que eu vim."(Mc1,38)

A liturgia do 5º Domingo do tempo comum nos mostra o trajeto de todo missionário como anunciador da boa nova, divulgador das injustiças, e membro participante da vontade de Deus,            que está na condição de servidor de instauração de seu Reino que se inicia em nosso meio.
A primeira lei é do livro de Jó, seus escritos são estruturados em poemas e prosa. E ele inicia o texto dizendo: “Não é luta o tempo do mortal na terra? Não passam seus dias como os dos diaristas? Como um escravo suspira pela sombra e um diarista aguarda ser pago, assim minha parte são meses de nada.” (TEB. Jó7, 1-3) Esse escrito dá referência a sua situação real, a condição de desesperança na espera de dias felizes, dias de justiça e paz, o dia da boa nova cristã. Isso se faz presente nos termos ‘luta’, ‘Não passam’, e no capitulo 7, ‘felicidade’. Atualmente a esperança é nossa fonte de luta e luta por dias melhores, por sociedade justa, por boas e dignas condições de vida. A nossa estrutura social mais tende a valorizar o dinheiro e o status do que a igualdade, a paz, a justiça e a unidade na diversidade, como neste último termo expressa a filosofia regeliana com idéia: somos iguais, na humanidade, e somos diferentes, na personalidade. O mundo utiliza muito da aparência, da propaganda e da perfeição, mas explora pouco da transparência e do humano. Hoje a única condição de felicidade que o sistema apresenta para nós é aquela da felicidade particular, fechada em uma simples situação, ou em um simples ponto de vista: tenha o corpo perfeito, a casa dos seus sonhos, o melhor emprego e aproveite do melhor luxo possível. Basta pagar!Essa visão é egoísta, medíocre, falsa e insustentável, como se fala no livro “sociedade líquida”. Vendo esses caracteres  podemos até ter a ilusão de que estamos entrando no pedacinho do Céu, porém a verdadeira felicidade não entra nos moldes da particularidade, e muito menos da economia em primeiro plano. Mas sim no amor partilhado, na justiça e na valorização da pessoa humana como imagem de Deus misericordioso.

O salmo 146 coloca como ponto de partida e vontade para verdadeira felicidade, Deus e sua expressão encarnada. “Louvai o Senhor Deus por que ele é bom e conforta os corações”. Nosso Deus sempre será nosso único conforto e nosso melhor caminho de anuncio de boa nova. O conforto se da pelo amor de Jesus que precisa ser vivenciado em nosso meio e por sua justiça que eleva os oprimidos, ou seja, resgata seu valor e o coloca em pé de igualdade e direito com a sociedade que os exclui, seja diretamente ou indiretamente. Nosso Deus é justo e essa justiça é de “amparo dos humildes”. Ele sempre está a resgatam os que o mundo tenta explorar. Essa consciência e atitude de libertação deve ser a proposta de nós, cristãos, como seguidores. Ou como dizia Santo Afonso “Continuadores de Cristo” (orando com Afonso). Nosso Deus não exclui, mas diante dessa atitude presente de injustiça ele faz preferência pelo que foi esquecido, ou está aquém de nossa visão. Seguindo essa linha, notamos que Santo Afonso estava cada vez mais certo quando acolhe os pobres da periferia de Nápoles. Neste sentido ele não só entende a mensagem de Jesus, mas faz-se a caminho do Senhor, quando disse em Mateus: “Eu estava com fome e me deste de comer, eu estava nu e me deste de vestir, eu era peregrino e me acolheste”. Essa expressão escatológica não só denota a proposta, ou meio de salvação, mas coloca no ponto central da fé cristã um dos direitos mais básicos do homem: alimento e moradia. Sem contar o acolhimento e a dignidade do homem.

O evangelho trás a nós essa proposta que fez e se fez Jesus. Sua primeira atitude é a de encontro com os que mais precisam, no caso do texto, a Sogra de Pedro. Em segundo ponto entra a ação de regatar a pessoa: “Ele aproximou-se e a fez levantar” (Mc1, 31). Estar junto dos excluídos, dos menores, e desprovidos de identidade, seja cultural, ou socialmente falando, deve ser a nossa postura como anunciadores(as) da boa nova. Seguindo a mensagem vemos que todo tipo de enfermidade que ela tinha que a debilitava desapareceu. Neste sentido, ela de fato estava livre, do que lhe prendia. Hoje quais são os desprendimentos que devemos ter?! Como de fato o nosso povo será de fato livre, tendo que trabalhar oito horas ou mais por dia, incluso final de semana e as vezes feriado, com o mercado exigindo consumo e mais consumo?!Como ter tempo para família e para Deus, no sentido de oração e ação pastoral, ou movimento, seja religioso ou na área estrutural do sistema social?! Como ser livre sem partilhar, ou desapegar do que temos, sejam os bens materiais, sejam os afetos, sejam nossos preconceitos?! A outra condição é a de estar a serviço do outro, do bom acolhimento e da integração humana, como a Sogra de Pedro: “Ela pôs-se a servi-lo”(Mc1,29). Estar a serviço, não é estar submisso, mas progredir para que o bem aconteça, a verdade e o amor. O último de extrema importância é a postura de missionário inserida por Jesus quando diz: “Vamos para outra parte, ás aldeias da vizinhança, para que lá também eu proclame o Evangelho: Pois para isso que eu sai.”(Mc1,38). Um bom missionário sempre está a caminho, ele não tem canto fixo, não tem destino certo, ele nunca para, quando se encerra uma missão é sinal que outra em outro lugar o espera, o seu olha sempre é para o infinito. Para que isso aconteça de fato é importante o desapego. A expressão melhor utilizada por Marcos é ‘sai’. Sai para que? Para anunciar A boa nova, pois a boa nova tem o mesmo sentido da verdade e do amor, ela é universal, é acessível a todos. Não se prende a um sentido fechado, ou estagna-se em uma visão dogmática. Por isso Ele (Jesus) sempre está de saída. Sua função é revelar o Pai, viver o amor com os apóstolos e partilhar para todos essa boa nova, que nos faz livres. Que tenhamos coragem para tentar praticar esse anuncio em nossas vidas.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O mal estar na civilização (Freud)


O livro “O mal estar na civilização” do psicólogo Sigmund Freud trata do homem, seu desenvolvimento no processo de civilização, e uma insatisfação, ou angustia que este tem no percurso de sua vida, que a civilização não da conta para sanar. Ele vive no mundo, está no meio e em função de ser feliz. A priori sua felicidade está em sentir prazer, daí se encontras os instintos primeiros, porém essa procura incessante o coloca na negação de toda espécie de sentimento de sofrimento e desprazer. Neste sentido, o homem é levado a viver o prazer de forma intensa. Porém, o drama se instaura pela consciência de que a felicidade é episódica.

O primeiro processo de negação do sofrimento é identificá-lo. Daí, vemos que são três as áreas que possibilita isso: o corpo, o mundo (natureza) e o outro. Seu corpo está condenado à decadência e a dissolução, ele é limitado e em muitos momentos propicia o sofrimento ao homem. Um exemplo básico é que sempre precisamos tomar banho, ter atividade física e tudo mais para se ter um corpo saudável. Se não fazemos isso adquirimos alguns graus de sofrimento. O mundo é o espaço que nos pode afetar, não temos domínio da natureza, do exterior que nos cerca. Dizer o contrário é acreditar na ilusão que somos uma espécie de Deus. O mundo pode voltar-se contra nós. Exemplo básico disso são os terremotos, ou maremotos, as chuvas intensas e abalos sísmicos que destroem as cidades. O outro é o mais penoso e forte tipo de sofrimento que podemos ter, as relações de injustiça e desordem são coisas simples de observar.

Diante de tanto tipo de sofrimento, muitas vezes, a única saída do homem é tentar evitá-lo e colorar o prazer em segundo plano. Ou seja, obter a felicidade pela ausência do prazer. Um método utilizado pelos eremitas é o isolamento. Porém, o máximo que se pode ter é a ‘felicidade da quietude’. Outro caminho é a tentativa de mudar sua realidade, configurar o mundo exterior, entretanto essa prática se apresenta mais como uma ilusão. O que Freud chama de esquizofrenia, fugir da realidade criando uma ilusão. O medicamento é outro caminho, ele libera toxinas que dão essa sensação prazerosa. Essas substâncias são a grande responsável por desviar grande quantidade de energia útil na manutenção da vida social. E da evolução do homem. O liberalismo dos instintos pode fazer-nos mais afastado do sofrimento. Outra forma de afastar o sofrimento é a atividade intelectual, ela é responsável por um, porém essa prática não é acessível para todos, uma vez que nem todos conseguem mantê-la. Essa atividade pode nos deixar mais preparados para o destino, porém não nos dá uma proteção completa.

O amor é uma técnica que nos propicia um nível muito alto de felicidade. Ela emite uma “sensação transbordante de prazer”; em nenhum lugar e em nenhuma situação algo conseguiu preencher de forma tão completa o ser humano como o amor. Essa é uma sensação natural. Do ponto de vista negativo nós nunca nos tornamos tão frágeis como quando amamos. Neste sentido quando advêm o amor o sofrimento está com ele. A estética é um fator que pouco possibilita resistência ao sofrimento, apesar de ser um elemento de impulso sexual.

Portanto fica explícito este processo de que o homem ainda não conseguiu dar conta de toda possibilidade de sofrimento que repercute sobre si. Isso pode nos dar a impressão de que a civilização é em parte responsável por grande parte da desgraça humana, uma vez que esta, quando não exclui, domestica percentualmente nossas pulsões instintivas. Com isso se contata que a evolução da civilização não proporcionou um homem feliz, não se sabe se isso de fato é possível em toda sua totalidade. E na utilização de meios tecnológicos  para nossa satisfação prazerosa, podemos só firmar que estes são ‘ferramentas baratas’ que não suprem a carência do homem. Isso também se dá pela subjetividade humana, no qual a relação com a felicidade segue a mesma lógica.

A natureza da civilização como vinculo de felicidade nos proporciona duas coisas: segurança contra a natureza e integração do homem na sociedade. A cultura é o primeiro agente de proteção e a tentativa de domínio do homem a natureza. A civilização nos proporciona proveitos dos recursos naturais. Esta inclina o homem para uma atividade de fins pouco lucrativos como a ornamentação vegetal da cidade, praças ou casas. A limpeza e a ordem são fatores da civilização. E o que muito a caracteriza são os ideais religiosos, filosóficos e de perfeição. A sublimação como mudança de direcionamento do prazer instintivo é o que mais se utiliza no processo civilizatório.

A vida comunitária se fundamenta pela compulsão ao trabalho, que é a sublimação de seus instintos primitivos, e pelo amor. O amor é uma espécie de mudança do instinto sexual frustrado para um “impulso com uma finalidade inibida”. Neste sentido foi o amor que fundou a família, pela necessidade sexual, até a civilização, pela forma de “afeição inibida”. O drama que se perpetua entre a família e a civilização é que esta desestrutura aquela, a fim de se ter um plano maio, um plano de unidade humana. Daí, a mulher, símbolo da família e vida sexual, reclama pela sua forma de vida enquanto que a civilização reclama pela unidade e universalidade do indivíduo no sentido de comunidade humana evoluída pela questão intelectiva. Parte disso um antagonismo a sexualidade. O ideal de amor arrastado desde os tempos antigos, anterior ao cristianismo, torna-se a sua exigência mais gloriosa. No entanto, vemos algo que é natural do homem que se apresenta de forma contrária ao princípio da vida, a agressão. Portanto temos dois princípios instintivos: O amor, que é a forma modificada do instinto sexual, e a agressão, apresentada pelo sentido sádico. Um é em função da vida, outro da morte. Portanto a dinâmica da existência segue o movimento cíclico da vida com a morte; do amor e ódio.

Essa inclinação para a agressão constitui a parte necessária da dinâmica da vida. Entretanto o instinto agressor se move a fim de destruir o homem. Surge a partir dai um conflito entre o instinto e a civilização. Esta cria mecanismos de inibição da possibilidade catastrófica. Segue o superego que é uma característica da cultura, e ele vai de encontro ao ego humano, inserindo no homem o sentimento de culpa. Esta se da pela intenção e pelo ato de algo que se define como mal. A civilização impõe essa forma de repreensão. O homem mesmo obedecendo ao rigor de vivência, não agindo contra o outro, ainda mantém essa sensação de culpa pelo fato de se ter consciência da intenção. Neste senti a intenção tem igual valor que o ato praticado. Soma-se a isso a necessidade de punição, e quando esta não se instaura surge o remorso. Essa situação de combate à agressão e a sensação de culpa é o “mal-estar” na civilização. Ainda não se sabe até que ponto o desenvolvimento cultural e seu mecanismo de repressão conseguirá dominar esta situação conflitante e de perturbação no homem.É não menos necessário ressaltar, por questão mais de fidelidade ao conteúdo, que Freud se apresenta como  que contra à religião, uma vez que para ele a religião oferece um suporte para sanar o mal estar no homem com o perdão dos pecados e o sacrifício, ou negação dos instintos, que ela chama em termos agostinianos de paixão, porém a religião para ele não dá conta do recado na realidade instintiva e agressora do homem.A via do amor universal pode tentar ser essa espécie de amortecedor do instinto agressor, como fizera São Francisco, porém não resolve o conflito do homem.