domingo, 12 de fevereiro de 2012

“Movido de compaixão, Jesus estendeu a mão e tocou nele. Ele lhe disse: ‘Eu quero, sê purificado’.” (TEB- MC1, 41)

As leituras deste domingo fazem referência a Jesus como Deus. Sua atitude se dá contra o tradicionalismo e sua ação é de misericórdia, de inclusão e resgate da pessoa humana.

A primeira leitura trás um ponto da tradição antiga que o povo judaico utiliza: a crença que as doenças físicas eram um mal, um castigo de Deus. Neste texto de Levítico, o mal  no caso é a lepra, também conhecida como hanseníase. Estar com essa doença implicava a pessoa estar impura. Cabia ai ao sacerdote avaliar a situação. Se a pessoa estivesse mesmo com a doença então ela teria que ser afastada, separada, excluída do seu povo local. Esta decisão tem dois tipos de resultado: o impedimento da doença para o grupo, daí a pessoa podia permanecer por muito tempo enferma ou a vida toda, e a eliminação da pessoa, no sentido de que se ele não melhorar ira morrer, e, no sentido de que ela perderá os laços que a ligam com o clã, que a identifica como pessoa. Sendo afastada da sociedade, ela estará distante de todos seus valores, de sua cultura, de seus laços afetivos, de sua forma de viver. Ou seja, esse afastamento implica a perda de tudo que da identidade aquela pessoa. Essa, digamos que, seria a forma de matar mais dolorosa uma pessoa: destruir as coisas que a identifica como tal.

Atualmente as formas de divisões e exclusões humanas são muitas. A idéia de mal, não tem a mesma idéia de antigamente, (castigo), porém o preconceito, o desrespeito, a manipulação com a vida das pessoas, as estimulações negativas como se tem nas propagandas que expressãm vida feliz: roupa boa, cerveja: mulher, carro novo: sonho realizado, entre outras, são os piores males que estão contra a vontade do nosso Deus encarnado, assumidor da condição humana, a fim de termos sua condição divina. A seleção e divisão de classes (alta, média, baixa), são perfis econômicos parciais que tentam distinguir uma população que muito, pouco ou nada exploram. Não que as pessoas sejam más, entretanto o sistema força as coisas a isso. E isso, além do status social, garante, por exemplo, o nosso antigo presidente Luis Inácio Lula da Silva ser curado de um câncer, mas não garante um pobre, que nasceu em qualquer periferia, receber tratamento igual e ser curado da mesma doença. São muitas as realidades de todas as pessoas, devemos levar isso em consideração para entendermos as particularidades de cada pessoa, porém não podemos impor ou considerar a nossa opinião como certa e fechada em si. Vemos nisso que Nosso Senhor nos transmite a melhor forma de viver com a humanidade: na fraternidade, no amor partilhado e na compreensão, para se chegar ao seu reino pela ressurreição. Infelizmente tem pessoas que agem como esses sacerdotes, no sentido de que quando detecta qualquer coisa que não lhe agrada no outro, seja qualquer enfermidade grave, ou, a velhice, o câncer, ou o HIV, seja a pobreza no sentido literário, seja o ‘ser’ de outra cultura ou religião, seja ter hábitos ou vida um pouco distinta das suas, já o exclui da sua vida.Exemplos simples se dão quando se coloca os idosos nos chamados asilos, ou quando pegam os deficientes mentais e os colocam em casas de recuperação, mas a única condição de vida que lhes dão é tratá-los como presidiários, batê-los quando não cumprem as regas e entupi-los de remédios até ficarem dopados e não atormentarem ninguém. Isso não leva ninguém ao reino de Deus, e muito menos a dignidade humana.

A segunda leitura é do apostolo Paulo, ele ressalta: “Portanto, quer comais, quer bebais, o que quer que façais, fazei tudo para a glória de Deus. Não sejais para ninguém ocasião de queda” (TEB- 1Cor 10,31­­-11,1). Temos duas idéias importantes para nossa vida:1) fazer as coisas para gloria de Deus. Fazer isso é colocar Deus em primeiro lugar em nossas vidas. O que quer que façamos entreguemos a Deus, no sentido que ele nos ajudará na resolução de nossas limitações, de nossos problemas. O livro de Santo Agostinho (Livre arbítrio) destaca que até as nossas fraquezas deve ser motivos de glória a Deus, pois sem elas não conseguiríamos ver o quão grande é o Senhor, e o quanto necessitamos de sua graça para viver e fazer a sua vontade e ser livre de fato. 2) Estar na condição de fazer pelo outro. Ajudar o outro a se reerguer e não prejudicá-lo. Um grande exemplo que não devemos esquecer é o de São Francisco. Ele foi total doação pelo outro, para levá-lo a Deus. É como sua musica da paz que diz nas primeiras estrofes: “Onde houver ódio que eu leve o amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver discórdia que eu leve a união,; onde houver dúvida, que eu leve a Fé.”(oração da paz). Essas duas disposições, que precisamos ter foram as principais características de Jesus de Nazaré. Esteve a serviço total da vontade de Deus, e a serviço do homem para levá-lo a Deus. Por isso que ele é a ponte que nos liga a Deus. Como São Paulo, sejamos imitadores de Cristo, no sentido que dar continuidade a seu projeto de salvação, de fazer o mesmo percurso que Ele fez: Amando a Deus e ao próximo (Lc10,27).

O salmo 31 nos diz: “Sois, o Senhor, para mim, alegria e refúgio”. Negar a si, a sua personalidade, cultura, não é ser alegre com Cristo, mas negar-se a si mesmo, a sua origem e sua história. Jesus nos chama a sermos livres, mas com originalidade, sem perder nossas raízes, mas somando com o outro. Criando novos caminhos. O que de fato o senhor nega é toda forma de atitude que vá contra o amor e a vida. Quando destratamos as pessoas, quando temos atitude de soberba e auto-suficiência, quando excluímos, ou nos recusamos a ajudar o próximo a encontrar-se com Deus, quando destruímos o nosso planeta, desmatamos florestas, poluímos a terra, destruímos a bio- diversidade que há nele, nós estamos agindo contra o objeto de criação de Deus, o mundo e o homem.  A pós- modernidade trás uma forma mais rápida pra utilização dos bens materiais, ou naturais, do meio social, com a tecnologia e o mundo digital, porém, não se pode esquecer que a tendência humana está inclinada para um mundo insólido, esquecido dos bens mais importantes. As relações sociais estão se distanciando cada vez mais, a particularidade e centralidade do eu é a conseqüência disso tudo. As pessoas estão fadas a dar conta de um sistema que as sobrecarregam cada vez mais. Aquilo que ela criou está forçando-a a dependência. E a carga pesada cai nas mãos dos mais necessitados, que tanto Jesus se preocupou em auxiliar , atender, confortar e salvar. O chamado de cristo não é de trabalho escravo, de estresse, depressão, e todo tipo de doença da pós-modernidade, mas pelo contrário, sua proposta é de vida e vida em abundância (Jo 10,10). É de salvação do homem, de amor,que não necessariamente será excluso de tribulações e conflitos. E não esqueçamos que o perdão é a fonte que renova os laços do homem com o homem, e do homem com Deus. Isso o salmista mencionou: “Eu confessei meu pecado, não encobri a minha falta. Eu disse: “Confessarei minhas ofensas ao Senhor”, e eu tirarei o peso do meu pecado. Exultai por causa do Senhor, alegrai-vos, os justos, e gritai de alegria todos vós, corações retos “(TEB-SI31, 5.11)

O evangelho indica-nos a postura de Jesus diante da tradição, diante do leproso. Ele não exclui o homem com lepra, mas o inclui, pela sua fé através da cura: “ Movido de compaixão, Jesus estendeu a mão e tocou nele. Ele lhe disse: ‘Eu quero, sê purificado’.”(Mc 1,41). Fazendo isso, Jesus devolve a alegria do homem, pois além de ser curado, ele está integrado na sociedade. Ou seja, é readquirido a ele a integridade, o valor e todas as possibilidades que o identifica como pessoa humana. Essa atitude é a que devemos tomar enquanto seguidores de Jesus. Atitude de resgate, de fraternidade, de olhar compassivo e braços acolhedores. Sem isso, a presença de Jesus não se torna uma realidade possível. Sem isso, toda Fé fica insustentável. Hoje o mundo precisa cada vez mais de pessoas dispostas a fazer o reino de Deus possível. Já no nosso meio (Lc 17, 21) com uma emanação escatológica e plena. É sabido que em questões de doenças físicas como a hanseníase, o nosso sistema de saúde já está bastante evoluído, apesar de não ter um atendimento acessível a todos, contudo, a doença não é motivo de afastamento do individuo, mas o pré-conceito é o maior motivo do afastamento das pessoas. Dessa forma, não se renova a vida e o amor,a alegria e a paz, mas destroe-se tudo que leva-nos sermos melhores do que somos e a sentirmos a Deus de fato.Normalmente as pessoas não têm informações corretas sobre essas doenças e muito menos procuram, portanto, esse é um dos motivos do pré-conceito e do medo. Tratar tanto um doente físico, como um doente mental, ou um portador de HIV, ou câncer, ou qualquer outra pessoa debilitada, de forma humana, devolvendo-lhe a dignidade, independentes de seus problemas, é a forma que mais agrada a Deus e a forma que mais nos uni. Pois, Nosso Deus não olha nossos pecados, mas olha a nós, como pessoas que são chamadas, em suas limitações, para ser uma em Cristo assim como Cristo é um em Deus. O outro ponto é que a atitude de curar as pessoas só cabe a Deus. Portanto, ai vemos a característica divina de Jesus. Ele é Deus. Está em condição humana e divina. Verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Para vermos que Jesus não era contra a Lei, ele diz: “mas vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés prescreveu” (Lc1,44). Quando qualquer leproso era curado, ele fazia um ritual de agradecimento, que incluía oferendas e sacrifícios, porém após o sacrifício maior de Jesus na Cruz, toda dívida do homem com Deus será paga. Cabe a nós fazermos o mesmo percurso de cristo, sermos luz para o mundo. Assumindo a postura de discípulos e missionários em nossa casa, na sociedade, no mundo. Pregando a verdade, pedindo perdão pelos nossos pecados, denunciando a injustiça, e anunciando a boa nova de Deus.



quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

“Ó Senhor, Deus de Israel, não há Deus igual a ti"(SI83,23)

A liturgia de hoje(07/02) relembra-nos da postura que devemos ter diante das leis e tradições que atentam contra o mandamento de Deus, o amor recíproco e a vida. A esperança do homem atual está centrada na  vontade de Deus encarnado, morto e ressuscitado, e numa disposição nossa para acolher com olhar generoso a verdade, o amor e o serviço que Jesus nos trás.
A primeira leitura é do livro dos Reis. Nele vemos a figura de Salomão que reconhece em bom tom a Deus como Senhor inigualável a qualquer outro, com uma fidelidade incomparável e uma misericórdia infinita, quando diz: Ó Senhor, Deus de Israel, não há Deus igual a ti nem no mais alto dos céus, nem aqui embaixo na terra; tu és fiel à tua misericordiosa aliança com teus servos, que andam na tua presença de todo o seu coração. “(1Rs 8, 23). A sabedoria de Salomão é um dom que poucos tentam conquistar no percurso de sua vida, nos tempos atuais. Parece que a tendência humana é sempre para o mal, como falou Santo Agostinho em “Confissões”. Mas tenhamos consciência que essa possibilidade pode ser revertida. A proposta de Jesus confirma isso. Ela é de libertação. Porém, isso não se dá com pouco sacrifício. Sabedoria é um ponto positivo, porém o amor é a base essencial para se ter um bom discernimento.  Fazendo-se as coisas só por saber, faz-se muito. Entretanto, a vida fica insossa.  Se, ao contrário, fazemos por amor, daí o valor é pleno e eficiente. Como dizia Santo Agostinho: “Amas e fazes o que queres!”. O amor do qual ele se refere não entra em termos, de posse, de sexo, ou outras coisas limitadas à natureza humana, mas sim se refere aquele transmitido por Jesus, que também falou o bem aventurado João Paulo em sua encíclica traduzida: “Deus é amor”. Amor por excelência. Amor Ágape, incondicional.
Salomão construiu um templo para o Senhor, este é lugar de contato do homem com Deus, de oração e de perdão. Salomão faz um questionamento: “Mas será que Deus pode realmente morar sobre a terra? Se os mais altos céus não te podem conter, muito menos esta casa que eu construí!” (1Rs 8,27). Observando essa afirmativa de que nada contem a Deus, que se apresenta em termos iguais por Santo Agostinho (“Tu contém todas as coisas, mas todas as coisas não te contêm.”-confissões), vemos inserido nesta paráfrase a onipresença de Deus: uma de suas três características divina. Vemos que a expressão templo mudará de sentido no novo testamento. O templo no antigo nos remete a estrutura, ao edifício, já no novo testamento ela vai se referir ao corpo do homem, ver Jo2,19, pousada do espírito de Deus, como afirma o Catecismo da Igreja Católica(CIC). Neste sentido, quantas vezes nos preocupamos mais com o templo estrutural, a Igreja, a Capela, e esquecemos-nos de cuidar da nossa própria pessoa, dos nossos valores, do que há de bom em nós que nos faz sermos a imagem e semelhança de Deus (Genesi1, 26). As relações humanas pouco exploram o valor moral do homem, a dignidade humana, independente de sua acessão social, ou não. E pouco tentam implantar justiça na nossa sociedade. Nesta ótica o “corpo-civilização” atinge o ficurativo de uma cobra comendo o próprio rabo, onde nossas autoridades políticas e civis exploram a classe baixa afim de que essa pague, com o trabalho escravo moderno, as suas dívidas.Sobre o trabalho escravo moderno, vemos a exploração continua, uma vez que todo o dinheiro adquirido é abistraído de um "trabalho não pago", seja direta, ou ondiretamente, como explana o filósofo Marcuze em "eros e civilização". Vemos que as questões econômicas são as primeiras a serem observadas. A ética do "mais esperto" e a visão maquiavélica, deturpada, de que “os fins justificam os meios”, é a nova ordem atual. Que influenciam todos a seguir do mesmo Jeito. Ser contra isso é ser bobo, ou no dito popular “Mané”.
O evangelho de hoje trás a idéia de que a vida e o amor estão em primeiro plano, em vista do tradicionalismo. O Judeu e fariseus questionam Jesus: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?”(Mc7,5). Esse questionar não é só um zelo pela tradição, mas trás algo encoberto diante desta pergunta. Contextualizando, vemos que Jesus era Judeu, ia ao templo, fazia suas orações e começa a pregar uma realidade que se inicia com sua presença: O Reino de Deus, A humanidade de Deus, o chamado a conversão, a caridade e o perdão. Suas atitudes de aproximação dos pobres, deficientes, cobradores de impostos, prostitutas, e tudo mais, são de escândalos para quem tentava seguir a risca a Lei e se consideravam perfeitos e certos, por observar a lei, pagar impostos e estarem nos primeiros bancos das sinagogas: Fariseus, saduceus, Judeus. Estes observam a lei e a tradição, porém esquecem-se da pessoa humana, daqueles que Deus tanto ama com amor Ágape, esquecem da justiça misericordiosa de Deus, da ideia que somos irmão, portanto família, unidade na diversidade. Por conseguinte, não reconhecem seu salvador e redentor, se incomodam com a postura de Jesus em tratar todos com o mesmo amor, acolher a quem eles desprezam, colocar o último em primeiro, e denunciar seus erros e injustiças. O que se insere é uma raiva e tentativa de aprisioná-lo. Neste texto sagrado vemos a tentativa de pegá-lo pelo não cumprimento da tradição. A resposta de Jesus vai ao ponto central da realidade: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’. 8Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”(Mc7,6-8).  Seguir a tradição e ir contra a justiça, a verdade e o amor de Deus, equivale a ir contra os mandamentos de Deus, do amor, da reconciliação, da tentativa de unidade. Não que a tradição é negativa, mas que ela sem os preceitos de Deus, se não é para vida e para o amor, não tem sentido. Portanto, cuidemos para que os valores de temos não neguem a vida que há em nós e no outro, e que o amor seja nossa mola propulsora para bem seguir a Deus, sem esqueçamos do perdão que nos faz próximos de Deus.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

"Vamos...para que eu proclame o evangelho:pois par isso que eu vim."(Mc1,38)

A liturgia do 5º Domingo do tempo comum nos mostra o trajeto de todo missionário como anunciador da boa nova, divulgador das injustiças, e membro participante da vontade de Deus,            que está na condição de servidor de instauração de seu Reino que se inicia em nosso meio.
A primeira lei é do livro de Jó, seus escritos são estruturados em poemas e prosa. E ele inicia o texto dizendo: “Não é luta o tempo do mortal na terra? Não passam seus dias como os dos diaristas? Como um escravo suspira pela sombra e um diarista aguarda ser pago, assim minha parte são meses de nada.” (TEB. Jó7, 1-3) Esse escrito dá referência a sua situação real, a condição de desesperança na espera de dias felizes, dias de justiça e paz, o dia da boa nova cristã. Isso se faz presente nos termos ‘luta’, ‘Não passam’, e no capitulo 7, ‘felicidade’. Atualmente a esperança é nossa fonte de luta e luta por dias melhores, por sociedade justa, por boas e dignas condições de vida. A nossa estrutura social mais tende a valorizar o dinheiro e o status do que a igualdade, a paz, a justiça e a unidade na diversidade, como neste último termo expressa a filosofia regeliana com idéia: somos iguais, na humanidade, e somos diferentes, na personalidade. O mundo utiliza muito da aparência, da propaganda e da perfeição, mas explora pouco da transparência e do humano. Hoje a única condição de felicidade que o sistema apresenta para nós é aquela da felicidade particular, fechada em uma simples situação, ou em um simples ponto de vista: tenha o corpo perfeito, a casa dos seus sonhos, o melhor emprego e aproveite do melhor luxo possível. Basta pagar!Essa visão é egoísta, medíocre, falsa e insustentável, como se fala no livro “sociedade líquida”. Vendo esses caracteres  podemos até ter a ilusão de que estamos entrando no pedacinho do Céu, porém a verdadeira felicidade não entra nos moldes da particularidade, e muito menos da economia em primeiro plano. Mas sim no amor partilhado, na justiça e na valorização da pessoa humana como imagem de Deus misericordioso.

O salmo 146 coloca como ponto de partida e vontade para verdadeira felicidade, Deus e sua expressão encarnada. “Louvai o Senhor Deus por que ele é bom e conforta os corações”. Nosso Deus sempre será nosso único conforto e nosso melhor caminho de anuncio de boa nova. O conforto se da pelo amor de Jesus que precisa ser vivenciado em nosso meio e por sua justiça que eleva os oprimidos, ou seja, resgata seu valor e o coloca em pé de igualdade e direito com a sociedade que os exclui, seja diretamente ou indiretamente. Nosso Deus é justo e essa justiça é de “amparo dos humildes”. Ele sempre está a resgatam os que o mundo tenta explorar. Essa consciência e atitude de libertação deve ser a proposta de nós, cristãos, como seguidores. Ou como dizia Santo Afonso “Continuadores de Cristo” (orando com Afonso). Nosso Deus não exclui, mas diante dessa atitude presente de injustiça ele faz preferência pelo que foi esquecido, ou está aquém de nossa visão. Seguindo essa linha, notamos que Santo Afonso estava cada vez mais certo quando acolhe os pobres da periferia de Nápoles. Neste sentido ele não só entende a mensagem de Jesus, mas faz-se a caminho do Senhor, quando disse em Mateus: “Eu estava com fome e me deste de comer, eu estava nu e me deste de vestir, eu era peregrino e me acolheste”. Essa expressão escatológica não só denota a proposta, ou meio de salvação, mas coloca no ponto central da fé cristã um dos direitos mais básicos do homem: alimento e moradia. Sem contar o acolhimento e a dignidade do homem.

O evangelho trás a nós essa proposta que fez e se fez Jesus. Sua primeira atitude é a de encontro com os que mais precisam, no caso do texto, a Sogra de Pedro. Em segundo ponto entra a ação de regatar a pessoa: “Ele aproximou-se e a fez levantar” (Mc1, 31). Estar junto dos excluídos, dos menores, e desprovidos de identidade, seja cultural, ou socialmente falando, deve ser a nossa postura como anunciadores(as) da boa nova. Seguindo a mensagem vemos que todo tipo de enfermidade que ela tinha que a debilitava desapareceu. Neste sentido, ela de fato estava livre, do que lhe prendia. Hoje quais são os desprendimentos que devemos ter?! Como de fato o nosso povo será de fato livre, tendo que trabalhar oito horas ou mais por dia, incluso final de semana e as vezes feriado, com o mercado exigindo consumo e mais consumo?!Como ter tempo para família e para Deus, no sentido de oração e ação pastoral, ou movimento, seja religioso ou na área estrutural do sistema social?! Como ser livre sem partilhar, ou desapegar do que temos, sejam os bens materiais, sejam os afetos, sejam nossos preconceitos?! A outra condição é a de estar a serviço do outro, do bom acolhimento e da integração humana, como a Sogra de Pedro: “Ela pôs-se a servi-lo”(Mc1,29). Estar a serviço, não é estar submisso, mas progredir para que o bem aconteça, a verdade e o amor. O último de extrema importância é a postura de missionário inserida por Jesus quando diz: “Vamos para outra parte, ás aldeias da vizinhança, para que lá também eu proclame o Evangelho: Pois para isso que eu sai.”(Mc1,38). Um bom missionário sempre está a caminho, ele não tem canto fixo, não tem destino certo, ele nunca para, quando se encerra uma missão é sinal que outra em outro lugar o espera, o seu olha sempre é para o infinito. Para que isso aconteça de fato é importante o desapego. A expressão melhor utilizada por Marcos é ‘sai’. Sai para que? Para anunciar A boa nova, pois a boa nova tem o mesmo sentido da verdade e do amor, ela é universal, é acessível a todos. Não se prende a um sentido fechado, ou estagna-se em uma visão dogmática. Por isso Ele (Jesus) sempre está de saída. Sua função é revelar o Pai, viver o amor com os apóstolos e partilhar para todos essa boa nova, que nos faz livres. Que tenhamos coragem para tentar praticar esse anuncio em nossas vidas.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O mal estar na civilização (Freud)


O livro “O mal estar na civilização” do psicólogo Sigmund Freud trata do homem, seu desenvolvimento no processo de civilização, e uma insatisfação, ou angustia que este tem no percurso de sua vida, que a civilização não da conta para sanar. Ele vive no mundo, está no meio e em função de ser feliz. A priori sua felicidade está em sentir prazer, daí se encontras os instintos primeiros, porém essa procura incessante o coloca na negação de toda espécie de sentimento de sofrimento e desprazer. Neste sentido, o homem é levado a viver o prazer de forma intensa. Porém, o drama se instaura pela consciência de que a felicidade é episódica.

O primeiro processo de negação do sofrimento é identificá-lo. Daí, vemos que são três as áreas que possibilita isso: o corpo, o mundo (natureza) e o outro. Seu corpo está condenado à decadência e a dissolução, ele é limitado e em muitos momentos propicia o sofrimento ao homem. Um exemplo básico é que sempre precisamos tomar banho, ter atividade física e tudo mais para se ter um corpo saudável. Se não fazemos isso adquirimos alguns graus de sofrimento. O mundo é o espaço que nos pode afetar, não temos domínio da natureza, do exterior que nos cerca. Dizer o contrário é acreditar na ilusão que somos uma espécie de Deus. O mundo pode voltar-se contra nós. Exemplo básico disso são os terremotos, ou maremotos, as chuvas intensas e abalos sísmicos que destroem as cidades. O outro é o mais penoso e forte tipo de sofrimento que podemos ter, as relações de injustiça e desordem são coisas simples de observar.

Diante de tanto tipo de sofrimento, muitas vezes, a única saída do homem é tentar evitá-lo e colorar o prazer em segundo plano. Ou seja, obter a felicidade pela ausência do prazer. Um método utilizado pelos eremitas é o isolamento. Porém, o máximo que se pode ter é a ‘felicidade da quietude’. Outro caminho é a tentativa de mudar sua realidade, configurar o mundo exterior, entretanto essa prática se apresenta mais como uma ilusão. O que Freud chama de esquizofrenia, fugir da realidade criando uma ilusão. O medicamento é outro caminho, ele libera toxinas que dão essa sensação prazerosa. Essas substâncias são a grande responsável por desviar grande quantidade de energia útil na manutenção da vida social. E da evolução do homem. O liberalismo dos instintos pode fazer-nos mais afastado do sofrimento. Outra forma de afastar o sofrimento é a atividade intelectual, ela é responsável por um, porém essa prática não é acessível para todos, uma vez que nem todos conseguem mantê-la. Essa atividade pode nos deixar mais preparados para o destino, porém não nos dá uma proteção completa.

O amor é uma técnica que nos propicia um nível muito alto de felicidade. Ela emite uma “sensação transbordante de prazer”; em nenhum lugar e em nenhuma situação algo conseguiu preencher de forma tão completa o ser humano como o amor. Essa é uma sensação natural. Do ponto de vista negativo nós nunca nos tornamos tão frágeis como quando amamos. Neste sentido quando advêm o amor o sofrimento está com ele. A estética é um fator que pouco possibilita resistência ao sofrimento, apesar de ser um elemento de impulso sexual.

Portanto fica explícito este processo de que o homem ainda não conseguiu dar conta de toda possibilidade de sofrimento que repercute sobre si. Isso pode nos dar a impressão de que a civilização é em parte responsável por grande parte da desgraça humana, uma vez que esta, quando não exclui, domestica percentualmente nossas pulsões instintivas. Com isso se contata que a evolução da civilização não proporcionou um homem feliz, não se sabe se isso de fato é possível em toda sua totalidade. E na utilização de meios tecnológicos  para nossa satisfação prazerosa, podemos só firmar que estes são ‘ferramentas baratas’ que não suprem a carência do homem. Isso também se dá pela subjetividade humana, no qual a relação com a felicidade segue a mesma lógica.

A natureza da civilização como vinculo de felicidade nos proporciona duas coisas: segurança contra a natureza e integração do homem na sociedade. A cultura é o primeiro agente de proteção e a tentativa de domínio do homem a natureza. A civilização nos proporciona proveitos dos recursos naturais. Esta inclina o homem para uma atividade de fins pouco lucrativos como a ornamentação vegetal da cidade, praças ou casas. A limpeza e a ordem são fatores da civilização. E o que muito a caracteriza são os ideais religiosos, filosóficos e de perfeição. A sublimação como mudança de direcionamento do prazer instintivo é o que mais se utiliza no processo civilizatório.

A vida comunitária se fundamenta pela compulsão ao trabalho, que é a sublimação de seus instintos primitivos, e pelo amor. O amor é uma espécie de mudança do instinto sexual frustrado para um “impulso com uma finalidade inibida”. Neste sentido foi o amor que fundou a família, pela necessidade sexual, até a civilização, pela forma de “afeição inibida”. O drama que se perpetua entre a família e a civilização é que esta desestrutura aquela, a fim de se ter um plano maio, um plano de unidade humana. Daí, a mulher, símbolo da família e vida sexual, reclama pela sua forma de vida enquanto que a civilização reclama pela unidade e universalidade do indivíduo no sentido de comunidade humana evoluída pela questão intelectiva. Parte disso um antagonismo a sexualidade. O ideal de amor arrastado desde os tempos antigos, anterior ao cristianismo, torna-se a sua exigência mais gloriosa. No entanto, vemos algo que é natural do homem que se apresenta de forma contrária ao princípio da vida, a agressão. Portanto temos dois princípios instintivos: O amor, que é a forma modificada do instinto sexual, e a agressão, apresentada pelo sentido sádico. Um é em função da vida, outro da morte. Portanto a dinâmica da existência segue o movimento cíclico da vida com a morte; do amor e ódio.

Essa inclinação para a agressão constitui a parte necessária da dinâmica da vida. Entretanto o instinto agressor se move a fim de destruir o homem. Surge a partir dai um conflito entre o instinto e a civilização. Esta cria mecanismos de inibição da possibilidade catastrófica. Segue o superego que é uma característica da cultura, e ele vai de encontro ao ego humano, inserindo no homem o sentimento de culpa. Esta se da pela intenção e pelo ato de algo que se define como mal. A civilização impõe essa forma de repreensão. O homem mesmo obedecendo ao rigor de vivência, não agindo contra o outro, ainda mantém essa sensação de culpa pelo fato de se ter consciência da intenção. Neste senti a intenção tem igual valor que o ato praticado. Soma-se a isso a necessidade de punição, e quando esta não se instaura surge o remorso. Essa situação de combate à agressão e a sensação de culpa é o “mal-estar” na civilização. Ainda não se sabe até que ponto o desenvolvimento cultural e seu mecanismo de repressão conseguirá dominar esta situação conflitante e de perturbação no homem.É não menos necessário ressaltar, por questão mais de fidelidade ao conteúdo, que Freud se apresenta como  que contra à religião, uma vez que para ele a religião oferece um suporte para sanar o mal estar no homem com o perdão dos pecados e o sacrifício, ou negação dos instintos, que ela chama em termos agostinianos de paixão, porém a religião para ele não dá conta do recado na realidade instintiva e agressora do homem.A via do amor universal pode tentar ser essa espécie de amortecedor do instinto agressor, como fizera São Francisco, porém não resolve o conflito do homem.