quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Teologia Moral afonsiana: a copiosa redenção!


Nosso Pai, Santo e doutor: Afonso Maria de Ligório (1696), fundador dos Redentoristas, é reconhecido após o concílio de Trento, no século XVIII, pela reforma no sistema moral da época, na sua mais brilhante obra: Theologia Moralis (1753-55). Nela Afonso se posiciona entre as duas correntes morais mais radicais de seu tempo: o rigorismo e o laxismo. A primeira afirmava a conduta humana na radicalidade da lei e descartava o arbítrio humano, a segunda destacava a liberdade humana como autoridade e princípio da conduta, sem nenhuma preocupação com a lei e com o ético.

Segundo o teólogo Théodule Rey- Mermet, na obra A Moral de Santo Afonso de Liguoui (1991), Santo Afonso não segue nenhum dos dois caminhos, mas o meio termo, o justo meio: o equiprobabilismo. Este consiste no seguimento de uma conduta provável entre uma opinião que afirma cegamente a radicalidade da lei e uma outra que a nega. Questão é o equilíbrio entre a lei e a liberdade, sendo que quando a lei se demonstrar duvidosa, pois apresenta opinião contrária a ela, a liberdade deve ser o caminho mais acertado, portanto, a lei, neste caso, não deve obrigar, mas a razão conforme a opinião mais provável. Sua teologia moral foi feita para os seus confrades e para o atendimento ao povo nos confessionários, pois foi nas confissões e no contato com o povo que Afonso percebeu a necessidade de um novo caminho moral que apresentasse a face de um Jesus Redentor para o povo abandonado e excluído espiritualmente e socialmente.

A questão da moral estava diretamente ligado aos casos de consciência. Assim a sua teologia moral trata especificadamente da consciência. Esta é o grande bem precioso da humanidade. A consciência tem um papel determinante no agir do ser humano. E na dúvida moral, entre o caminho do bem e o obrigatório, é necessário a consciência seguir o caminho mais provável. Quando as leis canônicas e as escrituras não conseguem dar respostas claras para a condução da consciência, então, a razão, deve ser o caminho. O bom senso se torna, assim, o guia. Deste modo nosso Pai Afonso apresentou uma nova face ética do Cristo até então nunca vista na época: Jesus redentor que veio para salvar a todos e não uma minoria, que não tem seus escolhidos determinados e puros, mas que busca salvar a todos e especialmente e urgentemente os mais abandonados e excluídos da sociedade. Um Deus encarnado na pessoa de Jesus que literalmente morreu de amor a nós.

Afonso foi bastante criticado em sua época, tanto pelos rigoristas, que viviam num ideal radical a lei, distante da realidade do povo, como pelos laxistas, que afirmavam liberdade fora de cogitação de uma vontade divina, onde tudo pode. Sua obra foi proibida em muitos locais, porém não abriu de mão de seu pensamento por este apresentar-se como o melhor, mais humano e mais divino, caminho a seguir. 

Hoje nós somos convidados a refletir sobre nosso caminho moral, político e social. Sobre nossa relação com Deus e com os homens, sem esquecer-se do nosso planeta. A nossa sociedade é pluralista e nossas relações ficaram mais complexas, porém, assim como nosso Pai, precisamos dar respostas às exigências da atualidade.  A moral de Afonso apresenta um Jesus redentor, que acolhe e quer salvar a todos. Como podemos continuar esse projeto? Nosso caminho de fé e vida é inclusivo, dialogal, respeitoso com as diferenças? Estamos traçando, com a inspiração da palavra de Deus, o caminho a seguir? O princípio do amor continua sendo o caminho, porém, nosso desafio é entrar num consenso com as outras formas de viver da sociedade, que muitas vezes se apresentam novas e diferentes, e outras vezes, contrárias aos princípios do amor e da vida. Respostas e a lutas se tornam urgentes para nós, como religioso, como leigo, como cidadão, como redentorista: pois a salvação começa hoje e agora em nossas diversas realidades em quanto vivermos aqui, e atinge o seu nível  mais elevado, transcendente, em que há uma diversidade de crenças.

Pai Santo Afonso: ajudai-nos na nossa caminhada aqui na terra.

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