sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O mal estar na civilização (Freud)


O livro “O mal estar na civilização” do psicólogo Sigmund Freud trata do homem, seu desenvolvimento no processo de civilização, e uma insatisfação, ou angustia que este tem no percurso de sua vida, que a civilização não da conta para sanar. Ele vive no mundo, está no meio e em função de ser feliz. A priori sua felicidade está em sentir prazer, daí se encontras os instintos primeiros, porém essa procura incessante o coloca na negação de toda espécie de sentimento de sofrimento e desprazer. Neste sentido, o homem é levado a viver o prazer de forma intensa. Porém, o drama se instaura pela consciência de que a felicidade é episódica.

O primeiro processo de negação do sofrimento é identificá-lo. Daí, vemos que são três as áreas que possibilita isso: o corpo, o mundo (natureza) e o outro. Seu corpo está condenado à decadência e a dissolução, ele é limitado e em muitos momentos propicia o sofrimento ao homem. Um exemplo básico é que sempre precisamos tomar banho, ter atividade física e tudo mais para se ter um corpo saudável. Se não fazemos isso adquirimos alguns graus de sofrimento. O mundo é o espaço que nos pode afetar, não temos domínio da natureza, do exterior que nos cerca. Dizer o contrário é acreditar na ilusão que somos uma espécie de Deus. O mundo pode voltar-se contra nós. Exemplo básico disso são os terremotos, ou maremotos, as chuvas intensas e abalos sísmicos que destroem as cidades. O outro é o mais penoso e forte tipo de sofrimento que podemos ter, as relações de injustiça e desordem são coisas simples de observar.

Diante de tanto tipo de sofrimento, muitas vezes, a única saída do homem é tentar evitá-lo e colorar o prazer em segundo plano. Ou seja, obter a felicidade pela ausência do prazer. Um método utilizado pelos eremitas é o isolamento. Porém, o máximo que se pode ter é a ‘felicidade da quietude’. Outro caminho é a tentativa de mudar sua realidade, configurar o mundo exterior, entretanto essa prática se apresenta mais como uma ilusão. O que Freud chama de esquizofrenia, fugir da realidade criando uma ilusão. O medicamento é outro caminho, ele libera toxinas que dão essa sensação prazerosa. Essas substâncias são a grande responsável por desviar grande quantidade de energia útil na manutenção da vida social. E da evolução do homem. O liberalismo dos instintos pode fazer-nos mais afastado do sofrimento. Outra forma de afastar o sofrimento é a atividade intelectual, ela é responsável por um, porém essa prática não é acessível para todos, uma vez que nem todos conseguem mantê-la. Essa atividade pode nos deixar mais preparados para o destino, porém não nos dá uma proteção completa.

O amor é uma técnica que nos propicia um nível muito alto de felicidade. Ela emite uma “sensação transbordante de prazer”; em nenhum lugar e em nenhuma situação algo conseguiu preencher de forma tão completa o ser humano como o amor. Essa é uma sensação natural. Do ponto de vista negativo nós nunca nos tornamos tão frágeis como quando amamos. Neste sentido quando advêm o amor o sofrimento está com ele. A estética é um fator que pouco possibilita resistência ao sofrimento, apesar de ser um elemento de impulso sexual.

Portanto fica explícito este processo de que o homem ainda não conseguiu dar conta de toda possibilidade de sofrimento que repercute sobre si. Isso pode nos dar a impressão de que a civilização é em parte responsável por grande parte da desgraça humana, uma vez que esta, quando não exclui, domestica percentualmente nossas pulsões instintivas. Com isso se contata que a evolução da civilização não proporcionou um homem feliz, não se sabe se isso de fato é possível em toda sua totalidade. E na utilização de meios tecnológicos  para nossa satisfação prazerosa, podemos só firmar que estes são ‘ferramentas baratas’ que não suprem a carência do homem. Isso também se dá pela subjetividade humana, no qual a relação com a felicidade segue a mesma lógica.

A natureza da civilização como vinculo de felicidade nos proporciona duas coisas: segurança contra a natureza e integração do homem na sociedade. A cultura é o primeiro agente de proteção e a tentativa de domínio do homem a natureza. A civilização nos proporciona proveitos dos recursos naturais. Esta inclina o homem para uma atividade de fins pouco lucrativos como a ornamentação vegetal da cidade, praças ou casas. A limpeza e a ordem são fatores da civilização. E o que muito a caracteriza são os ideais religiosos, filosóficos e de perfeição. A sublimação como mudança de direcionamento do prazer instintivo é o que mais se utiliza no processo civilizatório.

A vida comunitária se fundamenta pela compulsão ao trabalho, que é a sublimação de seus instintos primitivos, e pelo amor. O amor é uma espécie de mudança do instinto sexual frustrado para um “impulso com uma finalidade inibida”. Neste sentido foi o amor que fundou a família, pela necessidade sexual, até a civilização, pela forma de “afeição inibida”. O drama que se perpetua entre a família e a civilização é que esta desestrutura aquela, a fim de se ter um plano maio, um plano de unidade humana. Daí, a mulher, símbolo da família e vida sexual, reclama pela sua forma de vida enquanto que a civilização reclama pela unidade e universalidade do indivíduo no sentido de comunidade humana evoluída pela questão intelectiva. Parte disso um antagonismo a sexualidade. O ideal de amor arrastado desde os tempos antigos, anterior ao cristianismo, torna-se a sua exigência mais gloriosa. No entanto, vemos algo que é natural do homem que se apresenta de forma contrária ao princípio da vida, a agressão. Portanto temos dois princípios instintivos: O amor, que é a forma modificada do instinto sexual, e a agressão, apresentada pelo sentido sádico. Um é em função da vida, outro da morte. Portanto a dinâmica da existência segue o movimento cíclico da vida com a morte; do amor e ódio.

Essa inclinação para a agressão constitui a parte necessária da dinâmica da vida. Entretanto o instinto agressor se move a fim de destruir o homem. Surge a partir dai um conflito entre o instinto e a civilização. Esta cria mecanismos de inibição da possibilidade catastrófica. Segue o superego que é uma característica da cultura, e ele vai de encontro ao ego humano, inserindo no homem o sentimento de culpa. Esta se da pela intenção e pelo ato de algo que se define como mal. A civilização impõe essa forma de repreensão. O homem mesmo obedecendo ao rigor de vivência, não agindo contra o outro, ainda mantém essa sensação de culpa pelo fato de se ter consciência da intenção. Neste senti a intenção tem igual valor que o ato praticado. Soma-se a isso a necessidade de punição, e quando esta não se instaura surge o remorso. Essa situação de combate à agressão e a sensação de culpa é o “mal-estar” na civilização. Ainda não se sabe até que ponto o desenvolvimento cultural e seu mecanismo de repressão conseguirá dominar esta situação conflitante e de perturbação no homem.É não menos necessário ressaltar, por questão mais de fidelidade ao conteúdo, que Freud se apresenta como  que contra à religião, uma vez que para ele a religião oferece um suporte para sanar o mal estar no homem com o perdão dos pecados e o sacrifício, ou negação dos instintos, que ela chama em termos agostinianos de paixão, porém a religião para ele não dá conta do recado na realidade instintiva e agressora do homem.A via do amor universal pode tentar ser essa espécie de amortecedor do instinto agressor, como fizera São Francisco, porém não resolve o conflito do homem.

Um comentário: