domingo, 2 de novembro de 2014

Santo Afonso 'Tempo e eternidade': uma reflexão sobre a vida, morte e eternidade. (Dia dos Falecidos!)

Se crês, meu irmão, que hás de morrer, que existe eternidade, que se morre só uma vez, e que, dado este passo em falso, o erro é irreparável para sempre e sem esperança de remédio: por que não te decides, desde o momento em que isto lês, a praticar quanto puderes para te assegurar uma boa morte? Apressa-te em tomar o remédio oportuno; decide entregar-te inteiramente a Deus, e começa, desde já, uma vida que não te aflija, mas que te proporcione consolo na hora da morte. (LIGÓRIO, Santo Afonso Maria de.  Tempo e eternidade: vida-morte-futuro, 2002, p.14-15)

Tal frase da obra Tempo e eternidade: vida-morte-futuro de nosso pai Santo Afonso Maria de Ligório apresenta uma luz sobre o dia atual, em que fazemos memória ao dia dos falecidos e podemos refletir sobre nossa estadia aqui na terra. Por isso vamos ver um pouco sobre essa bela obra.
O tema geral de que ela trata é a vida, morte e eternidade. A obra é composta por 20 capítulos seguidos de uma oração. São reflexões e meditações que envolvem o tema geral. A obra é composta por várias citações das Sagradas Escrituras, dos diversos santos ou sábios da tradição cristã que auxiliam de modo pedagógico, numa compreensão sobre nosso modo de vida e proceder para a nossa salvação.
A nossa vida, dom gratuito de Deus, pressupõe algo que é inevitável para todos nós: a certeza da morte. Todas as coisas passam, porém só a morte é certa. E a grande diferença está no modo como a vemos e nos deparamos com ela. Para nós cristãos a morte é passagem para a eternidade que pode seguir dois caminhos: o caminho da glória em Deus ou do tormento eterno. Diante disso, muitos se afligem quando a morte se aproxima. E a causa disso está no proceder humano aqui na terra, apegado aos bens passageiros, ou no desacordo de sua vontade com a vontade de Deus.
Nossos santos viram a morte de modo diferente, ou seja, como a porta da vida na presença de Deus. Segundo Santo Afonso:
os tormentos que afligem os pecadores na hora da morte não afligem os Santos. “As almas dos justos estão nas mãos de Deus, e não os atingirá o tormento da morte” (Sb 3, 1)(...) Não se afligem os Santos por terem de deixar honras mundanas, pois sempre as desprezaram e as tiveram na conta do que são efetivamente: fumo e vaidade, e somente estimaram a honra de amar a Deus e de ser por ele amados. Não se afligem por terem de deixar seus parentes, porque somente os amaram em Deus e, ao morrer, os deixaram recomendados àquele Pai celestial que os ama mais do que eles; e esperando salvar-se, crêem que melhor lhes poderão ajudar lá no céu do que ficando na terra. (LIGÓRIO, 2002, p.22) .
            Os homens bons nada têm a temer na hora da morte, sendo que Deus tendo as almas dos justos em suas mãos, assegura-nos sua glória com Ele eternamente. Assim, na hora da morte, da tentação, do desespero,
virão os santos protetores; virá São Miguel, destinado por Deus para a defesa dos servos fiéis, no combate derradeiro; virá a Virgem Santíssima e, acolhendo sob o seu manto que foi seu devoto, derrotará os inimigos; virá Jesus Cristo mesmo a livras das tentações essa ovelha inocente ou penitente, cuja salvação lhe custou a vida. (LIGÓRIO, 2002, p.27)
Aqueles que amam a Deus e oferecem a sua vida, tornar-se-ão semelhante aos Santos e Mártires. Portanto, Amemo-lo, pois, o mais que pudermos nesta vida, que só para este fim deve servir-nos, isto é, para crescer no amor divino. O grau de amor que tivermos na hora da morte será igual ao desejo que nutrimos em nos unir a Deus na bem-aventurança eterna.
Assim, a preparação para uma boa morte se faz necessária e isto esta durante o tempo de nossa vida. Nosso Santo nos indica fazer esse percurso:
prostra-te aos pés do Crucifixo; agradece-lhe o tempo que sua misericórdia te concede para regular tua consciência, e passa em revista a seguir todas as desordens de tua vida passada, especialmente as de tua mocidade. (...) Afasta de teu coração todo afeto mau e todo rancor ou ódio. Satisfaze qualquer motivo de escrúpulo acerca dos bens alheios, da reputação lesada, de escândalos dados, e propõe firmemente fugir de todas as ocasiões em que possas perder Deus. Pensa que aquilo que parece difícil, impossível, te parecerá no momento da morte. (LIGÓRIO, 2002, p.39).
Afonso nos indica a aproveitar bem o tempo que temos para ganhar os bens eternos, que fazem parte da Graça de Deus e de uma vida virtuosa. Esses bens não passam e não se acabam como os bens materiais, mas perduram para eternidade. Eles sãos as únicas coisas que levamos nessa vida para eternidade. Se agirmos assim, na hora da morte, teremos a nossa recompensa e estaremos em paz.
A nossa salvação é a nossa meta que começa aqui e termina no Céu, porém é dela que boa parte dos cristãos mais se esquecem.  Sendo assim, boa parte dos cristãos vivem como se a morte, o juízo, o inferno, a glória e a eternidade não fossem verdades de fé, mas apenas fábulas inventadas pelos poetas. Portanto, façamos todo esforço para adquirir o grande tesouro do amor divino. 
O pecado nos fasta de Deus e nos torna confusos e inquietos, sem paz. Segundo Santo Afonso o pecado também ofende a Deus, pois o movimento que vai contra sua vontade se dá contra o seu projeto de salvação que constitui parte de Deus. Porém, apesar de nossos pecados, Deus na sua misericórdia infinita espera por nós, na nossa humildade para pedi-lhe perdão, pois nos ama infinitamente e quer nos dar aquilo que brota de dentro de sua divindade: o amor e a vida. Assim como na parábola do filho pródigo. 
Sua graça nos acompanha na medida em que nos unimos a Ele e procuramos fazer a sua vontade, conformando a nossa com a Dele. Pela oração alimentamos nossa fé e nossa alma, e nos disponibilizamos para a comunicação e seguimento de Deus. A perseverança é outro elemento que nos ajudar na caminhada, pois assim não nos perdemos diante das tentações, das inúmeras opções vazias de sentido e verdeira felicidade.
O pedido a Nossa senhora é outro elementos importante que Afonso cita como caminho para vida segura e cheia de graça, pois, assim como Maria intercedeu aos povo nas bodas de Caná, do mesmo modo ela faz por nós que somos seus filhos. Por fim, o amor de Deus mais se revela e mais se aproxima na medida em que nos confiamos a ele e nos entregamos para fazer a sua vontade, pois a nossa salvação está no conformar da nossa vontade com a de Deus, uma vez que Deus já nos ama e deseja profundamente nos salvar, porém, Ele não transgride nossa liberdade.  

Entregemos-nos, portanto, sem reserva às mãos de Deus, que jamais deixa de atender ao nosso bem (1Pd 5,7). “Pensa tu em mim,-dizia o Senhor a Santa Catarina de Sena- que eu pensarei em ti”. Quem procede assim passará uma vida feliz e terá morte santa. Aquele que morre inteiramente resignado com a vontade divina deixa-nos a certeza moral da sua salvação. (LIGÓRIO, 2002, p.139) .

Nenhum comentário:

Postar um comentário