terça-feira, 1 de agosto de 2017

Santo Afonso e a Reestruturação.

Foi com alegria que toda a Igreja e nós, Missionários Redentoristas, celebramos no dia 1º de agosto desse ano a festa de Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787): o fundador de nossa Congregação Missionária cujo carisma inspirador é levar às pessoas abandonadas, principalmente, aos pobres e excluídos, a Copiosa Redenção. No prosseguir desse projeto- de continuar Jesus Cristo Redentor- os Missionários Redentoristas da Vice-província de Fortaleza tiveram em Assembleia capitular na Casa de Retiro das Irmãs Cordimarianas (Caucaia) entre os dias 24 e 28 de 2017.  
Neste Capítulo tratamos sobre o tema do 24º Capítulo Geral (2009): "Reestruturação para a missão: esperança em ação”. O tema da Reestuturação foi inspirador para deslumbrarmos os novos percursos acerca da Missão Redentorista nas nossas áreas de atuação. Apesar desta temática ser nova, ela não deixou de estar presente no percurso de fundação e itinerário de origem da Congregação. Por isso, fazendo memória celebrativa do nosso Fundador em sintonia com o tema da Reestruturação dos Missionários Redentoristas, apresentamos aqui quatro pontos da vida de Santo Afonso de Ligório que marcam e perpassam as linhas gerais e fundamentais da proposta de Reestruturação presente no 24º Capítulo Geral e meditada na Assembleia da Vice-província.
A primeira reflexão se refere a vocação específica de Santo Afonso. Falamos da Inspiração para fundar a Congregação do Santíssimo Redentor. A vida de Santo Afonso foi sempre em busca de saber o que Deus queria dele. Por isso que estando em Scala sentiu a necessidade de criar uma Congregação que ajudasse espiritualmente aos cabreiros, pobres e abandonados, da igreja e da sociedade de Nápoles. O despertar da fé foi concedido por uma Irmã chamada Maria Celeste Crostarosa. Foi ela quem assegurou a Santo Afonso: Jesus quer criar um Instituto o qual o senhor (Padre Afonso) será o fundador. Essa maturidade vocacional para atender ao chamado de Deus foi se realizando aos poucos. Portanto, a origem dos Missionários Redentoristas se deu por um despertar vocacional, uma chamado de Deus, no coração de Afonso, para algo novo, que precisou de uma mudança vocacional. Isso reestruturou a vida de Afonso e abriu um novo horizonte de maturidade e discernimento vocacional, para além de uma vida clerical-sacramental. O projeto de Reestruturação da Congregação é mais do que uma mudança de estrutura, é um despertar vocacional para um novo horizonte que estamos nos deparando na pós-modernidade: o horizonte de uma realidade frágil e ferida. Portanto assim como Santo Afonso despertou vocacionalmente para águas mais profundas, do mesmo modo é a direção que a Reestruturação tenta realizar em nós: uma Reestruturação em função da validade, necessidade e vitalidade de nossa vocação.
O despertar da vida vocacional de Santo Afonso se deu em um horizonte que poucos sacerdotes observavam em Nápoles: as periferias. A Capital napolitana era cheia de sacerdotes que viviam sob os cuidados das grandes famílias. Estas eram as ricas madrinhas de hoje. O serviço apostólico estava acomodado mais ao status e regalias do que ao trabalho clerical e missionário. A missão destes sacerdotes era mais de manutenção sacramental e religiosa das famílias do que a construção de um novo estilo e modo de experimentar e viver a fé. Enquanto que a capital era abarrotada de clérigos, as periferias e lugares precários (como os hospitais dos incuráveis e a região dos lazzarones) eram locais escasso do trabalho ministerial e apostólico dos sacerdotes. Santo Afonso não se acomoda ao status quo, não se submete às vantagens de uma Nápoles que acomoda sacerdotes para um bem estar clerical pessoal e até egoísta. Afonso vai para as periferias, toma uma atitude diferenciada, vai até aos pobres-cabreiros- de Nápoles. Seu itinerário é em vista de uma nova missão: acolher aos pobres e viver a partir deles. Amparar aos esquecidos pela Igreja. É nesse sentido que a missão afonsiana se apresenta na constituição de um carisma específico, de um povo específico, de uma área específica. Assim como o itinerário de Santo Afonso, a Reestruturação se dá em vista da ressignificação do carisma e Missão Redentorista. As periferias continuam sendo um polo especial pelo qual a Vice-província de Fortaleza revitaliza a sua missão e prioridade apostólica. A Reestruturação está na revitalização de uma missão que não pode esquecer as periferias existenciais hoje. Um ir ao encontro dos pobres e abandonados, e não esperar por eles em berço esplendido.
A vida de Santo Afonso foi uma busca incessante por conversão. As mortificações, os silícios, os jejuns e abstinência que Santo Afonso realizou durante toda a sua vida tem uma marca forte de conversão. Era um coração que gastou suas forças em fazer a vontade de Deus. Os escritos deste Santo possuem marcas de uma pessoa que nunca estava satisfeita com o que alcançou da graça divina, mas que se via sempre na necessidade de mudar a partir de dentro: era uma conversão interior que se manifestava no cotidiano da vida. As horas de oração, a preocupação em assistir aos que o procuravam, a inquietude para sempre fazer mais pelo Reino de Deus e o gastar a vida em função dos seus confrades e da missão nos faz ver Santo Afonso como um homem que não perdeu tempo para se converter e se solidarizar com os seus, a fim de que todos amassem cada dia mais a Deus. A proposta de Reestruturação é antes de tudo para a conversão interior, uma conversão do coração e um ser solidário em vista da união constante e estreita ligação do outro com Deus. Sem conversão a Reestruturação é projeto falido, sem solidariedade e responsabilidade mútua a caridade redentora trai o carisma fundacional da Congregação.   

Sem a constante unidade e paixão de Santo Afonso por Jesus Cristo, a Congregação não teria surgido. É a experiência do amor por Deus que faz nosso Santo fundar uma Congregação sem nenhuma condição ou segurança de prosperidade. A única coisa que realmente motivou Afonso foi a fé. E isso se deu por uma constante comunhão com Deus. Uma união de amor que confiou em Deus, mesmo quando as coisas pareciam chegar ao fim, quando tudo pareceu dar errado. Foi assim que o pequeno grupo fundacional redentorista começou, num casebre, sem quase nada, em condições precárias de vida e com algumas pessoas que posteriormente deixaram o projeto de Deus. Somente a união e paixão por Jesus Cristo fez com que Santo Afonso não abrisse de mão do projeto. De modo semelhante o projeto de Reestruturação implica a necessidade de uma união e comunhão com Deus, uma paixão decidida por Jesus e uma confiança em quem nos chamou por primeiro. Em poucas palavras: a Reestruturação deve nos motivar para um revivamento de nossa Espiritualidade. Sem isso o projeto de Deus não vai funcionar. Pois mesmo que a origem da Congregação seja divina, portanto, sob a vontade de Deus, a sua existência e continuidade depende de nossa constante busca e união com Deus. É a nossa resposta de amor para um Deus redentor que nos amou por primeiro, que nos fez sem nós, mas que não pode nos salvar sem a nossa opção por Ele.     

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