quarta-feira, 10 de agosto de 2016

A Consciência nos seus diversos percursos: caminhos para a civilização, realização e plenificação humana. (2ª Parte)


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A Consciência a partir da tradição bíblico-testamentária.

Na tradição bíblico testamentária encontramos os passos dessa “Consciência”. De modo geral podemos destacar três modos de “Consciência” que se manifesta no percurso e trajetória do povo de Deus.  É importante observa que na experiência religiosa cristã, desde sua tradição religiosa-hebraico-judaica, a humanidade passa por diversos estágios dessa “Consciência”, ora evoluindo, ora regredindo. Isso porque, as questões histórico-culturais, e os condicionamentos de cada época são determinantes para esse processo. Porém, apresenta-se, aqui, os pontos mais gerais e significativos dessa trajetória.
Nos escritos do primeiro testamento (Gênese e Êxodo) encontramos vários pontos significativos e determinantes da consciência humana. O primeiro é a experiência de Abraão com Deus (Gn11, 1-3). Neste aspecto a “Consciência” deslumbra um novo horizonte, de desprendimento da terra, da nação e da família. Esse desapego denota um uma nova visão de mundo que Deus quer implantar: a visão de “Povo” que caminha com Deus (Eu farei de ti um grande povo). Há uma maximização da “Consciência” a partir de uma experiência com Deus. Após esse primeiro episódio destaca-se outra personalidade bíblica, a saber, Moisés com a experiência de Deus, na sarça ardente (Ex3, 1-16). Trata-se da experiência central da tradição cristã: a Revelação de Deus.
Nesse contexto a “Consciência” atinge uma criticidade e maturidade fundamental por meio de Deus: “Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi seu grito por causa dos seus opressores; pois eu conheço as suas angustias. Por isso desci afim de libertá-lo das mãos dos egípcios”. Apesar da amplitude e progresso dessa revelação, a mentalidade desse povo ainda tateia por caminhos tortuosos. A pretensão da “Consciência” divina reveladas é para uma profunda libertação humana. Não se trata somente da liberdade da escravidão submetida à opressão de um Rei egípcio, mas de tudo aquilo que afasta a humanidade de sua verdadeira felicidade.  Por isso é que se instaura a experiência no deserto: para que o povo tome consciência de seus apegos, dependências das coisas inferiores a Deus e para que o mesmo não exceda na consciência de si, isto é, querer ser como Deus. Moisés guia o povo para essa experiência que ele mesmo experimentou com Deus. Porém, no caminho o povo sem se perceber, ou seja, sem tomar “Consciência de si”, acaba tendo dificuldade para adquirir uma Consciência madura
Nessa perspectiva e no itinerário da terra prometida e da salvação, o povo entende Deus como único, primeiro e fundamento da criação. Apesar de Deus se revelar, o Mesmo acaba sendo compreendido por muitos a partir da Consciência predominante da época, isto é, a partir da visão patriarcal e dos grandes heróis da época. Toda a compreensão do povo chega na “Consciência” limitada de entender Deus como  Aquele que Reina sobre a terra inteira (Sl47,3), de braço forte, o Senhor dos exércitos (Is 9, 6). Essa “Consciência” é própria da figura de maior valor nas famílias e tradição da época. A figura de Deus como Pai (Is 9,5). Isso não se dá tão claramente no plano conceitual, mas nos atributos de Deus, pois Ele fez a toda a criação (Gn1, 1-31) e quer conduzir seu povo (Ez36, 12). Aqui observamos alguns exageros, para o tempo atual, quanto a compreensão de Deus, pois ele é concebido com um Deus que destrói os inimigos de seu Povo, os pecadores (Am9, 1-10). É um Deus que amaldiçoa e condena os que não seguem seu caminho (Ml1,1-3). É Deus julgador e vingativo.  Esses disparates configuram a “Consciência” do povo de Deus no seu percurso inicial que responde conforme sua mentalidade os conflitos da época.
A conceituação de Deus, propriamente dita, como Pai, ou melhor dizendo, “Paizinho” é nos revelada pelo Jesus Cristo, o Filho de Deus . Em Jesus nazareno encontramos uma revolução significativa na tradição. Pois Deus não é vingativo e nem julgador implacável, mas compassivo e misericordioso (Lc6,36). É um Paizinho que é puro amor e convida seus povo, pelo seu Filho, a ser expressão radical desse amor: doação da vida pela salvação humana. Por Jesus o povo da época apreende uma nova “Consciência” de si, como dom de Deus, como Filhos-adotivos- amados do Pai (Mt6, 4), que precisam cotidianamente ser misericordioso como o Pai do Céu é misericordioso para com eles. O que Jesus nos ensinou sobre Deus foi a mais revolucionária e significativa experiência para sermos Humanos. Uma “Consciência” Humana e iluminada pela luz divina foi a contribuição mais valiosa que Jesus nos ensinou.
Nos quatro Evangelhos podemos perceber o desvelar de uma nova “Consciência” anexada com a consciência de Deus Paizinho. Trata-se daquela expressada por Jesus Cristo. A consciência do Filho de Deus encarnado na História do povo (Jo1, 14) é a grande novidade dos Evangelhos. Em Jesus não só encontramos uma chamada para a “Consciência do amor fraterno”, mas ele próprio é esse testemunho revolucionário. No projeto de redenção do Filho a natureza e “Consciência” humana atinge a sua máxima plena, ou seja, atinge o ponto fundamental, metafísico e ético: no imperativo do amor (Jo15, 12). Essa lei fundamental deve nortear a “Consciência” humana. Porém ela não se desvincula da transcendência, mas só pode manter seu curso se estiver em união e integração com a “Consciência do Paizinho”, pelo Filho. Por isso a persistente interpelação de Jesus para mantermos unidos a Ele como Ele está unido ao Pai (Jo17, 21).   É necessário observarmos que embora a exigência consciencial-prática do amor humano seja limitada, a mesma se inspira a partir da propriedade de identidade divina: o amor ágape. Isto é, Incondicional. Por meio de Cristo se esclarece a “Consciência” humana para algumas características até então esquecidas como o amor-doação, o perdão, a reconciliação, a solidariedade, a inclusão, a fraternidade, a misericórdia e a salvação, ou redenção. Tal “Consciência” tão proclamada na vida e nos ensinamentos de Jesus possui duas finalidades: tornar a sociedade plenamente Humanizante e participante do Reino do Pai. Essa é a novidade revolucionária do fato Cristo tão experimentado e testemunhado pelos seus discípulos, apóstolos e disseminada até hoje.
Por fim, podemos dizer que na História do Povo de Deus há um novo deslumbramento da “Consciência”: é a abertura ao Espírito Santo. Esse novo elemento é dito e transmitido por Jesus enquanto estava com os seus (Jo13,14), porém o momento mais significativo dessa experiência é no ‘Pentecoste’ quando o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos (At11, 15) e fez com que eles compreendessem o projeto do Pai pela vida, anuncio do Filho, e anunciassem para os que estavam presente a ação amorosa de Deus. Ora, a ação do Espírito Santo na consciência dos cristãos tem a função de esclarecer, amadurecer e encontrar o sentido imanente e transcendente da “Consciência”. Desde modo, esta, mediada por inspiração do Espírito Santo, tem a possibilidade de fazer a pessoa chegar a verdade sagrada e dignificante de si (enquanto imagem e semelhança de Deus) e alcançar os caminhos da vita beata e das verdades eternas da fé cristã. A ação do Espírito na “Consciência aberta” faz a pessoa superar as limitações do tempo e espaço, isto é, faz com que o passado seja entendido no seu significado mais sagrado e dignificante: como ação do amor de Deus na História, busca e resposta humana na mesma para a plena felicidade humana. Deste modo a consciência cristã conseguiu compreender a verdade de sua história de salvação, a partir de um fato fundamental, a presença de Jesus Cristo. O hoje foi vivenciado como realização da promessa de plena realização da “Consciência” e o futuro ficou como continua plenitude da mesma consciência, até seu fim salvífico, ou seja, até a união e contemplação eterna da VERDADE, DO AMOR E DA VIDA.   
Em suma, foi na dinâmica do povo de Deus nessa relação com o Pai, o Filho, Jesus Cristo, e o Espírito Santo, que este povo percorreu os diversos itinerário da “Consciência” e conseguiu uma profundidade, largueza e maturidade inigualável na sua história. A consciência do Pai é comprovada pelo Filho e a do Espírito Santo integra essa relação e impulsiona a todos para o que ainda estar por vir. É evidente que no Cristianismo a “Consciência cristã” teve seus percalços, deslizes, limites e defeitos, porém tais falhas da limitação humana não impediu o desenvolvimento e esclarecimentos da “Consciência”. O desafio é não perder de vista esse desenvolvimento e esclarecimento para termos uma realização mais profunda, mais humana e mais sagrada do nosso caminho e praticidade consciencial.   



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