terça-feira, 30 de agosto de 2016

A Formação na e para a Vida Religiosa: orientações para uma construção permanente.

Ao refletimos, na Contemporaneidade, sobre a Vida Religiosa, podemos observar um elemento fundamental, que, apesar de nem sempre ter feito parte das questões principais sobre o itinerário religioso, atualmente contribui significativamente para delinear de modo claro, consciente e autônomo, a vida, os desafios e a identidade religiosa, enquanto tal, assim como tal elemento é utilíssimo para amadurecer progressivamente a missão religiosa evangélica e seus fundamentos cristológicos. Esse elemento de singular importância, já apresente no sexto capítulo do Documento de Aparecida (2017, p. 113-155), é a formação. E aqui tal questão não se reduz somente em observamos a formação enquanto processo introdutório a Vida Religiosa até a consagração, onde se professa os votos evangélicos (como juridicamente e espiritualmente se faz), mas também enquanto percurso, amadurecimento espiritual-humano de vida, anterior à formação propriamente religiosa, durante esta e posteriormente. Daí formação permanente ou, categoricamente dizendo, formação na pré-consagração, durante, e na pós- consagração, é a questão em discussão.

A primeira coisa que evidenciamos na formação é o seu estado inicial, que não se dá quando a pessoa, seguidora de Jesus Cristo, ingressa no seminário, ou casa de formação. Mas em um momento anterior, que muitas vezes passa despercebido do processo de formação. Falamos, na realidade, da formação ou aspiração para a Vida Religiosa que de fato acontece desde da realização do primeiro sacramento da Iniciação a Vida Cristã, o batismo, ou até, vale dizer, desde a experiência de vida de fé-religiosa-espiritual-sacramental e social de uma paróquia e comunidade local, Católica Cristã. É neste local que inicia-se potencialmente a aspiração para a Vida Religiosa. Nesse aspecto o Documento de Aparecida testemunha, infelizmente, aquilo que fez parte de nossa formação potencial para a Vida Religiosa, isto é, no processo de iniciação à Vida Cristã: “[uma] alta porcentagem de católicos sem a consciência de sua missão de ser sal e fermento no mundo, com identidade cristã fraca e vulnerável” (Ibidem, p.134).

Apesar de termos uma “‘rica e profunda religiosidade popular, na qual aparece a alma dos povos latino-americano’, [...] como ‘o precioso tesouro da Igreja Católica na América Latina” (Ibidem, p.120), é preciso um amadurecimento maior, uma profundidade constante bíblico-evangélica, sacramental e testemunhal na Igreja e para a sociedade. Neste sentido, se não se tem uma formação cristã adequada e madura nas paroquias, nas áreas missionárias e de atuação da Igreja, que ofereça para o povo leigo uma “formação integral, querigmática e permanente”(Ibidem, p. 130), então continuaremos a ter maiores desafios com as pessoas aspirantes a Vida Religiosa no processo de formação.

Vemos, portanto, que uma parcela das dificuldades que tivemos e teremos na formação religiosa está no início da vida cristã, nas bases fundamentais onde tudo começou: nas paróquias (missionárias?), nas comunidade de base e nas famílias de tais locais. Uma das orientações favoráveis e útil na promoção e maturidade da Vida Religiosa, que o documento nos propõe, é a reanimação da formação nas pequenas comunidades, “pois nelas temos uma fonte segura de vocações ao sacerdócio, à vida religiosa e à vida leiga com especial dedicação ao apostolado” (Ibidem, p.142). Daí, para sanarmos uma parcela dos desafios que temos na formação religiosa de consagrado(a) é necessário um trabalho conjunto e em relação dialogal com as outras opções de vida Cristã, pois é deste ambiente que, surgem as vocações Religiosas.

Apesar de percebermos tais lacunas nas bases da vida cristã, estas, até certo ponto, podem interferir, dificultar e prejudicar o itinerário e objetivo da formação religiosa propriamente dita. Todavia, não sem dificuldades e com uma exigência ainda maior na formação introdutória a Vida Religiosa, ainda é possível, até certo ponto, oferecer boa parte desses elementos que faltou na vida cristã em comunidade, para podermos despertar, nas pessoas que aspira a Vida Religiosa, condições favoráveis a fim de que estas pessoas possam encontrar, identificar e amadurecer sua vocação específica, ou propriamente Religiosa. Porém para tal intento se necessita tanto de uma paciente e persistente formação básica, assim como um esforço e abertura de quem aspira a Vida Religiosa, no processo de formação.

Uma exigência que se faz necessária, nos tempos atuais, é a pastoral vocacional. Pois esta é o passo inicial mais decisivo para orientar e promover bons frutos de vocações para Vida Religiosa, dentre outros modos de vida Cristã. É importante perceber que esta pastoral não deve ser orientada como algo exclusivo e monopolizado de um grupo de pessoas, mas deve se expandir com a colaboração e participação de todos. E nesse sentido, tantos as famílias, como as diversas pastorais, o clero (sacerdotes e bispos) e religiosos, devem estar envolvido e contribuir para o desabrochar e amadurecimento das diversas vocações, incluindo a que nos toca particularmente. Segundo o Documento sustenta sobre isso:

No que se refere à formação dos discípulos e missionários de Cristo, ocupa lugar particular a pastoral vocacional, que acompanha cuidadosamente todos os que o Senhor chama a servir à Igreja no sacerdócio, na vida consagrada ou no estado laico. A pastoral vocacional que é responsabilidade de todos, começa na família e continua na comunidade cristã, deve dirigir-se às crianças e especialmente aos jovens para ajudá-los a descobrir o sentido da vida e projeto que Deus tem para cada um, acompanhando-os em seu processo de discernimento. (Ibidem, p.144)

Desse ponto de vista constitui um desafio atual uma pastoral vocacional que seja, “fruto de uma sólida pastoral de conjunto, nas famílias, na paróquia, nas escolas católicas e nas demais instituições eclesiais” (Ibidem.). Se tivermos uma pastoral vocacional que integre, dialogue e faça comunhão com as diversas pastorais locais e os diversos membros que compõe a área de trabalhos religioso, teremos mais frutos para Vida Religiosa. Nesse sentido, os meios de comunicação, eventos e formação, dentre outras iniciativas vocacionais, são de importante contribuição para despertar os nossos jovens de diversas idades para a Vida Religiosa, assim como para outras atuações pastorais e missionárias, que envolvam essa forma de vida.

Porém, outra consideração se faz necessária, agora, na formação propriamente religiosa, isto é, no período de formação nos seminários ou casas religiosas. É fundamental percebermos que por formação religiosa não se pode entender as “fases” ou as “estruturas” de “preparação para a Vida Religiosa, de um modo distinto e radical de vida. Entender a formação como um espaço, uma casa, uma estrutura, ou uma participação nas atividade que a casa de formação promove é reduzir a amplitude, profundidade e o belo objetivo da Vida Religiosa: experimentar, experienciar e testemunhar na comunidade religiosa (e para o mundo) a radicalidade do seguimento, identificação, serviço e doação à Deus Uno e Trino. A experiência de Jesus nazareno com seus discípulos demonstram que o projeto de radicalidade e seguimento a Ele é mais do que estruturas, tempo determinado, ou delimitado, e funções práticas. As casas, os seminários, as estruturas e as dinâmicas da formação são meios pelos quais é preciso o jovem, ou a pessoa, dar uma resposta concreta a Vida Religiosa. Portanto, todos os instrumentos da formação (casas, estudos, orações, lazer, pastoral, etc.) não possuem fim em si mesmo, mas devem promover o ser religioso radicado no amor a Cristo e no seu serviço profético-evangélico.

Constatado que a formação na Vida Religiosa é um processo, que antecede a entrada para os seminários ou casas de formação religiosa, é relevante observar de modo geral as etapas da formação. Cada etapa pode ter sua especificidade quanto a prioridade do ser vivido e experienciado em comunidade. Porém, podemos considerar alguns pontos essenciais que devem perpassar todo o processo de formação. Primeiro: a necessidade de uma progressiva experiência, clareza e maturidade de fé cristológica e trinitária. Esse é o elemento mais  significativo na vida Cristã e principalmente na Vida Religiosa. Pois se assenta no aspecto querigmático da Boa nova de Jesus, do Reino do Pai. Para tal experiência é importante não confundir a finalidade da formação com outros instrumentos que possibilitam essa experiência (as orações, as festas pastorais, as celebrações litúrgicas e as devoções populares). Todas elas são importantes, porém devem nos conduzir à uma experiência intima, profunda, testemunhal e verdadeira com Cristo, que está na Eucaristia, no nosso próximo e se estende até onde o Espírito bem quiser. Daí uma pergunta fundamental: nossos instrumentos oracionais, nossas festas e ações evangélicas estão nos levando e conduzindo a experimentar Cristo na Vida?!

Outro elemento que possui tamanho valor e contributo para experiência e testemunho de fé é o aspecto humanitário. Daí todos os instrumentos utilizados na formação (psicologia, sociologia, filosofia, teologia, formação técnica, etc) precisam contribuir para nossa humanidade. Tal humanidade deve ser bem explorada e aprofundada, nas suas diversas áreas. Porém, essa necessidade deve ter em vista uma preparação para orientar a pessoa aspirante para um caminho fundamental: a Vida Religiosa, e não outro. Daí duas questões são fundamentais: as etapas de formação e seus instrumentos formativos estão contribuindo para a humanização dos aspirantes a vida religiosa? Essa humanização está orientada para opção fundamental de Vida?  

O último elemento desse processo é o menos explorado, na Vida Religiosa, porém, podemos considerar como relevante para identidade, vida e missão religiosa: a compreensão e integração sócio-cultural-política com a sociedade. É fundamental para os aspirantes estarem situados nas questões principais do seu tempo. Pois tais elementos da realidade vão exigir deles, e de todos nós, uma postura. Não é mais possível no tempo atual estar aquém da nossa realidade histórica e do seu clamor por salvação. Logo, dos futuros religiosos (as) serão exigido (a) uma ação profético-redentora, como sal da terra, para a realidade contemporânea, e luz do mundo, no tempo presente. Seria um erro observar, no processo de formação religiosa, os três elementos citados de modo separados. Pois os três precisam convergir e se integrar para uma formação integral. Na verdade uma forma de avaliar qualquer um dos três pontos seria nessa relação conjunta, uma vez que uma experiência de fé-espiritual-cristocêntrica verdadeira implica a realização plena do humano e um testemunho atualizado e condizente com seu tempo. Cristo é esse exemplo. 

Outra interrogação pertinente está no âmbito de todo o processo inicial de formação pré-consagração, isto é, nas etapas de formação antes dos votos perpétuos, na identidade particular religiosa e na finalidade desta: os nossos locais de formação, espaços, estruturas, pastorais e movimento dinâmico formativo estão contribuindo para o ser e agir religioso, de modo diferente e distinto das outras instituições empresariais e outras formas de vida cristã? Essa interrogação tem em vista um problema que encontramos ainda hoje: os riscos de tratar e conceber a Vida Religiosa como qualquer outra vida laica ou até não católica, e, também, o perigo de um acolhimento, sem discernimento, das mudanças que acontecem no tempo presente com o secularismo, o relativismo e o hedonismo. Um desses sinais que pode desfigura a identidade religiosa é o excesso do institucionalismo (ao modelo das empresas). É triste encontrar casas de formação religiosa, e as vezes até dinâmica pessoais de vida religiosa que mais parecem setor empresarial, robusto de formalismo legalistas e profissionalismo evangélico, contrário a essência fundamental da vocação e Vida Religiosa: a vocação, a vida de fé, de comunidade testemunhal e querigmática do Redentor. Conforme comenta o Pe. Giuseppe Colombero na Vida religiosa Consagrada: da convivência à fraternidade (2007, p.11), é frequente “encontrarmos religiosos [...] com excelente competência em áreas profissionais, mas com lacunas evidentes na sociabilidades, ótimos professores ou enfermeiras [...], mas incapazes de ter uma vida verdadeiramente participativa nas suas comunidades”. Precisamos tomar o cuidado para não transformar a formação em uma promotora diplomática e legalista da religião cristã.

Para ilustrar alguns desses efeitos problemáticos que podemos ter na Vida Religiosa, com um modelo formativo imaturo, em que se destaca mais o aspecto institucional-empresarial do que religioso, destacamos o caso do mundanismo espiritual denunciado pelo Papa Francisco na Evangelii Gaudium (2013, p.80-81):

Este obscuro mundanismo manifesta-se em muitas atitudes, aparentemente opostas, mas com a mesma pretensão de ‘dominar o espaço da Igreja’. Em alguns há o cuidado exibicionista da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja, mas não se preocupam que o Evangelho adquira uma real inserção no povo fiel de Deus e nas necessidades concretas da história. Assim a vida da Igreja transforma-se numa peça de museu ou numa possessão de poucos. [...] Também se pode traduzir em várias formas de se apresentar a si mesmo envolvido numa densa vida social de viagens, reuniões, jantares, recepções. Ou então se desdobra em um funcionalismo empresarial carregado de estatísticas, planificações e avaliações, onde o principal beneficiário não é o povo de Deus, mas a organização.

Tais elementos do mundanismo espiritual também tem sua contribuição por um processo de formação inadequado ao qual pode se inserir a pessoa aspirante a Vida Religiosa. Daí é importante perceber e direcionar a orientação e os instrumentos formativos para a essência da identidade religiosa, onde se acentua a vida em vista do mistério trinitário, do testemunho pessoal, comunitário e da evangelização profética, mais do que o institucionalíssimo. Neste sentido é preciso rever se a estrutura formativa está promovendo o ser religioso ou profissionais do sagrado. Pois a Vida Religiosa implica um modo de ser, uma comunhão, uma ação pastoral-missionária e expressividade a partir de quem mais nos importa, isto é, a quem decidimos entregar, doar e dedicar toda a nossa vida evangelicamente: Jesus Cristo.

Outro elemento fundamental para nos orientar na formação religiosa é o carisma da Congregação ou Ordem, dentre outras expressões de Vida Religiosa. Na história religiosa muito se confundiu a nossa identidade com as ações específicas sociais que fazíamos, como criar hospitais, construir colégios e desenvolver um trabalho de assistência social aos mais carentes. Daí tivemos um erro de reduzir a caridade religiosa à sua identidade, quando na verdade o caminho era oposto, isto é, constar que a caridade evangélica é fruto da identidade religiosa. As obras de caridade são frutos do Espírito em muito valiosas nos tempos atuais, porém hoje é preciso continuar o testemunho profético de um modo renovado e até diferencial, se preciso for. A retomada para as fontes do carisma, junto a experiência de fé e vida dos fundadores, que o Concílio Vaticano nos convidou a realizar (CONCILIO VATICANO II,2007, p. 302) é fundamental para encontrarmos com o nosso percurso originário, nossa identidade religiosa e nossa missão de continuar atualizando o carisma nas condições atuais, sem um reducionismo a práticas sociais caritativas. Porém, também é na retomada e clareza do carisma que encontramos o norte para a formação religiosa.

Toda a nossa formação religiosa deve estar orientada para um único horizonte, como membro do corpo Igreja: a identidade carismática própria do ser religioso e do exercício da missão enquanto religioso. Daí precisa-se observar se os nossos elementos da e para formação estão se orientando por tal dinâmica. Se as atividades, as funções, os cargos, os trabalhos pastorais e a formação humana-espiritual-afetivo sexual, social e política estão concordando, sustentando e completando a forma carismática de vida e testemunho religioso. Para esclarecer mais sobre a orientação da formação, é importante considerar a área missionária de atuação de cada Congregação, Ordem ou Instituto religioso. Isso é tão fundamental, pois até certo ponto, são as necessidades de nossas áreas missionárias, no seu contexto-sócio-político-cultural, que orientam e possibilitam a atualização do carisma religioso e as adaptações necessárias para o processo de formação, já acenado pelo Concilio Vaticano II (CONCILIO VATICANO II, 2007, p.303). A experiência da forma como viveu Jesus Cristo-pobre, casto e obediente ao Pai- só tem sentido em vista do projeto carismático do Pai (a salvação da humanidade, e de modo preferencial os pobres), e do clamor da situação histórico-espiritual-contextual humana (o legalismo, o fechamento, a monopolização e privilégio da casta religiosa, e a situação de abandono, desprezo e exclusão dos pobres e miseráveis da sociedade). Daí é fundamental se considerar a especificidade do carisma, da caminhada religiosa e da área missionária para traçar-se os instrumentos necessários da formação religiosa, pois esses três elementos precisam estar em harmonia.

Uma questão que urge atualmente é a reestruturação do processo formativo. Se antes se tinha modelos tradicionais de formação com suas estruturas objetivas, radicais e exigentes, onde tudo não se podia, onde tudo era pecado e o formador era a voz de Deus, hoje podemos ver que não é possível utilizar o mesmo modelo tradicional de formação. Isso porque os modelos antigos e essa forma de conduta não atrai, não estimula e não conquista os jovens atuais para a Vida Religiosa. Não se coloca remendos velhos em panos novos. Podemos perceber que temos um perfil de jovens (homens e mulheres) que aspiram a Vida Religiosa, mais informatizados, mais técnicos e mais críticos. Por isso é visível atualmente as nossas estruturas formativas serem questionadas sobre sua validade, identidade e testemunho religioso. Isso pode ser útil para refletimos o modo como está sendo conduzida as estruturas formativas e que coisas precisam ser mudadas, atualizadas e melhoradas. Daí é preciso uma revisão sobre os modelos utilizados no processo de formação, considerando as etapas no seu todo. Alguns elementos que possuem particular atenção na formação inicial, como em todo o processo, é acenado no Documento de Aparecida (2007, p.145):

O tempo da [...] formação é uma etapa onde os futuros presbíteros [e religiosos] compartilham a vida, a exemplo da comunidade apostólica ao redor do Cristo Ressuscitado: oram juntos, celebram a mesma liturgia que culmina na Eucaristia, a partir da Palavra de Deus recebem os ensinamentos que vão iluminando sua mente e modelando seu coração para o exercício da caridade fraterna e da justiça, prestam serviços pastorais periodicamente a diversas comunidades, preparando-se assim para viver uma sólida espiritualidade de comunhão com Cristo Pastor e docilidade à ação do Espírito Santo, convertendo-se em sinal pessoal e atrativo de Cristo no mundo, segundo o caminho de santidade [...]. 
  
Se antes se tinha um perfil mais homogêneo de jovens para a Vida Religiosa, atualmente temos uma diversidade e pluralidade de perfis que precisam ser considerados no processo, nos métodos e instrumentos de introdução a Vida Religiosa. Se até então se contemplou quatro dimensões da formação religiosa, a saber, a “dimensão humana comunitária, espiritual, intelectual, [...] e pastoral-missionária” (Ibidem, p. 131), hoje precisamos fazer uma atualização, ressignificação e reconstrução, tanto desses conteúdos formativos como dos outros instrumentos utilizados nas dimensões formativas. Isso é pertinente porque os sinais dos tempos exige respostas compatíveis de um modo evangélico renovado. Uma formação que produza “a comunhão” com os diversos perfis dos jovens para a Vida Religiosa é necessária. Não se trata, portanto, de uma abertura sem discernimento para as novas realidades que se apresentam nos perfis de jovens que temos, mas de uma formação que promova na diversidade de culturas, espiritualidades e linhas religiosas uma direção fundamental para o carisma específico da Vida Religiosa, e a apreciação de seus princípios essências que precisam tocar todas as realidades possíveis. 

Por outro lado, a diversidades de dons, modos de vida e perfis que encontramos nos candidatos para a Vida Religiosa não pode ser visto como problema, mas como possibilidade de contribuição para a identidade carismática e missionária de cada Congregação, Instituto, Ordem ou qualquer modo de Vida Religiosa.  Trata-se, portanto, de uma busca de unidade na diversidade, e da contribuição da diversidade para a identidade da unidade na Vida Religiosa. Essa experiência é demonstrada pelo próprio mistério que celebramos: a Santíssima Trindade.

Também, no processo de iniciação a Vida Religiosa, é importante, considerar a autonomia e expressividade de quem aspira à essa caminhada, tanto aos mais expressivos, quanto aos menos. Pois quando não se promove espaço para tais coisas, corresse o risco de se ter um processo aparente de formação, e não um processo que deve ser assumido com toda autenticidade e reta índole. O caminho do diálogo sempre é necessário, com a liberdade, respeito e autonomia devida.  Outro elemento significativo que precisa acontecer no processo de formação é a promoção dos diversos, talentos, dons e habilidades que possuem ou podem até adquirir quem deseja seguir esse modo de vida. As vezes corre-se o erro de reduzir a Vida Religiosa à habilidades intelectuais e litúrgicas. Tais coisas são boas, porém é um erro reduzir a dinâmica da Vida Religiosa há isso. Há diversos caminhos complementares que podem enriquecer o carisma específico. E nesse aspecto quando não se explora tais talentos se pode perder muito no processo e na criatividade evangélica.

Por fim, três considerações tocam a formação religiosa pós-consagração, ou melhor dizendo, a Vida Religiosa propriamente dita. A primeira é a abertura para se considerar em um processo de formação continua, já acenado pelo Documento de Aparecida (2007, p.130-131). Isso é tão importante, atualizar os (as) religiosos (as) para as necessidades evangélicas do tempo presente. Infelizmente é triste e lamentável observar que há religiosos e religiosas que após realizar os votos evangélicos perpétuos se acomodar e não procuram continuar um processo que fez parte para sua iniciação a Vida Religiosa. Daí pode-se correr o grande risco de perder as pérolas preciosas tão exigidas e fundamentais para ser ter e manter viva e renovada a identidade religiosa. Uma consciência mais clara seria a de que, mesmo sendo religioso(as), precisamos ter um itinerário constante e de continuo amadurecimento religioso, na nossa vida e caminhada da congregação, instituto e ordem. E que esse itinerário só tem sua plenitude no Céu. Muitos religiosos não se atentam a isso, e geram diversos problemas e prejuízos para a comunidade religiosa a qual ele está inserido.

A segunda consideração se reporta ao testemunho evangélico religioso como principal meio de evangelização. O Papa Francisco já acenou sobre isso na carta a Vida Consagrada, onde se afirmou que: “[...] a eficácia apostólica da vida consagrada não depende da eficiência e da força dos seus meios. É a vossa vida que deve falar, uma vida na qual transparece a alegria e a beleza de viver o Evangelho e seguir a Cristo” (FRANCISCO, 2014, p.17). É triste encontrarmos com religiosos que não vivem e nem buscam, persistentemente, um ou mais desses elementos: a) uma vida fraterna, b) uma dedicação por Cristo na comunidade religiosa, c) uma consciência madura sobre a exigência dos votos na radicalidade de vida cristã, d) a alegria e satisfação por ser religioso (a), e) um testemunho mais coerente possível com sua resposta de vida, f) um amadurecimento humano-espiritual e uma vida de oração continua, g) uma ação missionária-social-profética como fruto da experiência com Cristo, h) um cuidado, respeito, envolvimento, diálogo e responsabilidade para com as pessoas de sua área missionária. Todas essas características são marcas visíveis do ser religioso, que a sociedade precisa cada vez mais. Sem esses elementos fica difícil promover uma formação e identidade religiosa verdadeira e efetiva, pois a melhor inspiração e motivação para a Vida Religiosa é o testemunho. E sem isso não se ajudar a sociedade e muito menos quem está no processo para caminhar conosco.

Por último, observamos uma necessidade de Misericórdia na Vida Religiosa. Tantos irmão caminham desalentados, abandonados e perdidos na Vida Religiosa. Isso porque não só da parte deles tiveram uma perda e descuido da sua identidade religiosa e entrega de vida radical a Cristo, mas também pelas dificuldades e entraves que alguns membros da comunidade deixaram de proporcionar, para reerguem o irmão caído. Uma vida religiosa onde não reina a solidariedade, o serviço, o diálogo, a amizade, o respeito, o companheirismo, o acolhimento, a correção fraterna, a busca pela conversão e a constante busca pelo amadurecimento no modo de vida respondido é um sinal que a presença de Cristão ainda não realizou o que devia, pelo fechamento ao projeto que não é de ninguém, mas si de Deus.  

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