Isaias Mendes Barbosa
29/11/2013. (XVIII Semana Universitária)
RESUMO-
A
presente proposta de exposição busca tratar da Ética aristotélica, compreendendo
como tal obra estuda o temperamento e o comportamento pelo qual o homem
constrói o seu ethos, o seu espaço,
em um contexto-temporal-histórico determinado, e as relações que implicam ao
mesmo quanto a vida virtuosa e a arte do ‘bem
viver’. Por meio da reflexão sobre a Ética
a Nicômaco e de outras obras relevantes no que concerne à Ética
Aristotélica, propõe-se, aqui, apresentar uma sucinta ideia do que consiste a reflexão
acerca das seguintes questões: a)
etimologia da palavra ética ao termo propriamente dito; b) o conceito de Ψυχή e,
a sua fundamentação na construção da Ética aristotélica; c) a virtude
dianoética e ética: agir conforme a virtude e em função da virtude; d) a
excelência, o sentido orientador (meio termo) para o domínio de si, as ações
voluntárias e involuntárias; e) e a teleologia da ética aristotélica: Bem e
Eudaimonia. Por fim, conclui-se que a ética aristotélica foi fundamental na
Grécia, para evolução do homem, compreendido na visão aristotélica como animal
político, e para a criação de seu ethos
que, atualmente, seria um caminho para os problemas éticos atuais.
Palavra-chave: Aristóteles, ethos, ética.
INTRODUÇÃO
Aristóteles
nasceu em Estagira pelo ano 384 a. C. Seu pai, médico, chamava-se Nicómaco, e
sua mãe Festis. Nicómaco era amigo do rei da Macedónia, Amintas II, por quem
trabalhou como médico. Porém, com pouco menos que 16 anos, Aristóteles perde os
pais. Ao ingressar na Academia platônica ele já apresentava interesse pela
pesquisa biológica. Ele era Grego, pela descendência familiar. Em 347 vai para
Assos, na Ásia menor, e de lá para Milîlene. Em 343, imbuído por Felipe, adquire
a missão de educar Alexandre. Daí ver-se o quanto sua filosofia influenciou nas
grandes conquistas de Alexandre.
Em 396 volta a Atenas e abre sua
academia, o liceu. Nessa academia ele desenvolve sua filosofia, pela qual
conhecemos por duas obras: escritos exotéricos
e esotéricos. Aristóteles não
concordava com a fusão dos gregos com outras civilizações, em função de seus
princípios morais. Após a morte de Alexandre, Aristóteles é hostilizado pelos
antimacedônicos. Daí é acusado de impiedade, devido sua postura. Assim, deixa
Atenas e se refugia em Cálcis, na Eubéia, onde morre em 322 a. C.
Neste artigo pretende-se apresentar uma
simples compreensão a cerca da ética aristotélica de acordo com a) a etimologia
da palavra ética ao termo propriamente dito; b) O conceito de Ψυχή
e sua fundamentação na construção da Ética aristotélica; c) a virtude
dianoética e ética: agir conforme a virtude e em função da virtude; d) a
excelência, o sentido orientador (meio termo) para o domínio de si, as ações
voluntárias e involuntárias; e)
e a teleologia da ética
aristotélica: Bem e Eudaimonia.
Com isso objeta-se que sua filosofia foi
de grande importância para evolução do pensamento grego, e pode ser um grande
indicador solucional diante das problemáticas éticas atuais que, além de se
apresentarem com estruturas frágeis, estão indiferentes, alienantes, ignorantes
e negligentes quanto aos paradigmas éticos antigos, fundamentais na evolução do
humano ético de essencial importância para a atualidade.
Da etimologia da palavra ética ao
termo propriamente dito
A concepção da palavra ‘ética’ tratada por Aristóteles, deriva
do Grego, cujo significado é designado por ethos.
Porém, esse conceito implica dois sentidos. Daí, compreende-se ethos (com eta inicial) e ethos ( com épsilon inicial). O primeiro
é a morada do homem, ou animal. É o espaço pelo qual o homem se encontra, é a
sua estada permanente e habitual. Sabe-se que esse ethos não é algo pronto na natureza humana, como se apresenta na
estrutura lógica da ‘physis’, más algo que se faz, se constrói e se reconstrói.
Já o segundo é a constância da ação humana. A disposição consciente, a abertura,
pelo qual o ser humano age de forma habitual e se rege pelo ethos como costume (Cf. LIMA VAZ, 2004, p.11-14). Daí, concluiremos que os dois
conceitos trata da realidade histórico-social do agir humano e a sua presença
comportamental constante (Cf. LIMA VAZ, 2002, p.15).
A unidade do conceito ethos com o conceito hexis, imprimi-nos uma nova noção
denominada de hábito. Entre a união
do hábito com a disposição permanente para o agir do homem em vista de um fim
teleológico(Bem), o ethos se encontra
como espaço propício pelo qual se efetua a práxis. Daí se dá a inter-relação
entre o ethos (como costume, tradição),
a práxis, para a efetivação de uma ação ética, e o ethos, como hábito. Ver-se que a práxis é como a mola propulsora
que dá a dinâmica do costume para o hábito afim de se concretizar uma ação
ética, como explana Lima Vaz :
Enquanto ação ética, a práxis humana é a atualização
imanente (enérgeia) de um processo estruturado segundo uma circularidade causal
de momentos, e essa constitui exatamente o primum notum, a evidência primeira e
fundadora da reflexão ética. O ethos
como costume, ou na sua realidade histórico-social, é princípio e norma dos
atos que irão plasmar o ethos como
hábito (ethos-hexis). Há, pois, uma
circularidade entre os três momentos: costume (ethos), ação (práxis),
hábito (ethos-hexis), na medida em
que o costume é fonte das ações tidas como éticas e a repetição dessas acaba
por plasmar os hábitos. A práxis, por sua vez, é mediadora entre os momentos
constitutivos do ethos como costume e hábito, num ir e vir que se descreve
exatamente como círculo dialético: (LIMA VAZ, 2004,p.15)
A reflexão ética sobre esse processo
dinâmico que envolve o agir humano, inserido em seu contexto
histórico-cultural-espiritual, caracterizará o que chamamos de ‘ciência do ethos’, que chegará a termos
(Ética) propriamente dito e bem conceituado por Aristóteles. Por fim, a Ética
de Aristóteles é compreendida como um saber prático dessa ciência do ethos que é a forma de apresentação do
ser humano e de seu espaço espiritual[1].
Sabe-se que a ética[2]
não parte de Aristóteles. O primeiro a propor uma visão clara dela é Sócrates
com a compreensão do homem para alcançar a liberdade, o encontro da verdade e a
perfeição da alma através da vida virtuosa. Daí concebe-se que sua filosofia
está centrada numa ‘Moral intelectual’ pelo qual qualquer homem pode conceber a
verdade através do processo maiêutico racional e da vida virtuosa. Com Platão
essa ética também se encontra atrelada a vida virtuosa, que se alcança pela Paidéia[3], porém sua fundamentação
está num mundo ideal, pelo qual nós só podemos ser imagens, ordenado pelo ‘Bem’
contemplado pela razão e adquirido por um processo dialético. Com Aristóteles o
finalidade de conduta do ser humano não está fundamentada em um bem unívoco e
ideal, mas em vários bens, uma vez que, a realidade da natureza prática pela
qual o homem se conduz é múltipla e subjetiva. Porém, toda a dinâmica
comportamental, contextual, histórico, cultural da práxis humana tem um
imperativo fundamental: “O bem viver”
(LIMA VAZ, 2002, p.18-21).
Conceito de Ψυχή[4] e sua fundamentação na
construção da Ética aristotélica
O horizonte humano e sua especificidade,
como ser atuante, é o ponto central pelo qual rege a ética aristotélica. Sem o
homem não se pode formular caráter, não se constrói ethos, não se tem praxis,
não se formula costumes, não se faz tradição, não se legitima Leis. Para Aristóteles o homem é compreendido com
corpo (estrutura física) e alma (psyqué) (Cf. ARISTÓTELES, 2009, p.5-7). O
corpo recebe a definição de matéria
em potência, em quanto que a alma é forma
e ato[5]. As duas coisas
fazem parte da substância. O corpo e
a alma não são agentes separados, como prega a concepção do homem em Platão,
mas duas coisas que estão em estreita relação e que constitui o homem. A alma é
o ponto de partida que rege o corpo. Ela é “a enteléquia do corpo”, o princípio
que dá vida ao corpo. Daí é fundamental
para compreender a reflexão ética de Aristóteles pela qual o homem se define e
age, a partir dessa alma, que anima o corpo, que é o fazer-se do homem com suas
características primordiais e com a construção de seu ethos. Para tratar de alma Aristóteles faz uma consideração
característica geral que separa os seres inanimados, dos animados e a distinção
categórica entre estes.
Para Aristóteles a alma é dividida em
três partes, ou faculdades, ou funções da alma: a alma vegetativa, a
alma sensitiva e a alma intelectual ou racional. Na alma vegetativa o caráter
comum é o nascimento, a nutrição, o crescimento e algumas mudanças convenientes
a esses três aspectos é ela o princípio de reprodução feito para eternidade. Na
alma sensitiva temos as sensações e o movimento entre outras coisas. Nos
animais existem essas sensações, apetites e movimentos, porém, assim como a
alma vegetativa, é a alma sensitiva que produz as sensações. Na alma racional
de caráter intelectivo a função é a deliberação (decisão), e eleição. Nela se
encontra uma espécie de pensamentos e operação associadas às outras funções da
alma. Nesta se encontra uma característica elevada com a capacidade em potência
de conhecer a outras realidades. Isso é o que Aristóteles propõe assemelhar-se
ao divino. (Cf. REALE, 1997, p.71-68)
Assim entra em questão a diferença
importante, que destaca o homem entre os outros seres animados. Para
Aristóteles todos os seres possuem alma. Porém, há uma variação quanto a
especificidade desta alma. As plantas possuem alma vegetativa, os animais
possuem a alma vegetativa e sensitiva e o homem, por sua vez, é composto de
alma vegetativa, sensitiva e racional.
O homem, sendo portador dessa alma
completa e desse corpo, organismo, que ela anima, tem um fim ético, que se
realiza, pela força das partes da alma, no seu comportamento
e sua ação na sociedade. Cabe ao homem assim, uma atividade que o defina enquanto
pessoa, e personalidade, que o impulsione para seu fim ético.
Virtude
dianoética e ética: agir conforme a virtude e em função da virtude
A ética aristotélica se subdivide pelo
saber ético (pratico) e saber dianoético. O primeiro é referente à ação prática do homem, seus atos. O segundo está
relacionado as virtudes da alma. Daí, o que compete a alma ser ética é a sua
atividade racional, pois o homem só pode agir corretamente se for em função a
razão. É nela que o homem atinge um coeficiente de inteligência a nível divino.
As outras partes da almas (vegetativa e sensitiva) não conduz o indivíduo a
felicidade e a elevação de si, más a dependência da irracionalidade. Cabe ao
indivíduo dedicar-se a parte da alma racional para dominar conduzir as partes
irracionais, a fim de adquirir a excelência.
O homem á alma enquanto vida ativa. A
alma racional é dividida em duas partes: razão teorética e razão prática. No
que compete a teorética temos a sophia,
que é a sabedoria. Já na alma prática temos a phrónesis, cujo significado é prudência (virtude). Esta consiste em
saber dirigir corretamente a vida do homem, em função do que é bom e mau. Na
vida prática a phrónesis é a razão
principal para o indivíduo temperante chegar a eudaimonia, a excelência.
Entre a prudência e a virtude ética
existe uma estreita relação, pois a virtude ( aretê) conduz a pessoa ao
fim verdadeiro (eudaimonia), em
quanto que a prudência percorre o caminho devido. Porém, de maior valor que a phrónesis, está a sophia esta está além da prudência, uma vez que o processo racional
do intelecto está acima do homem, é como algo de divino. E é por ele, na
contemplação que o homem consegue ser verdadeiramente feliz.
A partir da virtude dianoética, damos um
novo paço para virtude ética (prática). Aquela torna esta efetiva de acordo com
a atividade, o agir, o se fazer humano. Nesse comportamental faz-se a relação
entre o caráter do indivíduo condizente com o seu se fazer. Por exemplo: se o
homem possui a virtude da coragem (caracterizado em sua alma), o seu agir será
a efetivação desta virtude intelectiva no mesmo, as suas ações.
Excelência, sentido orientador (meio termo) para o
domínio de si, ações voluntárias e involuntárias
No que compete ao caráter virtuoso do
homem em relação com suas ações, dizemos que a excelência do homem está em uma atividade ou disposição correta
daquilo pelo qual ele está determinado, pela virtude, a fazer. É como uma
função específica, a disposição ética do caráter. E ela remete ‘As disposições que são louváveis’(Cf.
ARISTÓTELES, 2009,p.39) É como a perfeita ação prática teleológica do indivíduo
virtuoso. Assim, cita Aristóteles:
Mas não deve
apenas dizer que é uma disposição, deve também acrescentar-se que se trata de
uma certa qualidade. Enquanto qualidade tem, pois, de se dizer o seguinte:-
toda a excelência é capaz de desenvolver plenamente o potencial do ente que a
detém, ao restituir-lhe assim a sua função específica de um modo correto. Deste
modo, por exemplo, é a excelência dos olhos que é capaz de fazer deles olhos
excelentes. Ou seja, é capaz de lhes restituir a sua função específica de modo
correto. Pela presença da excelência nos olhos vemos excelentemente. De modo
semelhante, acontece com a excelência de um cavalo. É ela que faz do cavalo um
cavalo excelente: ao galopa na pradaria e ao levar o cavaleiro até junto dos
inimigos. (ARISTÓTELES, 2009,
p.47, LIVRO II, 1106a)
Para que o indivíduo atinja a
excelência, faz-se necessário agir corretamente. Mas para que ele haja assim,
que é uma característica virtuosa, Aristóteles propõe um sentido orientador
para a o bem viver que se qualifica como meio
termo. Daí, a excelência do caráter do homem está no justo meio. Este é o condutor seguro do homem em meio as irracionalidades
e as desordens produzidas nas coisas (paixões) pelo excesso e ausência. Daí
entre esta e aquela, a virtude é a via
média pela qual o homem deve se orientar:
A excelência é, portanto, uma disposição do caráter
ecolhida antecipadamente. Ela está situada relativamente a nós pelo sentido
orientador, princípio segundo o qual também o sensato a definirá para si
próprio. A situação do meio existe entre duas perversões: a do excesso e a do
defeito.(ARISTÓTELES, 2009, p. 49, LIVRO II, 1107a1)
O meio termo é como a justa medida entre as
características que podemos definir como desnorteadora da autonomia do
individuo virtuoso. Daí entre o excesso e a ausência existe o meio termo, como
entre a indiferença e a irascibilidade, o meio é a gentileza; entre a
discriminação e o orgulho, o meio é a veracidade; entre o enfado e a condescendência,
o meio é a amizade; entre o desavergonhado e o tímido, o meio é o modesto.
Notemos que o meio termo não é nada menos do que uma medida correta do agir em
meio às paixões em excesso entre a ausência. Porém, essa justa medida de
caráter está orientada a cerca do que seja ético, ou bom. Pois não pode haver
um meio termo ético entre o raivoso e o irado, uma vez que as duas coisas só
remete a uma atitude negativa, cuja finalidade é a mesma.
No “Ética a Nicômaco” encontramo-nos
diante de alguns obstáculos que Aristóteles nos expõe em vista de nossas ações
e decisões, congruentes ao nosso caráter e as nossas atitudes éticas. Para ele
existe algumas situações externas que podem ou não nos levam, ou obrigar a
tomar decisões não inferentes ao nosso caráter, ou as nossas virtudes. Elas
dificultam o agir do homem virtuoso.
Levando em consideração essas situações,
Aristóteles nos coloca diante do que ele chama de “ações voluntárias e involuntárias”. As ações voluntárias são
aquelas que o indivíduo tem plena consciência de si, e total domínio sobre os
seus atos como explana Aristóteles:
Ora só quem se encontra em determinadas
circunstância é que age, de fato, voluntariamente. Isto é, quando tem em si
próprio o princípio (motivador) da ação, acionando assim os elementos
instrumentais da ação. Quando o princípio motivador se encontra no próprio
agente, é dele que depende o serem levadas à prática ou não. Ações deste gênero
são, pois voluntárias, mesmo que resultem da força das circunstâncias.(
ARISTÓTELES, 2009,p.57, 1110ª 15-20)
As ações voluntárias também entram em
relação com a finalidade pela qual se faz algo em determinada situação. Ou
seja, se um indivíduo passa por um estado de sofrimento, ou algo doloroso, num
dado momento, em função de um fim bom, ou ruim, ele está praticando um ato
voluntário, pois tem consciência da situação e age de determinada forma por um
motivo. Então esse é um ato voluntário, pois é característico de uma ação
espontânea que tem a sua origem no sujeito que a realiza.
Porém, quando o indivíduo age, mas em
função deste ato ele passa por uma situação de vergonha, arrependimento e
dor, pode-se dizer que esta ação é involuntária. O caso, socrático, da ignorância, também é uma situação pela
qual Aristóteles define uma ação involuntária, sendo que o indivíduo não se a
percebeu do que fez, mas há caso em que se ele desconhece seus atos, não tendo
nenhum sentimento de tristeza pelos seus atos, a situação é definida como não voluntária.
Daí compete ao homem virtuoso agir
conforme a verdade, com a justa medida, a fim de proceder conforme o bem,
apesar de esse parecer ser subjetivo, uma vez que o que é bom para um não
necessariamente deva ser bom para outro, entretanto, segundo Aristóteles, o
homem virtuoso está distinto dos demais, pois possui a capacidade e o caráter
para bem agir. Este deve ser levado em consideração.
Teleologia da ética
aristotélica: Bem e Eudaimonia
A ética de Aristóteles remete-se ao
caráter do homem e ao seu agir atrelado a sua personalidade. Ela é uma ciência
que visa a um ‘horizonte prático’ que requer uma ação realizável. Caracterizar
esse horizonte é definir a situação específica pela qual o ser humano se
encontra e se faz. O agir do homem é o ponto central de toda ética prática e
esta o conduz a um fim particular de cada indivíduo, o bem. Podemos dizer que
existe vários bens, até mesmo pelo dinamismo da praxis, porém, para Aristóteles, existe um tipo de fim pelo qual o
homem se conduz que é superior ao bem particular, ou bens: o bem supremo. Essa
unidade não contradiz a multiplicidade, pois entre os diversos bens, o bem
supremo é quem abarca toda essa subjetividade e é a finalidade em si mesma de
toda conduta humana. É importante observar que não existe diferença entre ação
ética e moral, pois o homem grego age em função da comunidade que é identifica
com sua própria ação. Daí, entre uma conduta que leva o bem individual e outra
que orienta para o bem social, a melhor e a mais correta, para o Grego, do
homem agir, que o torna completo e aproximo do divino, é através do bem de um
povo: o bem humano:
O fim que ela persegue envolve de tal modo os fins
das restantes, ao ponto de tratar-se do bem humano. Porque, mesmo que haja um
único bem pra cada indivíduo em particular e para todos em geral num Estado,
parece que obter e conservar o bem pertencente a um Estado é obter e conservar
um bem maior e mais completo. O bem que cada um obtém e conserva para si é
suficiente para se dar a si próprio por satisfeito; mas o bem que um povo e os
Estados obtêm e conservam é mais belo e mais próximo do que é divino.(
ARISTÓTELES, 2009,p.18)
Aristóteles assim prega uma Ética cuja
teleologia é o bem. Entre as diversas ciências que o homem pode se exerce, é na
Política que essa possibilidade se torna possível, uma vez que ela é a mais
elevada de todas as ciências, e a que trata de assuntos que compete a todas as
ciências, que rege a sociedade. Com isso é na política que o homem tem a
capacidade de se exercer e de agir conforme o bem humano, porém não é o mais elevado, segundo Aristóteles.
O
‘bem’ e a ‘eudaimonia’ estão em estreita relação. O alcance do bem , e a sua
efetiva realização, por via racional, na vida prática é o que Aristóteles
define como uma produção da verdadeira eudaimônica.
Porém, existem três gêneros de vida que produzem esse estado. Ele Assim
enumera:
Há, então, três formas principais de
viver [bem] a vida: Aquela mencionada anteriormente [referente ao jovem
inexperiente, entregue aos desejos]; em segundo lugar, a que é dedicada a ação
política e, em terceiro à atividade contemplativa. (ARISTÓTELES, 2009, p.21,
acréscimo nosso)
A primeira se refere às pessoas que
confundem o bem e a felicidade com o prazer. Elas dedicam sua vida a satisfação
de seus desejos, como os animais, que se conduzem pelo instinto. Logo, para
Aristóteles, sua conduta não o leva a verdadeira eudaimonia, pois é preciso agir em função da razão. A segunda
explana a vida dedicada à ação política:
Na verdade, a honra que que é o fim último da vida
dedicada à ação política. Este bem que perseguem não deixa, contudo, de ser um
bem mais superficial do que aquele de que estamos a procura. [...] É evidente
que, pelo menos para estes, a excelência é mais poderosa do que a honra.
Talvez, pois, se possa supor que a excelência seja mais propriamente o objeto
final da vida política.[...]De fato, perece ser possível, mesmo a dormir, deter
a excelência, ou detê-la sem a pôr em prática ao longo da vida; acresce a isto
que pode ser-se excelente e sofrer-se tremendamente ou ser-se extremamente
infeliz. Ninguém pensará que quem assim viver será feliz, a não ser que
defender uma qualquer posição teórica a qualquer preço.[...] (ARISTÓTELES,
2009, LIVRO I, p.21-22)
Porém, entre os dois tipos de vida que se afirma conduzir
ao estado de eudaimonia, ela não é em
meio a um determinado fim, más um fim em si mesma, e é na vida contemplativa
que esse fim é realizado de forma plena e excelente:
Se, por conseguinte, a felicidade é uma atividade de
acordo com a excelência, é compreensível que terá de ser de acordo com a mais
poderosa das excelências, a excelência da melhor parte do Humano. Seja a melhor
parte do Humano o poder de compreensão ou qualquer outra coisa que pareça, por
natureza, comandar-nos, conduzir-nos ou dar-nos uma compreensão intrínseca do
que é belo e divino – seja isso mesmo divino em si, ou a mais divina das
possibilidades que existem em nós -, a atividade desta dimensão será de acordo
com a excelência que lhe pertence. Tal será a felicidade na sua completude
máxima. Uma tal atividade é, como dissemos, contemplativa.( ARISTÓTELES,
2009,p. 234, 1177a12)
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A ética aristotélica parte de uma
compreensão etimológica do termo ethos,
definida pelos antigos, até sua formulação como realidade histórico-social do
agir humano, onde se apresenta seu temperamento, seu caráter pela forma
habitual de auto-efetivação do indivíduo.
Para compreender a ética aristotélica é
necessário ter a compreensão da alma (psique) do homem, pois é dela, de sua
efetivação, atividade do corpo potencial que o homem se torna um ser virtuoso.
A alma do homem é dividida em vegetativa, sensitiva e racional, cabe a parte
racional ser a mais importante e a força condutora que rege as demais afim de
conduzir o homem a uma praxi ética. Dai, entra as virtudes dianoética e éticas
como as características que torna a alma virtuosa e excelente. Aquela regula os
passos humanos com a phrónesis, já a
ética é práxis e o reconhecimento dessas virtudes, através da relação entre o
caráter do indivíduo condizente com o seu se fazer.
Para que o homem seja excelente é
necessário a uma atividade correta de suas faculdades virtuosas condizente ao
seu se fazer no mundo. Dai o melhor termo pra definir a excelência é um dever
ser do indivíduo virtuoso. Daí , como possibilidade dessa efetivação, entra a
forma dele se conduzir que é característica do meio termo, da justa medida entre as paixões.Porém, quanto as suas
ações entra em questão a problemática das ações voluntárias e involuntárias,
que são como que situações múltiplas e ocasionais, que auxiliará na compreensão
e na liberdade ou não-liberdade do indivíduo decidir, ou seja, deliberar
eticamente. Portanto, a ética aristotélica tem com finalidade o agir do homem
virtuoso em torno do bem, onde se efetiva toda felicidade do homem.
Com isso objeta-se que sua filosofia foi
de grande importância para evolução do pensamento grego, e pode ser um grande
indicador solucional diante das problemáticas éticas atuais, em que nada se
manter, ou pelo menos se torna uma moral falaciosa, e que se apresentam alienantes,
ignorantes e negligentes quanto aos paradigmas antigos fundamentais da ética na
evolução do humano como ser necessário e importante e digno.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES. Ética
a Nicômaco/ Tradução do grego de Antônio de Castro Caciro, _, São Paulo:
Atlas, 2009. p.1-102; 221-246.
LIMA VAZ, Henrique Cláudio de. Escritos de Filosofia IV: Introdução à Ética Filosófica. São Paulo,
Edições Loyola, 2002, p. 1-57; 93-126.
_,_. Escritos
de folosofia II: Ética e Cultura. São Paulo, 2004, edições Loyola, p.7-36.
REALE, Giovanni. Introdução a Aristóteles. Lisboa- Portugal: Edições 70, 1997,
p.71-96.
VERGIÈRES,
Solange. Ética e política em
Aristóteles: physis, ethos, nomos/ _,_ ; - São Paulo: Paulus, 1998,
p.1-120.
[1] Entende-se espaço espiritual
como aquilo que o homem faz e cria para si. É a dinâmica de auto elevação do
homem.
[2] Da origem do termo ao seus primeiros
passos.
[3] Era um dos métodos pelo qual do
homem chegava a ser cidadão e a ser um homem virtuoso. Ela é a característica
de auxílio a formação do caráter do homem, a sim como a formação do seu corpo.
[4] Psiqué.
[5] Essa noção rege toda a filosofia
de Aristóteles. Assim como ele trata da dinâmica de causa e efeito como ato e
potência, também a alma com o corpo terá essa dinâmica.
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