quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Ética aristotélica: etimologia, psiqué, virtude, excelência e eudaimonia.




Isaias Mendes Barbosa
                     
29/11/2013. (XVIII Semana Universitária)

RESUMO-
A presente proposta de exposição busca tratar da Ética aristotélica, compreendendo como tal obra estuda o temperamento e o comportamento pelo qual o homem constrói o seu ethos, o seu espaço, em um contexto-temporal-histórico determinado, e as relações que implicam ao mesmo quanto a vida virtuosa e a arte do ‘bem viver’. Por meio da reflexão sobre a Ética a Nicômaco e de outras obras relevantes no que concerne à Ética Aristotélica, propõe-se, aqui, apresentar uma sucinta ideia do que consiste a reflexão acerca das seguintes questões: a) etimologia da palavra ética ao termo propriamente dito; b) o conceito de Ψυχή e, a sua fundamentação na construção da Ética aristotélica; c) a virtude dianoética e ética: agir conforme a virtude e em função da virtude; d) a excelência, o sentido orientador (meio termo) para o domínio de si, as ações voluntárias e involuntárias; e) e a teleologia da ética aristotélica: Bem e Eudaimonia. Por fim, conclui-se que a ética aristotélica foi fundamental na Grécia, para evolução do homem, compreendido na visão aristotélica como animal político, e para a criação de seu ethos que, atualmente, seria um caminho para os problemas éticos atuais.

Palavra-chave: Aristóteles, ethos, ética.

INTRODUÇÃO

            Aristóteles nasceu em Estagira pelo ano 384 a. C. Seu pai, médico, chamava-se Nicómaco, e sua mãe Festis. Nicómaco era amigo do rei da Macedónia, Amintas II, por quem trabalhou como médico. Porém, com pouco menos que 16 anos, Aristóteles perde os pais. Ao ingressar na Academia platônica ele já apresentava interesse pela pesquisa biológica. Ele era Grego, pela descendência familiar. Em 347 vai para Assos, na Ásia menor, e de lá para Milîlene. Em 343, imbuído por Felipe, adquire a missão de educar Alexandre. Daí ver-se o quanto sua filosofia influenciou nas grandes conquistas de Alexandre.
Em 396 volta a Atenas e abre sua academia, o liceu. Nessa academia ele desenvolve sua filosofia, pela qual conhecemos por duas obras: escritos exotéricos e esotéricos. Aristóteles não concordava com a fusão dos gregos com outras civilizações, em função de seus princípios morais. Após a morte de Alexandre, Aristóteles é hostilizado pelos antimacedônicos. Daí é acusado de impiedade, devido sua postura. Assim, deixa Atenas e se refugia em Cálcis, na Eubéia, onde morre em 322 a. C.
Neste artigo pretende-se apresentar uma simples compreensão a cerca da ética aristotélica de acordo com a) a etimologia da palavra ética ao termo propriamente dito; b) O conceito de Ψυχή e sua fundamentação na construção da Ética aristotélica; c) a virtude dianoética e ética: agir conforme a virtude e em função da virtude; d) a excelência, o sentido orientador (meio termo) para o domínio de si, as ações voluntárias e involuntárias; e) e a teleologia da ética aristotélica: Bem e Eudaimonia.
Com isso objeta-se que sua filosofia foi de grande importância para evolução do pensamento grego, e pode ser um grande indicador solucional diante das problemáticas éticas atuais que, além de se apresentarem com estruturas frágeis, estão indiferentes, alienantes, ignorantes e negligentes quanto aos paradigmas éticos antigos, fundamentais na evolução do humano ético de essencial importância para a atualidade.

Da etimologia da palavra ética ao termo propriamente dito

A concepção da palavra ‘ética’ tratada por Aristóteles, deriva do Grego, cujo significado é designado por ethos. Porém, esse conceito implica dois sentidos. Daí, compreende-se ethos (com eta inicial) e ethos ( com épsilon inicial). O primeiro é a morada do homem, ou animal. É o espaço pelo qual o homem se encontra, é a sua estada permanente e habitual. Sabe-se que esse ethos não é algo pronto na natureza humana, como se apresenta na estrutura lógica da ‘physis’, más algo que se faz, se constrói e se reconstrói. Já o segundo é a constância da ação humana. A disposição consciente, a abertura, pelo qual o ser humano age de forma habitual e se rege pelo ethos como costume (Cf. LIMA VAZ, 2004, p.11-14). Daí, concluiremos que os dois conceitos trata da realidade histórico-social do agir humano e a sua presença comportamental constante (Cf. LIMA VAZ, 2002, p.15).
A unidade do conceito ethos com o conceito hexis, imprimi-nos uma nova noção denominada de hábito. Entre a união do hábito com a disposição permanente para o agir do homem em vista de um fim teleológico(Bem), o ethos se encontra como espaço propício pelo qual se efetua a práxis. Daí se dá a inter-relação entre o ethos (como costume, tradição), a práxis, para a efetivação de uma ação ética, e o ethos, como hábito. Ver-se que a práxis é como a mola propulsora que dá a dinâmica do costume para o hábito afim de se concretizar uma ação ética, como explana Lima Vaz :
Enquanto ação ética, a práxis humana é a atualização imanente (enérgeia) de um processo estruturado segundo uma circularidade causal de momentos, e essa constitui exatamente o primum notum, a evidência primeira e fundadora da reflexão ética. O ethos como costume, ou na sua realidade histórico-social, é princípio e norma dos atos que irão plasmar o ethos como hábito (ethos-hexis). Há, pois, uma circularidade entre os três momentos: costume (ethos), ação (práxis), hábito (ethos-hexis), na medida em que o costume é fonte das ações tidas como éticas e a repetição dessas acaba por plasmar os hábitos. A práxis, por sua vez, é mediadora entre os momentos constitutivos do ethos como costume e hábito, num ir e vir que se descreve exatamente como círculo dialético: (LIMA VAZ, 2004,p.15)
A reflexão ética sobre esse processo dinâmico que envolve o agir humano, inserido em seu contexto histórico-cultural-espiritual, caracterizará o que chamamos de ‘ciência do ethos’, que chegará a termos (Ética) propriamente dito e bem conceituado por Aristóteles. Por fim, a Ética de Aristóteles é compreendida como um saber prático dessa ciência do ethos que é a forma de apresentação do ser humano e de seu espaço espiritual[1].  
Sabe-se que a ética[2] não parte de Aristóteles. O primeiro a propor uma visão clara dela é Sócrates com a compreensão do homem para alcançar a liberdade, o encontro da verdade e a perfeição da alma através da vida virtuosa. Daí concebe-se que sua filosofia está centrada numa ‘Moral intelectual’ pelo qual qualquer homem pode conceber a verdade através do processo maiêutico racional e da vida virtuosa. Com Platão essa ética também se encontra atrelada a vida virtuosa, que se alcança pela Paidéia[3], porém sua fundamentação está num mundo ideal, pelo qual nós só podemos ser imagens, ordenado pelo ‘Bem’ contemplado pela razão e adquirido por um processo dialético. Com Aristóteles o finalidade de conduta do ser humano não está fundamentada em um bem unívoco e ideal, mas em vários bens, uma vez que, a realidade da natureza prática pela qual o homem se conduz é múltipla e subjetiva. Porém, toda a dinâmica comportamental, contextual, histórico, cultural da práxis humana tem um imperativo fundamental: “O bem viver” (LIMA VAZ, 2002, p.18-21).

Conceito de Ψυχή[4] e sua fundamentação na construção da Ética aristotélica

O horizonte humano e sua especificidade, como ser atuante, é o ponto central pelo qual rege a ética aristotélica. Sem o homem não se pode formular caráter, não se constrói ethos, não se tem praxis, não se formula costumes, não se faz tradição, não se legitima Leis.  Para Aristóteles o homem é compreendido com corpo (estrutura física) e alma (psyqué) (Cf. ARISTÓTELES, 2009, p.5-7). O corpo recebe a definição de matéria em potência, em quanto que a alma é forma e ato[5]. As duas coisas fazem parte da substância. O corpo e a alma não são agentes separados, como prega a concepção do homem em Platão, mas duas coisas que estão em estreita relação e que constitui o homem. A alma é o ponto de partida que rege o corpo. Ela é “a enteléquia do corpo”, o princípio que dá vida ao corpo.  Daí é fundamental para compreender a reflexão ética de Aristóteles pela qual o homem se define e age, a partir dessa alma, que anima o corpo, que é o fazer-se do homem com suas características primordiais e com a construção de seu ethos. Para tratar de alma Aristóteles faz uma consideração característica geral que separa os seres inanimados, dos animados e a distinção categórica entre estes.
Para Aristóteles a alma é dividida em três partes, ou faculdades, ou funções da alma: a alma vegetativa, a alma sensitiva e a alma intelectual ou racional. Na alma vegetativa o caráter comum é o nascimento, a nutrição, o crescimento e algumas mudanças convenientes a esses três aspectos é ela o princípio de reprodução feito para eternidade. Na alma sensitiva temos as sensações e o movimento entre outras coisas. Nos animais existem essas sensações, apetites e movimentos, porém, assim como a alma vegetativa, é a alma sensitiva que produz as sensações. Na alma racional de caráter intelectivo a função é a deliberação (decisão), e eleição. Nela se encontra uma espécie de pensamentos e operação associadas às outras funções da alma. Nesta se encontra uma característica elevada com a capacidade em potência de conhecer a outras realidades. Isso é o que Aristóteles propõe assemelhar-se ao divino. (Cf. REALE, 1997, p.71-68) 
Assim entra em questão a diferença importante, que destaca o homem entre os outros seres animados. Para Aristóteles todos os seres possuem alma. Porém, há uma variação quanto a especificidade desta alma. As plantas possuem alma vegetativa, os animais possuem a alma vegetativa e sensitiva e o homem, por sua vez, é composto de alma vegetativa, sensitiva e racional.
O homem, sendo portador dessa alma completa e desse corpo, organismo, que ela anima, tem um fim ético, que se realiza, pela força das partes da alma, no seu comportamento e sua ação na sociedade. Cabe ao homem assim, uma atividade que o defina enquanto pessoa, e personalidade, que o impulsione para seu fim ético.

 Virtude dianoética e ética: agir conforme a virtude e em função da virtude

A ética aristotélica se subdivide pelo saber ético (pratico) e saber dianoético. O primeiro é referente à ação prática do homem, seus atos. O segundo está relacionado as virtudes da alma. Daí, o que compete a alma ser ética é a sua atividade racional, pois o homem só pode agir corretamente se for em função a razão. É nela que o homem atinge um coeficiente de inteligência a nível divino. As outras partes da almas (vegetativa e sensitiva) não conduz o indivíduo a felicidade e a elevação de si, más a dependência da irracionalidade. Cabe ao indivíduo dedicar-se a parte da alma racional para dominar conduzir as partes irracionais, a fim de adquirir a excelência.
O homem á alma enquanto vida ativa. A alma racional é dividida em duas partes: razão teorética e razão prática. No que compete a teorética temos a sophia, que é a sabedoria. Já na alma prática temos a phrónesis, cujo significado é prudência (virtude). Esta consiste em saber dirigir corretamente a vida do homem, em função do que é bom e mau. Na vida prática a phrónesis é a razão principal para o indivíduo temperante chegar a eudaimonia, a excelência.
Entre a prudência e a virtude ética existe uma estreita relação, pois a virtude ( aretê)  conduz a pessoa ao fim verdadeiro (eudaimonia), em quanto que a prudência percorre o caminho devido. Porém, de maior valor que a phrónesis, está a sophia esta está além da prudência, uma vez que o processo racional do intelecto está acima do homem, é como algo de divino. E é por ele, na contemplação que o homem consegue ser verdadeiramente feliz.
A partir da virtude dianoética, damos um novo paço para virtude ética (prática). Aquela torna esta efetiva de acordo com a atividade, o agir, o se fazer humano. Nesse comportamental faz-se a relação entre o caráter do indivíduo condizente com o seu se fazer. Por exemplo: se o homem possui a virtude da coragem (caracterizado em sua alma), o seu agir será a efetivação desta virtude intelectiva no mesmo, as suas ações.

Excelência, sentido orientador (meio termo) para o domínio de si, ações voluntárias e involuntárias

No que compete ao caráter virtuoso do homem em relação com suas ações, dizemos que a excelência do homem está em uma atividade ou disposição correta daquilo pelo qual ele está determinado, pela virtude, a fazer. É como uma função específica, a disposição ética do caráter. E ela remete ‘As disposições que são louváveis’(Cf. ARISTÓTELES, 2009,p.39) É como a perfeita ação prática teleológica do indivíduo virtuoso. Assim, cita Aristóteles:
Mas não deve apenas dizer que é uma disposição, deve também acrescentar-se que se trata de uma certa qualidade. Enquanto qualidade tem, pois, de se dizer o seguinte:- toda a excelência é capaz de desenvolver plenamente o potencial do ente que a detém, ao restituir-lhe assim a sua função específica de um modo correto. Deste modo, por exemplo, é a excelência dos olhos que é capaz de fazer deles olhos excelentes. Ou seja, é capaz de lhes restituir a sua função específica de modo correto. Pela presença da excelência nos olhos vemos excelentemente. De modo semelhante, acontece com a excelência de um cavalo. É ela que faz do cavalo um cavalo excelente: ao galopa na pradaria e ao levar o cavaleiro até junto dos inimigos. (ARISTÓTELES, 2009, p.47, LIVRO II, 1106a)

Para que o indivíduo atinja a excelência, faz-se necessário agir corretamente. Mas para que ele haja assim, que é uma característica virtuosa, Aristóteles propõe um sentido orientador para a o bem viver que se qualifica como meio termo. Daí, a excelência do caráter do homem está no justo meio. Este é o condutor seguro do homem em meio as irracionalidades e as desordens produzidas nas coisas (paixões) pelo excesso e ausência. Daí entre esta e aquela, a virtude é a via média pela qual o homem deve se orientar:
A excelência é, portanto, uma disposição do caráter ecolhida antecipadamente. Ela está situada relativamente a nós pelo sentido orientador, princípio segundo o qual também o sensato a definirá para si próprio. A situação do meio existe entre duas perversões: a do excesso e a do defeito.(ARISTÓTELES, 2009, p. 49, LIVRO II, 1107a1)
   O meio termo é como a justa medida entre as características que podemos definir como desnorteadora da autonomia do individuo virtuoso. Daí entre o excesso e a ausência existe o meio termo, como entre a indiferença e a irascibilidade, o meio é a gentileza; entre a discriminação e o orgulho, o meio é a veracidade; entre o enfado e a condescendência, o meio é a amizade; entre o desavergonhado e o tímido, o meio é o modesto. Notemos que o meio termo não é nada menos do que uma medida correta do agir em meio às paixões em excesso entre a ausência. Porém, essa justa medida de caráter está orientada a cerca do que seja ético, ou bom. Pois não pode haver um meio termo ético entre o raivoso e o irado, uma vez que as duas coisas só remete a uma atitude negativa, cuja finalidade é a mesma.  
No “Ética a Nicômaco” encontramo-nos diante de alguns obstáculos que Aristóteles nos expõe em vista de nossas ações e decisões, congruentes ao nosso caráter e as nossas atitudes éticas. Para ele existe algumas situações externas que podem ou não nos levam, ou obrigar a tomar decisões não inferentes ao nosso caráter, ou as nossas virtudes. Elas dificultam o agir do homem virtuoso.
Levando em consideração essas situações, Aristóteles nos coloca diante do que ele chama de “ações voluntárias e involuntárias”. As ações voluntárias são aquelas que o indivíduo tem plena consciência de si, e total domínio sobre os seus atos como explana Aristóteles:
Ora só quem se encontra em determinadas circunstância é que age, de fato, voluntariamente. Isto é, quando tem em si próprio o princípio (motivador) da ação, acionando assim os elementos instrumentais da ação. Quando o princípio motivador se encontra no próprio agente, é dele que depende o serem levadas à prática ou não. Ações deste gênero são, pois voluntárias, mesmo que resultem da força das circunstâncias.( ARISTÓTELES, 2009,p.57, 1110ª 15-20)
As ações voluntárias também entram em relação com a finalidade pela qual se faz algo em determinada situação. Ou seja, se um indivíduo passa por um estado de sofrimento, ou algo doloroso, num dado momento, em função de um fim bom, ou ruim, ele está praticando um ato voluntário, pois tem consciência da situação e age de determinada forma por um motivo. Então esse é um ato voluntário, pois é característico de uma ação espontânea que tem a sua origem no sujeito que a realiza.
Porém, quando o indivíduo age, mas em função deste ato ele passa por uma situação de vergonha, arrependimento e dor, pode-se dizer que esta ação é involuntária. O caso, socrático, da ignorância, também é uma situação pela qual Aristóteles define uma ação involuntária, sendo que o indivíduo não se a percebeu do que fez, mas há caso em que se ele desconhece seus atos, não tendo nenhum sentimento de tristeza pelos seus atos, a situação é definida como não voluntária.
Daí compete ao homem virtuoso agir conforme a verdade, com a justa medida, a fim de proceder conforme o bem, apesar de esse parecer ser subjetivo, uma vez que o que é bom para um não necessariamente deva ser bom para outro, entretanto, segundo Aristóteles, o homem virtuoso está distinto dos demais, pois possui a capacidade e o caráter para bem agir. Este deve ser levado em consideração.

Teleologia da ética aristotélica: Bem e Eudaimonia

A ética de Aristóteles remete-se ao caráter do homem e ao seu agir atrelado a sua personalidade. Ela é uma ciência que visa a um ‘horizonte prático’ que requer uma ação realizável. Caracterizar esse horizonte é definir a situação específica pela qual o ser humano se encontra e se faz. O agir do homem é o ponto central de toda ética prática e esta o conduz a um fim particular de cada indivíduo, o bem. Podemos dizer que existe vários bens, até mesmo pelo dinamismo da praxis, porém, para Aristóteles, existe um tipo de fim pelo qual o homem se conduz que é superior ao bem particular, ou bens: o bem supremo. Essa unidade não contradiz a multiplicidade, pois entre os diversos bens, o bem supremo é quem abarca toda essa subjetividade e é a finalidade em si mesma de toda conduta humana. É importante observar que não existe diferença entre ação ética e moral, pois o homem grego age em função da comunidade que é identifica com sua própria ação. Daí, entre uma conduta que leva o bem individual e outra que orienta para o bem social, a melhor e a mais correta, para o Grego, do homem agir, que o torna completo e aproximo do divino, é através do bem de um povo: o bem humano:
O fim que ela persegue envolve de tal modo os fins das restantes, ao ponto de tratar-se do bem humano. Porque, mesmo que haja um único bem pra cada indivíduo em particular e para todos em geral num Estado, parece que obter e conservar o bem pertencente a um Estado é obter e conservar um bem maior e mais completo. O bem que cada um obtém e conserva para si é suficiente para se dar a si próprio por satisfeito; mas o bem que um povo e os Estados obtêm e conservam é mais belo e mais próximo do que é divino.( ARISTÓTELES, 2009,p.18)
Aristóteles assim prega uma Ética cuja teleologia é o bem. Entre as diversas ciências que o homem pode se exerce, é na Política que essa possibilidade se torna possível, uma vez que ela é a mais elevada de todas as ciências, e a que trata de assuntos que compete a todas as ciências, que rege a sociedade. Com isso é na política que o homem tem a capacidade de se exercer e de agir conforme o bem humano, porém não é o mais elevado, segundo Aristóteles.
O ‘bem’ e a ‘eudaimonia’ estão em estreita relação. O alcance do bem , e a sua efetiva realização, por via racional, na vida prática é o que Aristóteles define como uma produção da verdadeira eudaimônica. Porém, existem três gêneros de vida que produzem esse estado. Ele Assim enumera:
Há, então, três formas principais de viver [bem] a vida: Aquela mencionada anteriormente [referente ao jovem inexperiente, entregue aos desejos]; em segundo lugar, a que é dedicada a ação política e, em terceiro à atividade contemplativa. (ARISTÓTELES, 2009, p.21, acréscimo nosso)
A primeira se refere às pessoas que confundem o bem e a felicidade com o prazer. Elas dedicam sua vida a satisfação de seus desejos, como os animais, que se conduzem pelo instinto. Logo, para Aristóteles, sua conduta não o leva a verdadeira eudaimonia, pois é preciso agir em função da razão. A segunda explana a vida dedicada à ação política:
Na verdade, a honra que que é o fim último da vida dedicada à ação política. Este bem que perseguem não deixa, contudo, de ser um bem mais superficial do que aquele de que estamos a procura. [...] É evidente que, pelo menos para estes, a excelência é mais poderosa do que a honra. Talvez, pois, se possa supor que a excelência seja mais propriamente o objeto final da vida política.[...]De fato, perece ser possível, mesmo a dormir, deter a excelência, ou detê-la sem a pôr em prática ao longo da vida; acresce a isto que pode ser-se excelente e sofrer-se tremendamente ou ser-se extremamente infeliz. Ninguém pensará que quem assim viver será feliz, a não ser que defender uma qualquer posição teórica a qualquer preço.[...] (ARISTÓTELES, 2009, LIVRO I, p.21-22)
Porém, entre os dois tipos de vida que se afirma conduzir ao estado de eudaimonia, ela não é em meio a um determinado fim, más um fim em si mesma, e é na vida contemplativa que esse fim é realizado de forma plena e excelente:
Se, por conseguinte, a felicidade é uma atividade de acordo com a excelência, é compreensível que terá de ser de acordo com a mais poderosa das excelências, a excelência da melhor parte do Humano. Seja a melhor parte do Humano o poder de compreensão ou qualquer outra coisa que pareça, por natureza, comandar-nos, conduzir-nos ou dar-nos uma compreensão intrínseca do que é belo e divino – seja isso mesmo divino em si, ou a mais divina das possibilidades que existem em nós -, a atividade desta dimensão será de acordo com a excelência que lhe pertence. Tal será a felicidade na sua completude máxima. Uma tal atividade é, como dissemos, contemplativa.( ARISTÓTELES, 2009,p. 234, 1177a12)


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ética aristotélica parte de uma compreensão etimológica do termo ethos, definida pelos antigos, até sua formulação como realidade histórico-social do agir humano, onde se apresenta seu temperamento, seu caráter pela forma habitual de auto-efetivação do indivíduo.
Para compreender a ética aristotélica é necessário ter a compreensão da alma (psique) do homem, pois é dela, de sua efetivação, atividade do corpo potencial que o homem se torna um ser virtuoso. A alma do homem é dividida em vegetativa, sensitiva e racional, cabe a parte racional ser a mais importante e a força condutora que rege as demais afim de conduzir o homem a uma praxi ética. Dai, entra as virtudes dianoética e éticas como as características que torna a alma virtuosa e excelente. Aquela regula os passos humanos com a phrónesis, já a ética é práxis e o reconhecimento dessas virtudes, através da relação entre o caráter do indivíduo condizente com o seu se fazer.
Para que o homem seja excelente é necessário a uma atividade correta de suas faculdades virtuosas condizente ao seu se fazer no mundo. Dai o melhor termo pra definir a excelência é um dever ser do indivíduo virtuoso. Daí , como possibilidade dessa efetivação, entra a forma dele se conduzir que é característica do meio termo, da justa medida entre as paixões.Porém, quanto as suas ações entra em questão a problemática das ações voluntárias e involuntárias, que são como que situações múltiplas e ocasionais, que auxiliará na compreensão e na liberdade ou não-liberdade do indivíduo decidir, ou seja, deliberar eticamente. Portanto, a ética aristotélica tem com finalidade o agir do homem virtuoso em torno do bem, onde se efetiva toda felicidade do homem.
Com isso objeta-se que sua filosofia foi de grande importância para evolução do pensamento grego, e pode ser um grande indicador solucional diante das problemáticas éticas atuais, em que nada se manter, ou pelo menos se torna uma moral falaciosa, e que se apresentam alienantes, ignorantes e negligentes quanto aos paradigmas antigos fundamentais da ética na evolução do humano como ser necessário e importante e digno.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco/ Tradução do grego de Antônio de Castro Caciro, _, São Paulo: Atlas, 2009. p.1-102; 221-246.

LIMA VAZ, Henrique Cláudio de. Escritos de Filosofia IV: Introdução à Ética Filosófica. São Paulo, Edições Loyola, 2002, p. 1-57; 93-126.
_,_. Escritos de folosofia II: Ética e Cultura. São Paulo, 2004, edições Loyola, p.7-36.

REALE, Giovanni. Introdução a Aristóteles. Lisboa- Portugal: Edições 70, 1997, p.71-96.

VERGIÈRES, Solange. Ética e política em Aristóteles: physis, ethos, nomos/ _,_ ; - São Paulo: Paulus, 1998, p.1-120.




[1] Entende-se espaço espiritual como aquilo que o homem faz e cria para si. É a dinâmica de auto elevação do homem.

[2] Da origem do termo ao seus primeiros passos.

[3] Era um dos métodos pelo qual do homem chegava a ser cidadão e a ser um homem virtuoso. Ela é a característica de auxílio a formação do caráter do homem, a sim como a formação do seu corpo.

[4] Psiqué.
[5] Essa noção rege toda a filosofia de Aristóteles. Assim como ele trata da dinâmica de causa e efeito como ato e potência, também a alma com o corpo terá essa dinâmica.

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