sábado, 9 de abril de 2016

Vida de Oração e Oração da vida: comunhão com o Sagrado.


Falar de Oração (com O maiúsculo) diferente de oração (com o minúsculo) é falar de um elemento importantíssimo, necessário e fundamental, que precisamos ter (se já não temos) e cultivá-lo cotidianamente, para bem viver e se orientar, na vida. Nas primeiras comunidades apostólicas podemos perceber o destaque dado à Oração quando um dos doze discípulos, ou apóstolos, afirmaram: “Não é conveniente que abandonemos a Palavra de Deus para servir às mesas” (At 6, 2). Neste caso não se trata de deixar de fazer o que precisamos (comer, trabalhar, se divertir, viver em comunidade...) para viver exclusivamente de oração, mas de não abandonarmos aquilo que sustenta nossa vida, existência e caminhada com Deus: a Oração. Dai podemos ver que é necessário “permanecermos assíduos à oração e ao mistério da palavra” (At 6, 4), ou seja, à Oração.  

Se já reconhecemos a sua importância, no dia a dia, não podemos reduzir ou empobrecer toda a riqueza que a Oração possui. Muitos acreditam que a Oração pode ser compreendida simplesmente como: práticas devocionais (como o santo terço), ou formulas já prontas, para serem lidas. Ela passa por essas práticas devocionais (de oração), porém não se reduzem a isso simplesmente e não são palavras jogadas ao vento, blablablar do que já se passou na história.

Três elementos essenciais são significativos para Oração: Fé, tempo e intimidade com Deus. Acreditar que Deus existe, que não estamos sós, que há Deus por nós (Rm 8, 31), que Ele nunca nos abandona (Is 49, 15), mas permanece conosco pelo seu Filho (Mt 28, 9), pela força do Espírito Santo (At 2, 4), e continuamente bate a porta da nossa vida para se comunicar conosco (Ap 3, 20). Ter fé em Deus, essa é a primeira condição para termos uma vida de Oração. 

Outro elemento importante é o tempo. Sem tempo para estarmos com Deus, para abrir nossa vida e coração, nossa existência para Ele, é impossível fazer Oração. Podemos observar diversas dificuldades e obstáculos que nós mesmos, além dos outros, criamos para não ter tempo pra Deus: os afazeres da casa, o trabalho do dia a dia, o corre-corre, outras coisas que são mais importantes que rezar, o cansaço físico ou mental. São infinitas as desculpas. Porém se não deixamos o tempo para Deus, como podemos falar com Ele, como podemos nos abrir para sua presença e como Deus pode agir em nós, como fazemos Oração?! Sem tempo para Deus não temos como dizer: “Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos!”(Sl 32).

O ultimo elemento importantíssimo é a intimidade com Deus. Muitas pessoas recorrem às novenas, terços, Ofícios Divinos e das Comunidades, dentre outras e infinitas orações e praticas devocionais, para fazer Oração. Isso é muito importante e pode nos ajudar muito, porém, tais práticas e orações não servirão muito se não criamos ou temos intimidade com Deus. Se nessas práticas devocionais e diversas orações orientadas pela Igreja não dialogamos com Deus, não abrimos o nosso coração, não fazemos certo tempo de silêncio, não colocamos a nossa vida aberta e a amostra diante de Deus, então não estamos fazendo Oração de fato, não estamos nos comunicando com Deus. Agir sem intimidade com Deus é como “Bem profetizou Isaías sobre vós, denunciando: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. Em vão me adoram; pois ensinam doutrinas que não passam de regras criadas por homens’” (Mt 15,7-9).

Oração é intimidade, diálogo, relação, conversa com Deus por diversos meios: como a Palavra de Deus, as devoções e orações fundamentais da Igreja.  Há quem acredite que não há Oração sem algum escrito ou material oracional em mão. Porém reduzir a Oração a isso é limitar a nossa união e intimidade com Deus. De modo simples: se prostrar diante de Jesus Eucarístico, na Igreja (Sl26) ou até no nosso quarto de descanso (Mt 6, 6), ou em qualquer lugar revezado, como um Jardim (Lc 22, 41), e neste local conversarmos com Deus, então, já estamos fazendo uma Oração. Para quem não sabe o que dizer, como os apóstolos, o próprio Jesus nos ensina o Pai nosso (Mt 6, 9-13). Essa Oração é fruto da intimidade de Jesus com o Pai. Porém, isso não quer dizer que devemos dizer somente essas palavras, mas podemos ir mais fundo e falar com Deus pelo coração. A partir do que nós estamos sentindo e vivendo: nossas dificuldades, problemas, prazeres, desafios e projetos. Falemos com Deus como quem fala com um verdadeiro Amigo (Jo15, 15), com um irmão, com um Pai, ou melhor dizendo: falemos com Deus como quem falar com o seu mais grande amor (Jo 4, 8).

A verdadeira e profunda Oração é um exercício constante. Se não persistimos e cultivamos o encontro com Deus, dificilmente perceberemos sua presença e dificilmente contemplaremos a sua glória na nossa vida. Deus náo é o problema na Oração, porque “O Senhor pousa o olhar sobre os que o temem e que confiam, esperando em seu amor, para da morte libertar as suas vidas, e alimentá-los quando é tempo de penúria” (Sl32), mas nós podemos ser esse problema, quando não aproveitamos a nossa vida para nos encontrar com Deus na Oração.

Há quem acredite que Oração é exclusivamente um momento do dia. Aquele tempo pequeno e bem rápido para estar com Deus, com seu Filho, pelo Espíritos Santo, mediações celestiais e Santos. Quem pensa assim está errado e precisa rever sua experiência com Deus, pois a nossa Oração não deve estar separada da nossa vida, mas estar enraizada na nossa própria história, existência, cultura, sonhos e desafios. Jesus rezava ao Pai a sua vida e missão aqui neste mundo e não em outro (Mt 26,  39-45), no momento da transfiguração Jesus falava sobre a morte que iria lhe suceder(Lc 9, 28-31).

Apesar de termos nossos momentos pessoais de Oração, e onde bem quisermos ou desejar, não podemos nos restringir a tal momento pessoal, pois nossa Oração deve também estar em conexão com a comunidade, com a Igreja. Jesus tinha seus momentos pessoais no monte para rezar (Mt 14, 23), se comunicava ou rezava ao Pai no meio dos seus (Jo 11, 41-43) e até os orientou para rezar com Ele (Mt 26, 37-41), como seu discípulos fizeram no pentecostes (At 2, 1-7).


Portanto, Oração e Vida devem estar unidas a tal ponto de termos na nossa vida cotidiana momentos variados e infinitos de comunhão com Deus, Oração, e por meio desta Oração ou Intimidade com Deus, fazermos da nossa vida, da nossa História, uma comunhão com o Reino de Deus, uma resposta com a sua vontade. Precisamos rezar e precisamos por meio da nossa oração o maior motivo da nossa existência, nos nossos sonhos e lutas. Oferecendo a Deus tudo o que temos e somos, e ofertando a vida em comunhão com o Reino de Deus.  Deste modo podemos descobrir e provar a profunda experiência da vida de Oração e da Oração que é Vida.      

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